'Aprendiz' conta com participações de Spok e Coral Edgard Moraes
Por Alef Pontes
“Um timbre de um grave belíssimo e ao mesmo tempo aveludado. Sem falar no balanço e na ginga que ela tem.” É assim que o músico Beto do Bandolim descreve Graciete Francisco de Sena, ou simplesmente Gracinha do Samba, em seu primeiro álbum, Aprendiz.
Dona de uma alegria contagiante, há 40 anos a cantora autodidata da Zona Norte do Recife faz da batida do samba um meio de contar e reverenciar sua história. “Eu acredito que o gosto pelo samba veio de berço, minha mãe era sambista e meu pai era músico e eu cresci no meio deles dois. A relação com o samba está no sangue”, conta.
Gracinha reforça a ligação afirmando que lembra que, todos os domingos, o pai, José Paixão de Sena – conhecido como Budé do Cavaco –, realizava sarais musicais em casa, no Alto Santa Isabel. “Começava sempre às 10h. Nesses encontros, o meu pai me colocava para cantar Clara Nunes e Alcione.”
Muita extrovertida, a cantora afirma que, com o samba, a vida é só alegria: “Se fico triste, me entrego ao samba e extravaso. Eu me identifico com samba e acho que vou morrer nele. E quando isso acontecer, eu quero uma grande festa, com samba, claro”, brinca.
Nos anos 80, Graciete ficou conhecida como Gracinha do Pagode nas festas de Casa Amarela, Mangabeira e Alto José do Pinho, nas quais interpretava Jovelina Pérola Negra e Leci Brandão. Quando Jovelina faleceu, em 1998, ela decidiu que não queria mais levar o título e passou a se chamar Gracinha do Samba.
Com o novo nome, expandiu seus horizontes e incorporou ao repertório obras de Paulinho da Viola, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, entre outros.
Em seu primeiro álbum, intitulado Aprendiz, Gracinha retoma às origens e interpreta compositores amigos, em sua maioria, da Zona Norte do Recife, principalmente do bairro de Casa Amarela. Com quase 20 anos, a canção que inicia o trabalho, Apenas o começo, de Alk Melodia, remete às rodas na casa do pai.
“Ele é um amigo do meu pai de longa data e eu cantava muito essa música para ele. Um dia meu pai me pediu que se eu gravasse um disco, que tivesse esta música”, relembra. “Me emociono muito quando canto essa música, porque lembro do meu pai”, completa.
Já a canção que dá título ao álbum foi um presente de Noca da Portela, um dos poucos compositores de fora do Estado no disco. “Eu já conhecia Noca e, no ano passado, ele me mandou duas músicas. Escolhi Aprendiz porque na vida a gente não sabe nada e está sempre aprendendo. Eu aprendo com você, eu aprendo até com uma criança, porque, realmente, a vida é uma aprendizado”, afirma a cantora.
Outro destaque no álbum é a gafieira Samba imortal, de J. Lourenço, que conta com participação do Maestro Spok, no saxofone, e de integrantes do Coral Edgard Moraes, no coro. “O samba não tem cor nem raça/ e todos abraçam onde ele chegar/ o samba em sua tradição/ soa com emoção/ em qualquer lugar/ o samba sempre trouxe harmonia/ é amor e poesia/ expressão popular”, diz a letra.
Com direção musical de Rubem França, Aprendiz é composto por sete músicas, com composições de Dona Selma do Samba, Neguinho Compositor e Ely Peroais, além de Alk Melodia e Noca da Portela. Entre os músicos que participaram do trabalho estão Beto do Bandolim, Marco César, Daniel Coimbra, João Paulo Albertim, Rafael Marques, Siri do Cavaco, Anderson do Carmo e Ricardo Sarmento.
O show de lançamento do álbum está marcado para o dia 30 de janeiro, no Teatro Capiba, do Sesc Casa Amarela, durante o festival Janeiro de Grandes Espetáculos.
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