Por Bruno Negromonte
A alguns dias atrás saíram os nomes dos homenageados do carnaval da cidade do Recife em 2014. E para a minha surpresa (e de muitos que assim como eu torciam) não constou o nome de Geraldo Azevedo que, diga-se de passagem, no próximo mês completa sete décadas de vida das quais quase cinco dedicadas a música. O escolhido foi o Maestro Spok, exímio e talentoso músico que assim como o saudoso Carlos Fernando vem oxigenando o frevo, centenário ritmo que não sei por quais razões mantém-se ainda muito restrito ao seu estado de origem. O maestro Spok tem procurado de modo primoroso quebrar este estigma fazendo um primoroso trabalho de divulgação e expansão do ritmo por onde tem levado a sua orquestra. Suas apresentações demostram que o músico vai além do trivial a partir de incursões pelos mais distintos gêneros musicais que ele soube fundir de modo uníssono e em perfeita harmonia com a música que nomes como Edgar Moraes, Capiba, Nelson Ferreira e os irmãos Valença tão bem fizeram outrora. Isso basta para que o maestro torne-se o homenageado de qualquer carnaval existente no país que tenha o frevo como alicerce principal.
É válida a homenagem e todas as pompas à trajetória deste promissor músico nascido em Igarassu e que hoje tão bem representa o mais genuínos dos ritmos pernambucanos em palcos de todo o mundo. No entanto, faz-se necessário levar em consideração alguns aspectos no critério de escolha do homenageado. Talvez o mais óbvio seja a questão das faixas etárias, uma vez que em detrimento aos 44 anos do homenageado, estão os 70 anos de Geraldo Azevedo. Não que a idade seja fator primordial dentre os critérios existentes para a escolha, mas há de se levar em consideração que sete décadas não são sete dias; outro aspecto analisado é que todos os contemporâneos do artista petrolinense já tiveram sua homenagem outorgada pela prefeitura da capital pernambucana. Naná Vasconcelos, Alceu Valença e Carlos Fernando são alguns dos exemplos que podem ser facilmente citados. Inclusive estes dois últimos tendo seus nomes muito ligados ao trabalho de Geraldo ao longo de suas respectivas carreiras.
Há quem possa utilizar dos mais distintos argumentos para justificar a não homenagem a Geraldo Azevedo, no entanto haverá sempre um a mais para provar o contrário e mostrar que a história da música pernambucana deve um capítulo em especial a este músico que de modo coerente pautou a sua arte. Assim como a Spok, todas as flores são mais que merecidas para Geraldo Azevedo, um artista que soube como poucos pautar a sua carreira a partir de características muitas vezes arredia as exigências do mercado, o que de certo modo o afastou das grandes massas, mas um público, um nicho específico do mercado de discos e shows que o acompanham por onde for. Essa marca talvez seja hoje um dos fatores que mais pese em relação a não escolha do artista para esta homenagem. Não me vem a memória nada que escape deste contexto. No mais sei que minha opinião sobre o assunto é extremamente parcial, no entanto não quero que Geraldinho faça parte das estatísticas do samba “Quando eu me chamar saudade” dos saudosos Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho. Não desmereço a escolha pela comissão organizadora do maior evento da cidade do Recife, reafirmo que a escolha foi justa e merecida, mas a prefeitura da cidade deveria ter levado em consideração aspectos que corroboravam para que o homenageado do carnaval deste ano fosse Geraldo Azevedo. Mas como diz o próprio em uma de suas canções: “Era quem sabe esperança, indo a outro lugar.”
Se não foi agora, torço para que esta homenagem aconteça em outro momento, quiçá em alguma festividade no decorrer do ano ou até mesmo, ao longo de 2015, através da realização da gravação do almejado DVD na Praça do Arsenal fazendo deste evento um verdadeiro carnaval à altura daquele que, no coração de muitos, a homenagem se dá ao longo dos 365 dias do ano desde quando o artista ao lado de Carlos Fernando compôs “Aquela rosa”, defendida por Teca Calazans na Feira Nordestina da Música Popular Brasileira, em 1967. Diga-se de passagem, ano em que o homenageado do carnaval nem sonhava em nascer.
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