Projeto inclui a criação de repertório erudito para os dois instrumentos
"A ideia é tornar o cavaquinista capaz de qualquer tipo de trabalho" Henrique Cazes, cavaquinista e professor Rio de Janeiro – O carioca Pedro Cantalice, de 30 anos, morador de Jacarepaguá, tocava cavaquinho. Esse filho de taxista com professora jamais pensou em fazer faculdade. Tudo mudou quando ele descobriu que a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) oferecia um curso dedicado ao instrumento. Encarou o vestibular. Resultado: Pedro já está no terceiro período. “Domino o instrumento, toco na noite, mas sei que agora tenho chance de aprimorar minha formação”, comemora ele.
Kleber Vogel, primeiro diplomado na turma de bandolim da UFRJ, conta que o curso representou a chance de retomar o instrumento, deixado de lado em favor do violino, no qual se formou na década de 1980. “Quando comecei, tocava bandolim. Mas aí o violino foi ganhando mais espaço. Passei no vestibular e depois fiz concurso para a Orquestra Sinfônica Brasileira, onde estou há 25 anos”, conta.
Na década de 1980, o violão ganhou o seu bacharelado na UFRJ por iniciativa de Ricardo Tacuchian e Turíbio Santos. Agora, espera-se que o bandolim e o cavaquinho – instrumentos tão caros à nossa música popular – sigam a mesma trajetória. Detalhe: atualmente, o curso superior destinado a violonistas é procuradíssimo – perde apenas para o de canto lírico.
“A ideia é tornar o cavaquinista capaz de qualquer tipo de trabalho. Há todo um campo de pesquisa para o aluno explorar. Já tramitam em outras faculdades propostas de criação de cursos do instrumento. Estamos fazendo escola”, revela o instrumentista Henrique Cazes, professor da UFRJ.
CONCERTO
Em 5 de março, a Escola de Música da UFRJ vai abrir seu ano letivo com um evento especial. O Salão Leopoldo Miguez será palco de concerto dedicado ao bandolim e ao cavaquinho. O primeiro chegou às salas de aula em 2010. Foi o primeiro curso universitário dedicado ao bandolim na América Latina. As aulas de cavaquinho iniciaram-se em 2012. Todas as sete peças foram compostas por professores da UFRJ, encomendadas por André Cardoso, diretor da Escola de Música, com o objetivo de ampliar o modesto repertório clássico para esses instrumentos.
Um time de feras integra o conjunto instrumental criado pela universidade. A Camerata de Cordas Dedilhadas da UFRJ conta com Paulo Sá (bandolim), Henrique Cazes (cavaquinho), Marcus Ferrer (viola de 10 cordas), Celso Ramalho (violão requinto), Bartholomeu Wiese (violão de seis cordas), Marcello Gonçalves (violão de sete cordas) e o convidado Beto Cazes (percussão). Os irmãos Cazes e Gonçalves têm percorrido o país em shows dedicados à MPB e ao repertório instrumental popular.
O concerto do dia 5 apresentará as peças 'Sonatina para bandolim e piano', de Roberto Macedo; 'Sonatina para cavaquinho e piano', de Alexandre Schubert; 'Primogênese para bandolim, cavaquinho e violão', de Carlos Almada; 'Concerto para bandolim e cordas', de Sérgio Di Sabbato; e 'Concertino para cavaquinho e cordas', de Ernani Aguiar. Todas são composições recentes.
CHORATA
A estreia da Camerata de Cordas Dedilhadas se dará com a execução da 'Chorata nº1', composta em 2014 por Carlos Almada, e 'Goiabeira', de Ferrer, escrita de 1996 a 2014. Para o professor André Cardoso, a formação de novos repertórios é um desafio que se impõe a partir da criação dos bacharelados. “Se no choro encontramos um número infindável de peças, tendo Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo como principais criadores, na música clássica o repertório ainda precisa ser construído”, conclui o diretor da Escola de Música da UFRJ. Por isso, o repertório do concerto de 5 de março é cercado de expectativas.
Fonte: Estado de Minas
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