Boubacar Tratoré mescla o blues com ritmos de origem africana para recriar o estilo num formato único
Por André Soares
O blues do Mali tocado pelas mãos de Boubacar Traoré é o segundo nome confirmado para a etapa pernambucana do MIMO, que acontecerá no sítio histórico de Olinda, entre os dias 20 e 22 de novembro.
Em seu último álbum, o Mbalimaou (2015), gravado em Bamako (capital do Mali), Boubacar, aos 72 anos, expôs ao mundo a sonoridade das progressões harmônicas de seu violão. De características e influências folk, com timbres únicos e inigualáveis, o violonista soma ao blues toda carga melancólica e nostálgica das influências da cultura árabe e das tradições africanas de um dos países do continente sem saída para o mar.
Seu disco, produzido pelo pelo premiado Christian Mousset (Womex 2009) e pelo mestre da kora (alaúde africano), Ballaké Sissoko, para a apresentação em Olinda, contará com a participação de um trio, composto por, além de Boubacar, percussão e gaita.
HISTÓRIA - Com uma sonoridade amadurecida desde a década de 1960, quando adentrou no mundo da música, pouco antes da independência do país (na época ainda colônia francesa), as músicas de Boubacar eram bastante populares nas rádios do Mali, entre elas sucessos como "Kayeba", "Mali twist" e "Kar Kar Madison", embalavam as festas.
Sem uma carreira estruturada e com seis filhos para criar, Traoré se viu obrigado a interromper a vida artística, abandonando a música para trabalhar como alfaiate, vendedor, entre outras ocupações. Caiu no esquecimento e muitos o julgaram morto.
Até que, em 1987, fez uma surpreendente aparição na TV, que lhe rendeu convites para alguns shows. Pareceu que tudo seria como antes e ele retomaria seu posto como astro da cena musical do Mali. Porém, em seguida, perdeu a mulher, Pierrete. Desolado, decidiu deixar tudo para trás e tentar a sorte na França. Juntou-se a outros imigrantes num gueto e foi trabalhar na construção civil, mandando dinheiro regularmente para a família. Nas horas de folga, pegava o violão para se distrair um pouco.
Uma antiga fita sua caiu nas mãos de uma produtora britânica, que o contratou para gravar o primeiro CD, “Mariama” (1990). O sucesso internacional não tardou a chegar e as turnês a se sucederem. Referência na Europa, seus concertos estão sempre lotados e reúnem um público cada vez mais jovem. Arrebanha numerosos fãs nos EUA (inclusive Martin Scorsese, que manifestou a intenção de fazer a sua cinebiografia) e continua reverenciado em sua terra natal.
MIMO - Este ano, o MIMO será realizado pela primeira vez no Rio de Janeiro (13 a 15 de novembro) em espaços culturais que são patrimônio da cidade como o Parque Lage, o Museu da República, a Sala Cecília Meireles, a Igreja da Candelária e o Outeiro da Glória. O festival também será realizado em Paraty (2 a 4 de outubro) e em Olinda (20 a 22 de novembro), cidade sede e "mãe" do festival.
O MIMO, em 2004, teve sua primeira edição em Olinda e já atraiu 880 mil espectadores em 300 concertos de grandes nomes do cenário cultural nacional e internacional, como Buena Vista Social Club, Madredeus, Ibrahim Maalouf, Toninho Horta, Chucho Valdés, Richard Bona, Egberto Gismonti e Richard Galliano.
Chega à 12ª edição como o maior festival de música instrumental do Brasil. Realizado em cidades que preservam bens e valores culturais do país, oferecerá concertos em espaços do patrimônio histórico como igrejas, teatros, museus e praças nas cidades de Paraty, Rio de Janeiro e Olinda. Este ano, o festival também irá contar com atividades em Ouro Preto e Tiradentes, no mês de outubro.
Além das atividades realizadas, o MIMO deixa um legado por onde passa através da substancial Etapa Educativa. Com o objetivo de fortalecer a música instrumental produzida no país, esta fase do festival é composta por aulas, workshops, oficinas e máster classes ministradas pelos artistas convidados para o evento. As atividades também são gratuitas e até 2014 mais de 18 mil alunos já haviam sido beneficiados.
0 comentários:
Postar um comentário