Estamos em pleno domingo pós carnaval e não poderia deixar de rememorar mais uma vez um nome já abordado aqui mesmo nesta coluna ao longo da semana passada: João Roberto Kelly, compositor de boa parte das clássicas marchinhas carnavalescas que animam os salões nacionais há mais de meia década de Norte ao Sul do país. Patrimônio imaterial do Rio, as marchinhas de carnaval se popularizaram a partir dos anos de 1960 quando João Roberto Kelly deu início a gravação de uma série de canções que viriam a resistir ao tempo e tornarem-se obrigatórias neste período festivo. De sua autoria, destaca-se canções como "Cabeleira do Zezé", "Mulata bossa-nova" e tantas outras que foram, segundo Kelly compostas a partir do seu cotidiano: “Minha inspiração é o dia a dia, a vida real”. Alguns de seus maiores sucessos surgiram de modo inusitado, como é o caso de "Cabeleira do Zezé". Em 1963, ao se deparar com o garçom cabeludo José Antônio, vulgo Zezé, no bar São Jorge, estabelecimento existente na Avenida Princesa Isabel em Copacabana, ele logo o associou à figura dos Beatles. Veio o estalo e ainda na mesa compôs os primeiros versos da clássica marchinha carnavalesca: “Olha a cabeleira do Zezé! Será que ele é?”. Essa foi a sua primeira marchinha de sucesso, que estourou no Carnaval do ano seguinte. “As pessoas cantam em seguida ‘bicha!’, mas a letra não é assim”, tenta explicar o compositor. Logo em seguida, vieram outras canções que ganhariam o gosto popular e se transformariam também em clássicos como é o caso de "Mulata Iê-Iê-Iê" e "Joga a Chave" compostas ainda na década de 1960. Sem contar "Maria Sapatão" e "Bota a camisinha" composições da década de 1980 que reiteraram, duas décadas depois, a importância de Kelly para o gênero.
Outra clássico de sua lavra nasceu em homagem à mulata Vera Lúcia Couto dos Santos, a primeira a participar de um concordo de beleza nos anos 1960. Foi Vera quem inspirou Kelly para escrever os versos de "Mulata iê-iê-iê". Hoje, Kelly ainda continua a compor ciente que os tempos de outra não há mais de repetir-se devido a toda uma estrutura mercadológica existente. o entanto ele não tem do que reclamar e consegue viver dos rendimentos atrelados aos seus direitos autorais:“Ninguém fica milionário, mas dá para viver muito bem”. Rei das marchinhas, João Roberto Kelly hoje sem dúvida alguma faz parte do panteão ao qual estão presentes compositores da estirpe de Haroldo Lobo (autor do clássico carnavalesco "A-la-la-ô", Lamartine Babo (autor dos clássicos versos de "O teu cabelo não nega") e Braguinha (o saudoso compositor de "Chiquita bacana", já abordado por mim aqui em outra oportunidade). Não há como negar a sua importância para a popularização das canções carnavalescas em nosso país. É impossível e indissociável falar os nomes João Roberto Kelly e carnaval nas últimas cinco décadas. É uma relação que se não vem de berço, vem de sua tenra idade, quando o seu pai o corroborava com o seu envolvimento com a folia de momo ao levar o pequeno João Roberto para assistir aos corsos da Avenida Rio Branco e brincar ao som de sambas e marchinhas como "Nós, os carecas" e "É com esse que eu vou". É um amor indissolúvel e que pelo que parece revigorante para este homem que, beirando as 80 primaveras, é considerado o último compositor de marchinhas clássicas ainda em plena atividade. Se o Rio de Janeiro criou a marchinha, Kelly é a sua representação máxima. Vida longa a este homem que tem por combustível a alegria, o confete e a serpentina. Evoé!
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