COM A DEVIDA VÊNIA
A placa estava lá: PROIBIDO ESTACIONAR. Também estavam lá as listas no chão e o meio-fio pintado de amarelo indicado a proibição de ali estacionar. Havia, porém, a truculência, a prepotência e a falta de educação de quem deveria zelar pelas leis. Parou seu carro e desafiou todas as outras autoridades locais. Achando pouco, saiu esbravejando: daqui não saio, daqui ninguém me tira. Jogou no lixo todo e qualquer resquício de dignidade, de respeito à missão que abraçou. Achou-se Deus e era apenas um Juiz a desrespeitar toda a população e o estado de direito. O povo, atônito, a tudo assistia naquele circo-esquina de uma cidade do interior. Deu-se o poder a alguém que passou a ser a verdadeira pessoa que é. A autoridade fez prevalecer sua vontade e seu carro ali ficou, indiferente à lei e aos pedidos de outras autoridades mobilizadas para contornar a situação. Na outra esquina, o vendedor ambulante parou de vender suas canetas. Ninguém as queria e a população sequer o enxergava. Ele também assistia ao espetáculo grotesco que se lhe oferecia. O camelô, com a dignidade de um magistrado, perdeu de 1×0 pro juiz enfezado. A cidadania, impiedosamente goleada.
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