Três nomes que, cada um a seu tempo, contribuíram para a história da música brasileira
Agepê
Agepê, nome artístico de Antônio Gilson Porfírio (Rio de Janeiro, 10 de Agosto de 1942 - 30 de Agosto de 1995) foi um cantor brasileiro. O nome artístico decorre da pronúncia fonética das iniciais do nome verdadeiro: AGP.
Antes da fama, foi técnico projetista da extinta Telerj, a que abandonaria para se dedicar à carreira artística. A carreira fonográfica teve início em 1975 quando lançou o compacto com a canção Moro onde não mora ninguém, que seria regravada posteriormente por Wando, mas o sucesso veio na verdade nove anos depois, com o estrondoso sucesso de Deixa eu te amar, que fez parte da trilha sonora da telenovela Vereda Tropical, de Carlos Lombardi. O disco Mistura Brasileira, que continha esta canção, vendeu mais de um milhão de meio de cópias, classificando-se como uma das maiores vendagens. A carreira destacou-se por um estilo mais romântico, sensual e comercial, em que fez escola.
Foi integrante da ala dos compositores da Portela, contendo um repertório eclético, composto principalmente por baião e teve no compositor Canário o mais freqüente parceiro. Na sua voz tornaram-se consagradas inúmeras composições da autoria, como Menina dos cabelos longos, Cama e mesa, Cheiro de primavera, Me leva, Moça criança dentre outras.
Morreu de cirrose aos cinqüenta e três anos.
Paulo Grancindo
Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo nasceu em 16 de julho de 1911, no Rio de Janeiro. Era filho do ex-senador Demócrito Gracindo, falecido em 1928. Mudou-se ainda criança com a família para Maceió, em Alagoas, onde se formou em Direito e teve seu primeiro contato com o teatro amador – para desgosto do pai, que o proibiu de atuar nos palcos.
Aos 20 anos, após a morte do pai, mudou-se para o Rio de Janeiro e adotou o nome artístico de Paulo Gracindo. Na então Capital Federal, participou das maiores companhias de teatro dos anos 1930 e 1940, entre as quais, as de Alda Garrido, Procópio Ferreira, Elza Gomes e Dulcina de Moraes. Foi locutor e apresentador de diversos programas musicais na época áurea da Rádio Nacional, como Noite de Estrelas e Programa Paulo Gracindo. Trabalhou como radioator, produtor, compositor e comediante. Um dos seus papéis mais famosos dessa época foi o Alberto Limonta, na clássica trama de O Direito de Nascer.
Ainda na Rádio Nacional, Paulo Gracindo integrou o elenco da versão original do programa Balança Mas Não Cai (1953), escrito por Max Nunes, no qual fez grande sucesso, ao lado de Brandão Filho, no quadro Primo Pobre e Primo Rico. Anos mais tarde, tanto o programa quanto o quadro ganharam nova versão na TV Rio e, em seguida, na TV Globo, repetindo o êxito anterior.
O ator começou a trabalhar na Globo no final da década de 1960. Atuou nas primeiras novelas da emissora, como A Rainha Louca (1967) – na qual atuou ao lado de seu filho, Gracindo Jr. – e A Gata de Vison (1968), escritas pela cubana Glória Magadan. Em seguida, trabalhou em A Próxima Atração (1970), de Walther Negrão, e O Cafona (1971), de Bráulio Pedroso. Seu primeiro personagem de destaque foi o bicheiro Tucão, na novela Bandeira 2 (1971), de Dias Gomes. A consagração veio dois anos depois em O Bem-Amado, outra novela de Dias Gomes, na qual viveu o antológico prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, pelo qual ganhou o prêmio de melhor ator da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Em 1976, recebeu o Prêmio Televisa, oferecido pela rede de TV mexicana, por sua atuação na novela.
Dias Gomes e Paulo Gracindo já haviam trabalhado juntos no teatro, na primeira montagem de O Santo Inquérito, e na televisão, em teleteatros da TV Rio. O Bem-Amado, primeira novela produzida e exibida totalmente em cores, e um marco na televisão brasileira, imortalizou a parceria. A novela também trazia no elenco Lima Duarte, Emiliano Queiroz, Zilka Sallaberry e Gracindo Jr, entre outros.
Ainda na década de 1970, em O Casarão (1976), de Lauro César Muniz, Paulo Gracindo e Gracindo Jr. viveram o mesmo personagem: o artista plástico João Maciel, aos 20 e aos 50 anos, respectivamente. Os dois voltariam a trabalhar juntos em Araponga (1990), de Dias Gomes, Ferreira Gullar e Lauro César Muniz.
Após o sucesso em O Bem-Amado, que transformou o ator em ícone da televisão, seguiu-se o trabalho em outra grande produção da Globo que marcou época: Gabriela (1975), adaptação do romance de Jorge Amado feita por Walter George Durst. Na novela, que ganhou o Grande Prêmio concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Paulo Gracindo deu vida ao coronel Ramiro Bastos. Até o final da década de 1970, vieram os trabalhos em Sinal de Alerta (1978), de Dias Gomes, e Pai Herói (1979), de Janete Clair.
Em 1980, como resultado do sucesso da novela O Bem-Amado, a Globo levou ao ar o seriado homônimo, escrito pelo próprio Dias Gomes e, mais uma vez, com Paulo Gracindo no papel principal. Ainda nessa década, o ator voltou a comandar um programa de auditório, o Oito ou Oitocentos?, ao lado de Silvia Falkenbourg. Em seguida, atuou nas novelas Roque Santeiro, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, no papel do padre Hipólito; em Hipertensão (1986), de Ivani Ribeiro; e fez uma participação especial na novela Mandala (1987), de Dias Gomes.
Na década de 1990, Paulo Gracindo voltou a viver um personagem que caiu no gosto popular, o Betinho, marido da vilã Laurinha Figueroa (Glória Menezes), na novela Rainha da Sucata (1990), de Silvio de Abreu. Nos anos seguintes, atuou nas novelas Vamp (1991), de Antonio Calmon, e Mulheres de Areia (1993), de Ivani Ribeiro. Também fez uma participação especial na minissérie Agosto (1993) – adaptada do romance de Rubem Fonseca por Jorge Furtado e Giba Assis Brasil –, no papel de Emílio.
Ator reconhecido por seu trabalho no teatro, na televisão e no rádio, Paulo Gracindo trabalhou em mais de 20 filmes; alguns marcantes, como A Falecida (1965), de Leon Hirszman, Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha, e Cara a Cara (1967), de Julio Bressane.
O ator morreu aos 84 anos, em decorrência de um câncer de próstata, no dia 4 de setembro de 1995, no Rio de Janeiro. Era casado com Dulce Xavier de Araújo Gracindo.
Laurindo de Almeida
Laurindo José de Araújo Almeida Nóbrega Neto é um dos violonistas brasileiros mais conhecidos em todo o mundo, e também um dos mais influentes. Sua carreira começou em 1936 tocando a bordo de um navio de cruzeiro. No final dos anos 30 foi trabalhar na Rádio Mayrink Veiga, no Rio, tendo inclusive formado um duo com o lendário Garoto. Em 1947 fez parte da orquestra que acompanhava Carmen Miranda, e depois entrou para a orquestra de Stan Kenton. A partir de 1950 estabeleceu-se em Los Angeles (onde residiria por toda a vida) e passou ser um requisitado músico de estúdio. A sua obra gravada é volumosa, estendendo-se de 1950 até 1991. Laurindo compôs trilhas sonoras para inúmeros filmes e recebeu 5 prêmios Grammy por seus discos.
Laurindo contribuiu talvez como nenhum outro artista para a difusão sistemática da bossa nova nos EUA. Comenta-se mesmo que suas gravações de meados dos anos 50 com o saxofonista Bud Shank antecipam em vários anos, do ponto de vista musical, o aparecimento da bossa nova nos duos de Stan Getz com Charlie Byrd, João Gilberto e o próprio Laurindo, em 1962 e 1963 (duos que os norte-americanos pensam ser o marco inicial da bossa nova), e até mesmo o nascimento “oficial” do estilo, pelas mãos e voz de João em 1958.
Em 1964, gravou um disco com o Modern Jazz Quartet, com o qual também faria turnês. Nos anos 70, formou o L.A.4 com Bud Shank ao sax, Ray Brown ao contrabaixo e, sucedendo-se na bateria, Chuck Flores, Shelly Manne e Jeff Hamilton. O grupo, que tocava uma mistura de west coast jazz com baladas e música brasileira, teve considerável sucesso.
Dentro de sua vasta discografia, Laurindo gravou de tudo um pouco: bossa nova, jazz, canções tradicionais, composições próprias, composições clássicas para violão de Villa-Lobos, Radamés Gnatalli, Agustin Barrios, Manuel Ponce e Joaquin Rodrigo, e também transcrições de Chopin, Ravel, Debussy e Tchaikovsky. Cabe destacar ainda que, como todo violonista que se preza, ele tinha uma devoção especial por Johann Sebastian Bach, cujas composições nunca deixaram de aparecer em seus discos - freqüentemente sob uma roupagem de bossa nova.
Laurindo pertence a uma geração pioneira do violão, sendo vinte e poucos anos mais novo que o patriarca do instrumento, Andrés Segovia, e apenas sete anos mais novo que Django Reinhardt. Se por um lado o padrão técnico de suas execuções pode ter sido superado pelos jovens virtuoses de hoje em dia - e, assim como acontece com Segovia, é preciso descontar a qualidade das gravações mais antigas, justamente aquelas da sua juventude - por outro lado é preciso dar o devido valor à versatilidade, ao swing, à sinceridade e seriedade com que sempre praticou sua arte.
Apesar de sua longa vida dedicada à música, Laurindo Almeida sempre foi muito mais conhecido no exterior do que no Brasil. Não seria nada mau que essa situação começasse a mudar, de preferência com o relançamento de seus muitos discos. A memória do violão brasileiro certamente agradeceria.
Memória Globo
Ricardo Orlandini
Ejazz
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