sábado, 19 de dezembro de 2020

ALMANAQUE DO SAMBA (ANDRÉ DINIZ)*

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Instrumentos do samba

Pandeiro – Instrumento de percussão, de origem árabe. Tornou-se conhecido na Europa, durante a Idade Média, geralmente associado a artistas ambulantes, mas foi também adotado por conjuntos da corte. No Brasil, foi divulgado pelas mãos de João da Baiana. É hoje indispensável nos conjuntos de choro, nas rodas de samba e nos vários tipos de orquestras regionais.

Cavaquinho – Instrumento de grande popularidade como acompanhador e até mesmo como solista, tem sua origem em Portugal, onde também é conhecido por braguinha, braga, machete, machete-de-braga e machetinho. Ao lado da flauta e do violão, tornou-se instrumento indispensável no acompanhamento do choro e do samba. O chorão Waldir Azevedo consolidou seu prestígio no meio musical com a composição “Brasileirinho”.

Violão de 6 cordas – É um instrumento essencialmente urbano, muito utilizado no acompanhamento de canto. Com a flauta e o cavaquinho, forma historicamente o conjunto básico para execução de choros. Hoje é importantíssimo também no samba, como nas músicas de Cartola, Noel Rosa e Chico Buarque, entre outros.

Violão de 7 cordas – Provavelmente de origem russa, diferencia-se do violão de 6 cordas por ter uma delas mais grave (o bordão dó i ou sol i), assim aumentando a extensão do instrumento para o fraseado das “baixarias”. No Brasil, aparece pelas mãos dos chorões China e Tute. Na década de 1950, Horondino José da Silva, o Dino 7 Cordas, criou um novo estilo e influenciou uma geração de fãs e alunos – sendo Raphael Rabello o mais destacado deles. O violão de 7 é indispensável nos arranjos dos sambistas contemporâneos.

Cuíca – O nome é de origem angolo-conguesa e o instrumento deve ter sido trazido para o Brasil pelos negros bantos, embora se admita, com menos comprovação, a procedência holandesa. Tem a forma de um tambor de uma só membrana, com uma haste presa ao centro do couro distendido. Até meados da década de 1930, os sambistas traziam-na presa sob o braço esquerdo, com a membrana para trás. Com a mão direita, atritavam a haste. A partir dessa época, começaram a pendurar a cuíca ao pescoço com um cordão.

Banjo – Instrumento de cordas pinçadas, de braço longo e caixa de ressonância em feitio de tambor, cujo tampo superior é uma membrana esticada. O nome é uma modificação, no falar dos escravos negros dos Estados Unidos, do espanhol bandurria ou do português bandurra. O banjo foi divulgado no Brasil por Gastão Bueno Lobo, no início do século XX. No fim dos anos 1970, voltou à cena, pelas mãos de Almir Guineto, nos pagodes do Cacique de Ramos, com o braço mais curto e afinação de cavaquinho.

Tamborim – Um dos primeiros instrumentos europeus trazidos para o Brasil, chegando até a ser mencionado na carta de Pero Vaz de Caminha. É usado especialmente nas danças cantadas de origem africana, como maracatus e cucumbis. Foi introduzido nas escolas de samba por Alcebíades Maia Barcelos, o Bide.

Surdo – O surdo foi uma das inovações do pessoal do Estácio para a formação das escolas de samba, e, mais uma vez, o compositor e ritmista Bide seria seu introdutor. É instrumento muito utilizado até hoje nas baterias das escolas e nas rodas de samba. Sua função principal é a marcação do tempo.

Reco-reco – Instrumento que emite som pelo atrito de uma baqueta sobre uma superfície com sulcos transversais abertos. É encontrado em várias manifestações populares, com nomes e formatos diversificados. Ainda é muito utilizado nas baterias das escolas de samba.

Agogô – Instrumento folclórico afro-brasileiro formado por dois pedaços de metal de tamanho e sonoridade diferentes, em forma de sinos, percutidos por uma vara geralmente de metal. É utilizado na macumba, na capoeira, no maculelê e na música popular, principalmente no samba.

Tantãe repique de mão – No fim dos anos 1970 e início da década seguinte, os pagodeiros do Cacique de Ramos, procurando maior sonoridade para suas rodas, inventaram dois instrumentos: o tantã, criado por Sereno, e o repique de mão, criado por Ubirani. Ambos são tambores pequenos, sendo que o segundo é um pouco menor e tocado com os dedos. Já o tantã é tocado com a palma da mão. Ver a explicação dos próprios inventores no capítulo “Na batida do pagode”.


O que ouvir?
por Flavio Torres

colecionador e amante do samba Fui convidado pelo André para fazer esta discografia não por ser pesquisador, mas pelos laços de afeto que nos unem, que começaram numa roda de samba e se fizeram mais fortes com o tempo. Assim, se diz a boa técnica que não se deve começar nada pedindo desculpas, eu, que não sou escritor e pouco devo à boa técnica, é assim que começo: pedindo desculpas. Primeiro à infinidade de compositores, músicos, cantores, arranjadores, produtores, diretores e sambistas que já me proporcionaram o prazer de ouvir, cantar, sambar e me emocionar, mas que, por minha incompetência, falta de memória ou simples ingratidão, não estão citados nestas páginas: a eles meu sincero muito obrigado. Depois ao ouvinte em potencial desta discografia, pois muito do que será aqui apresentado está esgotado ou não foi editado em cd: tentarei o consolo de indicar outros CDs que possam ser achados, comprados e ouvidos. Finalmente a você, leitor, por apresentar uma discografia não de pesquisador, mas de apaixonado. É assim um trabalho pessoal. 
Aqui então me apresento. Nascido no subúrbio, um pouco depois dos melhores dias, conheci o samba no rádio, na memória da família, mas sobretudo nas ruas, vindo dos carnavais de blocos do Engenho de Dentro, dos batuques de rua em Todos os Santos e dos sujos no Centro da cidade. Depois, um pouco mais instruído, conhecendo as escolas de samba na Presidente Vargas, indo a shows, já nos anos 1970, de Paulinho da Viola, Velha Guarda da Portela, Cartola e Nelson Cavaquinho. Daí a aprender um pouco de cavaquinho e freqüentar quietinho tudo que é roda de samba, da Mangueira ao Quilombo, de Botafogo a Santa Teresa, além de quadras de ensaios, shows dos projetos Seis e Meia e Pixinguinha e, procurando discos, sebos, muitos sebos. E aqui estou até hoje, ouvindo e cantando, apaixonadamente, o nosso samba.
Esta discografia afetiva se baseia nessas memórias. Talvez um pouco (ou muito) por demais dedicada aos subúrbios do Rio de Janeiro, aos LPs de vinil, às décadas de 1960, 70 e 80, aos negros compositores das camadas populares e das escolas de samba e aos antigos pioneiros em reedições roucas e emocionantes. Deixei de fora, de propósito, a turma mais nova e os novos lançamentos da rapaziada da antiga. Deixo tal apreciação para o leitor, incentivando-o a comprar, ouvir e escolher sua própria discografia recente. Tentarei, de toda forma, fazer comentários sobre a importância de cada disco, detalhes de músicas, destaques sobre músicos (sopros, cordas, ritmistas), arranjos e até sobre algumas capas, a fim de tentar justificar minhas escolhas. É isso aí: vamos à discografia, com saudações simpáticas, que Simpatia É Quase Amor...

• Adoniran Barbosa
O excelente Adoniran Barbosa (1980) é um resumo de altíssima qualidade da obra desse cronista de São Paulo, sendo um disco fundamental. Tem a participação da nata da MPB (destaque para seu amigo e excelente compositor Carlinhos Vergueiro). Observe-se que muitos dos músicos convidados, apesar de não poderem ser caracterizados como sambistas, compuseram e/ou cantaram sambas de grande sucesso, como Djavan, o grupo MPB-4 e Elis Regina. No entanto, toda a discografia de Adoniran merece destaque, pela qualidade e originalidade de sua obra.

• Ary Barroso
Aqui cabe um comentário geral. Muitos dos bambas mais antigos são reeditados em coletâneas ou caixas. Assim, caso encontre CDs da turma citada ao longo deste livro, com uma ou outra exceção, você terá encontrado ouro puro. De alguns, porém, farei recomendações especiais, por serem meus preferidos. Começo por uma caixa raríssima, que é a minha predileta de Ary Barroso. Brinde do Banco do Brasil, apresenta Ary por alguns dos maiores intérpretes do samba (Zezé Gonzaga, Gilberto Milfont, Violeta Cavalcante, Núbia Lafayette, Roberto Silva, entre outros), com arranjos maravilhosos de Orlando Silveira e mais de 50 músicos. As gravações de “Isto aqui o que é?” (Roberto Ribeiro), “Sobe meu balão” (Ademilde Fonseca) e os pot-pourris de marchas-rancho e marchinhas são simplesmente geniais. Ary mereceu ainda muitas reedições que darão ideia da sonoridade da época: na minha opinião, um dos gênios da música brasileira.

• Beth Carvalho
Nossa “madrinha do samba” nos trouxe Pra seu governo, um disco de 1974 essencial pelo repertório (“Fim de sofrimento”, um Monarco de primeira, “Maior é Deus”, “Pra ninguém chorar” e “Agora é Portela 74”, todos do poeta Paulo César Pinheiro, com Eduardo Gudin, Edmundo Souto e Maurício Tapajós, respectivamente) e Mundo melhor (de 1976, com capa de Ziraldo e apresentação de Vinicius de Moraes). No primeiro, os arranjos de “Agora é Portela 74” e “Tesoura cega”, com Abel Ferreira no clarinete, são espetaculares. Destaque ainda para Nos botequins da vida (1977), De pé no chão (1978), Na fonte (1981), Pérolas (1992), Pérolas do pagode (1998) e Canta o samba de São Paulo (1993). 
Beth é madrinha de uma infinidade de talentos do samba, e sua própria irmã, Vânia, lançou excelente disco em 1978 (chamado, simplesmente, Vânia).

• Candeia
Apesar de ter lançado excelentes discos, como Candeia (1970), Raiz (1971) e Luz da inspiração (1977), todos de samba no seu estado mais puro, seu disco Axé, de 1978, merece total destaque. É, talvez, o mais importante dos discos do gênero, tendo marcado até hoje o repertório e o clima das rodas de samba. A produção de João de Aquino é primorosa, mostrando a vitalidade da cultura negra e apresentando para o público, pela primeira vez com clareza, o significado e o sentimento do verdadeiro axé. Fundamental para quem quer conhecer, aprender ou simplesmente ouvir o que há de melhor no samba.

• Carlos Cachaça
Para mim, uma referência afetiva: freqüentei sua casa e fui, ainda rapazinho, paparicado por dona Menininha, sua esposa. Adoro tudo o que fez, e seu único disco individual, chamado simplesmente Carlos Cachaça (1976), traz sua voz sempre rouca e sua poesia pura. Destaque para a produção de Pelão e os arranjos de João de Aquino. A faixa em que declama “Alvorada” (parceria sua com Cartola e Hermínio Bello de Carvalho) é de fazer chorar. Saudade, seu Carlos!

• Cartola
Uma covardia: qualquer disco do mestre Cartola é mágico. No entanto, os dois primeiros (ambos simplesmente chamados Cartola, da Discos Marcus Pereira, um de 1974 e outro de 1976) são fundamentais. Destaque para os arranjos de mestre Dino 7 Cordas e para um time de músicos de primeiríssima linha, com Cartola cantando divinamente. A música “O mundo é um moinho”, com a flauta de Altamiro Carrilho, é uma das mais belas faixas já gravadas no Brasil. Além disso, as capas são maravilhosas.

• Chico Buarque de Hollanda
Apesar de não poder ser classificado como sambista típico, Chico Buarque produziu clássicos do samba, como “Vai passar” e “O que será”, “Feijoada completa”, “O meu guri”, “Construção” e “Samba do grande amor”. Destaque para seus primeiros discos, de 1966 e 1967, Chico Buarque de Hollanda (“A Rita”, “Tem mais samba”, “Olê, olá”) e Chico Buarque de Hollanda vol. 2 (“Com açúcar, com afeto”, “Quem te viu, quem te vê”). Repare bem, sempre tem samba da melhor qualidade nos discos do Chico.

• Clara Nunes
Da maravilhosa Clara Guerreira destaco Alvorecer (1974), uma produção de Adelzon Alves com arranjos de João Donato, Hélio Delmiro, Carlos Monteiro de Souza e do maravilhoso maestro Orlando Silveira, e que inclui o antológico “Conto de areia”. Repertórios e músicos da melhor qualidade, com Clara na sua melhor forma em Clara Clarice Clara, de 1972; na produção caprichada de Hélio Delmiro no LP Claridade (1975), com arranjos de Laércio de Freitas, Nelsinho e Gay a e o auxílio luxuoso do bandolim de Joel Nascimento. Com repertório excepcional e Paulo César Pinheiro na produção, As forças da natureza, de 1977, que traz arranjos de Sivuca, Gaya, Ivan Paulo e Radamés Gnatalli é também um dos meus favoritos. Algumas reedições (como Clara Nunes com vida, de 1995) também dão uma boa noção da obra da Mineira Guerreira.

• Clementina de Jesus
O LP Clementina de Jesus, de 1966, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, apresenta uma extraordinária visão do samba tradicional e das influências ancestrais da Rainha Quelé. Além do repertório maravilhoso, destaque para uma Clementina cantando como um diamante bruto músicas tradicionais (o pastoril “Vinde, vinde companheiros” e a batucada “Tute de madame”) e a participação do portelense João da Gente, com sua voz de solista nos desfiles da Praça Onze. Além disso, destaco Clementina de Jesus – Convidado especial Carlos Cachaça, de 1976, pela participação especialíssima da voz rouca de seu Carlos e pela linda capa de Mello Menezes. De 1979, o esplêndido Clementina de Jesus, uma produção caprichada de Fernando Faro, capa de Elifas Andreato e participação da nata do samba; um disco fundamental.

• Cristina Buarque
Irmã de Chico Buarque de Hollanda, Cristina é uma cantora relativamente pouco conhecida fora do mundo do samba. Seu LP Prato e faca, de 1976, conta com arranjos do maestro José (Zé) Briamonte, que também toca um maravilhoso piano nas faixas “Tua beleza”, de Raul Marques e Waldemar Silva, e “Resignação”, de Geraldo Pereira e Arno Provenzano. Destaque também para Felpudo no trombone, Xixa no cavaquinho e Milton Banana no ritmo, com Luna, Eliseu e Marçal. Os discos de Cristina são sempre tributos ao bom samba.
Conhecedora como poucos do samba de qualidade, é uma das minhas cantoras prediletas. Muito bom também é seu disco com Mauro Duarte (Cristina e Mauro Duarte, de 1985, que inclui a maravilhosa parceria invertida “Reserva de domínio”, com letra de Mauro e melodia de Paulo César Pinheiro).


• Dona Ivone Lara
Seu primeiro LP, Samba minha verdade, samba minha raiz (1978), com apresentação de Adelzon Alves, o inconfundível cavaquinho de Carlinhos, do conjunto Nosso Samba e dos Canarinhos de Laranjeiras, é uma pérola e um dos meus discos preferidos. Destaque para a parceria com Délcio Carvalho (curiosamente o título do disco é formado, além do nome de Dona Ivone, pela palavra “samba” e pelos títulos das músicas que estavam na primeira faixa de cada lado do LP original: “Minha verdade” e “Samba, minha raiz”, ambas de Dona Ivone em parceria com Délcio). Maravilhosas as participações de seu Alcides Lopes, o Alcides Malandro Histórico da Portela, e dos repiques do Império Serrano na música “Quando a maré”, do também portelense histórico Antônio Caetano.

• Dorival Caymmi
Outro que só tem obras-primas. Pode comprar qualquer coisa. Além das reedições, destaco Dorival Caymmi (1969) e Caymmi (1972), com direção e orquestração do maestro Gaya. Na capa, aquarela de Caymmi, e na contracapa texto de Jorge Amado. Os filhos de Caymmi (Nana, Dori e Danilo) lançaram o ótimo CD Para Caymmi (2004), com sambas do pai, em homenagem aos seus 90 anos – genial.

• Elizeth Cardoso
A maravilhosa discografia da Divina Elizeth tem, a meu ver, ponto alto nos LPs gravados ao vivo no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, em 1968, pelo Museu da Imagem e do Som. Produzidos por Ricardo Cravo Albim, os discos Elizeth Cardoso, Zimbo Trio, Jacob do Bandolim e Época de Ouro vols. 1 e 2 (posteriormente foi lançado um terceiro LP) retratam o recital preparado por Hermínio Bello de Carvalho e são uma mistura do melhor samba tradicional (na homenagem a Aracy Cortes e ao Rosa de Ouro), do melhor choro (ouça “Noites cariocas” e “Doce de coco”, ambos de Jacob), e da melhor bossa nova (a interpretação de “Chega de saudade”, de Tom e Vinicius, com Jacob e o Zimbo Trio é genial). São ainda um marco das gravações ao vivo: a faixa (e o coro) de “Barracão”, de Luiz Antônio e Oldemar Magalhães, é uma das mais emocionantes já gravadas no Brasil. Destaco ainda os excelentes Elizeth sobe o morro (1965), os dois volumes de A bossa eterna de Elizeth e Cyro (1966) e um dos discos mais importantes da história do samba e da MPB, Canção do amor 
demais, de 1958, marco da parceria entre Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Desnecessário falar mais.

• João Bosco e Aldir Blanc
Em dupla ou individualmente, produziram obras-primas do samba (“O bêbado e a equilibrista” é um hino, assim como “Mestre-sala dos mares”). Destaco, lembrando que não são discos exclusivamente de samba, os discos de Bosco – com clássicas parcerias com Aldir – Galos de briga (1976), que traz os maravilhosos e futebolísticos “Incompatibilidade de gênios” e “Gol anulado”, além de “O ronco da cuíca”, e Caça à raposa (1975).

• João Gilberto
Somente o lançamento de Chega de saudade, marco da bossa nova, já justificaria a inclusão do revolucionário cantor e violonista nesta discografia. Tudo que é lançado por ele já nasce um clássico, mas gostaria de destacar o extraordinário Getz/Gilberto, gravado em 1963 em Nova York, cheio de standards (“The girl from Ipanema”) e sambas clássicos como “Doralice” (Caymmi e Almeida), com Milton Banana no ritmo, Astrud Gilberto no vocal e apresentando Antônio Carlos Jobim. Essencial.

• João Nogueira
Gosto muito do Vem quem tem (1975), cheio de ginga, que traz um delicioso papo com Albino Pinheiro, Jaguar e Sérgio Cabral na contracapa e tem como faixa de abertura a emblemática “Nó na madeira”. Gosto muito ainda dos LPs Espelho (1977), Wilson, Geraldo, Noel (1981) e Clube do samba (1979).

• Martinho da Vila
Escolher destaques entre os discos de Martinho é complicado. Mestre da renovação e da tradição, o Zé Ferreira nos presenteou com uma penca de discos brilhantes. Do revolucionário e clássico Martinho da Vila, de 1969, com vários sucessos (“O pequeno burguês”, “Iaiá do Cais Dourado”, “Casa de bamba” e “Quem é do mar não enjoa”, entre outros), passando pelo autenticíssimo Tendinha (1978), pelo africano Novas palavras (1983), pelo vila-isabelense Martinho da Vila Isabel (1984), pelo afetivo Criações e recriações (1985), pelo quentíssimo Batuqueiro (1986), com a fantástica parceria de Ataulfo Alves e Assis Valente, o maravilhoso samba “Batuca no chão” e pelo folclórico O canto das lavadeiras (1989), até os mais recentes, dentre os quais destaco o malandro Tá delícia, tá gostoso, de 1995, que vendeu mais de 1,5 milhão de cópias e traz um dos sambas mais populares dos últimos tempos, “Mulheres” (de Toninho Geraes).

• Monarco
Aqui é covardia. Monarco é, para mim, a síntese do bom samba, de suas memórias, do novo e do antigo. Por isso afirmo que todos os seus discos são antológicos. O primeiro, chamado simplesmente Monarco (1974), tem aquela que talvez seja minha capa predileta (grande Lan!). Traz parcerias que vão desde Paulo da Portela (“Quitandeiro”) a Walter Rosa (“Tudo menos amor”), passando pela gloriosa Velha Guarda da Portela. A cozinha é maravilhosa como a de dona Vicentina: Dino, Zé Menezes, Mané do Cavaco, Neco, Wilson das Neves, Abel Ferreira, Eliseu, Luna e Marçal, Doutor e Gordinho. Excelente também o disco Terreiro (1980), com participação da Velha Guarda da Portela, assim como tudo mais que Monarco já gravou e vai gravar. Saudações, mestre!

• Nelson Cavaquinho
Sem uma discografia à altura de sua obra e de seu parceiro maior, o também grande Guilherme de Brito, destaco a homenagem As flores em vida (1985), com participação de vários bambas. A parceria com Cartola em “Devia ser condenada” é maravilhosa e vale a pena tentar adivinhar quem fez o quê (para mim, Nelson fez a primeira parte, letra e música, e Cartola fez a segunda, idem). Atenção também para “Aquele bilhetinho”, parceria com Augusto Garcez e Canegal. Outros discos de Nelson, como Nelson Cavaquinho (1973), com contracapa de Sérgio Cabral, o da Série Documento, de 1986, e Quando eu me chamar saudade (1990), devem ser ouvidos para se entender sua maravilhosa voz rouca e aquele que talvez seja o mais original violão do samba: Nelson tocava beliscando as cordas, fazia harmonia, baixo, solo e marcava o ritmo de uma forma absolutamente pessoal e inimitável.

• Nelson Sargento
Outra referência para lá de afetiva. Adoro toda sua produção (inclusive as pinturas). Além de sua participação em diversos conjuntos fundamentais na história do samba, vale destacar Sonho de um sambista (1979). Arranjos de Maurício Carrilho e Luiz Otávio Braga, traz Luciana Rabelo no cavaquinho e o incrível Mussum (do importante conjunto Originais do Samba) no ritmo. Salve, amigo Sargento!

• Noel Rosa
Na mesma situação de Ary Barroso, destaco a caixa Noel Rosa pela primeira vez (2000). Apresenta 229 gravações de canções de Noel (e não somente sambas, mas isso não importa) em suas versões originais. São 14 CDs e um livreto com as letras das faixas. Um trabalho primoroso que dá a verdadeira dimensão da obra do genial Poeta da Vila. Para a polêmica com Wilson Batista, ver Polêmica, de 1956, capa do grande cartunista e compositor Antônio Nássara, com os sambas cantados por Roberto Paiva e Francisco Egydio. De Noel, pode-se comprar qualquer coisa, porque ninguém conseguiria, nem se quisesse, estragar a obra desse gênio. Destaque para as gravações de Araci de Almeida, uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos e a maior intérprete de Noel.

• Orlando Silva
A caixa O cantor das multidões – Orlando Silva – gravações originais, 1935-1942, de 1995, traz três CDs com gravações da fase de ouro daquele que foi um dos maiores cantores do mundo. Não apresenta somente sambas, mas as gravações de “A dama do cabaré” (Noel Rosa), “Pela primeira vez” (Noel e Cristóvão de Alencar), “No quilômetro 2” (incrível samba-canção de J. Aymberê com o grupo de Canhoto), “Carinhoso” (Pixinguinha e João de Barro), “Alegria” (Assis Valente e Durval Maia), “Aos pés da cruz” (Marino Pinto e José Gonçalves),
“Chora cavaquinho” (Dunga) e “Faixa de cetim” (Ary Barroso) são suficientes para classificar essa caixa como imperdível.

• Paulinho da Viola
Tudo de bom, é o que se pode dizer do grande Paulinho. Destaque para Samba na madrugada, de 1968 (dividido com outro monstro sagrado do samba, Elton Medeiros), com Raul de Barros dando um show no trombone, além de Dino, Meira, Canhoto e do próprio Elton na caixa de fósforos. Também os excelentes Paulinho da Viola, o primeiro disco solo, lançado em 1968, de repertório maravilhoso e inacreditáveis arranjos do maestro Gaya; Foi um rio que passou em minha vida, de 1970, que lançou seu sucesso homônimo; A dança da solidão, de 1972, e os dois discos de 1971, ambos simplesmente Paulinho da Viola, em cujas capas ele aparece de cavaquinho e violão, respectivamente, elegantemente trajado com as cores da Portela. Seu Memórias cantando, de 1976, é um clássico.
Você pode ouvir tudo do Paulinho, que sempre será uma aula de samba, incluindo Bebadosamba (1996) e Bebadachama (gravado ao vivo em 1997), Nervos de aço (1973), Paulinho da Viola (1978), Zumbido (1979) e Eu canto samba (1989).

• Paulo Vanzolini
Adoro o disco de 1967 em que Chico e Cristina Buarque, Luiz Carlos Paraná e outros desfilam Onze sambas e uma capoeira da melhor qualidade, em gravação da importantíssima Discos Marcus Pereira, com arranjos de Toquinho e Portinho. Para sua obra definitiva, ver a caixa Acerto de contas, de 2003, na qual, com uma produção pra lá de caprichada, a Petrobras apresenta quatro CDs com Márcia, Eduardo Gudin, os sempre presentes Chico e Cristina Buarque, Martinho da Vila e mais uma turma excelente de São Paulo na voz e nos maravilhosamente simples arranjos e acompanhamentos.

• Roberto Ribeiro
O pouco lembrado Roberto Ribeiro nos ofereceu sambas de Monarco, Wilson Moreira, Nei Lopes e Silas de Oliveira em discos cheios do melhor repertório e dos melhores ritmistas. Destaco Fala meu povo (1980), com Alceu e Carlinhos nos cavacos, Valdir no violão, Wilson das Neves na bateria, Eliseu, Luna e Marçal (uma das santíssimas trindades do samba), além de um time de craques nos sopros (Zé Bodega, Jorginho, Maciel, Botelho, entre outros), Wagner Tiso no acordeão e Joel do Bandolim. Como se não bastasse, há um coro com Dinorah, Eurídice, Zenilda, Zélia e Ivan Milanês, entre outros. Gosto bastante também de Massa, raça e emoção (1981) e de Coisas da vida (1979), com os sucessos “Vazio (Está faltando uma coisa em mim)” e “Bate coração”, além dos LPs Poeira pura (1977) e Arrasta povo (1976).

• Tom Jobim,Vinicius de Moraes e Toquinho
Não poderiam ficar de fora esses monstros sagrados e referências fundamentais no samba atual. Apesar de serem mais gravados em discos de diversos cantores, em geral não dedicados exclusivamente ao samba, suas obras merecem atenção especial, pois são fundamentais tanto pela qualidade quanto por sua importância para a evolução estética e histórica do samba. Destaco São demais os perigos dessa vida... (1972), de Toquinho e Vinicius, capa de Carlos Leão, apresentando a música “Regra três”, parceria dos dois. Gravado em 1977 ao vivo no Canecão, no Rio de Janeiro, com direção de Aloy sio de Oliveira, o disco Tom Vinicius Toquinho Miúcha traz um painel do que há de melhor na produção desses grandes nomes (em especial do genial Tom Jobim), como “Wave”, “Corcovado”, “Chega de saudade”, “Garota de Ipanema”, “Tarde em Itapoã”, além de “Minha namorada”, de Vinicius e Carlos Lyra. Ouvir as vozes de Vinicius e Tom (este também em genial piano e flauta), o violão de Toquinho e a voz de Miúcha totalmente identificada com as canções é realmente um prazer. Vinicius, o branco mais preto do Brasil, capitão-do-mato e embaixador foi um grande elo entre o samba da antiga, mais tradicional (é conhecida sua admiração por Pixinguinha) e a classe média da Zona Sul. Uma figura essencial para o entendimento do samba. Além disso, quem pode dizer que Tom Jobim não compôs alguns dos mais lindos sambas brasileiros?

• Velha Guarda da Mangueira
Falo aqui do pessoal da Velha Guarda da Estação Primeira. Assim, tem desde Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça até dona Neuma, seu Aluísio do Violão e Tantinho. Não cito todos, pois “...se for falar da Mangueira, hoje eu não vou terminar” (com licença, compadre Monarco!). Só ouvindo o CD duplo Mangueira, sambas de terreiro e outros sambas, projeto da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro lançado em 2000, com a produção de Hermínio Bello e direção de Paulo Roberto Pereira de Araújo (o Paulão 7 Cordas), em que você pode ouvir o que há de mais puro e bom da Velha Mangueira. Preste atenção em seu Carlos Cachaça honrando o apelido, as vozes de Jurandir (grande cantor e dos maiores compositores da Mangueira), Xangô e Comprido. No primeiro disco, gravações caseiras mostram as vozes de dona Menininha, irmã de dona Zica e esposa de seu Carlos, de José Ramos, lendário compositor de sambas sobre a escola e sobre o morro de Mangueira, e de Padeirinho, original melodista e autor de letras cheias de picardia. No segundo, a turma “mais nova” apresenta sambas diversos e antológicos do pessoal da Velha Guarda (Babaú, Zagaia, Geraldo da Pedra, Pelado, Gradim, Alfredo Português, Quincas do Cavaco, Arthurzinho, Zé Criança, Zé com Fome, Saturnino e outros bambas...). No acompanhamento, Márcio de Almeida com seu maravilhoso cavaco e uma cozinha prata da casa, com Jaguara e Bira Show. Pena que esse CD duplo seja muito difícil de encontrar. Assim, se você achar uma capa maravilhosa, com a turma trajando elegante terno verde e chapéu panamá em foto da década de 1940, não hesite: compre todos os disponíveis, fique com um para ouvir diariamente e dê os outros de presente para as pessoas mais queridas.

• Velha Guarda da Portela
Achando, pode comprar qualquer um. Destaco o primeiro (Portela passado de glória, de 1970), produzido por Paulinho da Viola que, com poucos recursos (ou talvez por isso mesmo), dá a noção exata da força do samba produzido em Oswaldo Cruz. Gosto muito também dos excelentes discos produzidos pela associação entre Henrique e Beto Cazes e o japonês Katsunori Tanaka, além do CD Tudo azul, de 2000, caprichada produção da portelense Marisa Monte e com a grife de luxo do mestre Paulão 7 Cordas, carioquíssimo craque do violão, da bola e do copo. Do pessoal da Velha Guarda da Portela você pode comprar todos, inclusive aqueles individuais (Jair do Cavaquinho, Argemiro, Surica etc.).

• Wilson Moreira e Nei Lopes
Na mesma linha de negritude de Candeia, destaco como um dos discos mais importantes e belos de todos os tempos A arte negra de Wilson Moreira e Nei Lopes (1980). Com repertório primoroso, a interpretação pelos autores de sambas que já haviam tido grande sucesso na voz de cantores consagrados dá a esse disco características especiais, com qualidade e emoção que aparecem sempre que uma turma se junta para um pagode. De seus trabalhos individuais (se é que isso existe no samba), destaco de Wilson Moreira o excelente Peso na balança (1986), projeto artístico da dupla de irmãos Beto e Henrique Cazes e do japonês Katsunori Tanaka. De Nei Lopes, os africaníssimos Negro mesmo (1983) e Zumbi 300 anos – Canto banto (1995).

• Zeca Pagodinho
Zeca Pagodinho talvez seja a síntese do samba dos nossos dias, e sua trajetória sólida e coerente nos deixa muitos discos excepcionais. Entre os que mais gosto estão Zeca Pagodinho (1986), quando, ainda garoto e sob a batuta do excelente Milton Manhães (o Milton Pezão) lança um punhado de sucessos fundadores do chamado pagode, como “SPC” (dele e de Arlindo Cruz), “Coração em desalinho” (Monarco e Ratinho) e um pot-pourri de partido-alto que fez história nas rodas de samba e nos rádios. Além dos excelentes discos do início da carreira (Jeito moleque, de 1988, por exemplo), sugiro o Acústico MTV, de 2003, símbolo da penetração desse artista em todas as idades e classes sociais. Destaque ainda para a produção e os arranjos de Rildo Hora (também arranjador e produtor de excelentes discos de Martinho da Vila) e para a banda de craques e cobras, comandada por Paulão 7 Cordas. 

• Outros sambistas brasileiros
Do grande compositor baiano Batatinha, ouça Toalha da saudade, de 1976. Germano Mathias, símbolo da malandragem paulistana, gravou com Gilberto Gil o excelente Antologia do samba-choro, de 1978. Do maravilhoso compositor cearense Gordurinha, ouça (é difícil de achar, como tantos aqui citados) Súplica cearense, de 1960.

• Algumas reedições
Quero destacar aqui que a melhor fonte para gravações da Era de Ouro da música brasileira em geral, e do samba em particular, são reedições em CD dos velhos 78 rotações em formatos diversos (por cantor, por compositor etc.) do Selo Revivendo. Encontre o seu autor ou cantor predileto e ouça como eram as vozes e as gravações desses incríveis artistas que não chegaram aos LPs de vinil ou mesmo aos CDs, como os Anjos do Inferno, os Quatro Ases e Um Coringa, Carmen Miranda, Ciro Monteiro, Dolores Duran e Araci de Almeida (que relançou Noel Rosa em uma admirável série Canções de Noel Rosa com Araci de Almeida, de 1955). Discos de Ismael Silva, Billy Blanco e Elza Soares (com a magistral coletânea de CDs Negra, lançada em 2003) também devem ser ouvidos sempre que possível.

• Blocos e escolas de samba
Para um panorama da produção dos blocos e escolas de samba, sugiro ouvir os CDs de sambas-enredos antológicos gravados por Martinho da Vila (Samba-enredo, de 1980) e mestre Marçal (Sambas-enredos de todos os tempos, de 1993).
Marco de uma época em que os sambas-enredos eram sucessos de carnaval e de meio de ano, o LP Os maiores sambas-enredos de todos os tempos, de 1971, traz o MPB-4, Nara Leão, Jair Rodrigues e um improvável Erasmo Carlos cantando sambas maravilhosos como “Tiradentes” (do Império Serrano, de autoria de Penteado, Estanislau Silva e Mano Décio da Viola), por Elis Regina, e “Lendas e mistérios da Amazônia” (da Portela, de autoria de Jabolô, Waltenir e Catoni), cantado por Chico Buarque de Hollanda. Destaco também os LPs com os sambas-enredos de cada ano, chamados Festival de samba-enredo, principalmente de meados da década de 1960 até o final da seguinte. Muito importantes para quem se interessa por batucada, sambas de terreiro e versões originais são os LPs gravados pelas escolas e blocos carnavalescos. Como exemplo, cito Salgueiro – Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, de meados da década de 1960, com apresentação de Haroldo Costa, trazendo os sambas-enredos “Chica da Silva”, “Chico Rei” e “Descobrimento do Brasil”, os sambas de quadra “O neguinho e a senhorita” e “Água do rio”, além de três ensaios de ritmo da bateria. Na capa, a destaque maior Isabel Valença em desfile na avenida. Da mesma época e também fantásticos são o similar da Mangueira, com foto de capa de O Cruzeiro (a porta-bandeira Neide e o mestre-sala Delegado, de perucas rosa e verde, respectivamente), e o da Portela, com a porta-bandeira Vilma na capa e incluindo o samba “Retumbante vitória”. Dos blocos, sugiro Bafo da Onça ontem e hoje, lançado em meados da década de 1970 com diversos sucessos de carnaval, como “Oba” (do compositor e grande personagem do samba e do carnaval Osvaldo Nunes). Muito boas também são a coleção História das escolas de samba (1975), com edição de texto de Sérgio Cabral e fotos, entre outros, de Walter Firmo, além da série História das escolas de samba (com discos dedicados a Império, Salgueiro, Mangueira e Portela), da Discos Marcus Pereira, lançada em 1974.

• Algumas coletâneas
Algumas coletâneas foram fundamentais na manutenção da memória do samba e em sua divulgação para novas gerações. História do samba e os grandes sambas da história, da editora Globo (1998), é um trabalho importantíssimo, com pesquisa apurada, em 40 fascículos e 41 CDs (40 de Os grandes sambas da história e o já citado CD com sambas-enredos cantados por Martinho da Vila), que apresenta um ótimo panorama ilustrado das diversas facetas do samba. Apresenta pequenas biografias, histórias e uma excelente seleção musical. Direção artística de Elifas Andreato e seleção de repertório de Elifas e Arley Pereira. Por ser talvez a melhor coletânea recente para apresentação do samba e da sua história, é difícil fazer destaques. Ainda assim ouça (no CD número 1) a regravação de “Pelo telefone” (Almirante) e “Palpite infeliz” (com Araci de Almeida); no número 2, “Alô alô” (Carmen Miranda e Mário Reis) e “Brasil pandeiro” (Anjos do Inferno); no 3, “O orvalho vem caindo” (Almirante) e “Adeus batucada” (Sy nval Silva); no 4, “Aquarela do Brasil” (Sílvio Caldas) e “Seu Libório” (Vassourinha); no 5, “Café soçaite” (Jorge Veiga e Ciro Monteiro); no 6, “Samba de fato” (Patrício Teixeira) e “É batucada” (Moreira da Silva); no 7, “Samba rasgado” (Marlene), “O trem atrasou” (Roberto Paiva) e “Risoleta” (Luiz Barbosa); no 8, “Pela luz divina” (Ataulfo Alves e suas Pastoras), “Não tenho inveja” (Gilberto Alves) e “Quando eu me
chamar saudade” (Nelson Cavaquinho); no 9, “Quase louco” (Nelson Gonçalves) e “Eu queria um retratinho de você” (Mário Reis e Diabos do Céu); no 10, “Bonde de São Januário” (Ciro Monteiro); no 11, “Favela” (Carlos Galhardo) e “Batatas fritas” (Aurora Miranda); no 12, “Você está sumindo” (Roberto Silva), “Lulu de madame” (Dilermando Pinheiro) e “É luxo só” (Jorge Goulart). Ufa! Não dá para ir até o CD 40, mas é esse o padrão. Fundamental.
História da música popular brasileira (Abril Cultural) e Nova história da música popular brasileira (Editora Abril), ambas da década de 1970, trazem encartes e discos (vinil) com gravações originais ou regravações dos grandes nomes da MPB. Editadas e revisadas em diferentes formatos, trazem belas ilustrações (a capa do volume sobre Ary Barroso, com a torcida do Flamengo num Maracanã lotado, no final da década de 1960, é de matar de saudade...). Vale a pena ter os fascículos. Participações em diversos níveis de Tárik de Souza,
José Ramos Tinhorão, Elifas Andreato, Ari Vasconcelos, Almirante, Eneida, Sérgio Cabral e outros bambas. Entre os meus preferidos está o volume sobre Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira, com Elza Soares cantando o samba-enredo emblemático “Aquarela brasileira”, do segundo. A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes (Sesc/SP), um trabalho de J.C. Botezelli (o popular Pelão), de 2000, é a edição em CDs dos consagrados programas Ensaio e MPB Especial, de Fernando Faro, para as TVs Tupi e Cultura. Embora não inteiramente dedicados ao samba, podemos ouvir (e “conversar” com) grandes bambas (Adoniran Barbosa, Ismael Silva, Araci de Almeida, Paulinho da Viola, Cartola, Nelson Cavaquinho, Lupicínio Rodrigues, MPB-4, Mário Lago, Ciro Monteiro – em entrevista genial –, Carlos Lyra etc.) e estrelas que talvez estejam menos presentes na mídia, como Os Quatro Crioulos, Blecaute, Hervê Cordovil, Pedro Caetano, Paulo Soledade, Nora Ney, Roberto Martins, Geraldo Filme, Baden Powell, Buci Moreira, Jackson do Pandeiro, Joubert de Carvalho e Billy Blanco.
Casa de samba, em quatro volumes lançados entre 1996 e 2000, é mais uma importante produção do craque Rildo Hora, na qual nomes ligados ao samba fazem duetos com nomes geralmente não associados ao gênero. Como exemplo, os encontros de Zeca Pagodinho com o “tropicalista” Caetano Veloso (que compõe lindos sambas e canta sambas seus e de outros autores) e o de Elza Soares com o “roqueiro” Lobão, deliciosos de se ouvir.
Edições Funarte é uma série de discos dedicados a grandes nomes da MPB e do samba. Sinhô vem em Nosso Sinhô do samba, de 1988, que traz gravações originais, com destaque para o charleston carnavalesco “O bobalhão”, os sambas “Ora vejam só”, “A favela vai abaixo” e “Não quero saber mais dela”, todos com Francisco Alves e Orquestra Panamerican, e “Gosto que me enrosco” e “Jura”, com Mário Reis. Candeia, de 1987, foi produzido por Carlinhos Vergueiro, Cristina Buarque e Mauro Duarte, e traz o partideiro maior Aniceto do Império com Wilson Moreira no maravilhoso “Não vou te perdoar” e as vozes da grande pastora Doca da Portela e do poeta Paulo César Pinheiro em “Testamento de partideiro” e “Peso dos anos”, respectivamente. Cartola entre amigos, de 1984, traz sua filha Creuza e parceiros como Nuno Veloso em produção maravilhosa de João de Aquino. Gosto muito do disco dedicado a Assis Valente. Destaque para a participação de cobras como Pedro Amorim, Paulo Moura, Zé da Velha, Raphael Rabello, Marcos Suzano e Maurício Carrilho. Da série Evocação, destaco o volume 5, de 1981, dedicado a Geraldo Pereira, em que uma turma de bambas (incluindo seu admirador Jards Macalé) canta, em ótimos arranjos, as obras do mestre do samba sincopado. Destaque para “Pisei num despacho”, com Jackson do Pandeiro, e “Acabou a sopa”, com Marçal. 
RCA Victor Essential Classics é uma coleção de 40 discos lançada em 2004, com o acervo da gravadora RCA Victor, que traça um panorama da linha evolutiva do samba. Destaque para os Anjos do Inferno (Brasil pandeiro, com músicas de Dorival Caymmi), Os Originais do Samba, Luiz Carlos da Vila, Ismael Silva (Se você jurar), João Bosco (Linha de passe), João Nogueira (Pelas terras do pau-brasil) e Leny Andrade (A sensação). Uma maravilha!

• Grupos diversos
Alguns dos mais importantes discos de samba foram feitos por grupos de duração variável, formados em função de shows ou gravações. Aqui destaco os discos do conjunto A Voz do Morro (formação básica com Paulinho da Viola, Anescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, José da Cruz, Jair do Cavaquinho e Nelson Sargento) em Roda de samba vols. 1 e 2, de 1965 e 1966, nos quais a turma toca (inclusive com a famosa caixa de fósforos de Elton e o chapéu de palha de Zé da Cruz) sambas em espírito de roda. Outras formações dessa época, variando um pouco o grupo (com Zé Kéti e Mauro Duarte, por exemplo), deram também excelentes discos, como Samba... no duro, com volumes lançados entre 1967 e 1969. Alguns discos, chamados “paus-de-sebo”, apresentam artistas que ainda não eram consagrados, e trazem bambas do quilate de Walter Rosa e Noel Rosa de Oliveira, Darcy da Mangueira e Martinho da Vila (A voz do samba, de 1969); a série Partido em cinco (1975-1977) traz, em diversos volumes, nomes como Wilson Moreira, Casquinha da Portela, Joãozinho da Pecadora, Luiz Grande e Velha. Na década de 1960, Raul Marques, Arnô Canegal, Buci Moreira e Estanislau Silva fizeram com Norato do Trombone o excelente A voz do sambista.
No que se refere a shows, são fundamentais os discos produzidos a partir do espetáculo Rosa de Ouro, com Hermínio Bello lançando Clementina de Jesus e trazendo de volta a vedete e cantora Aracy Cortes. Atenção para as chamadas que o grupo (Elton, Jair, Paulinho, Anescar, Os Quatro Crioulos e Nelson Sargento) faz para a entrada das damas: o partido “Clementina, cadê você” (Elton) e “Benguelê” (tradicional) para a Mãe Quelé e “Senhora Rainha” (letra de Hermínio para marcha-rancho de Heitor Villa-Lobos) e “Ai Yoyô” (Luiz Peixoto, Henrique Voegler e Marques Porto) para a vedete. A Noitada de samba do Teatro Opinião rendeu excelentes discos por uma década (de 1968 a 1978), apresentando, entre outros, Baianinho (compositor da escola de samba Em Cima da Hora), Gisa Nogueira (irmã do João e grande compositora), Xangô da Mangueira, Odete Amaral, Cartola, Dona Ivone Lara e o conjunto Nosso Samba. 
Por falar nisso, o Nosso Samba, do cavaquinista Carlinhos (que tocava seu cavaco afinado como bandolim), teve um ótimo disco apresentado por Adelzon Alves (Nosso samba, 1978) com arranjos de Nelsinho, Geraldo Vespar e Ivan Paulo. No repertório, nomes de pouca projeção na mídia, mas que constroem o samba no dia-a-dia, como Jorge Porém (compositor da Portela responsável por aquele ai! porém na gravação feita por Paulinho da Viola de “Foi um rio que passou em minha vida”), Sy dney da Conceição, Geraldo Babão (compositor do Salgueiro, flautista e autor de clássicos do samba-enredo), Luiz Grande, Dedé da Portela, Dida, Toninho Nascimento e Didi (vencedor de sambas pela União da Ilha que virou enredo... saudade de você, Didi!). 
De novo por Hermínio Bello (do recente O samba é minha nobreza, de 2002, que traz a nova onda de samba da Lapa carioca e a voz de Paulão, que ainda espera sua oportunidade de entrar, como cantor de voz rouca, para esta discografia...), Mudando de conversa, de 1968, gravado ao vivo em show do mesmo nome, com Ciro Monteiro, Nora Ney e Clementina com um inacreditável time de craques (conjunto Rosa de Ouro – Sargento, Elton, Jair, Anescar, Mauro –, Macalé, Dino e Arlindo no violão e Índio no cavaquinho, Lírio Panicali na direção musical, Nelsinho nos arranjos e Lan na capa). Ciro em “Sacode Carola” (alô, Walter Alfaiate) e “Meus vinte anos”, Elton em “Mudando de conversa”, Clementina em “Mulato bamba” e Nora numa faixa de pura fossa (“De cigarro em cigarro”, “Neste mesmo lugar”...) são suficientes para entender a diversidade e a força do samba. Do show O importante é que a nossa emoção sobreviva, dois volumes fantásticos, gravados ao vivo com Márcia, Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro em 1975. “Veneno” e “Refém da solidão” (de Paulo César Pinheiro e do violonista e compositor Baden Powell, um dos mais importantes nomes do samba e autor de afro-sambas clássicos) são minhas faixas prediletas e peças de resistência em muitas rodas de samba.
São também fundamentais os discos Gente da antiga (Clementina, João da Baiana e Pixinguinha), de 1968, e Os quatro grandes do samba (Candeia, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), de 1977. 

• Dois extremos no tempo
Uma pequena brincadeira para ilustrar o passado e o presente: destaco o samba ancestral do disco Native Brazilian Music (1987), reedição do Museu Villa-Lobos, leia-se do grande violonista Turíbio Santos, que traz a famosa gravação feita em 1940 pelo maestro americano Leopold Stokowski, com a flauta de Pixinguinha e as vozes de Cartola e Jararaca; e o pagode moderno do conjunto Fundo de Quintal – gosto muito do Seja sambista também (1984), que apresenta sambas da fina flor do bom pagode, como Jorge Aragão, Sombrinha, Luiz Carlos da Vila, Arlindo Cruz, Sereno e do (filho de peixe peixinho é) Mauro Diniz, excelente produtor, cantor, compositor, arranjador e músico (toca cavaquinho como poucos), filho de Monarco. De Almir Guineto, também produzido por Milton Manhães, meu predileto é Almir Guineto (1986), com os já clássicos “Caxambu”, “Mel na boca” e “Conselho”. Também merece destaque o disco Raça brasileira (1985), marco inicial desse pagode maravilhoso que acontece até hoje em todo canto!

• Mais alguns...

Outros nomes como Roberto Silva (Descendo o morro), Elza Soares (Salve a mocidade, de 1974), Jorge Ben (seu sambalanço, que inaugurou as tantas misturas do samba, pode ser ouvido em 10 anos depois, de 1973), Jamelão (Recantando mágoas – Lupi, a dor e eu, de 1987), Aniceto do Império e Campolino (O partido-alto de Aniceto e Campolino, de 1977), Jorge Veiga (O melhor de Jorge Veiga, de 1975), Moreira da Silva e Ataulfo Alves podem e devem ser uma referência para quem quer ouvir bom samba.

• Samba instrumental

No samba instrumental, gosto muito de Samba! Alegria do Brasil (1956), de Waldir Calmon e sua Orquestra, apresentando a antológica versão de “Na cadência do samba”, de Luiz Bandeira, trilha musical do futebol no inesquecível cine-jornal esportivo Canal 100, de Carlinhos Niemeyer. Também os discos de Jacob do Bandolim, que dava “receitas de samba” em obras como Época de Ouro (1959) e Assanhado (1964).

Aqui me despeço, agradecendo ao André pelo convite e pela paixão que ajudou a despertar em mim, e dedicando este pequeno texto a três outras paixões da minha vida: minha filha Manu, que “bom sujeito já é”, ao Flamengo, que já deu e ainda vai dar muito samba, e ao Rio de Janeiro.













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