sábado, 21 de maio de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA

SÉRIE “O CHORO” – PARTE III – ESPAÇOS MUSICAIS IMPORTANTES

Chorinho – unanimidade: alegra, agrega e agrada


É cada vez mais consensual perceber o poder aglutinador do choro. Com depoimentos, consultas e como testemunha ocular, posso constatar essa tese. Sim, o choro é a música popular mais tocada no Brasil, como manifestação espontânea, abrangendo um número incalculável de músicos semiamadores ou semiprofissionais, além dos artistas de carreira, executando o gênero pelo país afora.

Pode-se afirmar que, bem mais do que o pagode, do famoso “Partido Alto”, da roda de samba, e das demais formas musicais executadas em reuniões à volta de uma mesa ou uma mesinha qualquer, geralmente acompanhando churrascos, feijoadas e outras efemérides gastronômicas, por assim dizer, que é o chorinho o grande acompanhante musical. É solo, mas não carece de reposicionamento na cadeira, é gingado, mas não necessariamente dançante, é melodia gostosa para se ouvir e apreciar ou deglutir e alegrar a alma. E alvissareiro ver o crescente número de espaços, escolas e salas que vêm sendo abertas para o aprendizado do chorinho. E, se não for para ele como foco exclusivo, para seus instrumentos principais. Se fosse eleger o instrumento do momento – que está apenas reafirmando sua trajetória – diria que o grande xodó é violão de sete cordas. Para quem quiser saber um pouco mais sobre o assunto, não deixe de ver o excelente documentário que vem passando às quintas-feiras, às 20 horas, no Canal Brasil (na NET-HD 650). Trata-se de “Sete Vidas em 7 Cordas”, conduzido por Yamandu Costa e com a presença de alguns de maiores virtuoses como Hamilton de Holanda, Carlinhos 7 Cordas, nosso conterrâneo Vinícius Sarmento, além do grande Luizinho 7 Cordas, que vem me dando aulas de chora e de história da música.

Falarei aqui hoje de duas escolas absolutamente importantes no contexto do ensino e da disseminação de instrumentos, notadamente aqueles utilizados pelo choro brasileiro. Ficarei em São Paulo e no Recife, mas não tenho qualquer receio de dizer que o fenômeno se estende por todo o país.


Escolas/espaços/oficinas



Espaço Uirapuru

Quando fui ao Espaço Uirapuru, entrevistar o Luizinho 7 Cordas, fiquei assombrado. O espaço, fundado há pouco mais de um ano, oferece cursos livres de violão, bandolim, piano, flauta, saxofone, cavaquinho, clarinete, prática de conjunto, além de workshops, recitais e outras atividades musicais.

O empreendimento é uma sociedade dos músicos Euclides Marques e Zé Garcez. Situa-se nas entranhas da Vila Mariana, numa vila, com portão e tudo, cujo acesso à rua do endereço – comendador Paulo Brancato – se dá pela desconhecidíssima rua Sud Menucci. Mesmo para um vila-mariano de ocasiões importantes como eu, que por ali circula há décadas, a coisa é difícil.

Porém ao encontrar o lugar, tem-se a recompensa de um local aprazível quase inexistente na São Paulo de hoje. A rua se esconde de tal forma que mesmo com mapa você poderá fazer, de carro, algumas vezes o mesmo trajeto. Passada a primeira ida, depois chega-se ali de olhos bem abertos, porque não é fácil. Brincadeiras à parte, a casa de porta e janela é de uma singeleza só. No número 49 a única coisa a demonstrar que existe algo de musical na Vila Mariana é apenas uma capa de cavaquinho apregoada acima da porta de entrada. No mais, nada.

Dentro sim. Dentro existem três, quatro salas para estúdio com isolamento acústico, de modo que, quem está dentro não ouve o barulho da rua e quem está fora perde os repetidos momentos musicais da oficina.

Há uma cozinha nos fundos que nos dias de recitais é usada como cantina para oferta de petiscos e bebidas aos expectadores. A sala maior da casa também pode ser vedada, o que libera um espaço muito bom para as apresentações que fazem durante o ano inteiro. No último dia 10 de dezembro, apresentou-se ali o grupo “Madeira de Vento”, quarteto de clarinetas. Foi a última apresentação do ano no ‘Uirapuru’, que prevê uma grande programação para 2016.

Para Luizinho 7 Cordas, o “Espaço Uirapuru” tem tudo para ser o grande núcleo do choro em São Paulo, face as pretensões dos proprietários, sua própria participação – ensina o seu violão típico – e as condições de trabalho que vêm melhorando a cada dia.

Luizinho afirma que não conhece outro espaço tão completo, voltado diretamente para o choro e a música instrumental como aquele.


Escola Municipal de Artes João Pernambuco, Várzea, Recife – PE: Escola Municipal de Artes João Pernambuco uma área bucólica, perfeita para o ensino da música

Foi em outubro de 2013, quando escrevi sobre os grandes músicos de choro de Pernambuco, que reconheci a extraordinária importância de João Pernambuco para o gênero e para toda a música popular brasileira, na virada dos séculos XIX para o XX. Na mesma pesquisa, tomei conhecimento da Escola Municipal de Artes João Pernambuco (EMAJP).

Graúna, de João Pernambuco – Grupo Antônio Adolfo e “Nó em pingo d’água”:



Agora, em fevereiro de 2015, coloquei a escola como visita prioritária quando estivesse no Recife. Com meu irmão estudando ali, pude desfrutar de um anfitrião de primeira linha: a visita monitorada por um aluno especial.

A escola possui auditório, teatro, salas de aula, oficinas. Em 2015, a instituição abriu inscrições para duas mil vagas para aulas de teatro, dança e música. Os cursos acontecem em forma de oficinas e incluem aulas teóricas e práticas, nos três turnos.

Há turmas para crianças e adolescentes e outras para alunos maiores de 14 anos. Os alunos maiores de 14 anos inscritos nos cursos de Teatro ou Música precisam primeiramente fazer as oficinas preparatórias, que duram seis meses. Após esse período, eles podem renovar a matrícula e fazer o curso profissionalizante, que dura mais dois anos.

No vestibular da Universidade Federal de Pernambuco, de 2015, por exemplo, mais de dez alunos que passaram no curso de Licenciatura em Música saíram dessa escola. Também foram aprovados alunos de Teatro e Dança da Escola Municipal de Arte João Pernambuco, fundada em 1991.

Enquanto isso, um pouco da contemporânea Chiquinha Gonzaga:

Atraente – Chiquinha Gonzaga, com “As Choronas”:




m 2013, a escola foi o centro de uma polêmica entre a proposta do prefeito do Recife de transferir a escola da Secretaria Municipal de Educação para a Secretaria de Juventude e Qualificação Profissional, considerada uma pasta eventual e inadequada para coordenar os cursos. Hoje, a “João Pernambuco” permanece vinculada à Educação, que possui 17 escolas profissionalizantes.


A escola recebe cerca de 1,6 mil alunos por ano. João Pernambuco é uma das maiores personalidades musicais do país e do mundo. Para quem não conhece bem a obra do autor de “Sons de Carrilhões” e de “Luar do Sertão”, e também de Graúna, cuja interpretação de Raphael Rabelo é antológica.

Semana que vem, tem mais.

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