sábado, 10 de setembro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA

GRANDES INSTRUMENTISTAS PERNAMBUCANOS (VII) – MAESTRO SPOK


Spok – a renovação do frevo: do tradicional a arrojados arranjos modernos


“Pernambuco é o estado mais musical do Brasil. A questão é como transformar essa cultura espontânea, essa matéria-prima, numa coisa elaborada, num produto de exportação. Hoje, há o Spok, uma coisa que não tem nada no mundo parecido. O Brasil deveria pegar esse pessoal, botar num avião e falar: “Vocês vão ficar 10 anos tocando no mundo inteiro, entortando a Inglaterra com a música que fazem”. (Medaglia, JULIO – Entrevista à Revista “Continente Multicultural”, setembro de 2015).

Em minha opinião, de ativista pelo carnaval e pela música pernambucana, que assiste a revoluções, falências, retomadas, resgates, desprezo, o renascer das cinzas, afirmo, sem medo de errar que Spok está na galeria daqueles que reconduziram o frevo ao seu devido patamar, de música genuinamente pernambucana, com ritmo, dança e melodia próprios, inventado no início do século XX.

Mais que isso, é responsabilidade do maestro Spok juntar o frevo com o jazz e levar com sua Spok Frevo Orquestra aos quatro cantos do mundo um som novo, espetacular, que empolga plateias de todos os cantos e gerações.

Com vitoriosas turnês pela Europa, Spok tem levado o frevo e seu improviso para o exterior. O saxofonista, maestro e arranjador é muito respeitado lá fora.

Inaldo Cavalcante de Albuquerque é natural de Igaraçu (Região Metropolitana do Recife), onde nasceu em 12 de outubro de 1970. Portanto, daqui a alguns dias, completará 45 anos. Iniciou seus estudos musicais em Abreu e Lima (RMR) com o professor Policarpo Lira Filho (Maninho), em 1984. No ano de 1986, chegou ao Recife e passou a trabalhar com grandes maestros da música pernambucana.


Trabalha frequentemente com Fagner, Alceu Valença, Antônio Nóbrega, Geraldo Azevedo, Sivuca, Naná Vasconcelos, Silvério Pessoa, André Rio, Almir Rouche, entre outros.


Em 1996, formou com alguns amigos a “Banda Pernambucana, que passou a acompanhar Antônio Nóbrega pelo Brasil e pelo mundo.


Em seguida, a banda passou a ser conhecida como “Orquestra de Frevo do Recife” e, no mesmo ano, 2004, já como “Spok Frevo Orquestra”, lançou seu primeiro CD solo, intitulado “Passo de Anjo”.





A orquestra tem importante papel na divulgação do frevo, com apresentações quase didáticas para alguns públicos, ensinando as diferentes modalidades de frevo. Além de trabalhar em todo o carnaval, a “Spok” (alusão ao personagem de Jornada nas Estrelas) tem apresentações programadas para o ano inteiro.

Neste dia 2 de outubro, disponibilizaram o primeiro single do álbum “Frevo Sanfonado”, a ser lançado, quinta-feira, dia 8 de outubro, em Porto Alegre. A música “De Cazadeiro ao Recife” na qual o frevo/jazz é apresentado num diálogo entre o acordeão e a sanfona. O show conta com o ótimo gaiteiro gaúcho Renato Borghetti.


Pré-lançamento do álbum Frevo Sanfonado, no Teatro Sesi Minas, em Belo Horizonte


“De Cazadeiro ao Recife” é uma composição do pianista, acordeonista e arranjador carioca Vitor Gonçalves. Também foi escolhida para o álbum música do Mestre Camarão. Como ele faleceu antes da gravação de “Sandro no Frevo” para o disco, a composição é tocada pelos sanfoneiros Rafael Meninão, carioca, e Lulinha Alencar, potiguar.

“Muitos sanfoneiros, a exemplo de Dominguinhos, Sivuca e outros, sempre improvisaram. Trata-se de um disco de frevo executado e improvisado com instrumentos, entre eles a sanfona, um elemento novo para o frevo”, descreve o maestro Spok no texto de apresentação do álbum.

Com início no Rio Grande, a série de concertos continua no “Maringá Jazz Festival” (dias 10 e 11/10), no Paraná, e por cidades do estado de São Paulo.

Orquestra Spok Frevo: Frevo, Jazz e tudo de uma big band


Formada por 18 músicos, incluindo Gilberto Pontes, sócio de Spok e um dos idealizadores do projeto, a orquestra trouxe ao frevo um tratamento diferenciado, com arranjos modernos e harmonias que buscam a liberdade de expressão em improvisos, com clara influência do jazz.

Spok revelou que, quando chegou a Recife, com 16 anos, ouviu um som vindo de um carro com autofalante que chamou sua atenção. Tratava-se do sax de Felinho, em improviso sobre o clássico “Vassourinhas”.

Já acompanhando Antônio Nóbrega, num festival de jazz, anos depois, lembrou-se de Felinho e seu improviso. Veio-lhe a ideia de formar uma orquestra em que as partituras seriam apenas mais um acessório para os músicos.

O repertório da orquestra é composto de frevos-de-rua, puramente instrumentais, e frevos-canção, que possuem letra, novos e já consagrados.

Frevo Vassourinhas (Joana Batista e Mathias de Rocha, 1909) – com disco da Orquestra de Nelson Ferreira e o célebre improviso de Felinho, incorporado às execuções:




Torcedor assumido do Santa Cruz, Spok impressiona pela humildade e a extrema atenção a todos que o assediam e querem uma palavra, um autógrafo.

Mas a atitude mais simbólica e importante deste resgate do frevo pernambucano em todos os seus modos, foi homenagear os grandes maestros de frevo, compositores de inúmeros sucessos do carnaval de Pernambuco. Sempre fez questão de reverenciar nossos “velhos” maestros, hoje aposentados, fora dos palcos.

Semana quem vem tem mais. Trarei aqui o documentário “Sete Corações”, realizado com a participação dos maestros Clóvis Pereira, Duda, Guedes Peixoto, Ademir Araújo, Edson Rodrigues, Nunes, José Menezes (falecido, aos 90 anos, antes da exibição do filme).

Fontes: Dicionário Ricardo Cravo Albin; Vagalume; Continente Multicultural; site Spok, wikipedia; acervo pessoal. Revisão Amanda Santos; Edição: Eva Podolski.

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