Por Laura Macedo
Orlando Silva, o cantor das multidões, concedeu à Simon Khoury aquela que seria sua última entrevista, a qual o jornal, “O Pasquim” publicaria um mês após sua morte, ocorrida em 07/08/1978.
A entrevista, ”Um Pupurri de Orlando Silva – a última entrevista do cantor das multidões” -, é simplesmente maravilhosa, mas muito extensa. O que vou destacar neste post, são três casos pitorescosnarrados por ele em lugares e situações diferentes.
1º CASO: O SUSTO
“A primeira vez que cantei em São Paulo foi à Rádio São Paulo, que ficava na Rua 7 de Abril, um pouco mais adiante e do lado oposto à Rádio Tupi. Cantava na Rádio à tarde e depois ia cantar num night club que ficava no último andar do Edifício Martinelli.
Nessa temporada não fiquei hospedado em hotel porque na temporada de Santos ficara amigo do Bacará, dono da estação de Santos, que me cedeu seu apartamento. Na Rádio São Paulo era um problema porque o pessoal, as moças, não deixavam que eu saísse impunemente da estação, eram autógrafos, gravatas, lenços que eu tinha que dar, beijos, etc. e tal; e eu precisava mudar de roupa e tomar banho antes de atacar no night club.
Um dia em que consegui chegar ao apartamento, depois de tomar banho fui ao armário pegar o Summer e tinha uma moça lá dentro. Quase morri de susto! Ela queria ir comigo ao nigth club, queria depois vir comigo para o Rio de Janeiro e me prometeu amor eterno.
Foi um negocio, a moça era menor de idade e eu podia entrar numa fria, tive que levar a coisa no papo, para conseguir convencê-la a voltar pra casa dos pais. Ela disse que não poderia porque os pais iam bater nela e tive que prometer que iria levá-la para casa e interceder por ela com seus pais. E assim se deu.
Muito bem, ela passou a me escrever sempre, primeiro contou que arranjou um namorado, depois que ficou noiva, depois que casou e teve alguns filhos. Alguns anos atrás eu estava fazendo uma temporada numa TV de São Paulo e uma tarde veio o contra-regra me dizendo que tinha um casal com dois filhos me esperando no corredor querendo falar comigo. Fui até eles e a mulher me perguntou: “Está me reconhecendo, Orlando”? Eu disse que não. “Sou a Olinda, a menina do armário!” Foi uma emoção tão grande, chorei, achei bonito aquilo e dei graças a Deus dela ter vindo falar comigo depois da minha apresentação porque se fosse antes eu não conseguiria cantar."
2º CASO: EFEITO MILAGROSO
"Outra coisa da qual me recordo com satisfação aconteceu na cidade do Rio Grande do Sul. Eu estava me apresentando no cinema e uma noite, quando acabei de cantar, fui procurado por um casal que se apresentou dizendo que tinha uma filha de 19 anos que me admirava muito, gostava muito da minha voz, tinha todos os meus discos, mas não podia ter vindo me ver porque era paraplégica. Há anos não movia nem um dedo e seu maior sonho era que eu fosse visitá-la.
Claro que fui, conversamos muito e quando comecei a cantar pra ela, ela se levantou, se recostou no travesseiro e segurou as minhas mãos. Os pais ficaram atônitos porque ela não se movia há anos e é claro que eu caí na choradeira."
3º CASO: REPERTÓRIO TERAPÊUTICO
"Esse aconteceu em Recife com uma senhora que se chama Francisca Teixeira. Tinha muitos filhos e adorava o marido que um dia sem mais nem menos a abandonou. Dona Francisca não se conformou virou uma mulher nervosa, apática, estóica e os filhos muito preocupados estavam esperando pelo pior, tentaram tudo pra ver se conseguiam fazer alguma coisa que interessasse à mãe, mas nada.
Um dia, um deles comprou um disco meu e ouvindo uma das músicas na sala percebeu que houvera uma reação positiva de Dona Francisca. Mais do que depressa comprou todos os meus discos que encontrou e naquela casa se iniciou um festival de Orlando Silva.
Resultado: Dona Francisca voltou à vida e eu cheguei à conclusão – (rindo bastante e em tom de blague) – que além de ter um repertório de bom gosto, tinha um repertório terapêutico!"
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...JUSCELINO ME LEVOU PRUMA SALA NO PALÁCIO. TIROU O PALETÓ E OS SAPATOS DE DISSE: "AGORA VAI CANTAR 'A SERTANEJA' SÓ PRA MIM"...
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FONTE:
Jornal “O Pasquim”, nº. 479, 01 a 07 de setembro de 1978, pág. 12 a 15.
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