Elizeth Cardoso
Elizeth Cardoso entrou no cenário musical por intermédio do instrumentista e compositor de choro Jacob do Bandolim. Foi ela quem lançou o LP considerado um marco da bossa nova, cantando com timbre seguro e agradável as composições de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Aliás, não havia gênero musical que intimidasse a voz da divina Elizeth: seu repertório incluía até peças de Villa-Lobos.
Com influência da música popular norte-americana, do impressionismo europeu e das tradições musicais brasileiras, a bossa nova, de acordes dissonantes, notas alteradas e interpretações intimistas no canto, abriu uma nova página estética na história da música brasileira. E é, indiscutivelmente, o estilo brasileiro mais difundido no mercado internacional até hoje.
João Gilberto
“Se você disser que eu desafino, amor
saiba que isso em mim provoca imensa dor...”
TOM JOBIM e NEWTON MENDONÇA, “Desafinado”
Há muito nos ensinam os estudos das áreas humanas que genialidade é uma construção social. Diria o poeta que a criação artística é mais transpiração do que inspiração. Assim foi com o baiano João Gilberto. Sua batida diferente ao violão e os famosos acordes dissonantes foram resultado de anos de estudo sobre o instrumento. E a conseqüência foi o surgimento de novos rumos estéticos na música popular brasileira.
João Gilberto começou a atuar no meio musical como crooner. Fez parte do grupo Garotos da Lua em 1950 e, por incrível que pareça, imitava com perfeição a voz do mestre Orlando Silva, dono de uma interpretação forte e segura. Mas João consagrou-se justamente por sua opção de fazer a voz soar com suavidade, intimista, cool, que, poderíamos dizer, assemelhava-se às dos jazzistas. Segundo Ruy Castro, contudo, o jeito de cantar de João tinha tradição mesmo era em nossa terra. Diz ele: “Se você ouvir as gravações do Luís Barbosa do começo dos anos 30, do Ciro Monteiro e da dupla Joel e Gaúcho, já no final dos anos 30, do Jorge Veiga e do Vassourinha, no comecinho dos anos 40, do Roberto Silva...
você vai ver que esse tipo de ‘bossa’ para cantar foi a fundação da bossa nova.
Sem falar nos conjuntos vocais, que o João conhecia todos e até participou de alguns. A partir daí, essa propalada influência americana fica quase imperceptível quando se ouve esses discos em seqüência.” Para João, voz e violão são inseparáveis. Seu canto é coloquial, quase igual à fala. O ato de equilibrar-se entre a origem e o desaparecimento do próprio gesto de cantar uniu o ritmo da fala ao ritmo da música. Segundo seu parceiro Tom Jobim, responsável pelos arranjos do disco de estréia, com os clássicos “Chega de saudade” e “Bim-bom”, quando João se acompanha, o violão é ele, quando a orquestra o acompanha, a orquestra também é ele”.
Foi acompanhando ao violão a cantora Elizeth Cardoso no LP Canção do amor demais, especificamente nas músicas “Chega de saudade” e “Outra vez”, que João lançou o estilo que viria a caracterizar o movimento bossa-novista: acentuação no tempo fraco e alteração de acordes de passagem, que no samba e no choro sempre eram característicos da harmonização.
Em 21 de novembro de 1962 houve a famosa apresentação dos meninos da bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, para mais de três mil pessoas. Na primeira fila, gênios como Miles Davis, Dizzy Gillespie, Gerry Mulligan, Tony Bennet, para ouvir Sérgio Ricardo, Tom Jobim, João Gilberto e tantos outros. Esse début nova-iorquino da bossa nova, apesar do inglês macarrônico de muitos músicos, consolidou mundialmente o estilo.
Com o mercado internacional aberto, João gravou com Stan Getz um LP na gravadora Verve que ficou nas prateleiras da fábrica por um ano. Depois de lançado, o disco foi um dos 25 mais vendidos do ano, recebeu seis Grammy (importante prêmio no universo musical), e João passou a ser considerado um dos violonistas mais respeitados dos Estados Unidos, país no qual fixou residência à época. A turma da bossa confirmava a qualidade da música brasileira sem recorrer ao exotismo caricatural que imperara no passado.
João Gilberto gravou Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Roberto Menescal, Carlos Ly ra, Ronaldo Bôscoli e Newton Mendonça, mas sua discografia sempre teve espaço para os chamados sambas “tradicionais”. Para João, a bossa era uma nova maneira de encarar (incorporar) o samba. Cantou então Dorival Caymmi, Ary Barroso, Geraldo Pereira, Marino Pinto e Zé da Zilda, Bide e Marçal, Wilson Batista... Utilizou sua antena com o mundo para revolucionar o universo do samba. A “raiz” era o motor de sua bossa.
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