SÉRIE DOSE DUPLA – HUMOR, SÁTIRA E O JOCOSO NA MPB
Noel e suas deliciosas cronicas e letras jocosas
Estava com “Samba Erudito” na cabeça, do nosso querido zoólogo-compositor Paulo Vanzolini, muito mais conhecido por “Ronda” e “Volta por Cima”.
Dei conta de quanto aprecio as letras jocosas, engraçadas, com humor. Lembrei-me de “Pistão de Gafieira”, de Moreira da Silva, todo o universo de Genival Lacerda, que ultrapassa a tênue linha do jocoso para o safado, a dupla intenção, tão difundida no Nordeste.
O brequistas, Moreira e Bezerra, por exemplo, Jards Macalé, Mautner na sátira. Foi que me recordei de Noel, talvez o melhor de todos, na crônica do cotidiano, na auto-depreciação, no relato de situações engraçadas e satíricas.
Não me arriscarei em rever a biografia de Noel ou mesmo parte dela, para não incorrer numa repetição desnecessária. Afinal, quem não conhece Noel?
A única coincidência é que no último domingo, dia 11 de dezembro, foi aniversário da data de nascimento do poeta da Vila. Nasceu no Rio, em 1910 e morreu na mesma cidade, em janeiro de 1937, aos 26 anos.
Hoje, fui atrás de gravações mais antigas e o contraponto com uma versão diferente, além da que Djavan gravou no Songbook de Almir Chediak. Primeiro encontrei, na voz de Almirante:
“Tarzan (Filho do Alfaiate)” – de Noel Rosa e Vadico, 1936 com Almirante
Quem foi que disse que eu era forte?
Nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol…
O meu parceiro sempre foi o travesseiro
E eu passo o ano inteiro sem ver um raio de sol
A minha força bruta reside
Em um clássico cabide, já cansado de sofrer
Minha armadura é de casimira dura
Que me dá musculatura, mas que pesa e faz doer
Eu poso pros fotógrafos, e distribuo autógrafos
A todas as pequenas lá da praia de manhã
Um argentino disse, me vendo em Copacabana:
‘No hay fuerza sobre-humana que detenga este Tarzan’
De lutas não entendo abacate
Pois o meu grande alfaiate não faz roupa pra brigar
Sou incapaz de machucar uma formiga
Não há homem que consiga nos meus músculos pegar
Cheguei até a ser contratado
Pra subir em um tablado, pra vencer um campeão
Mas a empresa, pra evitar assassinato
Rasgou logo o meu contrato quando me viu sem roupão
A gravação recente, que achei sintonizada com a intenção de Noel Rosa, na sua mais genuína produção, foi a de Zeca Pagodinho:
Certa vez, colhia um depoimento do grande amigo Pelão para uso numa publicação em que trabalhava para lançamento ainda em janeiro de 2016, “São Paulo, um estado de emoções”, para a qual dizia algumas palavras que usei no livro.
Porém não há encontro à toa, quando o interlocutor é Pelão. Claro que aproveitei o papo agradável e alto nível de informação para fazer algumas perguntas fora da pauta.
Lembro que falei sobre a feliz parceria de Noel, com o paulista Vadico, para mim uma curiosidade muito grande.
Pelão, com sua franqueza inegociável, falou: “Olha Macedo, o Vadico foi um ótimo artista, um grande pianista, aqui do Brás, mas Noel era Noel. Um homem que, em oito anos, deixou mais de 400 músicas de qualidade, morrendo aos 26 anos, é inigualável”.
Antes de concluir, quero registrar também a versão cantada por Djavan, que foi a que me formou em “Tarzan”. Lá vai.
O arsenal de canções incluídas nesses gêneros ou jeitos de compor é muito amplo.
Semana que vem, volto com o próprio Noel ou Vanzolini, os de breque, Aldir Blanc e tantos outros. Aliás, aceito sugestões.
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