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domingo, 31 de dezembro de 2017

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB

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Bob Nelson foi, sem sombra de dúvidas, uma das figuras mais emblemáticas da música popular brasileira. Ator e cantor, o artista caracterizava-se por um repertório country e uma vestimenta que fazia jus ao repertório. Para quem não sabe, Bob Nelson foi o grande ídolo de toda uma geração de quando inciou a sua carreira (inclusive do nosso Rei Roberto Carlos). Batizado como Nelson Roberto Perez, Bob iniciou a carreira artística cantando na Rádio Educadora de Campinas (SP), chegando a acompanhar Carmen Miranda em 1939, quando ela por lá se apresentou. Ainda no interior paulista inicia a carreira imitando o americano Gene Autry, fazendo sucesso imediato com a versão para "Ó Suzana" feita por ele. Por conta desta versão começou a ganhar diversos prêmios e a vencer concursos de calouros, até chegar na Rádio Tupi de São Paulo. Um fato curioso neste período é o cheque recebido de Assis Chateaubriand, dono da Rádio Tupi, para comprar um traje completo de vaqueiro e se apresentar ao comandante, chefe das tropas americanas no Atlântico Sul naqueles anos de guerra, o General Douglas Mac Arthur. Ao sair do interior para a capital paulista, Nelson Roberto troca o nome Nelson Perez por Bob Nelson, uma jogada de sorte, uma vez que, na onda da guerra, e do esforço oficial pró-americanos, acaba conquistando significativos espaços. Vendo que oportunidades melhores poderiam estar na então Capital Federal parte em direção ao Rio de Janeiro para tentar a sorte grande como artista. Era no Rio que estavam as grande oportunidades artísticas da época e com este desejo de ser artista, para outro lugar o pretenso ator e cantor não poderia seguir. Sem poder viver exclusivamente de sua arte, Bob que paralelamente ao sonho de ser cantor havia se diplomado pela Escola de Comércio de Campinas, ao chegar na cidade maravilhosa vai ser representante das extintas indústrias de Meias Ethel. Ao mesmo tempo que iniciava a sua carreira artística como cantor nos cassinos cariocas, cantava também em rádios, bailes e orquestras. No entanto, a "sorte grande" que tanto almejava não havia marcado encontro com ele na década de 1930.

No entanto a década de 1940 chegaria acompanhada por sua consagração artística. Em 1943 ganhou um prêmio na Rádio Cultura de São Paulo por sua interpretação de "Oh, Susana". Daí em diante as portas se abrem para o "Vaqueiro Alegre" (nome pelo qual ficou conhecido) e tem a oportunidade de gravar os filmes "Segura esta mulher" e "Este mundo é um pandeiro". Levado pelo ator Ziembinsky, apresenta-se no Cassino Atlântico, cantando também no Cassino da Urca, Cassino Icaraí e no Clube Quitandinha. Pelas mãos de Haroldo Barbosa é indicado neste período para ser contratado pela Rádio Nacional, onde fez grande sucesso permanecendo por 29 anos. Em 1944, gravou seu primeiro disco pela RCA Victor, onde interpretou a canção "Oh! Suzana" e a valsa "Vaqueiro alegre", de Kanter, em versão de Bob Nelson e Vitor Simon. No ano seguinte grava o foxtrote "Okey Jones" e a marcha "Minha linda Salomé", de Denis Brean e Vitor Simon. Em 1946, gravou outro grande sucesso de sua carreira, a marcha "O boi Barnabé", sua e de Vitor Simon. Ainda na década de 1940, mais precisamente em 1949, fez temporada na Rádio Jornal do Comércio no Recife, acompanhado do Conjunto Regional da mesma rádio do qual faziam parte Sivuca, Jackson do Pandeiro e Luperce Miranda. Sem dúvida alguma, assim como Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga, Bob Nelson destacou-se por suas vestimentas e pela inovação naquilo que produziam, pois foi o primeiro artista a fazer a fusão entre o caipira brasileiro e o country americano. Em 1996, teve lançado pelo selo Revivendo o CD "Vaqueiro alegre", coletânea de seus sucessos. É válido um registro curioso a respeito do início de sua carreira: na época em que tentava a sorte grane chegou a atuar ao lado do então desconhecido sanfoneiro Luiz Gonzaga, que também viria a se consagrar como um dos mais representativos artistas nacionais anos depois. 

MINHAS DUAS ESTRELAS (PERY RIBEIRO E ANA DUARTE)*




56 - Posfácio, por Ana Duarte / Agradecimentos especiais



Eu posso dividir a minha vida com Pery em antes e depois deste livro.

Como todo casal quando aprofunda um relacionamento, nós também contamos um ao outro sobre nossas vidas, nossas famílias. Foi assim meu primeiro contato com suas lembranças da infância, dos pais, e do início de carreira. Um desabafo num dia difícil, uma lembrança gostosa vinda à tona num pôr de sol na cobertura da Barra, confidências no jantar após um show com seu pai em São Paulo... Achava que conhecia toda a sua história, e que sabia quanto sua infância havia sido difícil. Estava enganada. Quando se escuta um trecho aqui, um outro meses, ou anos depois, é muito diferente do que encarar a carga dessas emoções de uma só vez. Ter acesso a to-das as suas dores e alegrias, num desabafo sincero e confuso, foi muito forte. Me vi diante do mais íntimo do seu ser. Acompan-hei todo o conflito que ele viveu para decidir escrever este livro. Fui testemunha do doloroso processo de revolver suas memórias, muitas vezes, interrompido por crises de choro convulsivo. Pery escrevia por dias seguidos, para depois parar por meses, sub-jugado pelo peso de suas dores. Foi uma ver-dadeira catarse para ele: expurgou todos os seus fantasmas e redimiu todos os seus sentimentos. E mudou para sempre o nosso amor. Mais amigos e cúmplices ficamos. Desde então, se aquietaram as minhas cobranças, e passei a compreender que ele me oferece o que tem de melhor, e muito, muito mais do que recebeu. Se não é tão carinhoso como eu gostaria — mesmo sentindo falta disso —, hoje entendo o porquê. Se já era um grande pai, agora o enxergo ainda mais especial. A nossa história de vida ganhou um sentido ainda maior. Me sinto privilegiada por ter dividido com Pery o desafio de escrever a sua história. E muito honrada por ter tido em minhas mãos a responsabilidade de organizar, em livro, sentimentos tão delicados. Deus sabe que tratei com o maior respeito e carinho suas lembranças. Sinto imenso orgulho da sua coragem em se expor sem censura ao mundo. Mais orgulho ainda do que sinto quando o vejo cantar divinamente num palco.

Sua maior fã, e eternamente apaixonada,

Ana Duarte


Agradecimentos especiais

A Jose Messias, com quem viajamos no tempo para resgatar a verdadeira essência dos acontecimentos. Aos queridos Dorival Caymmi e Stella, que nos abriram sua casa e suas lembranças. A Nelson Gonçalves, por sua escancarada sinceridade. A Amalia, esposa de Vicente Paiva, por nos trazer fatos importantes do passado. A Raul Sampaio, pela forma respeitosa ao compartilhar comigo suas memórias de tantos anos ao lado de meu pai. Aos queridos Luis Vieira, Virginia Lane, Marlene e Emilinha Borba, pelo carinho. Ao Bily, meu irmão e guardião do acervo familiar, pelas fotos de nossa infância. Ao Helio, irmão mais velho, pela lembrança de fatos mais antigos. Às minhas tias Margarida, Lila, e em especial, a tia Nirinha, pelas fotos de Herivelto e do Pery bebê. A Edith, nossa tia do coração, pela sua preciosa memória. Ao Nacib, maior fã de Dalva, que nos abriu seu arquivo pessoal de fotos e reportagens. Ao amigo Bily Blanco, pelo apoio e espírito crítico ao primeiro manuscrito. A Ricardo Cravo Albin, pelas fotos da festa dos 80 anos de Herivelto. A Sergio Cabral, Max Nunes, Chico Anysio, Herminio B. de Carvalho e Bibi Ferreira. A Antonio Sergio Ribeiro, pelo material cedido de sua coleção da antiga Revista do Rádio. A Silvia Regina, da Biblioteca Nacional, pela ajuda preciosa na pesquisa. A Leon Barg, do selo Revivendo, pelas fotos cedidas. À equipe Copy rights, em especial a Dra. Adriana Vendramini. Ao Fernando, da editora Vitale, pelo acesso à obra de Herivelto. Às Editoras Mangione & Filhos, ADDAF, SIGEM e Fermata, pela liberação das obras citadas. A Elifas Andreato, por ter viabilizado a nossa parceria com a Editora Globo. Aos editores da Globo, que deram suporte a nossa inexperiência, Eliana de Sá, Claudia Abeling, e, em especial, a Marcelo Ferroni, que pacientemente trabalhou conosco na finalização do livro. A Maurício Sherman, pelo carinho e pela aposta no projeto musical “Dalva e Herivelto”. A Ruy Castro, por ter sucumbido à curi-osidade de ler o nosso livro, nos brindando depois — ele, o profissional das letras! — com um prefácio tão especial. A Dalva e Herivelto, por existirem . E a Deus, por me fazer seu filho.




* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

sábado, 30 de dezembro de 2017

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior


SÉRIE GRANDES TRILHAS E MÚSICAS DE FILMES NACIONAIS – LISBELA E O PRISIONEIRO
Lisbela e o Prisisioneiro


“Lisbela e o Prisioneiro” é um divertida comédia romântica baseada na obra de Osman Lins e conta a história do malandro, aventureiro e conquistador (Selton Mello) e da mocinha sonhadora Lisbela (Débora Falabela), que adora filmes americanos e sonha com o heróis do cinema.

Lisbela está noiva e de casamento marcado, quando Leléu chegou à cidade. O casal se encanta e passa a viver uma história cheia de personagens tirados do cenário nordestino.

“Espumas ao Vento”, de Aciolly Neto (port mortem), por Elza Soares


Eles vão sofrer pressões do meio social e também de suas próprias dúvidas e hesitações.

Mas uma reviravolta final, cheia de bravura amor, eles seguem seus destinos. Como a própria Lisbela diz, a graça é não saber o que acontece’.


“Você não ensinou a te esquecer”, de Fernando Mendes, José Wilson e Lucas, com Caetano Veloso

Osman Lins foi escritos, autor de contos, romances, narrativas, livros de viagens e peças de teatro.

Pernambucano de Vitória de Santo Antão, nasceu em 5 de julho de 1924 e morreu em São Paulo, em 8 de julho de 1978.

O projeto literário de Osman Lins mescla-se com sua biografia e fatos que marcaram sua história pessoal aparecem de maneira recorrente em sua obra.

Um desses fatos, e talvez o mais importante, foi a perda da mãe logo após seu nascimento.

Seu romance Avalovara (1973) é uma obra de engenharia narrativa, construído a partir de palíndromo latino dentro de uma espiral, a partir do qual vão sendo desenvolvidos todos os capítulos do livro.

Lisbela e o Prisioneiro, texto para teatro de 1961, foi adaptado para televisão pela Globo (1994), com os atores Diogo Vilela E Giulia Gam, sendo depois adaptado por Guel Arraes para o Cinema, com Selton Mello e Débora Falabella (2003).

O arquivo pessoal de Osman Lins foi doado pela viúva do escritor, também escritora Julieta de Godoy Lacerda (1927-1997), a duas instituições brasileiras: Fundação Casa de Ruy Barbosa (Rio de Janeiro) e Instituto de Estudos Brasileiros, da USP.


“O Amor é Filme” Animação em estilo de cordel da música do filme Lisbela e o Prisioneiro, composta por Lirinha do Cordel do Fogo Encantado.


Semana que vem, tem mais…

CAIXA GIL ANOS 70 É VIAGEM NA MÁQUINA DO TEMPO

Por Tárik de Souza



A caixa de três CDs duplos “Gilberto Gil ao vivo (Anos 70)”, de ótima qualidade técnica - rara para a época no registro de shows -, produzida pelo pesquisador Marcelo Fróes, do selo Discobertas, especialista na obra do baiano, supervisão de, Bem Gil, filho do artista, vai muito além da arqueologia. Opera como uma poderosa máquina do tempo. É possível tomar o pulso daquela década – a do desbunde e da contracultura no auge, batendo de frente com a ditadura militar – a partir das intensas e longas viagens musicais das apresentações. Após sua prisão junto com Caetano Veloso, no final dos 60, e o exílio compulsório em Londres, onde chegou a gravar um disco para o mercado local, ele reaparecia na excursão “Gilberto Gil em concerto”, cujos espetáculos, dias 11 e 12 de março de 1972, no teatro João Caetano, no Rio, originaram o primeiro dos CDs. No repertório, composições que entrariam no álbum emblemático “Expresso 2222”, como a faixa título, e mais “Back in Bahia”, “O sonho acabou”, “Oriente” e as alheias “Sai do sereno” (Onildo Almeida), “O canto da ema” (Alventino Cavalcanti/ João do Vale/ Ayres Vianna) e “Chiclete com banana” (Gordurinha/ Almira Castilho). A bordo de uma banda poderosa, com o gênio da guitarra Lanny Gordin, Perna Fróes (teclados), Bruce Henry (baixo) e Tutty Moreno (bateria), ele embrenha-se por improvisos que chegam a ultrapassar 18 minutos, na releitura heavy rock do samba “Aquele abraço”. Há especiarias como “Brand new dream”, que entraria num segundo disco londrino nunca realizado, uma releitura da anárquica “Cultura e civilização”, já gravada por Gal Costa, a tresloucada “Madalena (entra em beco sai em beco)”, que ele gravaria mais adiante e o arguto mantra “O bom jogador (não engana a geral”) repetido à exaustão. 


O segundo CD, intitulado a partir de uma inédita, a macrobiótica “Umeboshi” (“é fruto da flor/ como a flor de lótus/ é uma bomba poderosa/estimulante do apetite”), foi registrado no alternativo teatro Opinião, no Rio, em abril de 1973. Já traz o hit “Eu só quero um xodó” (Dominguinhos/ Anastácia), outra face do compacto “Meio de campo” (“prezado amigo Afonsinho/ (...) a perfeição é uma meta/ defendida pelo goleiro”), de menor sucesso e maior ressonância. Da banda anterior, resta apenas o baterista Tutty, agora ao lado de Rubão Sabino (baixo), Aluizio Milanês (teclados) e Chiquinho Azevedo (percussão). O cardápio serve da irônica “Essa é pra tocar no rádio”, a “Doente morena” (parceria com Duda Machado), “Iansã” (com Caetano Veloso, desapropriada por Bethânia), “Ladeira da preguiça”, “Cidade do Salvador”, “Duplo sentido” e a obra prima de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, “Imbalança”. Há uma homenagem do solista a Edy Star (“Edith Cooper”), cuja assinatura surpreende ao lado de Gil, na clássica “Procissão”. 



Só, com o violão e longas histórias que conta antes de cada música, o terceiro CD, “Ao vivo na USP”, de maio de 1973, foi realizado em sala de aula por três horas, numa ocupação da faculdade, que lutava por justiça após o assassinato pela ditadura do estudante Alexandre Vannucchi Leme. Além do repertório, que já vinha cantando em outros shows, ele discorre sobre a saga do afoxé com esse nome - então em processo de extinção - “Filhos de Gandhi”. Desvela “Preciso aprender a só ser” (réplica a “Preciso aprender a ser só”, dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle), revive “Domingo no parque” e “Objeto sim, objeto não”. Define “Back in Bahia” como “’Aquele abraço’ ao contrário”; redefine “Chiclete com banana” (“colonialismo às avessas”) e hesita em cantar “Cálice”, feita com Chico Buarque, alegando “desconhecer a parte da letra do parceiro”. Mas alguém da platéia a fornece, e a “proibidona” pela ditadura é entoada duas vezes. Ele abre uma série de sambas, “Senhor delegado” (Antoninho Lopes/Jaú), “Eu quero um samba” (Haroldo Barbosa/ Janet de Almeida) com “Minha nega na janela”, entusiasticamente aplaudida pelos politizados estudantes. Hoje seriam crucificados como politicamente incorretos, pelo humorismo racista da letra, que impede o próprio autor, Germano Mathias (com Doca), de voltar a ela em seus shows atuais. Os tempos mudam – para o bem e o mal. E urge documentá-los.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

CANÇÕES DE XICO



HISTÓRIA DE MINHAS MÚSICAS

Um belo dia estava a tirar um cochilo, depois do almoço. Toca o telefone. Era Diego Reis, amigo e promotor de justiça, na época servindo num interior distante que não me lembro qual. Deu-me a incumbência de terminar uma música da qual ele tinha apenas o refrão, cantando-a, no telefone. Tomei como desafio e terminei o que viria a ser Bole-Bole, imediatamente gravada pelo grupo Lampiões e Maria Bonita – do qual Diego faz parte, e, posteriormente, pelo Trio Nordestino, com a participação de Adelmário Coelho. A versão original é a que ora apresento aos amigos fubânicos.

BOLE-BOLE
Diego Reis e Xico Bizerra

quando ela passa, todo mundo bole 
todo mundo bole, todo mundo bole 
quando ela passa, todo mundo bole 
todo mundo bole com seu bole-bole 
essa menina que passa bolindo 
bolinando, distraindo todo sonho meu 
me desconserta com seu bole-bole 
me deixando mole, judiando d’eu 
menina linda, vem bolir comigo 
que eu te dou abrigo, casa e ‘di cumê’ 
venha depresa que eu ‘tô te esperando 
se puder, venha voando 
quero bolir com você

MINHAS DUAS ESTRELAS (PERY RIBEIRO E ANA DUARTE)*




55 - Herança


Uma filosofia espiritualista afirma que todos nós, antes de nascer, escolhemos nossos pais: se isso for verdade, eu declaro em alto e bom som musical que sou imensamente feliz por ter escolhido quem escolhi. Pois tenho uma herança a saborear. Não foi uma herança que me deixasse muito dinheiro, e jamais me importou esse fato. Foi uma herança de brilho interior e de muita luz a iluminar o palco de minhas lembranças. Nessa cena aberta – o grande show da vida –, fui ao mesmo tempo plateia e ator. E por isso tenho amado a vida em sua essência – feita de tamanha fragilidade e força, ao mesmo tempo. O tempo, inexorável e preciso, transcorreu firme e suave, silencioso e paciente. O grande barulho da existência de meus pais já não desperta muita gente. Definitivamente transformados em mitos, suas letras e músicas ainda fazem sonhar e chorar a alma dos mais sensíveis. Às vezes viajo no tempo e ainda ouço o vozerio nervoso de Dalva e Herivelto saindo para um show, minha mãe se pintando pelo caminho; sinto o perfume que usavam, escuto meu pai repassando o repertório no carro. Eu ainda me vejo criança na coxia, ad-mirando cada passo, cada movimento do Trio, cada frase musical, os duetos, as vozes, os arranjos, as letras. Seria capaz de cantar cada música, no lugar de qualquer um deles Hoje sou um homem de meia-idade que adoraria ter minha mãe e meu pai por perto, e desfrutar de sua velhice curtindo os meus filhos, seus netos. E, mais do que os consagrar com honrarias, gostaria de lhes oferecer este enorme perdão que o tempo trouxe, quando o mundo e as pessoas lhes fazem justiça. Depois de tudo que vivi, não me presto a qualquer julgamento do comporta-mento de meus pais. Eles foram os meus pais. Com eles aprendi a ver a beleza da vida. A ver música em cada som . Em meio ao sofrimento deles, aprendi a ter e oferecer per-dão. Talvez esta seja a palavra mais importante em toda a minha vida com os dois: perdão. O meu hoje é feito de perdão. É feito de muito, muito amor. Faz bastante tempo que eu os perdoei por não terem organizado melhor a nossa infância. Que os perdoei por não saberem como demonstrar o amor que sentiam por nós dois, e do qual eu e o Bily precisávamos tanto. Faz tempo já os perdoei por não terem tido o cuidado de evitar que víssemos tanta coisa que vimos e que nos marcou profundamente. Não guardo rancor de nada, absolutamente nada. As possíveis mágoas ou dores, eu as transformei em experiência de vida. Meu tempo vem transcorrendo também, suave e firme. Aprendi muito cedo o valor de estar em sintonia com a vida. A minha visão de mundo é diferente da minha visão de vida. Procuro obter da vida o melhor que eu possa colher. Aprendi que, em qualquer circunstância, a vida não tira nem oferece absolutamente nada: a vida é o que é. Nós é que devemos tomá-la como a maior razão de tudo. O mundo são as pessoas. A vida é Deus. Lógico que ficaram marcas. É natural que eu não seja um tipo de homem certinho e centrado. Tenho minhas loucuras como qualquer pessoa, que erra e acerta, condizente com minha condição de ser humano. Sou a pessoa que eu mesmo construí. Minhas experiências de vida fizeram de mim um indivíduo corajoso, encarando os obstáculos com armas leais, sem covardia. Movido por um vulcão de força e determinação, e um profundo sentimento de justiça, fui obrigado a desprezar qualquer senti-mento de autopiedade e a edificar o respeito por mim mesmo. Aprendi que não existiriam acertos se não houvesse erros. O que interessa é o tamanho de nossa investida di-ante da vida. A dignificação da caminhada. Desde cedo, aprendi a valorizar a busca da beleza. A amar a grandeza do mundo que me serve de moradia, pois sempre tive dentro de mim um conhecimento do maior, do belo, do Superior. Aprendi a respeitar o meu corpo, esse templo que Deus me deu. Sei que por isso tive uma relação muito cautelosa com a bebida e com as drogas. Se por curiosidade ou fraqueza recorri a alguma droga em dado momento, ou então me excedi na bebida, nada me fez prosseguir nesse caminho, achando que isso me daria uma realidade melhor do que a que eu mesmo pudesse construir. A minha realidade é feita de ontens, hojes e amanhãs. E eu preciso estar de cabeça-feita com autoconhecimento e respeito por mim, para poder lidar com o mundo. As coisas mais lindas e mais saborosas da vida só serão realmente desfrutadas se eu estiver de cara limpa, ou pelo menos consciente do deleite a que estou me entregando. Sem fugas. Pleno de mim mesmo. Mas isso nunca foi ou é fácil, porque, queiramos ou não, certos padrões que recebemos no princípio de nossa existência nos acompanham e marcam pro-fundamente nosso comportamento. O amor formou vertentes dentro de mim que com frequência correm em direções conflitantes. Sempre senti em meu interior um barulho muito grande. É um barulho forte em relação ao amor. Meu relacionamento com o amor é algo muito complicado. Nunca foi uma relação calma, serena. A inquietação sempre povoou minha cabeça e meu coração. Sempre senti falta de uma plenitude. Talvez pela minha essência artística, ou por tudo a que assisti em minha infância, eu tenha fantasiado muito na busca do amor, deixando-o muito distante desse sentimento feito do dia a dia com uma mulher de carne e osso, quando se constrói uma vida e, enquanto envelhecemos juntos, podemos saborear o caminho percorrido. Houve momentos no passado em que vivi numa enorme inconstância. Enxergava o amor como a conquista de um prêmio, ou de um troféu. Se aquele tivesse sido conquistado, havia a obrigação de se conquistar outro. Com as trocas constantes, vinha o sabor de perda, de fragilidade, de solidão. Acompanhado do gosto amargo de uma ressaca. De várias ressacas. Casei, descasei, casei de novo, me apaixonei por pessoas certas e erradas; fiz filhos, sou mal interpretado por um deles, talvez sufoque de proteção o que vive comigo. Me deixei envolver, fiz sofrer, sofri; errei, consertei, não consertei; fiquei doido, fiquei apático; bati, apanhei, não respondi; odiei, desprezei, desprezo ainda; traí, fui traído. Amei e fui amado como ninguém . Enfim, “confesso que vivi”. Hoje também tenho a minha casa, meus sonhos e realizações. Cresci e me tornei pai e marido. Sou um artista que trabalha no ofício aprendido desde o berço com meus pais. A cada dia me aprimoro no que mais sei fazer – cantar. E canto com a certeza de que com meu canto eu me lanço ao mundo e sigo meu grande destino. Vivo hoje em Miami, com alguma paz, não total, mas bem maior da que o Brasil de agora poderia me oferecer. Cheguei aqui seis anos atrás, em busca de um mundo que pudesse receber a minha música e o meu eu, sem preconceitos nem limitações. No entanto, sou um eterno apaixonado pelo Brasil, viajo sempre para o meu país para tomar a bênção à saudade. Para regar e colher os frutos da minha semeadura de mais de 40 anos de carreira. Costumo dizer que sou um “exilado cultural”. Mas, ao contrário do exil-ado político, não fujo de nada, apenas ainda me permito desafios. Sinto um vigor juvenil ao enfrentar novas plateias, novos aplausos, novas conquistas. Serei sempre um apaixonado pela música. Mais do que isso: sou viciado em música. Ela me entorpece, acalma, empolga, me faz pensar, esquecer, lembrar, enfim, me motiva a viver. Tenho certeza de que nada me foi mais fiel e gratificante do que a música. Porque mesmo cercado da família, dos amigos, das conquistas, a solidão é a minha grande companheira. Sim . Em meu entender, nós somos a grande solidão universal. E, ao descobrir isso, trabalho o meu interior e faço da minha solidão o tesouro maior que equilibra o meu íntimo. Como sempre diz meu amigo Luis Gasparetto: “Só você vai ficar com você o resto da eternidade”. Longe de mim ser um solitário, ao contrário, apenas seleciono com quem dividir meus momentos para enriquecê-los. Eu gostaria de amar mais os amigos desta caminhada. Saber dividir com eles os meus sonhos. Gostaria de saber amar melhor os meus filhos. Saber ser o melhor amigo deles. Gostaria de ter convivido mais com minha filha Paula. Gostaria de amar melhor a mulher que vive comigo e suporta por demais as minhas incertezas; que já enfrentou barras incríveis comigo, e com o meu trabalho; altos e baixos, às vezes mais baixos do que altos. A companheira que me faz trabalhar, criar mais e produzir melhor. Que me instiga com a sua boa crítica a me aperfeiçoar. Um senti-mento especial nos une, e se transformou numa liga muito forte entre nós. Ela representa o esteio da minha vida. Desde os conselhos na carreira até a elaboração deste livro, que sem ela não existiria. Com seu estímulo o escrevi em rompantes de emoção, num depoimento desordenado das minhas lembranças – trabalho feito à mão, que ela pacientemente deu forma em seu notebook, organizando com carinho os meus pensamentos da primeira à última linha do que foi escrito. Sou orgulhoso herdeiro de todas as min-has lembranças. Elas me ajudaram a ser o homem que sou. O artista que sou. Jamais poderia ser outra coisa na vida. Tenho música nas minhas veias. O palco é o meu oxigênio. Sou um artista à moda antiga, de quando os ídolos eram escolhidos pelo público, e não pelo marketing que fabrica sucessos para consumo rápido. A música e a arte no Brasil têm sofrido muito na última década com a industrialização dos sentimen-tos. O que era artesanal, feito com o coração e para os corações, deu lugar a uma grande indústria dominada apenas pelo volume de comércio, levando ao endeusamento dos re-cordistas de vendas, nem um pouco preocupados em construir uma carreira – o que implica uma jornada muito mais longa, nem sempre só de sucessos. Com isso, artistas que se dedicaram ao cultivo da maior qualidade e da beleza sofreram bastante, e o abandono tomou conta de suas carreiras. Muitos grandes artistas brasileiros, e também eu, fazemos parte dessa geração que foi deixada à margem da máquina voraz que se alimenta de resultados rápidos, imediatistas, e não tem compromisso com nenhum legado de cultura para as gerações vindouras. Assim, para meus filhos Bernardo e Paula, não posso deixar outra herança que não seja a do trabalho, da perseverança, do amor à vida e, principalmente, a do perdão. Em to-dos os sentidos. Meus bens materiais são muito poucos. Meus bens espirituais e mo-rais quero que lhes sirva de luz para guiar seus passos. Que eles estejam na vida de uma maneira forte e decisiva. Descobri a essa al-tura da existência que viver é armanezar coragem para conduzir com calma os rumos da nossa própria solidão. Espero que suas decisões sejam tomadas em nome da justiça, do amor ao mundo e aos outros seres que lhes servem de parceiros nesta caminhada. Que eles se orgulhem muito dos seus avós, de suas mães, do seu pai, e do amor que sempre norteou os passos de quem os precedeu neste mundo. Que iluminem sempre os meus filhos, as Minhas duas Estrelas. Que nasci de uma fêmea de grande luz E de um homem gigante em cantar o amor Da emoção de um instante maior Eu, Cujos olhos abri e eram cor do mar E enxerguei toda a luz que me dava o sol E aprendi a cantar pra viver Eu, Que em versos meu berço cobri E com música aos poucos cresci E de sonhos eu me alimentei Eu, Que com arte reguei meu jardim Só com flores fiz rimas pra mim E hoje sigo o destino que herdei  Eu, Cantador de emoções de poetas mil Portador de alegrias pros corações. Eu sou Pery




* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

TRIBALISTAS DEVEM REALIZAR TURNÊ PELO BRASIL EM 2018

Segundo publicação, trio formado por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown retorna aos palcos após o Carnaval


Carlinhos Brown. Marisa Monte e Arnaldo Antunes são os Tribalistas.


Após lançar seu segundo disco de estúdio, Tribalistas, em agosto de 2017, o trio formado por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown deve cair na estrada em 2018. De acordo com o o jornal Destak, os Tribalistas iniciam uma turnê nacional logo após o Carnaval. 

Ainda segundo a publicação, a ideia é realizar apresentações em lugares abertos com a capacidade de reunir um grande número de pessoas. Além disso, os três pretendem cobrar ingressos a preços populares. 

Ainda sem datas anunciadas, a turnê promoverá o novo disco do trio, que conta com 10 músicas novas, incluindo os singles Aliança e Diáspora. Os shows ainda devem contemplar as músicas do primeiro trabalho da banda, também intituladoTribalistas, lançado em 2002. 

O disco de estreia alcançou sucesso graças a músicas como Velha infância e Já sei namorar. O álbum rendeu cinco indicações ao Grammy Latino e levou o prêmio de melhor álbum pop contemporâneo brasileiro. No ano de seu lançamento, também foi eleito o melhor disco pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).


Fonte: Estado de Minas

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*





Canção: Ora Eu, Ora Você

Composição: Evaldo Gouveia - Jair Amorim

Intérprete - Angela Maria

Ano - 1985

LP - Angela Maria - RGE



* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

MARTINHO DA VILA RECEBE TÍTULO DE DOUTOR HONORIS CAUSA DA UFRJ

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Martinho José Ferreira, o Martinho da Vila, cantor, compositor, músico, escritor, poeta e defensor da cultura negra, é também, a partir de hoje (31), doutor honoris causa, título concedido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a partir de uma proposta apresentada pelo Departamento de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras.

O título aprovado pelo Conselho Universitário indica que o artista “tornou-se um mediador entre a cultura popular e a erudita, por suas qualidades biculturais de mestre popular e de ídolo da indústria cultural, o que potencializou sua atuação na promoção da cultura popular e na militância contra o racismo na sociedade brasileira”.

Com uma atuação em tantos campos, nada mais natural que todos estivessem representados na sessão solene do Conselho Universitário da UFRJ, no prédio da Faculdade de Letras, na Ilha do Fundão, zona norte do Rio. Desde integrantes da velha guarda e da ala de baianas da Unidos de Vila Isabel, a escola de samba do coração de Martinho, a representes das letras, da música e da comunidade negra, todos queriam prestar homenagem ao cantor e compositor. “Para nós, é uma alegria muito grande ver um parceiro nosso, amigo receber esse título. Adorei ver isso”, disse o compositor Manuel Silva, de 71 anos, componente da velha guarda.

Para a integrante da ala de baianas da Vila, Ivonete da Silveira, de 63 anos, foi “excelente” poder ver o reconhecimento de Martinho, que segundo ela, é uma figura importante da escola. A baiana lembrou que é sempre uma emoção desfilar com um samba de autoria dele. “É uma emoção. O coração começa a bater mais forte. A mente fica sem saber o que pensar”, contou, acrescentando, que melhora se vier acompanhado de um campeonato da escola. “Aí fica tudo melhor, fica tudo bem”, disse sorrindo.

Entre os parentes, uma pessoa em especial: dona Elza, a irmã mais velha, que aos 90 anos fez questão de comparecer à cerimônia de entrega do título. E Martinho ficou feliz com a presença dela. “Foi uma surpresa para mim que a substituta da minha mãe, a número 1, como a gente chama, saiu lá de Curicica [bairro da zona oeste] e veio aqui, a Elza, representando toda a minha família”, revelou apontando para a irmã, que estava sentada na primeira fila.

Depois da cerimônia, emocionada, dona Elza falou de Martinho, que para ela é mais que um irmão. “Eu criei ele. Foi criado aqui na minha mão. Trabalhamos muito para criar ele. Ele estudou. Tenho ele como um filho. É uma alegria. Nunca pensei em chegar aos 90 anos”.

Martinho destacou ainda, entre os presentes, o babalaô Ivanir dos Santos e a professora Helena Teodoro, que lançaram a indicação para que ele recebesse o título aprovado por unanimidade pelos colegiados da UFRJ. “Hoje, para mim, é um dia de graça”, apontou o artista.

Na saudação ao homenageado, a professora Carmen Tindó, que apresentou a proposta de concessão do título a Martinho no Conselho Universitário, destacou que a cultura negra está sempre representada nas músicas do artista. Ela lembrou ainda que o artista sempre se posicionou politicamente, inclusive no período da ditadura, como no samba enredo Sonho de um sonho. “E eu cito: ‘Sonhei que estava sonhando um sonho sonhado. Um sonho de um sonho magnetizado. As mentes abertas, sem bicos calados. Juventude alerta e seres alados’. É clara neste fragmento citado, a mensagem poética que sonha um país sem censura”, apontou.

O reitor Roberto Leher afirmou que ter um intelectual do porte de Martinho da Vila nos quadros da UFRJ é muito importante para a afirmação da juventude negra, que tem conseguido cada vez mais espaço na universidade por meio de políticas públicas como as cotas. “É muito importante que esta instituição possa acolher esta juventude, e acolher naquilo que podemos dar de melhor, que é o conhecimento”, disse.

O homenageado está bem consciente dessa referência, não só para a juventude negra, mas para a sociedade brasileira. “É um título que tem muita representatividade e muito significado. Então, aumenta muito a responsabilidade. Não posso abandonar a luta e dizer agora vou descansar. Não posso. E também honrar essa universidade. Eu tenho uma certa presença por aqui e eles sentem que sou parte da turma, mas é uma emoção só”, afirmou, depois da cerimônia cercado de amigos.

“São tantos amigos e de várias áreas. Foi uma sessão solene acadêmica que era bem mista. Velha guarda da Vila Isabel, gente da Portela, músicos, artistas, intelectuais. Tudo misturado”. A cerimônia, que tinha começado com o Hino Nacional cantado por Martinho da Vila e, em alguns trechos, com acompanhamento próximo do samba, terminou com um show do grupo de se apresenta com o cantor pelo mundo afora.

CAETANO VELOSO ANUNCIA DISCO EM PARCERIA COM OS FILHOS TOM, MORENO E ZECA

Na última quinta-feira (21) foi disponibilizado o primeiro single do trabalho, 'Todo homem'. Álbum completo deve ser lançado em 2018



Tom, Zeca, Moreno e Caetano Veloso preparam disco para 2018.
(foto: Jorge Bispo/Divulgação)


Caetano Veloso anunciou nesta quarta-feira (20) o disco Ofertório, gravado em parceria com os filhos Tom, Moreno e Zeca. O primeiro single, Todo homem, será lançado nesta quinta-feira (21). 

A música, composta por Zeca, estreou ao vivo na turnê que os quatro realizam juntos pelo Brasil desde outubro. Com ela, eles passaram por Belo Horizonte e se apresentaram no Grande Teatro do Palácio das Artes. 

Os shows geraram um DVD que foi gravado no Theatro Net São Paulo. O material, assim como o disco, será lançado em 2018 pela Universal Music, informa o site da revista Rolling Stone Brasil.

Abaixo, confira o teaser de Todo homem: 



O último disco lançado por Caetano Veloso saiu em 2015, em parceria com Gilberto Gil. Dois amigos, um século de música foi indicado ao Grammy 2017 na categoria melhor álbum de world music. Antes disso, ele lançou o disco de estúdio Abraçaço (2012), último da trilogia com a Banda Cê. 

Moreno Veloso, primogênito e fruto do relacionamento com a primeira esposa, Andreia Gadelha, lançou em 2000 sua estreia no disco Máquina de escrever música. O último lançamento foi Coisa boa, em 2014. 

Já Zeca e Tom são filhos do casamento com Paula Lavigne. O primeiro deles já participou de músicas lançadas por Gal Costa. Já Tom é integrante da banda Dônica, que teve seu álbum de estreia, Continuidade dos parques, lançado em 2015.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

ELBA RAMALHO LANÇA DISCO DEDICADO AO AMOR E À ESPERANÇA

Repertório de 'Eu sou o caminho' traz 'Ave Maria', clássico de Schubert, e canção dedicada a crianças exiladas


Por Alef Pontes


Em seu novo trabalho, Elba Ramalho regravou 'O homem', antiga canção de Roberto e Erasmo Carlos. (foto: Marcos Rosa/Divulgação)


Devota de Nossa Senhora, Elba Ramalho professa mais uma vez a fé em seu trabalho. Lançado às vésperas do Natal nas plataformas digitais, o álbum Eu sou o caminho traz mensagens sobre amor e renovação. Projetado no “místico sagrado” do universo espiritual, como define a cantora, o disco reúne 12 faixas, entre inéditas e regravações. O repertório tem clássicos de Roberto Carlos a Franz Schubert, o autor da icônica Ave Maria.

A faixa de abertura é O homem, de Roberto e Erasmo, lançada pela dupla em 1973. “Tudo que aqui/ Ele deixou/ Não passou e vai sempre existir/ Flores nos lugares em que pisou/ E o caminho certo pra seguir”, diz o refrão. “É uma canção muito antiga, mas muito atual. Como Deus, né? Deus está desde sempre. É o mesmo e continuará sendo o mesmo por toda a eternidade”, declara Elba no vídeo divulgado nas redes sociais para promover o disco.

Com direção musical e arranjos do maranhense Zé Américo, Eu sou o caminho busca o equilíbrio entre o popular e o sacro, assim como ocorre nas manifestações inspiradas na oralidade nordestina. Entre os convidados de Elba estão o padre Fábio de Melo, o compositor Gilson (autor de Casinha branca) e um coral sacro. Há também composições assinadas por Altay Veloso e Nando Cordel.


SÍRIA

Um dos destaques do repertório, o reggae Deixe o amor fazer a lei, encomenda de Elba ao parceiro Zé Américo, defende a paz para as crianças forçadas ao exílio devido à guerra da Síria. “Deixem crescer os meninos feito frutos no pomar”, diz a letra.

A banda que acompanha Elba é formada pelo guitarrista Leonardo Amuedo (que tocou com Chris Bold e Ivan Lins), o baixista Ni Conceição, o baterista Camilo Mariano, o guitarrista Pedro Braga e o próprio Zé Américo (teclados, programação e arranjos). “Apesar de Elba ser extremamente católica, este é um trabalho que não tem ‘maneira’ de igreja. É um disco que fala de amor, mas tem pegada bem MPB”, explica Zé Américo. “São canções muito bonitas trazendo mensagens que até caberiam em um repertório religioso. Porém, não há esse propósito.”

O diretor musical diz que Não passarás, composta por ele, evidencia a pegada popular da cantora. “É um xote, uma coisa bem a cara de Elba. A gente tem uma afinidade muito grande, construída ao longo de vários anos”, conta. “Ela queria trazer mensagens espirituais e propus o popular. Várias músicas falam de amor, sem necessariamente falar de Deus, embora se mantenha muito próxima essa relação”, observa Zé Américo. “O disco tem tudo a ver com este período de fim de ano, mas, acredito, vai dar muito o que falar durante o ano todo”, conclui.

Abaixo, confira o single Não passarás:



DUZÃO MORTIMER - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Cantor, compositor e instrumentista, Duzão Mortimer volta ao nosso espaço para um bate-papo exclusivo onde traz informações sobre sobre a carreira, o novo  álbum entre outros detalhes biográficos

Por Bruno Negromonte


Tal qual um alquimista, Duzão Mortimer sabe dosar tudo aquilo que constitui a sua sonoridade como é possível observar nos mais distintos projetos musicais aos quais vem se dedicando ao longo das últimas três décadas. Seja em projetos coletivos ou em carreira solo, Duzão traz como marca maior naquilo que apresenta um certo q de hibridismo que não o faz divagar aleatoriamente sem saber onde vai chegar. Pelo contrário, é nesse despretensioso contexto que le vagueia firme nos gêneros que a música brasileira tem por melhor como vem sendo possível perceber aqui mesmo em nosso espaço onde o artista mineiro já esteve presente em algumas matérias, dentre as quais a pauta "EQUILÍBRIO E ENERGIA REGEM A MÚSICA DO HOMEM DE LABORATÓRIO", matéria publicada recentemente e que apresenta o seu mais novo projeto fonográfico. Hoje, Duzão volta ao nosso espaço para mais esta entrevista exclusiva. Excelente leitura!!


Se analisarmos a sua discografia veremos que os intervalos existente em seus primeiros projetos são longos. Agora em carreira solo houve um encurtamento nestes intervalos. Sem as amarras inerentes tão presentes nas decisões coletivas a inspiração, no seu caso, flui melhor?

DM - Olha, Bruno, a questão é do tempo para dedicar-me à música. Eu sou professor universitário desde 1983. Me aposentei em 2016 mas mantenho a posição de professor de pós-graduação na Faculdade de Educação da UFMG. Tenho, portanto, alunos de mestrado e doutorado e projetos de pesquisa. No entanto, estou com mais tempo para dedicar à música, sendo daí que vem a maior velocidade nos projetos.


Em sua opinião o que difere este mais recente trabalho do seu projeto anterior?

DM - O trabalho anterior, ‘Trip Lunar”, era mais intimista, com arranjos mais variados e uma sonoridade bem mineira. Mesmo as canções mais pra cima tinham uma certa complexidade. Praticamente toda as letras são do Marcelo Dolabela, que foi e continua sendo o principal letrista das minhas canções. Não havia um tema que predominasse, ainda que grande parte das letras falassem em amor. Assim, ora abordava-se as desventuras de uma Trip Lunar, em que amantes se separam em viagens a Buenos Aires ou Tel Aviv, ora nos corações meninos que são guardados como pássaros que ainda não sabem voar. No “Homem de Laboratório”, ao contrário, predomina uma veia mais pop, com rock, funk, reggae, blues, baião e samba, ainda que os arranjos continuem a ser sofisticados. A essa simplicidade nas músicas soma-se a maior presença minha enquanto letrista, também com mensagens mais diretas e menos sofisticadas, muitas relacionadas a problemas ambientais. Veja, por exemplo, Buraco de Ozônio. Fala diretamente dos possíveis efeitos do buraco na camada de ozônio e do efeito estufa, ainda que com uma clara licença poética. A única sofisticação, que pode passar despercebida ao ouvinte, é a coleção de substâncias químicas que já foram responsáveis por graves acidentes químicos – como o isocianato de metila, que foi responsável pelo Desastre de Bhopal, na Índia, o maior acidente industrial químico ocorrido até hoje. Na madrugada de 3 de dezembro de 1984, 500 mil pessoas foram expostas às 40 toneladas de gases tóxicos – o principal deles é justamente o isocianato de metila – que vazaram da fábrica de pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide. A principal causa desse desastre foi a negligência com a segurança. No primeiro momento morreram 3.000 pessoas, mas esse número pode ter chegado a 10 mil, devido a doenças relacionadas à inalação do gás. Da mesma forma, o Césio 137 é o isótopo radioativo responsável pelo Desastre de Goiânia, em 1987, e o mais perigoso isótopo disperso no Desastre de Chernobyl, ocorrido em 1986. Assim, “Buraco de Ozônio” sintetiza uma importante mensagem do disco, que diz respeito aos produtos da Ciência e da Tecnologia que escapam diretamente ao nosso controle e ameaçam o meio ambiente e a nossa existência no Planeta.


O que você destacaria como marca maior deste disco?

DM - Esta é a marca que destaca-se também em outras canções, por exemplo, o “Novo Homem”, poema de Carlos Drummond de Andrade que musiquei. Aí não são as ameaças químicas que importam, mas a ameaça genética. O ser humano está no limiar de criar uma nova espécie, um super-homem de laboratório, que derrotará as doenças e viverá muito mais. Ele “ganhará dinheiro e muitos diplomas, fino cavaleiro em noventa idiomas, chegará a Marte em seu cavalinho, de ir a toda parte mesmo sem caminho”. Mas esse super-homem é também o algoz da espécie humana, pois acabara com o Homo Sapiens. Ou o manterá para satisfazer seus desejos e caprichos, aprofundando a dominação do homem, agora pelo super-homem. Essa é a mensagem que busca passar no disco, sobre o nosso futuro. Acho que é hora de acordarmos para isso, questionarmos o que a Ciência e a Tecnologia têm produzido. Como, apesar dos benefícios inquestionáveis que vêm trazendo à vida de cada um e cada uma, ainda ameaçam a nossa existência sob duas formas distintas: uma é a destruição ambiental, a outra é a destruição genética. Afora essas duas canções que sintetizam a mensagem mais global do disco, há outras igualmente fortes, que questionam problemas mais locais, do Brasil, por exemplo, a violência em que vive o homem e a mulher da cidade grande, com medo tanto do bandido quanto da polícia. “A minha paranoia é a minha solidão”, diz “Luzes da Cidade”, que ao final propõe que se “apague as luzes da cidade, talvez a paranoia se dissolva em confusão, talvez essa penumbra reacenda uma paixão” pois “a luz há de brilhar na estrela e no luar”. Um disco com essas mensagens não poderia ser feito encima de temas musicais intimistas, mineiros. Ele tinha que conter uma veia mais pop, mais agressiva.


Por falar em marca, é muito perceptível tanto no "Trip lunar" quanto em "Homem de laboratório" o contexto agregador nos quais eles foram constituídos. Um exemplo disso é "Vidas secas", canção de autoria do Ivan Mortimer e presente em seu mais recente álbum. Como esse contexto é desenvolvido? É algo natural que vai amadurecendo no decorrer do projeto ou ele já existe ainda quando a coisa está no campo das ideias?

DM - O Ivan é meu filho e sempre me acompanhou, desde que retornei às cenas musicais em 2014, e mesmo antes, quando tentamos relançar “O Grande AH!...” com uma formação mais familiar. Natural que eu busque também divulgar suas músicas e isso só tende a aumentar à medida em que penso nos projetos futuros. No “Trip Lunar” ele comparecia tocando guitarra e baixo e cantando uma das canções, “Quem Inventou?”. Esse projeto foi o primeiro disco solo que fiz, depois de muitos anos sem produzir nada para o público. Natural que eu agregasse várias pessoas. Assim, havia a participação de vários cantores e músicos, como o Ladston do Nascimento, a Leopoldina, a Simone Wajnmsan, o José Luis Braga, o Marcos Pimenta, o Chico Amaral, o Elio Silva, a Daniela Rennó. Houve também a influência dos meus filhos na escolha de uma nova geração de músicos mineiros, como Alexandre Andrés, João Machala, Ygor Rajão, Henrique Staino, Rafael Pimenta, Joana Queiroz, Pedro “Trigo” Santana. Havia também arranjadores muito especiais dessa nova geração, como o Rafael Martini e João Antunes, e outros da minha geração, como Pedro Licínio. O disco foi produzido e dirigido musicalmente com muito carinho e dedicação pelo Thiakov, também da nova geração. Agora, no “Homem de Laboratório” eu coloquei mais a minha marca, pois canto todas as canções, algumas com vocais de Leopoldina, duas dividindo o lead vocal com Marcos Pimenta, um eterno parceiro e amigo, e uma com Juliana Perdigão, um nome emergente na música mineira. A exceção fica justamente para “Vidas Secas”, cantada pelo Ivan Mortimer. Em “Trip Lunar”, a minha presença como cantor estava diluída, e a banda de base era mais caseira, com os meus dois filhos, Lucas e Ivan, o filho de Marcos Pimenta, Rafael Pimenta, e Leo Lima, um parceiro de longa data, desde os tempos de “O Grande AH!...” No “Homem de Laboratório” eu toquei com uma banda de base que já me acompanhava em shows desde 2015, constituída pelo Vinícius Mendes, que assinou também os arranjos de sopro e teclados e a direção musical, o Gabriel Bruce, na bateria e alguns arranjos rítmicos, o Willian Rosa, no baixo, e o Ivan Mortimer, na guitarra. Portanto, há mais pega nesta banda, mais entrosamento, o que condiz com o astral do disco, mas pra cima. Evidentemente que diferentes músicos contribuíram com os arranjos, mas a sua presença no disco é mais diluída, colaborando com arranjos que já estão estruturados pela banda de base.


Quanto ao título "Homem de laboratório" pode subtender-se que se trata de uma sutil alusão à sua vida enquanto docente de química?

DM - Essa é uma leitura possível, um segundo sentido que propositalmente escapa na leitura. Mas o principal motivo é o poema do Drummond que musiquei, “Novo Homem”, que fala de um homem feito em laboratório, que ao final, acabou com o homem, bem feito. Agora, o que não tira a importância dessas canções para projetos que estamos desenvolvendo para o ano de 2018, e que falarei mais adiante.


Em tempos onde o dinamismo e a  urgência predominam, você vem (a partir do seu próprio tempo) apresentar um disco concebido em quase um ano e meio. como se dá essa relação com o tempo? 

DM - Eu tenho 62 anos, e isso faz toda a diferença. Não há pressa quando se atinge essa idade. O importante é deixar as coisas decantarem, amadurecerem, esfriarem para ouvir novamente. Além disso, eu mantenho outras atividades na minha vida de professor universitário. Mas o principal motivo é justamente dar tempo ao tempo para que a coisas se acomodem bem, para que fiquem próximas ao que realmente queremos. Um disco feito em pouco tempo não permite isso. Você põe o ponto final nas músicas muito rapidamente.


Por falar neste contexto como se dá o seu processo de composição?

DM - Eu, atualmente, componho basicamente por duas vias: uma é pura inspiração e as músicas vem de primeira, completas, e aí vou trabalhar com letras e adaptá-las ao formato da música. Outra via é o trabalho árduo encima de temas que surgem. Eu trabalho profundamente esses temas, vou remoendo-os mesmo, até que encontro uma saída e a música se completa. Quase sempre uso o instrumento para compor, seja o violão e a guitarra, seja o piano. Já fiz muitas músicas em conjunto com o Marcelo Dolabela, buscando nas suas letras a sonoridade adequada para compor uma canção ou compondo a letra na medida da música, mas já faz tempo que não uso essa alternativa.


Como se deu a escolha do repertório? (uma vez que o disco mostra-se abrangente e coerente ao se tratar dos gêneros apresentados) 

DM - O repertório vem naturalmente quando pensamos na estrutura de cada disco. No “Trip Lunar” havia essa coisa da mineiridade e da doçura, e isso predominou na escolha do repertório. No “Homem de Laboratório”, a pega mais pop foi fundamental e isso também predominou na escolha do repertório. Portanto, cada disco tem sua estrutura pensada antes mesmo de escolher o repertório e isso determina essa escolha, pois fica fácil buscar, entre as minhas canções, aquelas que têm a cara que definimos para o disco.


Ao longo dessas quase três décadas de carreira, você apresenta uma extensa produção acadêmica em detrimento à sua trajetória enquanto músico. Hoje talvez você se encontre em uma situação mais confortável para  dedicar-se ao hobby. Como tem sido hoje a resolução desse binômio?

DM - Eu me considero um “músico de laboratório”, ou seja, não consigo pensar na minha vida atual sem a música e sem o trabalho da universidade. Quando comecei na Universidade, em 1983, estávamos a todo vapor com “O Grande AH!...”. Em 1988 fizemos o primeiro disco, e 1989 foi um ano de muitos shows, estava a todo o vapor. Mas em 1990 eu comecei a fazer doutorado, algo que era fundamental para ter uma carreira na Universidade. E aí percebi que não dava para conciliar as coisas, que a carreira universitária demandava muito. Assim, fizemos mais um disco, Mariantivel, em 1997, mas esse já foi um projeto feito sem muito tempo. Abandonei a carreira de músico naturalmente, eu queria desenvolver minha profissão de professor universitário e ela exigia dedicação exclusiva. Agora, em 2013, quando decidi fazer o disco solo, “Trip Lunar”, era como um teste para o meu futuro. Eu queria voltar para a carreira de músico, cantor e compositor e um disco era a melhor solução para marcar um reinício. Em 2014 o disco ficou pronto e partimos para o lançamento. Eu, ao mesmo tempo, pedi minha aposentadoria em 2016 e agora estou com mais tempo para dedicar à essa velha/nova carreira. Só que não tem sido fácil, as coisas mudaram muito, mas eu continuo teimando em fazer música e em lançar novos projetos. Aí surgiu “Homem de Laboratório”, que começou a ser feito em 2016 e está aí, na praça. Já tenho um novo projeto no forno, mas em 2018 vou me dedicar a divulgar o “Homem de Laboratório”.



Como estão a questão da divulgação deste novo projeto para 2018?

DM - Pois é, como eu falei, a vida de músico continua difícil. Aí, temos que pensar em alternativas para conseguir divulgar o trabalho e nos firmar no cenário musical. Esse novo disco é justamente a fusão entre o Duzão químico e o Duzão músico - é nesse filão que eu pretendo atuar. Fazer projetos de aulas-shows nas escolas públicas, para turmas de adolescentes, discutindo os temas de ciência e tecnologia que povoam o “Homem de Laboratório” e que procurei sintetizar nesta entrevista: a destruição do meio ambiente e os resultados da revolução genética que podem aniquilar o Homo Sapiens. Eu recupero também algumas canções didático-científicas que estavam, por exemplo, no disco “1989” de “O Grande AH!....”. “A Terceira de Newton” é uma estória bem humorada dos três dias na vida de Newton que antecederam a formulação da sua Terceira Lei. Assim, essa aula-show, que será feita unicamente por mim, terá vários elementos de ciência e de música e os alunos serão convidados a elaborar algo nesta fronteira. Depois de fazermos aulas-shows em algumas escolas de um bairro que tem um Centro Cultural, faremos um show neste Centro, agora com toda a banda, para mostrar o “Homem de Laboratório” para uma plateia mais
ampla, mas que tem por base os adolescentes que participaram das aulas–shows.
Esse é o principal projeto pra 2018 e com ele pretendo começar a romper essa diferença geracional que separa a minha música do adolescente.



Maiores Informações:
Site oficial -
http://duzaomortimer.com.br
Amazon - https://www.amazon.com/Trip-Lunar-Duzão-Mortimer/dp/B00IZNQVDE
Bandcamp - https://duzaomortimer.bandcamp.com
Itunes - https://itunes.apple.com/us/album/trip-lunar/id840161884
Last.fm - https://www.last.fm/pt/music/Duzão+Mortimer
Soundcloud - https://soundcloud.com/eduardo-mortimer

MINHAS DUAS ESTRELAS (PERY RIBEIRO E ANA DUARTE)*






54 - O amor é o ridículo da vida

As pessoas que amam de verdade, sem condições ou medos, são as que enxergam o ser amado como ele é, sem censuras, culpas ou julgamentos. As que não amam de verdade são as que procuram encobrir os defeitos, as falhas ou as atitudes que possam “manchar” a imagem — principalmente dos que morreram — e assim tiram das pessoas o direito de serem autênticas, isentas de hipocrisia e, acima de tudo, de serem humanas. É nesse contexto de humanidade que coloco o meu amor por meus pais. Sem críticas ou condenação. Apenas relato a história de amor e dor que vivi com eles, com a humildade de ser humano que também erra, com o amor de filho e com a admiração de artista que sou. Se tudo for analisado com os olhos de hoje, com a filosofia minimalista atual, com o comportamento desprovido de emoção de agora, talvez alguém diga — como já disse um jornalista numa matéria sobre Francisco Alves, publicada na Folha de S.Paulo — que a separação de meus pais foi forjada e comercialmente planejada, que era somente uma discussão feita para levantar dinheiro. Mas, se mergulharmos no universo deles, veremos que havia dentro dos dois uma verdade maior do que o dinheiro ou as vantagens advindas da separação pudessem oferecer. Havia nos dois um sentimento de fidelidade à sua grande verdade. Havia em meu pai, que foi quem primeiro colocou a história nos jornais. Era um grito verdadeiro. Não havia farsa nem mentira. Foi cruel, foi estúpida e irresponsável toda a separação, mas ninguém poderá dizer que foi mentirosa. Acredito que brigas e desavenças sempre existirão entre os casais. E, por causa delas, o mundo troca ou modifica seus aspectos, senão seria tudo igual, tudo como começou. Com meus pais não foi diferente. E hoje, passados tantos anos, procuro colocar toda a história mais perto de mim, mais próxima da análise que amigos, parentes e, por que não, o grande público passaram a me oferecer como subsídio. Nessa busca da verdade — avaliando o comportamento de ambos, a razão das brigas e o drama que os vitimou, antes de consider-ar qualquer um deles como o “grande culpado” — reafirmo que tudo poderia ter sido bem diferente para ambos se meu pai tivesse conduzido tudo de maneira total-mente diferente do que fez. Ele construiu um abismo enorme do qual não conseguiu mais sair, mergulhando no cenário frágil que construiu a sua volta. Por outro lado, arrisco dizer que minha mãe teria preferido jamais ter ficado sozinha — mesmo com todo o sucesso — e ter continuado a viver ao lado do homem que a fez conhecer tanta beleza. O único amor que experimentou verdadeiramente. Lamento muito que tenham se destruído tão profundamente, em igual proporção, e seguido caminhos tão adversos dos que sonharam nos tempos do Teatro da Pátria, nos idos de 1936 para 1937. Assim, revendo a forma de meu pai levar sua vida amorosa, observo que ele nunca encerrou um relacionamento para começar outro. Foi assim com Dalva, que surgiu quando ainda estava com Mariazinha; foi as-sim com Lurdes, que entrou em sua vida ainda casado com Dalva. Enquanto o dinheiro e o sucesso não chegavam, meu pai foi um marido atencioso e dedicado. Quando o trabalho do Trio es-tourou, ninguém o segurou mais. Jamais preservou minha mãe de suas infidelidades, ao contrário: parecia querer que ela soubesse quem ele estava namorando, fosse uma garota do cassino ou uma cabrocha da escola. E mais grave: transou com Isaurinha Garcia na cama onde dormia com Dalva. Quando minha mãe reclamava, exigindo outro comportamento, ele encerrava a discussão com porradas. Mesmo com minha mãe já sabendo de seu caso com Lurdes, meu pai impôs um casamento de aparências a ela, antes da ida para a Venezuela, para dar continuidade aos contratos do Trio. Morando com Lurdes, continuava sua carreira de conquistador e chegou a ter um filho, que não conheceu, com uma componente do trio da sua irmã Nazinha (Hedinar). Na época em que vivia com minha mãe, colocava dentro de casa um montão de homens para comer e beber, a qualquer hora do dia ou da madrugada. Nunca houve privacidade na vida deles. Ele mesmo declarou em sua biografia: “Dalva era uma pessoa muito recatada, tranquila e não esboçava sentimentos agressivos. Depois, transformou-se. Aprendeu a ser agressiva, primeiro com insultos e depois descendo ao terreno físico”. Ora, como ele poderia esperar que uma mulher permanecesse recatada e tranquila nessa situação? Será que era esse seu desejo? Acho que minha mãe até tentou, ao permanecer tanto tempo na formação do Trio. Como mulher e profissional, suportou o que advinha dessa atitude. Tentou, ao achar que o conhaque poderia apagar as dores e decepções que o amor por aquele homem estavam causando. A partir daí, a bebida foi tendo um papel fortíssimo em sua vida, a ponto de ser a razão maior de sua destruição. Não se pode esquecer que a bebida entrou em sua vida ainda no início, quando estava com meu pai. E também não podemos esquecer que os traumas advindos de sua vida a dois não terminaram com a separação. Ainda permaneceram nas canções e nas ofensas públicas. Ele a acusou nos jornais de traí-lo. Pode até ter acontecido… Uma mulher ferida em seu amor é capaz de muita coisa, certa ou errada. Mas o pior de tudo foi que “o segredo deles não ficou entre quatro paredes”. Meu pai, movido pela raiva, e também para se defender, atacou-a publicamente. A polêmica musical talvez tenha começado quando Dalva gravou “Tudo acabado”, que era um desabafo sutil, sem in-tenção de provocar. Ao responder à gravação com o infeliz samba “Caminho certo” , meu pai angariou um ódio indescritível entre as pessoas. Ao começar esse processo com David Nasser, as opiniões a respeito dele se tornaram péssimas e, a partir daí, passaram a governar — ou desgovernar — o seu mundo. Mas existe também o lado dele, o homem que tomou algumas atitudes impensada-mente, em rompantes de mágoa, dor e até vingança, quando o que se esperava era que não se importasse mais com minha mãe. Afinal, não saíra de casa porque havia se apaixonado por outra mulher? Uma mulher que já existia muito tempo antes em sua vida e de quem disse — até ditou para seu livro — que “havia encontrado o grande amor da sua vida”? Ora, por que então a tentativa de atingir tão profundamente minha mãe, tornando pública a vida de casados em capítulos de jornal e musicando de forma tão violenta a relação que havia terminado? Ele não pensou, não ponderou as consequências e pagou um preço altíssimo. Sofreu muito, em que pese toda a sua atitude nascida do rancor. Meu pai passou a ter uma reação interior de mágoa e dor. Sei que sofreu muito e se agarrou à nova mulher. Também sei que ela o ajudou muito. Começava uma nova vida com Lurdes em Santa Teresa. Com sua personalidade pragmática, ela se tornou o refúgio que ele precisava naquele contexto. Mas não foi o bastante para ele. O mais importante para o artista Herivelto, o seu Trio de Ouro, o verdadeiro, já não existia; os momentos de brilho se apagaram e os aplausos do público silenciaram para ele. Seu interior estava arrasado e o grande júri popular passou a execrá-lo. Naquela época, me lembro, era frequente ele beber muito mais do que o habitual. Lurdes não tinha a personalidade alegre e receptiva de minha mãe com os amigos que ele acostumara a acolher em casa. Aos poucos, meu pai descobria que ela se preocupava mais com o status social das visitas do que com seu talento musical. O que foi deixando Herivelto sem aquele caldeirão de criatividade ao qual estava acostumado. Com a briga, os compositores importantes ficaram com Dalva. Suas aparições não despertavam tanto interesse no público como antes. E ele absorvia tudo tristemente, sem dar o braço a torcer. Meu pai sempre foi duro na queda. Sofria bastante. Penso que ali ele começou a morrer um pouco por dentro. Enfim, um período rico e feliz havia terminado. Criou-se um antagonismo enorme ao seu nome e a sua pessoa. Ele agora precisava ter muito cuidado com “onde” e “como” aparecer para o público. Foi uma barra cruel e pesada, pois estava mais exposto do que nunca ao julgamento de quem lia o Diário da Noite, ouvia as canções que compunha e presenciava as suas atitudes impensadas. Atitudes de quem queria se livrar de um grande problema e cada vez mais se afogava nele. Mas garanto: meu pai amargou muito toda essa situação. Ficou desnorteado e sem chão. Quando minha mãe lançou “Tudo acabado”, foi uma surpresa enorme para ele, pois ficou frente a frente com uma realidade: Dalva de Oliveira podia seguir sem Herivelto Martins. Continua-ria a existir sem ele, com mais brilho e sucesso. Foi apenas uma pequena amostra do que estava por vir. Meu pai apelou, respondendo com uma pro-vocação de baixo nível. A constatação da perda não era apenas em relação ao amor ou à mulher. A grande perda era em relação ao Trio, à sua realização artística. Sem Dalva, seu alcance artístico ficava esvaziado. Sei que a grandeza do compositor o segurou — e vai eternizá-lo —, mas, após a separação, o artista Herivelto nunca mais teve a mesma glória, nem acesso aos grandes palcos, nunca mais recebeu a mesma sublime ovação dos tempos com minha mãe. Ao contrário de Dalva. Ela cresceu infinitamente com seu canto, a ponto de colocar sua gravadora trabalhando 24 horas por dia para atender ao fabuloso sucesso. Ela atravessou fronteiras, ganhou o mundo. E o coração das pessoas. A briga deles ficou presente demais na vida das pessoas, na época. Se hoje, passados tantos anos, ainda desperta paixão, imaginem quando o incêndio total era diário. No entanto, não se deve pensar que todos to-maram o partido de minha mãe. Havia pessoas que acreditavam que a razão estava com meu pai. E era natural que assim fosse. Afinal, o julgamento de suas vidas estava nas mãos de quem lesse o Diário da Noite ou mesmo ouvisse as canções. E isso abria es-paço para qualquer sorte de análise. O que favorecia muito a minha mãe era o fato de que jamais escreveu uma linha se-quer nem ditou ou afirmou nada em entrevistas que revidasse as declarações ou condenasse as atitudes de meu pai. Mesmo que fosse para se defender. Essa atitude, consciente ou inconsciente, deu a ela uma condição espetacular de desfavorecida, de vítima. Só suas canções falavam em sua defesa. Até hoje, dentro da minha busca da neutralidade, não sei o que fez minha mãe tomar tais atitudes: se foi medo de meu pai ou uma postura de sabedoria numa hora tão crítica e decisiva. Ninguém vai poder saber se ela se sentiu pequena para superar um ataque tão grande ou se foi muito superior à pequenez do ataque de Herivelto. Mas isso já não tem a menor importância, transcorrido mais de meio século… O que ficou de tanta vida, a própria vida já arquitetou o tamanho que passaram a ter, por terem construído tanto para um país saborear suas emoções através de tanta música bonita, numa explosão de arte sincera, autêntica e sensível. Engraçado foi ver que o tempo conduziu as coisas à sua própria maneira, escreveu seu próprio enredo e os reuniu numa última canção. Nunca mais haviam se falado, pouco se viram, desde então. Mas, em 1970, quando retornei dos Estados Unidos, meu pai me mostrou uma música nova. Era “Fracassam - os”. Na época, ele poderia ter dado essa música para muitas cantoras: Ângela Maria, Clara Nunes, Maria Bethânia e outras. Mas, ao saber que Bily estava produzindo um compacto para Dalva na Odeon, fez questão de que minha mãe a gravasse, mesmo estando rompido com ela. Bily lhe mostrou a música e ela adorou. Essa atitude rompia um silêncio de quase vinte anos entre eles. Para meu pai, Dalva era a intérprete ideal para “Fracassamos”, pois a letra é uma verdadeira síntese do que viveram em suas vidas: Nosso alicerce está ruindo Fragorosamente está ruindo E quanta coisa juntos nós realizamos Porém agora reconheço, fracassamos Nosso alicerce é igual à torre de Babel Só não conseguiu chegar ao céu Já não nos entendemos mais Nossos carinhos são banais O nosso amor já não tem gosto de amor Vivemos juntos, nada mais Era como se Herivelto, pressentindo faltar pouco para a luz de Dalva se apagar, sentisse a urgência de encerrar um ciclo. Fechar a mandala criada entre eles. A gravação dessa música, uma das últimas composições de meu pai e uma das últimas gravações de minha mãe, reuniu novamente o compositor e sua intérprete maior. Duas décadas depois da separação, esse episódio tem sabor de uma grande peça pregada pela vida, nossa grande “produtora”. Soava como despedida. Uma triste e amorosa despedida.



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