O músico brasiliense apresenta o segundo volume do projeto "Camaleão", um disco totalmente autoral que reafirma não apenas o seu talento, mas principalmente o seu compromisso com a música brasileira e suas mais variadas vertentes.
Por Bruno Negromonte
Nome de destaque na música instrumental brasiliense Ademir Junior vem alçando vôos cada vez maiores a partir de adjetivos que o fazem destacar-se para além das fronteiras do seu Estado. Empunhando o seu instrumento, Ademir vem ao longo dos últimos anos sedimentando uma carreira coerente e imbuída de verdade, características que o acabam destacando entre os grandes nomes da música instrumental nacional a partir de execuções precisas, inovados arranjos e uma discografia coerente com a sonoridade que acredita e procura divulgar pelos palcos aos quais tem se apresentado ao longo dessas mais de duas décadas de carreira entre a música secular e a música cristã. Seu interesse pela música vem ainda de sua tenra infância, quando ao lado do pai o pequeno Ademir deu início aos seus estudos musicais. Após esta primeira experiência tem a oportunidade de participar de bandas como a do SESI, a Banda Sinfônica da Escola de Música (onde torna-se solista) e a Orquestra Cristã de Brasília, espaço onde desenvolve de modo mais intenso as suas habilidades musicais e o seu interesse pelos estudos do saxofone, principalmente a partir de sua inserção na UNB, quando estudou dos 13 aos 18 anos fazendo todo o curso de bacharelado em clarineta sem ser aluno oficialmente da instituição. Com um talento, rapidamente o musicista desenvolvesse métodos e técnicas próprias para a execução do saxofone , fazendo-o destacar-se para além de nossas fronteiras. Um exemplo para esta afirmação se deu recentemente, quando a Europa rendeu-se ao seu talento e Júnior tornou-se o primeiro saxofonista brasileiro de jazz a ser endorser da Selmer (a mais tradicional fábrica de saxofones do mundo) e da Vandoren (fábrica de boquilhas e palhetas). O convite se deu após uma apresentação em um festival em Rouen, na França e um show na Selmer, em Paris.
Hoje, além de mestre na improvisação, o músico também é maestro e exerce a função de educador. Sem contar que desde 2013 vem na elaboração e divulgação de um projeto audacioso cujo título escolheu por nome Camaleão. Tal ideia surgiu em forma de trilogia e o primeiro volume ("Camaleão I") chegou em 2013, ano em que o músico completou 25 anos de carreira de carreira. Além de comemorar as bodas de prata de Ademir com a música, "Camaleão I" traz como marca aquilo que constituiu a carreira do músico brasiliense desde o início de suas atividades como músico: a capacidade de integrar-se aos diversos gêneros existentes de modo uníssono, não só mesclando de modo harmonioso todas as expressões sonoras que absorve ao seu redor, mas também transformando isto tudo que assimila em algo maior, que busca fugir daquilo que é convencional adicionando peculiaridades bastante pessoais a esta nova expressão sonora que produz. Nesta trilogia a qual se propõe Ademir, o primeiro volume trouxe nove canções permeadas pelos diversos estilos que estruturam a formação musical do artista, fazendo jus a um título que caiu como uma luva para o projeto a qual se propõe: agregar os diversos ritmos que estruturam e estruturaram a sua formação musical. Agora, dois anos após o pontapé inicial deste projeto, o músico volta ao mercado fonográfico com o segundo de uma trilogia chancelada por características ímpares. Batizado de "Sensações", este novo álbum do artista brasiliense traz consigo ora características que o assemelha ao projeto anterior, ora novas perspectivas para o futuro deste projeto. Em "Sensações" talvez seja possível acreditar que tal álbum e suas dez canções sejam eixo central dessa trilogia que busca enfatizar as diversas sensações que a música exerce em cada um daqueles que ela atinge. Título mais apropriado para este volume não poderia haver.
Nesse trabalho Ademir Junior demostra todas as suas habilidades e vai além do instrumento que o fez ganhar projeção nacional e internacionalmente. Além de tocar o seu saxofone tenor, o músico executa no álbum clarineta, o seu primeiro instrumento a partir dos diversos gêneros musicais que formam a colcha de retalho sonoro existente em nosso país. Ritmos como o baião, o afoxé, o xote e o maracatu permeiam as canções presentes no disco. Filho de nordestinos, em "Sensações" Ademir busca homenagear suas tradições, a música e cultura da região a partir das 10 novas composições que mostram grande riqueza melódica, harmônica e rítmica. Fruto da vitória o Prêmio Cássia Eller, pelo FAC (Fundo de Apoio à Cultura), "Sensações" traz Ademir como diretor artístico, arranjador e solista executando Sax Tenor, Clarineta e EWI. Além disso, o projeto conta com nomes como Moises Alves (Trompete), Marcos Wander (Trombone), Alex Carvalho (Guitarra), Carlos Pial (Percussão), Hamilton Pinheiro (Baixo Elétrico), Guilherme Santana (Bateria) e Marcelo Corrêa (Piano Elétrico); sem contar as participações especiais de Sidmar Vieira (Trompete), Mario Morejon El Indio (Trompete) e Junior Ferreira (Acordeon).
Apesar de "Sensações" trazer em seu cerne uma predominância rítmica a partir dos gêneros musicais advindos do Nordeste a partir do legado de nomes como Sivuca, Hermeto Pascoal, Luiz Gonzaga e Dominguinhos. O disco mantém, assim como o volume anterior, uma proposta (ou talvez um compromisso assumido de modo inconsciente pelo artista) de trazer como característica principal a possibilidade de juntar ao seu redor os mais distintos gêneros e ritmos. É um produto aglutinador e capaz de se transformar em muitos ao abarcar toda a sonoridade que constitui o artista fazendo jus ao título "Camaleão". A possibilidade de aglutinar os mais distintos gêneros e mesclar diferentes estilos desvencilhando-se de rótulos e títulos habilitando as mais distintas sensações acaba por também justificar o subtítulo escolhido de modo tão certeiro. Para o artista a justificativa para o subtítulo é bastante plausível quando diz que "A música é a passagem para o mundo perceptivo da mente, virtual, metafísico ou espiritual, como cada um prefere chamar, e é onde os 5 sentidos aguardam ansiosos suas novas Sensações". Desse modo, este novo álbum abre novas perspectivas e portas dantes entreabertas para o reconhecimento do artistas como um dos mais promissores talentos de sua geração. É um disco que galga mais um passo para a bem sucedida trilogia proposta pelo músico brasiliense, reforçando de modo substancial a entrada de Ademir Junior para figurar no hall dos grandes nomes da música instrumental brasileira.
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