De sua nova casa, em Juiz de Fora, ele convoca o Brasil ao diálogo
Por Ana Clara Brant
Ava Nheyeyru Iyi Yvy Renhoi – Semente da Terra. É assim que Milton Nascimento foi batizado por 37 líderes espirituais da nação guarani kaiowá, do Mato Grosso do Sul (MS), em cerimônia realizada em 2010. A relação de Bituca com os índios vem de longa data. Tanto é que um de seus trabalhos mais importantes, o disco Txai (1990), é um canto de amor aos povos da floresta.
O nome do compositor em guarani o inspirou a voltar aos palcos depois do ano sabático passado em Juiz de Fora. O show Semente da Terra será apresentado em 25 de março, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Os ingressos se esgotaram rapidamente e, de acordo com a produção, não haverá sessão extra.
“Não é que o projeto seja voltar às origens, mas, sim, propor algo novo, embora sem deixar a história para trás”, afirma o cantor e compositor. Além dos índios, o vencedor de cinco prêmios Grammy vai interpretar canções com foco nos negros, nas mulheres e nas crianças – temas presentes em toda a sua obra, desde o lançamento do álbum Milton Nascimento, há 50 anos.
“Neste momento atual, posso dizer: sim, é um show político. Só que no sentido de proporcionar uma reflexão direta. Neste show estão todos os temas sociais que abracei desde o começo”, pontua Milton. O repertório também terá músicas que ele não canta há algum tempo: A terceira margem do rio (parceria com Caetano Veloso), Credo e Coração civil (com Fernando Brant), O cio da terra (com Chico Buarque), Lágrima do sul (com Marco Antonio Guimarães) e Sueño com serpientes (composição do cubano Silvio Rodríguez).
“O repertório é um conjunto especial da minha carreira. Especial no sentido de provocar um diálogo, tanto sobre a situação atual quanto em relação ao futuro. O que podemos fazer para nos tornarmos pessoas melhores a cada dia? Essa é a pergunta”, afirma Milton Nascimento, de 74 anos.
Há quase um ano, ele trocou o Rio de Janeiro por Juiz de Fora, na Zona da Mata. Curiosamente, chegou a morar lá quando era criança. Agora, o motivo da mudança é outro: o filho adotivo do artista, Augusto Kesrouani, estuda na cidade.
TRAVESSIA
Milton ainda não tem planos sobre a turnê de Semente da Terra e não definiu se ela resultará em um disco. Também não há nada de concreto sobre os 50 anos de Travessia, a música que o tornou conhecido ao ficar em segundo lugar no Festival Internacional da Canção (FIC), no Rio de Janeiro, em 1967. Bituca quer viver cada coisa de uma vez. A seu tempo.
Milton ainda não tem planos sobre a turnê de Semente da Terra e não definiu se ela resultará em um disco. Também não há nada de concreto sobre os 50 anos de Travessia, a música que o tornou conhecido ao ficar em segundo lugar no Festival Internacional da Canção (FIC), no Rio de Janeiro, em 1967. Bituca quer viver cada coisa de uma vez. A seu tempo.
“Esse show surgiu depois que vim para Juiz de Fora. Após uns oito meses vivendo na cidade, senti a necessidade de fazer alguma coisa nesse sentido, de voltar mesmo. Por enquanto, estamos pensando somente em curtir o primeiro show em BH. A única preocupação agora é aproveitar o momento e encontrar os amigos”, resume.
PARCERIA
A partir de 1993, mais precisamente na turnê do disco Angelus, Wilson Lopes passou a tocar com Milton Nascimento. Atualmente, além de fazer parte da banda como guitarrista e violonista, o mineiro é diretor musical de Semente da Terra. Também ajudou a selecionar o repertório em parceria com Danilo Nuha, assessor de imprensa do artista. “Mas com o aval do Bituca, claro. É sempre difícil montar o set list de um show do Milton. A gente queria mostrar a nova fase dele, enfatizando temas que estarão presentes no show, como a questão indígena, os negros e as questões sociais”, explica.
A partir de 1993, mais precisamente na turnê do disco Angelus, Wilson Lopes passou a tocar com Milton Nascimento. Atualmente, além de fazer parte da banda como guitarrista e violonista, o mineiro é diretor musical de Semente da Terra. Também ajudou a selecionar o repertório em parceria com Danilo Nuha, assessor de imprensa do artista. “Mas com o aval do Bituca, claro. É sempre difícil montar o set list de um show do Milton. A gente queria mostrar a nova fase dele, enfatizando temas que estarão presentes no show, como a questão indígena, os negros e as questões sociais”, explica.
Lopes ressalta que o show é focado mais no Bituca, apelido do cantor, do que em Milton Nascimento. “São duas pessoas completamente diferentes. Milton é uma marca, um mito, já o Bituca é mais humano, sofre, ri, chora. Daí a ideia de mostrar essa figura mais real. A ideia é fazer o Bituca mais feliz”, revela.
A banda conta também com Beto Lopes (violão sete cordas), Lincoln Cheib (bateria), Alexandre Ito (contrabaixo), Widor Santiago (metais) e Bárbara Barcellos (vocais). “A gente quer o Bituca contando causos, uma coisa bem leve e natural. Ele está vivendo uma fase maravilhosa e muito contente por morar em Juiz de Fora, onde recebe amigos e convive com o filho. O ano sabático foi muito importante, pois ele descansou e voltou cheio de energia. Há muito tempo não via o Milton tão bem”, revela Wilson Lopes.
MINISSÉRIE
Desde 2014, a produtora Terra Firme, do diretor Cleisson Vidal, vem registrando a intimidade de Bituca, sobretudo os bastidores da turnê Uma travessia. O resultado é a minissérie Milton Nascimento: intimidade e poesia, que deve ser exibida ainda este ano pelo canal pago HBO. Em quatro episódios de cerca 60 minutos o compositor mineiro fala sobre vários assuntos.
Três perguntas para...
Milton Nascimento
cantor e compositor
A efervescência política que o Brasil experimenta o motivou a fazer este show?
Sem dúvida, pois o momento atual é bastante complicado no mundo todo. Por causa disso, precisamos nos unir cada vez mais e tentar mudar alguma coisa – a começar por nós mesmos. Se não for assim, nada acontece.
O que mais o impressionou em sua convivência com os índios guaranis?
A força que eles têm, mesmo diante de tantas adversidades. O povo da nação guarani ainda resiste em suas terras, apesar da tentativa diária de não os deixarem sonhar.
O rapper Criolo e o ator Alexandre Nero estiveram aí em Juiz de Fora. Há algum projeto com eles ou foi só uma visita de amigos?
Com o Criolo pode ser que tenha alguma coisa vindo por aí em breve. Já com o Nero foi o primeiro encontro familiar mais próximo, mas ele se tornou um amigo muito querido desde o primeiro momento. Agora, o que vem por aí, mesmo, é a minha participação num projeto muito especial com o ator Daniel de Oliveira e o produtor musical BiD. (Milton preferiu não detalhar a parceria, mas BiD, em seu Instagram, informou: “Em breve, o single Moça onça, do projeto #cinemusicaparticular do ator, compositor e agora cantor #danieloliveira”.)
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