Hit melancólico de Renato Russo e sucesso oitentista da banda The Police ganham destaque no Spotify
Por Pedro Galvão
Muita coisa mudou desde março, com o avanço da pandemia da COVID-19. A necessidade de isolamento social trouxe novos modelos de comportamento, impactando fortemente a indústria cultural. No cinema, lançamentos foram adiados e o público teve que se voltar para outras alternativas nas plataformas digitais.
Mas e na música? O período de poucas novidades e muitas lives trouxe alguma transformação significativa para o mercado fonográfico? Rankings dos principais aplicativos de streaming e paradas de sucesso ajudam a responder a essa questão.
No fim de junho, levantamento do Datafolha que analisou as 200 músicas mais acessadas no Spotify durante a quarentena em 34 países mostrou que o público brasileiro foi o que mais ouviu canções tristes nesse período. O critério usado foi a média da valência das composições, que identifica nas melodias características entendidas como tristeza.
A pesquisa apontou que ritmos mais acelerados e festivos, como o funk, perderam um pouco de força no Brasil, embora ainda sejam muito ouvidos. Exemplo disso foi o hit do verão Tudo OK, de Thiaguinho MT, Mila e JS O Mão de Ouro, que desapareceu do top 200 do Spotify à medida que “brotar no bailão”, como diz a letra, deixou de ser uma opção socialmente responsável enquanto o coronavírus desestimulava festas e aglomerações.
LEGIÃO
Por outro lado, hits do passado recuperaram espaço. Tempo perdido, lançada em 1986 pela banda Legião Urbana, por exemplo, apareceu na parada de sucessos ao longo da quarentena, com sua letra melancólica. O sucesso Every breath you take, do The Police, que já embalou muitos corações machucados nos anos 1980, também estava entre as mais ouvidas no país, ocupando a posição nº 200 no ranking nacional em 27 de julho.
Mais recente, Shallow, de Lady Gaga, tema do filme Nasce uma estrela, de 2018, é outro destaque da lista nacional na última semana, que segue dominada pelo sertanejo.
Nesta era de isolamento com inclinação para o repertório mais melódico, os ritmos mais populares seguem em destaque. Na última semana antes do início do confinamento, a música mais ouvida no Brasil era Liberdade provisória, da dupla sertaneja Henrique e Juliano. Quatro meses depois, ela ocupa o nono lugar.
Em março, entre as 10 primeiras posições estavam canções do mesmo estilo: A gente fez amor, de Gusttavo Lima, Litrão, de Matheus e Kauan, S de saudade, de Luíza e Maurílio, e Graveto, de Marília Mendonça. Essa última permaneceu no top 10 na última semana de julho. As outras perderam posições, mas seguem entre as 20 mais.
A canção mais ouvida no Brasil desde o fim de junho é Desce pro play (PA PA PA), parceria de Anitta com MC Zaac e o rapper norte-americano Tyga, lançada na quarentena, com estreia já na liderança. Ou seja, nem mesmo a pandemia tirou a cantora carioca do alto patamar de audiência mantido por ela nos últimos anos.
POESIA
Porém, a terceira canção mais ouvida no país neste momento, via Spotify, é um exemplo da tendência identificada pelo Datafolha relativa à preferência do público por gravações com perfil mais intimista. Melhor forma, lançada em 10 de julho na nona edição do projeto Poesia Acústica, que reúne destaques da cena contemporânea do rap nacional, traz Djonga, Chris, Filipe Ret, Xamã, Lennon, Lourena e César MC. Ela vem se mantendo nas primeiras posições desde então, com melodia mais cadenciada e os rappers se revezando nas rimas.
No exterior, alguns dos grandes lançamentos do momento dominaram a preferência do público. Metade das 10 canções mais ouvidas na segunda-feira (27), via Spotify, pertence ao álbum Folklore, lançado por Taylor Swift na última sexta-feira (24). A liderança é da faixa Cardigan, balada romântica que reflete bem o tom do disco, com a estrela acompanhada por um piano, arranjos mais suaves e letras emocionais e intimistas.
“Em isolamento, minha imaginação correu solta e esse álbum é o resultado. Contei essas histórias da melhor maneira possível com todo o amor, admiração e capricho que elas merecem”, afirmou Taylor Swift nas redes sociais. A fórmula deu certo. Além de vender 1,3 milhões de cópias em 24 horas, somou mais mais 80 milhões de execuções no Spotify.
Taylor bateu um recorde na plataforma, superando outro superlançamento da quarentena: Legend never die. O álbum póstumo do rapper norte-americano Juice WRLD, morto em dezembro de 2019, chegou a público em 10 de julho, rendendo 73 milhões de plays só no primeiro dia.
Além do atual primeiro lugar no ranking de artistas mais ouvidos da Billboard, o álbum do cantor, que faleceu aos 21 anos em decorrência de uma overdose acidental, emplacou quatro faixas entre as 10 músicas mais ouvidas no Spotify na última semana.
O bombástico “disco de quarentena” de Swift também veio desbancar outro hit: Rockstar, do rapper DaBaby. Era líder da Billboard Hot 100 há sete semanas e líder semanal de audições no Spotify desde maio, quando superou Blinding lights, do rapper canadense The Weeknd. Lançado em 2019, o single liderava a parada do serviço de streaming quando a pandemia surgiu.
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