quarta-feira, 9 de abril de 2014

20 ANOS SEM SYNVAL SILVA

Por Gerdal José de Paula



Taí o samba que você pediu, Marina/taí, eu fiz tudo e você desistiu, Marina/taí, meu amor, toda a minha afeição/e você vai me matando pouco a pouco de paixão..." Era 1968, ano da I Bienal do Samba, na TV Record, e, com essa outra "Marina", bem mais espevitada no ritmo e no proceder que a de Caymmi, Synval Silva, com a interpretação de Noite Ilustrada, brilhava numa das eliminatórias da contenda musical, ganha por Elis Regina com "Lapinha", de Baden Powell e Paulo César Pinheiro.

"Marina" é um samba que o próprio Synval regravou, aos 61 anos, na faixa de abertura do único elepê que lançou, em 1973, com arranjos de Nelsinho e Peruzzi, pela série Documento da RCA. Parceiro de Nélson Trigueiro em "Crioulo Sambista" ("Quase todo crioulo do morro é sambista/toda mulata bonita é artista/desempenha diversos papéis sozinha/à noite, ela samba no morro/de dia, ela enfrenta a cozinha...") e de Herivelto Martins em "Negro Artilheiro" ("Roda de samba de negro não tem mais cachaça/há muito negro artilheiro defensor da raça..."), Synval também deu emissão própria, na faixa final desse disco, à sua bela exaltação, de recorte clássico, "Brasil, Explosão do Progresso" – feita com Jorge Melodia –, um samba-de-enredo que embalou o desfile de 1973 da Império da Tijuca, escola de samba da qual foi fundador, baseada no mesmo Morro da Formiga de recente UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), na Tijuca, onde morou por muito tempo.


"Coração, governador da embarcação do amor/coração, meu companheiro na alegria e na dor/a felicidade procurada corre/e a esperança é sempre a última que morre.." Esse samba, "Coração", foi uma das vias, nem sempre bem pavimentadas, pelas quais Synval Silva, motorista particular de Carmen Miranda, conduziu-a ao concorrido destino do sucesso. O mesmo percurso ela fizera com "Arlequim de Bronze" ("Ó Deus, eu me acho tão cansada/ao voltar da batucada/que tomei parte lá na Praça Onze/ganhei no samba um arlequim de bronze/minha sandália quebrou o salto/e eu perdi o meu mulato lá no asfalto...."), outro samba de Synval, de cujas piadas a Pequena Notável ria-se à larga, não raro arranjando-lhe um bico de corista em gravações ou mesmo em algumas das suas apresentações.




Synval Machado da Silva nasceu em Juiz de Fora (mesma cidade de Geraldo Pereira), MG, em 14 de março de 1911, filho de um clarinetista. Embora tenha aprendido muito cedo a tocar violão, instrumento no qual se desenvolveu num bom nível, despontou inicialmente aos olhos do público como clarinetista, tocando o instrumento na banda sinfônica da cidade. Além disso, para garantir o sustento,tornou-se mecânico de automóveis e também motorista particular. Compôs sua primeira música em 1927, a valsa "Lua de Prata".


Em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar no Morro da Formiga. Tocou violão no Regional de Jorge Nóbrega que era contratado da Rádio Mayrink Veiga e fez parte também do Regional Good-Bye, na mesma emissora. Nessa época, conheceu Assis Valente que, em 1934, o apresentou àquela que iria mudar para sempre a sua vida: Carmen Miranda.

Synval tornou-se o compositor favorito de Carmen - a primeira canção gravada por ela foi "Ao Voltar do Samba", ainda em 34, fazendo um grande sucesso. Carmen prometeu dois contos de réis (um dinheirão para a época) se Synval lhe fizesse um samba que alcançasse metade do prestígio conseguido por "Ao Voltar... o resultado foi "Coração", sucesso em 1935. Carmen então ofereceu três contos de réis por nova composição, resultando dessa vez em "Adeus Batucada". A Pequena Notável gravou ainda "Saudade de Você" e "Gente Bamba".




Outros cantores também começaram a gravar suas músicas: Aurora Miranda cantou a marcha "Amor!Amor!",Orlando Silva interpretou o samba "Agora é Tarde",Odete Amaral gravou "Alma de um Povo" e o Trio de Ouro registrou o samba "Madalena se Zangou", feito em parceria com Ubenor Santos.

Synval participava ativamente da vida do morro e em 1940 foi um dos fundadores da Escola de Samba Império da Tijuca. Nesse mesmo ano, Ataulfo Alves gravou o samba "Geme Negro", que fez em parceria com Synval. No início dos anos 50, o compositor esteve durante seis meses nos Estados Unidos e participou de um show, juntamente com Carmen Miranda,que percorreu todo o país, do Atlântico ao Pacífico, divertindo os soldados hospitalizados e aqueles que iriam embarcar para a Guerra da Coréia.

Voltando ao Brasil, sem conseguir viver apenas de direitos autorais, Synval voltou a trabalhar como mecânico. Com o samba "Marina", defendido por Noite Ilustrada, o compositor participou da I Bienal do Samba, da TV Record, em 1968. Em 72, apresentou-se em São Paulo como integrante do Batuk-Show, ao lado de Mano Décio da Viola e Xangô da Mangueira. Gravou, em 73, um LP para a RCA, no qual interpretava sete músicas antigas e mais "Amor e Desencontro", composto com Marilene Amaral. Nessa época se afastou da vida artística. Synval Silva deu o seu adeus à batucada em 14 de abril de 1994.

Fonte:
samba-choro.com.br
revistamusicabrasileira.com.br

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