Com sua orquestra ele conseguiu levar o frevo até até a China
Por José Teles
Há 30 anos, um adolescente de 14 anos, tocava pela primeira vez no Carnaval de Olinda. Empunhava um sax tenor na orquestra do maestro Paulo Lira. Se seu conhecimento do instrumento era pouco, o que sabia de frevo era praticamente nada. Não conseguia tocar, sem se perder, nem mesmo o mais conhecido dos frevos instrumentais, Vassourinhas: "Errei uma frase da música, e um saxofonista, já coroa, da orquestra gritou bem alto para o maestro que queria que o meu dinheiro fosse pago a ele, porque estava tocando por nós dois. Fiquei morto na hora. O pior é que ele tinha razão. Aquilo até me ajudou, embora ele teria feito mais certo se tivesse dito isso, em particular, ao maestro". Quem conta o episódio é Inaldo Cavalcante de Albuquerque, o maestro Spok, 44 anos, que, com o centenário Clube Bola de Ouro, é um dos homenageados do Carnaval do Recife em 2015.
Uma honraria que ele, a principio relutou em aceitar: "Quando o prefeito me chamou para me contar da escolha, disse que não me sentiria confortável porque havia vários mestres do frevo que mereciam a homenagem. Só fui convencido a aceitar depois que dona Leda Alves (Secretária de Cultura do Recife) me explicou que, a partir deste ano, seriam homenageados o tradicional e o novo", revela. "Fui muito cobrado por pessoas que vinham me dizer que eu ainda era muito jovem para uma homenagem dessas. E eu explicava o que tinha acontecido. Com o tempo, desisti de dar explicações."
Nascido em 12 outubro de 1970, em Igarassu, criado em Abreu e Lima, Spok começou a aprender música no início da adolescência, com o primo Gilberto Pontes, testemunha da grita do velho saxofonista contra o garoto que não sabia tocar nem Vassourinhas direito. Três décadas depois, ele e Giba já tocaram Vassourinhas com todas as variações do saxofonista Felinho (Félix Lins de Albuquerque, 18951980) nos mais prestigiados palcos de jazz dos EUA e Europa. Com a Spokfrevo Orquestra, o frevo foi ouvido por plateias que nunca tinham ouvido falar em Pernambuco. Spok virou santo de casa que faz milagres e, reconhecido pela prefeitura, que lhe deu carta branca para reunir os convidados que se apresentam com ele no Marco Zero, na abertura do Carnaval 2015. O maestro está montando uma espécie de "Esta é sua vida".
Pelo palco principal do Carnaval recifense passarão de instrumentistas com quem ele deu os primeiros passos na música à Banda de Pau e Corda, o primeiro grupo com que tocou. E também Antônio Nóbrega em torno do qual se formou sua orquestra , Léo Gandelman, Fagner, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, além de maestros veteranos, culminando com a reunião de Spok com os filhos, o caçula Nilinho, o guitarrista e produtor Yuri Queiroga, a cantora Ylana Queiroga, e os netos, Bento e Tomás (filhos de Ylana). "Cada uma dessas pessoas são parte importante da minha trajetória", afirma. Spok revela ainda que vai combinar uma homenagem a Fernando Lobo, pai de Edu, pernambucano, autor de frevos, e cujo centenário acontece este ano.
Acrescentem-se a estes nomes instrumentistas e cantores contemporâneos de Spok, com quem ele anima Carnavais desde os anos 1990: André Rio, Nena Queiroga, Luciano Magno, Vanessa, Marrom Brasileiro, além dos forrozeiros que também são do frevo como Josildo Sá, Maciel Melo e Beto Hortiz. A festa terá todas as imagens registradas e possivelmente virará filme, assim como acontecerá com o trabalho da megaorquestra que fecha o Carnaval do Recife.
Outro filme que está bastante adiantado é Do frevo ao jazz, que documentará o encontro do ritmo pernambucano com a música americana nascida em Saint Louis, onde a orquestra tocou na turnê americana do ano passado. Esta e a turnê anterior, nos EUA (em 2012) nascidas de um encontro casual com o trompetista Wynton Marsalis no Festival de Jazz de Marciac, na França, em 2010, quando Marsalis assistiu ao concerto da orquestra e fez um convite, no backstage, para ela tocar nos Estados Unidos. "O filme será completado com a vinda de Wynton Marsalis ao Recife com a orquestra do Lincoln Center, em abril, para uma apresentação com a Spokfrevo."
Depois do elogiado 7 corações, de Dea Ferraz, no qual teve participação ativa, Spok tomou gosto pelo cinema, e já planeja mais um filme: Vozes do frevo, com intérpretes da música que, parafraseando Capiba, nenhuma outra terra tem
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