segunda-feira, 19 de agosto de 2013

DORIVAL CAYMMI, 05 ANOS DE SAUDADES

2013 é o ano em que não só inicia-se a comemoração pelo centenário do mestre baiano, mas que também marca a passagem de meia década sem o obá mais velho de xangô

Por Bruno Negromonte




Homem de hábitos simplórios, Dorival Caymmi talvez não mensurasse o tamanho de sua importância para a música popular brasileira quando assumia o leme das letras e melodias em seu universo particular, cujo acordes, rimas e personagens pitorescos que constituíam a Bahia, sua orla e suas crenças. 
Pois bem, ao longo deste mês de agosto completa-se 05 anos que o filho do fiscal da alfândega Durval Caymmi e a dona-de-casa Aurelina Cândida Soares Caymmi, Dorival Caymmi partiu para o andar de cima como muitos costumam dizer e deixou além da saudade um obra composta por um pouco mais de 100 canções imortalizadas na voz do próprio autor, além de dezenas e dezenas de intérpretes tanto no Brasil quanto no exterior. Sua carreira como compositor teve início na década de 1930, ainda em Salvador quando chegou a participar do grupo "Três e Meio", onde Dorival era o responsável pelo violão, seu irmão Deraldo tocava tambor, e Zezinho, amigo de ambos, tocava cavaquinho. Além do irmão de Zezinho, Luiz – o “meio” do grupo – no pandeiro. 

É preciso deixar registrado que a música sempre esteve presente na vida do mestre baiano. Ainda na infância, Durval promovia diversos sarais em sua residência nos quais Aurelina participava cantando. Vem desse período os seus primeiros contatos com o violão. O pequeno Dorival pegava escondido o violão do pai para tocar de um modo todo peculiar. Ao descobrir as travessuras do filho ao invés de repreendê-lo Durval o incentivou, inclusive procurando corrigir o que o filho fazia de “errado” com o instrumento. No entanto, foram esses 'erros' que marcariam as batidas geniais do velho Caymmi e o imortalizaria como um dos maiores melodistas de nossa música.



Foi com Zezinho, amigo de infância, que encantou-se pelo trabalho dos pescadores na praia de Itapuã, e foi com ele também que entrou por curiosidade na Rádio Clube da Bahia, onde arriscou uma canção no ar pela primeira vez. A partir de então Iemanjá aquele cantou sua beleza e peculiaridades do seu universo um oceano de inspiração.

Partiu para o Rio de Janeiro. então capital federal, objetivando estudar direito (sem esquecer de colocar em sua bagagem o violão) a bordo do navio Itapé, no dia 1º de abril de 1938. Ainda no ano em que chegou, Dorival já elencava a elite dos grandes artistas da música situados no Rio de Janeiro ao apresentar suas composições em diversas rádios como a Tupi e a Nacional, onde teve a oportunidade de conhecer Assis Chateaubriand, que o apresentou a Carmem Miranda – que o conduziu e o sacramentou entre os grande nomes da música com a gravação da canção "O que é que a baiana tem?". 

Também na rádio, em um programa de calouros, teve a oportunidade de conhecer Adelaide Tostes interpretando "último desejo" de autoria de Noel Rosa. Caymmi relata que depois daquele domingo a o qual assistiu a apresentação da então caloura Stella, sua vida mudaria para sempre, pois aquela pretensa artista viria a ser o seu grande amor por toda a vida a partir de então. Com sua companheira Caymmi construiu uma verdadeira dinastia de músicos talentosos.

Dorival, que faleceu em 2008, em decorrência de um câncer renal que já tratava havia nove anos é hoje, sem sombra de dúvida, um dos alicerces que dão sustentação a música popular brasileira não só por todo o legado deixado, mas principalmente por exercer as mais diversas influências a alguns dos maiores nomes de nossa música, artistas estes que beberam de sua fonte para criar movimentos musicais diversos tais quais a Bossa Nova e a Tropicália.

Por fim deixo aqui um poema escrito por Paulo César Pinheiro em homenagem ao mestre baiano cuj título é "obá de xangô", referência ao título honorífico do Candomblé criado na Bahia por Mãe Aninha em 1936:

Caymmi é um criador abençoado
navegador das águas da canção
é o compositor do mar predestinado
seu violão tem cordas de sargaço
e foi cortado de um pedaço de uma velha embarcação
Caymmi é um deus do mar reencarnado
por isso que seu canto é uma oração
e para quem descobre o som ele é sagrado
o vento é que lhe sopra melodia,
estrela dalva, poesia e a voz é de arrebentação
Caymmi tem espuma no cabelo
e o seu olhar é o sete estrelo que a três filhos já criou
guardião das tuas lendas, pescador
pintor do que compõe um cantador
Caymmi é o rei do mar,
é o soberano cavaleiro do oceano, Iemanjá que coroou
De todas as marés sabe o segredo
é o canoeiro de São Pedro
o Oba mais velho de Xangô

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