Vinte cantoras participam do álbum dedicado ao compositor que defendeu os negros em suas letras. Entre elas estão Teresa Cristina, Fabiana Cozza, Sandra de Sá, Ellen Oléria e Lecy Brandão
Por Adriana Izel
O cantor e compositor Geraldo Filme durante gravação de programa na TV Cultura, em São Paulo (foto: TV Cultura/acervo)
Em 2020, vão se completar 25 anos da morte de Geraldo Filme de Souza. Ao longo de seus 67 anos, o cantor e compositor fez questão de ser um símbolo de resistência, seja por meio do samba paulista – muitas vezes renegado pelo carioca –, seja do movimento negro.
Por vezes esquecido, esse legado inspira o álbum Tio Gê – O samba paulista de Geraldo Filme, produzido pelo Selo Sesc e idealizado por Fernando Cardoso, com a participação de 20 cantoras – entre elas, Leci Brandão, Teresa Cristina, Áurea Martins e Ellen Oléria.
“Tio Gê é o sonho que nasceu de um encontro inesperado e de um verdadeiro encantamento. Quando a Fabiana Cozza subiu ao palco do teatro do Sesc Santana e interpretou alguns sambas de Geraldo Filme, senti amor à ‘primeira ouvida’. Pouco tempo depois, produzi a série Palavra de paulista e convidei a cantora Virgínia Rosa para uma apresentação inteiramente dedica a ele”, conta Cardoso, no encarte do álbum físico.
Fernando Cardoso convidou cantoras de diferentes gerações para revisitar o repertório do sambista. “Fiquei muito feliz. O diretor musical comentou que logo que ouviram o arranjo de O luxo da cidade, pensaram em mim. Tem uma pegada que brinca um pouco com a soul music, o que tem muito a ver com a minha identidade musical”, diz Ellen Oléria. A brasiliense ficou responsável por revisitar uma das canções românticas de Geraldo Filme, mais conhecido por letras que valorizam o negro e o samba paulista.
“O trabalho do Geraldo e de todas as mulheres do projeto mostram a cultura negra. A gente se encontra nesse contexto, é algo que celebra a nossa existência e a nossa identidade. Meu trabalho sempre foi muito atravessado pela afrodiáspora”, comenta Ellen.
Além dela, participam do disco Graça Braga (Que gente é essa), Leci Brandão (Eu vou mostrar), Cleide Queiroz (Tebas), Amanda Maria (São Paulo menino grande), Eliana Pittman (Samba da Barra Funda/ Último sambista/ Lava-pés), Teresa Cristina (Garoto de pobre), Áurea Martins (Cravo vermelho), Rosa Maria Colin (Amigo), Xênia França (Anúncio), Maria Alcina (Baiano capoeira), Graça Cunha (História da capoeira), Clarianas (Tradições e festas de Pirapora), Sandra de Sá (Tradição – Vai no Bixiga pra ver), Paula Lima (Vá cuidar da sua vida), Lady Zu (Balançar), Alaíde Costa (Silêncio no Bixiga), Fabiana Cozza (A morte de Chico Preto), Virgínia Rosa (Batuque de Pirapora) e Luciah Helena (Reencarnação).
O álbum traz também seis textos narrados por Aílton Graça, Sidney Santiago Kuanza e João Acaiabe, contando a história do compositor paulistano.
“A música tem o poder de atravessar o tempo, de desconstruir e diluir fronteiras”, afirma Ellen Oléria. “Geraldo se aproxima do universo da nossa identidade cultural étnica e racial, cantando e contando a história de um povo de maneira poética. Ele fez um arquivo do nosso país”, conclui a cantora brasiliense.
FAIXAS
Que gente é essa
“É o canto negro, senhor/ É o povo negro, senhor/ É a liberdade, senhor/ Que gente é essa de pé no chão/ Que tem no canto sua forma de expressão/ Cantou na travessia o seu triste lamento/ Para amenizar tanta dor e sofrimento/ Que canto lindo na plantação”
Garoto de pobre
“Garoto de pobre/ Só pode estudar em escola de samba/ Ou ficar pelas ruas, jogado ao léu/ Implorando a bondade dos homens/ Aguardando a justiça do céu/ Seu lápis é sua baqueta/ Que bate o seu tamborim/ Ninguém olha este coitado/ Senhor, qual será o seu fim?”
Vá cuidar da sua vida
“Crioulo cantando samba/ Era coisa feia/ Esse nego é vagabundo/ Joga ele na cadeia/ Hoje o branco tá no samba/ Quero ver como é que fica/ Todo mundo bate palmas/ Quando ele toca a cuíca”
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