Considerado por muitos como um dos grandes compositores de sua época, Ary de Resende Barroso, ou simplesmente Ary Barroso, é autor de alguns clássicos da MPB tal qual "Camisa Amarela" e "Aquarela do Brasil". Em sua biografia consta também uma significativa passagem pela radiofonia brasileira a partir de locuções esportivas e programas de calouros. Atuando como locutor esportivo, por muitas vezes, largava o seu posto e o microfone para brigar com juízes em defesa do Flamengo, clube ao qual era extremamente apaixonado. Uma das marcas de suas narrações era a gaitinha que o acompanhava para anunciar a hora do gol como certa vez registrou Moraes Moreira na canção "Vitorioso Flamengo": "A gaitinha vai tocar / Como no tempo de Ari Barroso / Pra comemorar mais um gol! / Desse meu vitorioso flamengo". Como apresentador de programas de calouro, o compositor de Ubá deu início a este ofício em 1947, na Rádio Cruzeiro do Sul, com o programa Calouros em desfiles. Neste programa foi protagonista de momentos inusitados ao avaliar erroneamente calouros que posteriormente viriam a se tornar expressivos nomes dentro de nossa música popular brasileira. Como apresentador de tais programas, há diversas histórias envolvendo o nome de Ary, dentre elas, a da apresentação de uma caloura negra, franzina e de aparência (apesar da pouca idade) bastante sofrida. Ao chegar com um sapato maior que o seu pé, os cabelos mal arrumado, com um vestido desordenado, a pretensa cantora foi olhada dos pés à cabeça pelo apresentador que com sarcasmo soltou a pergunta: "Minha filha, o que você veio fazer aqui?", a caloura então respondeu: "Cantar, seu Ary..."; o apresentador então a questionou com uma pergunta que a desprezava com altivez: "De que planeta você veio?". Sem titubear, aquela que viria a se tornar uma grande cantora pouco tempo depois respondeu: "Do planeta fome". A resposta emudeceu Ary que não teve como gongar aquela menina que passaria a ser conhecida em todo o país como Elza Soares.
Outra passagem interessante ao longo de sua carreira radiofônica se deu com outra caloura que pouco tempo depois viria a se tornar uma das grandes cantoras existente no Brasil: Dalva de Oliveira. Dalva pretendia seguir carreira artística, e tomada por uma coragem não sei de qual origem, acaba por se escrever no temido programa de calouros de Ary. Após a apresentação da pretensa cantora, o apresentador, que sempre buscava polemizar suas opiniões a frente do microfone, sem dó nem piedade sentenciou: “Volte imediatamente ao tanque, de onde nunca deveria ter saído. Vá lavar roupa! A senhora jamais deveria abrir a boca para cantar”. Essas duras palavras proferidas por Ary acabam por entristecer aquela menina que sonhava com os palcos, e tal humilhação, diante de todos, foi um baque, e Dalva acaba por cair em uma profunda melancolia. Por conta de tudo isso, Dalva pela primeira vez, devido a tanta tristeza, ousa duvidar daquele que é o seu maior sonho: cantar. Anos depois, ciente de que havia cometido uma grande injustiça com aquela jovem menina que viria a se tornar uma das grande cantoras da década de 1950, o mesmo Ary Barroso escreve o clássico “Folha morta”, como pedido de desculpas pelo erro cometido tempos atrás. Outro nome que em um primeiro momento foi gongado pelo apresentador foi o Rei do Baião Luiz Gonzaga. Em 1940, no Rio de Janeiro, o pernambucano estava a procura de uma oportunidade nos programas de calouros existentes. Na primeira vez que procurou mostrar o seu talento no programa de Ary Barroso foi reprovado; mas ao persistir em seu sonho, resolveu voltar ao programa do famoso compositor e ao se apresentar novamente , obteve a nota máxima, 5, raramente dada a alguém pelo exigente Ary Barroso.
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