terça-feira, 10 de setembro de 2013

WALDICK SORIANO, 05 ANOS DE SAUDADES

Considerado por muitos como um dos maiores nomes do gênero "brega" do país, Waldick Soriano deixou uma lacuna impreenchível dentro da música brasileira



Nascido no sertão da Bahia, ainda criança, trabalhou como lavrador. Foi peão, motorista de caminhão e garimpeiro de ametista até os 25 anos de idade. Nesse período, assistindo a filmes de faroeste, tornou-se admirador do personagem Durango Kid, do qual incorpou, em suas apresentações, a imagem de chapéu preto e da roupa preta, que adaptou para o paletó, à moda dos malandros de cabaré, complementando com o eterno óculos escuros. Foi para São Paulo em 1958, para tentar a a carreira de cantor, ou de artista de cinema, outro sonho que acalentava. Enquanto buscava oportunidades nas rádios, trabalhava como faxineiro, servente de pedreiro, motorista de caminhão e engraxate. Assim gravou seu primeiro LP "Quem és tu". Viveu seus últimos anos em um apartamento alugado em Fortaleza, (CE), mudando-se para o Rio de Janeiro em abril de 2008, vindo a falecer alguns meses depois, no Hospital do Câncer de Vila Isabel, na zona norte carioca, em função de um câncer de próstata.


Um dos mais polêmicos e marcantes artistas da história da MPB, durante os anos 1970, seu nome tornou-se ícone da música brega, criticado pelos intelectuais e amado pelas platéias populares. Seu primeiro contrato profissional como cantor e compositor foi na Chantecler. Por esta gravadora, em 1960, lançou seu primeiro disco em 78 rpm, contendo, de sua autoria, os boleros "Quem és tu?" e "Só você". No mesmo ano, Wilson Miranda gravou de sua autoria o bolero "Abismo de amor".

No ano seguinte seu primeiro LP, "Waldick Soriano" foi lançado, também pela Chantecler. Ainda em 1961 lançou diversos 78 rpm, com, entre outras, o tango "Dona do meu coração", parceria com Palmeira, o bolero "Mais uma desventura", parceria com Hélio Araújo, o merengue "Amor de vênus", parceria com Tranzilo e o bolero "Perdão pela minha dor", de sua autoria. No mesmo ano, a cantora Nice de Andrade gravou de sua autoria o tango "Escravo do fracasso" e de sua parceria com Osvaldo Aude a guarânia "Quero viver contigo", Lourdinha Pereira gravou o samba "Não devolvi", parceria com Paulo Augusto e a dupla Zico e Zeca gravou de sua parceria com Teddy Vieira o tango "Maldita hora".

No ano seguinte lançou de sua autoria e Jorge Gonçalves o bolero mambo "Fujo de ti" e de sua autoria o samba canção "Tortura de amor" e o frevo "Homenagem a Recife". No mesmo ano, Lolita Rodrigues gravou na Continental o merengue "Sem carinho".

Em 1963 gravou os boleros "Quem é você?", parceria com Gilson Santo Mauro e "Vestida de branco", parceria com Sebastião Ferreira da Silva.

Em 1964, lançou o LP "O elegante Waldick Soriano", contendo em uma das faixas uma composição com Chacrinha, o bolero "Eu vou ao casamento dela". Seu último LP lançado pela Chantecler foi "Como você mudou pra mim", no ano seguinte. Sua marca registrada está em seu estilo vocal, inspirado no cantor cubano Bievenido Granda, com repertório, repleto de boleros e sambas-canção focados no estilo dor-de-cotovelo, e na forma de se vestir e postar-se (roupa preta e óculos escuros) personalizando a figura do herói americano Durango Kid.



Pela Copacabana gravou dois LPs em 1967: "Waldick sempre Waldick" e "Boleros para ouvir, amar e sonhar". Em 1968, mudou para a Continental, gravando "Waldick", e, em 1970, "No coração do povo". Com esse disco obteve nacionalmente dois sucessos no ano de 1970 e 1971 respectivamente: "Paixão de um homem" e "Carta de amor", ambas de sua autoria.

Em 1972, gravou pela RCA os LPs "Eu também sou gente" e "Ele também precisa de carinho", este último contendo um de seus maiores sucessos "Eu não sou cachorro não", que virou expressão de uso corrente em vários estados do país e jargão característico da música brega. Sobre essa música, o pesquisador Paulo César de Araújo, autor do livro "eu não sou cachorro não - música popular cafona e ditadura militar" publicado em 2002, pela editora Record, afirmou estar "na memória coletiva nacional como "Asa Branca", "Mamãe eu quero" e "Luar do sertão".

Ainda pela RCA gravou em 1974 o LP "Segue o teu caminho".

Participou dos filmes "Paixão de um homem", título também de uma de suas músicas, dirigido por Egídio Eccio, e "O poderoso garanhão" (parodiando o filme americano "O poderoso chefão"), dirigido por Antônio B. Thomé, em 1972 e 1973 respectivamente. Nesse período sua presença foi marcante em programas como os do Chacrinha e de domingo de Sílvio Santos, entre outros, de alto índice de audiência popular.

Na década de 1990, Falcão, cantor/compositor de uma nova geração brega, fez uma versão bem-humorada para seu grande sucesso "Eu não sou cachorro não", intitulando-a de "I'm Not Dog No".

Em 1999 a Universal lançou o CD "A discoteca do Chacrinha" - volume 1, na qual interpreta de sua autoria, "Eu não sou cachorro não".

No final dos anos 1990, mudou-se para Fortaleza (CE), passando a viver de pequenos shows pelo Nordeste.

Em agosto de 2007, aos 74 anos, somando 84 discos gravados e mais de 500 composições, muitas conhecidas nacionalmente, a atriz Patrícia Pillar, seduzida pela história que tornou o artista uma lenda viva da consagração popular, lançou o CD e DVD "Waldick Soriano ao Vivo", dos quais foi a idealizadora, assinando também a direção e a produção que também contou com Mariza Leão. O registro é uma gravação de dois shows realizados por ele em Fortaleza, em novembro de 2006, no Centro Cultural Sesc Luiz Severiano Ribeiro, o antigo Cine São Luiz, acompanhado do maestro Jota Moraes, com direção musical e produção de Patrícia Pillar eJosé Milton, um dos mais requisitados produtores do país. A seleção do repertório e o roteiro do disco, feita por Patrícia e pelo compositor Fausto Nilo, sintetiza a carreira do cantor, indo da canção que dá título ao primeiro LP de Waldick, em 1960 e passando por clássicos como "Tortura de amor"; "Nostalgia", com Portinho; "Paixão de um homem"; "Dama de vermelho", de Ado Benati e Jeca Mineiro; "Perfume de gardênia", de Rafael Hernandez, versão de Waldick Soriano; "A carta", de Jorge Gonçalves e Júlio Pires Louzada; "Eu também sou gente" e "Você mudou demais", com a participação de Cláudia Barroso, além de "Eu não sou cachorro não". O DVD também apresenta "Você mudou demais", com participação de Cláudia Barroso e algumas outras como "A voz do povo é a voz de Deus", de Cezar Círus. noite do lançamento do DVD e CD do artista., em uma livraria do shopping Rio Design Leblon, no Rio de Janeiro, reuniu muitas personalidades famosas, como o senador Ciro Gomes, marido de Patrícia, o ator Tony Ramos, a cantora e atriz Preta Gil, Eva Wilma, Cissa Guimarães, Maurício Mattar e a escritora Glória Perez, entre outros. Na ocasião, Patrícia Pillar, que, anteriormente, produziu o CD e dirigiu o clipe da cantora carioca Eveline Hecker, cantando músicas de José Miguel Wisnik, declarou estar também produzindo um documentário sobre a vida e a obra do cantor, do qual confessa ser fã e admiradora. O documentário foi lançado com sucesso nas principais praças brasileiras. Procurado por diversos jornais e revistas, na ocasião do lançamento, o cantor declarou, segurando o inseparável copo de whisky que, no palco, chama de chá de boldo, à "Revista O Globo", da qual foi capa com chamada especial na edição de 5 de agosto do mesmo ano: "Já dei muita porrada por aí, já me meti em muita confusão, já cantei em casa de bacana e em puteiro de beira de estrada. Não me arrependo de nada que fiz nem das marcas que a vida me deixou". E abrindo a camisa, mostrou o peito com a cicatriz de três pontes de safena, completando "Só que agora eu tô querendo sossego. Nem mulher eu quero por perto". No palco, todavia, seu humor e verve de boêmio continua o mesmo, arrebatando aplausos efusivosde platéias sempre fiéis.

Ainda em 2007, teve a música "Meu coração está de luto" incluída por Zeca Baleiro no CD "Lado Z", lançado pelo cantor maranhense, com gravações feitas por ele em outros discos. No caso dessa composição, ela já havia sido incluída no DVD de Zeca Baleiro "Baladas do asfalto e outros blues".



Seu falecimento, em setembro de 2008, aos 75 anos, provocou pronunciamentos de diversos personalidades do mundo artístico e, jornalístico, todos em uníssono, reconhecendo sua importância na música popular. O historiador e pesquisador Paulo César de Araújo declarou, na ocasião, considerá-lo um gigante da música brasileira e completou: "Waldick deu voz ao sentimento do brasileiro oprimido, deserdado, humilhado. A obra dele foi desprezada pelas elites intelectuais, mas acho que será mais bem avaliada". O Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, estampou na primeira página de seu caderno B, a seguinte manchete: "O adeus à música (realmente) popular" e, no corpo da notícia de página inteira: "Da pecha de brega que o acompanhou por toda a vida, ao status cult adquirido nos últimos anos, firmou-se como um dos mais importantes e comentados ídolos da música romântica". Em 57 anos de carreira, deixou, além de obra reconhecida popularmente, um legado de milhares de admiradores e seguidores de seu estilo.

Em 2009, teve os seus sucessos "Paixão de um homem" e "Eu não sou cachorro não" regravados pelo cantor Leonardo, no CD/DVD "Esse alguém sou eu", lançado pela Universal Music.

1 comentários:

Anônimo disse...

Um ícone, irreverente, e caprichoso tbm!!!!!

LinkWithin