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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

DE FAMÍLIA MUSICAL E EMPUNHANDO DE FORMA SEGURA SEU VIOLÃO, ANTONIA ADNET CHEGA DISCRETAMENTE

Com um lindo timbre e oriunda de uma clã pra lá de musical, Antonia Adnet apresenta "Discreta", um álbum essencialmente autoral, onde o título cai como uma luva para a artista carioca. Completa, a cantora mostra neste álbum de estreia todo o seu talento como arranjadora, cantora, compositora e instrumentista entrando de vez para o hall dos grandes talentos contemporâneos sem alardes.

Por Bruno Negromonte



Ao dar início a esta pauta, a primeira coisa que me veio a cabeça foi parafrasear um conhecido poema do saudoso mineiro Carlos Drummond de Andrade intitulado "A quadrilha" e que muitos devem conhecer. Na leitura de Francisco Achcar, o epigrama apresenta uma serialização de desencontros amorosos, através de associações ligadas aos nomes próprios; porém, o que procuro trazer aqui seria a arte como motivo agregador de tais protagonistas.


Segundo Drummond: "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém." Analogamente com tal escrito poderia me referenciar a esta carioca nascida em um dia de outono da seguinte forma: "Carmen que toca com César que toca com Chico que toca com Muíza que toca Maúcha que toca com Mário que canta com Joana que canta com Antonia que decidiu cantar e encantar todo o Brasil."

Todos os nomes citados nessa paráfrase são da família Adnet e estão diretamente ligados à música; desde a avó Carmen Adnet até as netas Joana e aquela que aqui vamos dar destaque: Antonia Adnet. A octogenária Carmen por exemplo é especialista na obra do músico polonês Chopin e lançou recentemente um trabalho em que procura comemorar o bicentenário do compositor. A matriarca costuma dizer que fez o que poucas pianistas conseguem: “Fundei uma família musical de que me orgulho muito.” revela. Em meio a genealogia e partituras as filhas da pianistas seguiram na música, além de vários sobrinhos (como o maestro Chico e Mario, filhos de Cezar Adnet, irmão de Carmen).


O breve histórico genealógico sobre a artista a qual vamos apresentar ao público do Musicaria Brasil torna-se válido como explicação, quando observamos na jovem Antonia Adnet tanto talento, requinte e virtuosismo. A arranjadora, cantora, compositora e violonista Antonia Campello Adnet, filha do também multifacetado músico e produtor de grandes nomes da música popular brasileira Mario Adnet, começou no mundo da música ainda criança quando aos seis anos de idade já arranhava os primeiros acordes em um violão dado por seu pai. Daí para dar início a sua carreira artística foi algo natural, pois tendo o incentivo paterno e o envolvimento musical de sua irmã Joana e demais parentes bastou a junção da dupla de amigos Gabriel (sobrinho do Evandro Mesquita) e João Gabriel (filho do músico Nando Carneiro e da atriz e cantora Beth Goulart) para ter origem ao grupo Cabelos Musicais, trupe esta levada com bastante diversão pelas crianças, mas que não deixou de prezar pela qualidade musical; tanto que em 1993 apresentaram-se no Jazzmania (RJ), em um "showcase" do Centro Musical Antonio Adolfo. 



Nesse mesmo período Antonia, então com oito anos, começa a compor. Daí em diante a pequena Adnet seguiu com diversas apresentações e participação em festivais no Rio de Janeiro. Esta precoce carreira se deu por conta de dela desde muito cedo está envolta com música a partir da rotina de estúdio, arranjos e composições que seu pai se submetia, além também da participação de sua mãe enquanto produtora; sem contar é claro das demais influências existentes na família. Todas essa base musical ela costuma ressaltar sempre que questionada com frases do tipo: “Meu pai foi uma superinfluência para mim” ou “Minha família é de artistas pelos dois lados. Eu sou Campello Adnet”.

Seu envolvimento com a música tornava-se algo irreversível, tanto que participou como vocalista da gravação de diversos cd's, dentre eles o do programa infantil "TV Colosso" (Rede Globo) e também de alguns artistas, dentre eles nomes como Simony, Emílio Santiago, Angélica, Tateando, Rádio Maluca do Zezuca e Lisa Ono. Outro detalhe nessa sua carreira de cantora foi sua atuação também em gravações de alguns jingles publicitários.

Já na adolescência teve aulas de violão e teoria musical com a professora Celia Vaz fazendo com que seu envolvimento na carreira musical já fosse o suficiente para a jovem não mais ter como voltar atrás, tanto que pouco tempo depois com então 14 anos, interpreta (junto com a irmã) a obra dos Beatles, a partir de arranjos elaborados por elas mesmo.

A redenção musical veio a partir dos anos 2000, quando participou no Mistura Fina e no teatro do Leblon (ambos no Rio de Janeiro) do show de lançamento dos discos "Para Gershwin e Jobim" e "Villa-Lobos, coração popular", do seu pai e maior influente. No primeiro como convidada especial, no segundo como violonista. Sem contar sua atuação nos vocais do álbum "Para Gershwin e Jobim 2" (ao lado da tia Muíza e da irmã Joana) e a fundação da banda 3/2, onde atuou como arranjadora, cantora e violonista ao lado de Henrique Vilhena (baixo), Leo Ehrlich (bateria) e Vinicius Ferreira (guitarra).



Em 2003 ingressou na UNI-Rio, no curso de bacharelado em arranjo (música popular) e teve aulas de violão solo e violão de 7 cordas com o professor Luiz Otávio Braga; vem desse período o grupo “Gandharvas”, onde Antonia (sob orientação do professor Roberto Gnattali e ajuda do seu pai) procurou abordar a obra do pernambucano Moacir Santos adaptando inclusive alguns arranjos do disco “Ouro Negro”. Nesse período houve diversas apresentações do grupo, sendo a mais importante a do Armazém Digital do Leblon, que contou com a presença do próprio Moacir.

Em 2005 recebe do tio Rodrigo Campello o convite para o substituir na banda da cantora potiguar Roberta Sá, onde participou da das turnês dos dois primeiros álbuns da artista (Braseiro e Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria). Dessa experiência relata que substituir seu tio foi algo desafiador, pois até então só tocava violão de seis cordas enquanto ele tocava guitarras, violão de 7 e cavaco. O desafio foi superado a partir de muito empenho e hoje Antonia a partir de sua dedicação já tem um domínio musical que vai além do violão tradicional; e esse acumulo de experiência fez com que ela se dedicasse em definitivo à carreira artística, deixando pela metade o curso de desenho industrial para concluir o curso de música na Uni-Rio. Atualmente, com o curso da UNI-Rio já concluído, faz aulas de canto com o preparador vocal Felipe Abreu, participa da atual turnê da Roberta Sá: “Pra Se Ter Alegria” e vem lançando o álbum que aqui por nós está sendo abordado.

Vale salientar que essa sua permanência na banda da cantora potiguar acabou lhe dando o amadurecimento necessário para a cogitação da ideia da gravação do primeiro álbum, fato que veio a acontecer de maneira gradativa ao longo de dois anos nos intervalos de suas apresentações junto a Roberta Sá. De 2008 a 2010, Antonia aos poucos, foi dando os moldes necessários ao disco. O resultado não poderia ter sido outro: um excelente álbum no final. "Eu me envolvi em cada pedacinho desse disco", conta a cantora, que se diz orgulhosa com o resultado obtido. O disco acabou sendo lançado a partir de uma parceria entre a Biscoito Fino com o selo Adnet Mvsica e a ele foi dado o nome de "Discreta", onde o canto pequeno, doce e afinado de Antonia sedimenta de vez o seu nome entre os poucos nomes artísticos femininos que abrangem as características que o seu talento apresenta.


O repertório de "Discreta" é basicamente autoral, pois das 12 faixas Antonia assina sete. Isso talvez se dê porque desde os 6 anos a artista toca violão e compõe desde os 8 anos, como foi abordado anteriormente. O disco começa com "Carnavalzinho" (Meu Carnaval) (Lisa Ono e Mario Adnet), onde o suave tom de sua voz dá a essa canção uma interpretação que nos remete aos áureos tempos das marcha ranchos cantadas pelas grandes divas de nossa MPB. Em seguida vem "Um Dia Quem Sabe" (canção composta por Antonia quando tinha por volta dos 15 anos) e a faixa que batiza o álbum: "Discreta" (um samba-canção que fala do desejo de um dia tranquilo, mas que gera surpresas a partir do encontro com um grande amor e seus nuances) como diz a letra entoada com a participação especial da Roberta Sá: "A minha discrição é um labirinto, não dou minha descrição pra quem chegar". A faixa que segue trata-se de um choro instrumental e inédito composto pelo maestro pernambucano Moacir Santos na década de 40, a canção "Vitrine" vem como um verdadeiro presente para os ouvintes deste disco.


Da lavra mais recente da artista vêm as faixas "Dois" (com Daniel Basílio) e "Vem e Vai" (com Ana Clara Horta), canções que trazem como eixo temáticos respectivamente os encontros e despedidas de um amor e a crença positiva no dia de amanhã. A faixa "Pessoas Incríveis" trata-se de uma canção essencialmente feita pela clã Adnet. A música foi composta por Mario, há a participação de Marcelo Adnet (o conhecido humorista que atua na MTV no programa Adnet Ao Vivo), as guitarras e programações ficam por conta do tio Rodrigo Campello e nos vocais a irmã, o pai, as tias e o tio Chico; a única exceção na composição da faixa encontra-se na letra da canção composta pelo poeta carioca Bernardo Vilhena e na execução dos cellos, que é feita pelo músico gaúcho Hugo Vargas Pilger.

Em seguida vem mais uma canção instrumental, desta vez de autoria da própria Antonia, a canção é intitulada de "Primeiro Choro".



O álbum segue com a canção "Quero Um Xamego" (Dominguinhos e Anastacia) gravada originalmente em 1976 no álbum "Domingos Menino Dominguinhos" e que conta com a participação do João Cavalcanti, filho do cantor e compositor Lenine e integrante do grupo Casuarina. Em seguida vem "
Bom Assim", outra letra e música do período da adolescência da artista e que retrata a ansiedade causada pela saudade de um grande amor. As duas últimas faixas são "Salineiras", canção que retrata mais uma vez a saudade de maneira interessante a partir da letra e música do Pedro Mangia e o tema instrumental composto pela própria Antonia e que recebeu o título de "Tema de Outono".

Chamam a nossa atenção as faixas instrumentais presentes no disco (que pode ser adquirido clicando na imagem ao lado), e que mostram o porquê da artista ser considerada completa. Ela chega a ir além do convencional procurando fugir do padrão de cantora
que toca o essencial indo do tradicional violão de seis  ao de 7 cordas de maneira bastante segura de si.

Além da presença de Antonia nos violões, a contextura do disco se dá também a partir dos arranjos elaborados por ela juntamente com seu pai e seu tio, nomes como Rafael Barata e Jurim Moreira (Bateria), Jorge Helder e Pedro Mangia (Contrabaixo), Everson Moraes(Trombone), sua irmã Joana Adnet (Clarinete), Teco Cardoso e Eduardo Neves (Flautas/Sax tenor), Ricardo Silveira (Guitarra), Marcelo Caldi (Acordeom), Aquiles Moraes (Flugelhorn), Philippe Baden Powell, Ricardo Rito e Marcos Nimrichter (Pianos), Bernardo Aguiar (Percussão), Aquiles Moraes (Trompete), Hugo Pilger (Cellos), Henrique Band (Sax Barítono), Rodrigo Campello (Cavaquinhos/Percussão/Programações/Arranjos) e Daniel Basílio (Violão) dão o devido requinte ao produto final. Por fim vêm as singelas ilustrações de Duda Moraes e a produção do álbum, que fica por conta da própria Antonia e do Mario Adnet, seu pai.

Esse debute vem apenas para somar mais um trabalho fonográfico com a excelência inerente à família Adnet. Uma estreante com uma sonoridade singular e elegante, trazendo em cada detalhe de "Discreta" a marca e a segurança que geralmente são atribuídas aos grandes nomes. Paradoxalmente ao título, a singeleza e a pureza de suas letras e melodias presentes no álbum, Antonia vem de maneira arrebatadora configurar-se na música brasileira contemporânea não como redentora, mas como uma esperança de que a música popular ainda consegue gerar cantoras e instrumentistas da estirpe dos grandes nomes de décadas passadas.

A explicação para toda esse talento e segurança foi dada ao longo desta pauta, mas sinteticamente pode ser lida através do release de "Discreta" a partir das palavras da amiga e companheira de palco Roberta Sá no texto a seguir:


Discreta Ousadia


"Conheci Antonia em 2003 quando fazia pesquisa de repertório para o meu primeiro disco. O produtor, Rodrigo Campello, sugeriu que eu procurasse seu cunhado, o arranjador e compositor Mario Adnet, para me ajudar nessa busca. Marcamos um café, que virou um suco de morango com abacaxi e mais tarde uma macarronada, já que ficamos das 14h às 20h trocando ideias, ouvindo canções e reconhecendo afinidades. Sentei à mesa para jantar com a família e logo vi que dali nasceria uma amizade e parcerias eternas. Primeiro porque a comida da Pimpim (Mariza Adnet) é sensacional. Segundo, porque percebi que essa família respira, exala, compartilha, toca, faz e só pensa em música. Brasileira!

Meses depois, já com Braseiro lançado, Rodrigo me disse que precisaria de um substituto para seguir comigo na estrada, caso ele não pudesse comparecer a algum show. Com apenas um ensaio, sua sobrinha e afilhada, Antonia Campello Adnet, se integrou à banda com uma calma de quem sempre esteve ali. E sempre esteve mesmo. Ela começou nos palcos tão cedo que não lembra da sua vida antes do violão.

A partir daí, nossa história profissional segue lado a lado e até se confunde um pouco. Viajamos o Brasil e o mundo e aprendemos juntas os prazeres e dificuldades da estrada, a beleza e os percalços da profissão que abraçamos.

Sim, ela tem a segurança de quem nasceu nesse berço de ouro da música brasileira. Mas agora, chegou a hora de fazer um voo solo e rasante.

No seu primeiro e corajoso disco, Discreta, Antonia Adnet se lança no ar, e no mercado, de uma vez só, como produtora, arranjadora, compositora, cantora e violonista. Não conheço nenhuma outra artista tão jovem que domine tantos talentos.

A discrição está no nome do álbum e nos gestos de Antonia. Mas o resultado é um disco extremamente ousado, porque enquanto outros aumentam cada vez mais o volume em prol de entretenimento, Antonia sugere a delicadeza. Sua proposta é recuperar os sentidos, reaprender a ouvir. Sua música é brasileira e atual, contemporânea, sem aditivos ou agrotóxicos. É música pura e rara, assim como a moça linda que estampa a capa."


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O álbum pode ser adquirido através dos seguintes endereços:
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RONEY GIAH E PERSEPTOM BANDA VOCAL VÊM COM CO'AS GOELA E TUDO!

A junção do músico Roney Giah e de um dos grupos vocais brasileiro mais conceituados da atualidade não poderia resultar em algo melhor. "Co'as goela e tudo" é um trabalho ímpar, elaborado inteiramente "a capella".

Por Bruno Negromonte



Roney Giah


Muitos artistas trazem intrínseco em si características que os fazem temer pelo novo e dessa forma acabam presos a situações tão estáticas, onde o medo de arriscar em novos projetos ou horizontes, acabam o condicionando e os tornando reféns de determinados gêneros musicais, os limitando.  Esse não é o caso de Roney Brogliato Giacometti, que nasceu em São José dos Campos, porém ainda cedo, por volta dos 06 meses de idade, mudou-se para São Paulo. Roney começou seus estudos musicais aos seis anos de idade - talvez por influência de sua família fascinada por música de qualidade - e daí em diante não abdicou mais do desejo de seguir a carreira de músico. A primeira experiência referente a banda veio aos 09 anos de idade (por incentivo do professor e mentor Manuel dos Santos) e aos 11 anos já surgiam as primeiras composições autorais. Daí em diante vieram diversas experiências no mundo da música, como, por exemplo, a formação das bandas Moscou Capitalista (período em que o artista começa a tocar em festas e festivais e que começa a desenvolver seu estilo tanto na guitarra e no canto quanto nas composições). Nessa sua passagem por este grupo o artista paulista teve a oportunidade do seu primeiro registro autoral em estúdio.



O grupo veio a se separar quatro anos depois e Giah investiu em outro projeto, o Quelidon, um trio formado pelo próprio Roney (voz e guitarra), Rolon (Baixo) e Sil (Bateria) que executavam estilos mais pesados - diferentes do pop do grupo anterior. O seu envolvimento com a música estava cada vez mais constante e isso fez com que o músico tivesse que optar em viver envolvido em definitivo com a música ou seguir por outras veredas; e ele escolheu a primeira alternativa.

No Brasil estudou harmonia e arranjo, canto, piano e guitarra com nomes como o do maestro Claudio Leal FerreiraRobson Nascimento, "Tomati" e Pollaco. Em 1993 viajou para os EUA para estudar música e investir naquilo que acreditava. Lá estudou no Musicians Institute of Technology, em Los Angeles (EUA) com professores como Pat Metheny, Scott Henderson, Frank Gambali, Joe Diorio, Joe Pass, Stanley Jordan, Jenifer Batten (ex-guitarrista do Michael Jackson) e Cat Gray (tecladista do Prince). Já era um caminho sem volta, pois nos Estados Unidos Giah mergulha definitivamente em uma infinidade de possibilidades; um aperfeiçoamento delicado e instigado por sua paixão por música.

Ao voltar para o Brasil em 1994 começa a se apresentar em algumas casas noturnas paulistas e após dois anos nessa rotina de shows e experimentos lançou o seu primeiro álbum: "Semente". Este trabalho foi gravado ao vivo e era um álbum essencialmente instrumental, tendo uma ótima aceitação da crítica especializada "Semente" concorreu ao Prêmio Sharp (atual Prêmio da Música Brasileira), o Prêmio Visa (edição instrumental) e conquistou o segundo lugar no Festival Berlee/Souza Lima, tudo isso apenas no ano de 1998.

Sete anos se passaram até a gravação do segundo álbum. O cd batizado de "Mais dias na terra" veio trazendo arraigado em si a nova etapa em que a carreira profissional de Giah se direcionava naturalmente, um período onde o amadurecimento musical (adquiridos dentre outras experiências por sua passagem pelos EUA) e é visto em todos os seus nuances a partir de características como a ampliação da linha instrumental se comparado ao primeiro trabalho e a integração de ritmos de diferentes vertentes musicais, tendo por resultado um som bastante brasileiro, mas de cunho universal. O álbum teve um êxito significativo tanto de público quanto de crítica, sendo inclusive sendo pré-selecionado ao Prêmio TIM e ao Latin Grammy, ambos em 2006, ampliando os horizontes artísticos e o reconhecimento de Roney tanto no Brasil quanto no exterior.



Nesse período dá início a sua carreira internacional de uma forma que não poderia ocorrer de maneira melhor, pois em pouco tempo o artista recebeu o convite para participar da trilha sonora do filme norte-americano "No pain, no gain" e assinou um contrato internacional com a gravadora inglesa ASTRANOVA Records, onde a mesma tinha o interesse em lançar a coletânea "Yesterday´s tomorrow". Para a divulgação, a gravadora produziu podcasts shows que foram disponibilizados em 107 países. Yesterday’s tomorrow, que é comercializado pelo I Tunes, reúne sete faixas do primeiro trabalho (Semente1998), seis faixas do álbum Mais dias na Terra (2006) e uma faixa bônus produzida com exclusividade para o projeto. Vale ressaltar que o interesse da ASTRANOVA Records ocorreu após o músico ter as músicas "Amar com E" e "A chuva" – do álbum "Mais dias na Terra" –, indicadas ao Track of the day pelos usuários do site Garage Band, portal de música norte-americano que tem a curadoria de George Martin, ex-produtor dos Beatles.

Entre 2007 e 2008, um dos mais renomados festivais internacionais de composição, The John Lennon Songwriting Contest, destacou com Menção Honrosa, na categoria World, o trabalho de Giah. Com a curadoria de Yoko Ono, o júri – formado pelos músicos Carlos Santana, Wyclef Jean, Fergie (Black Eyed Peas), John Legend, Al Jareau, Bob Weir (Grateful Dead), Lamont Dozier e Natasha Bedingfield – concederam Menção Honrosa ao artista. Nesse mesmo período vale destacar a escolha de seu nome pela empresa Oi Celular para integrar uma das edições do Projeto Oi Novo Som, tendo a canção "Lembra?" entre as dez canções mais executadas na cidade do Recife, por onde fez uma pequena turnê.

Entre 2009 e 2010 o músico paulista grava o seu terceiro álbum de estúdio e o batiza de "Queimando a moleira", tendo destaque para uma de suas canções (Time is so still), que recebeu a Menção honrosa do  Billboard World Song Contest, premiação criada pela revista norte-americana Billboard. No mesmo ano e com a mesma canção Roney Giah ganhou a sua terceira Menção Honrosa internacional, desta vez do Mike Pinder’s Songwars, premiação criada por Mike Pinders, tecladista da banda Moody Blues, sucesso da década de 60.

Ainda em 2009, Roney Giah passou a integrar o portfólio do Jingle Punks, e-business musical que atua como um banco de dados de música independente. Com sede em Nova York, o Jingle Punks, dirigido por Jared Gutstadt e Daniel Demole, foi eleito pela revista norte-americana Business Week (2009), como um dos novos negócios mais promissores dos Estados Unidos. Com a parceria, a obra do compositor, cantor e guitarrista brasileiro é disponibilizada para compor trilhas de filmes, séries de tevê e web das redes NBC, CBS, Viacom, Comedy Central, Vh1, MTV, Bravo, TLC, Starz entre outros.

Em 2010, o The Musicoz Award – festival destinado a destacar artistas independentes em ascensão no cenário musical internacional – indicou Giah na categoria “International Artist”. O compositor, cantor e guitarrista recebeu a indicação com as canções "Amar com E" e "Time is so still". Em sua nona edição, o The Musicoz Award é uma das principais premiações da indústria fonográfica australiana. Além do ascendente reconhecimento internacional, o músico lançou o seu quarto álbum (levando em consideração a coletânea lançada por terras britânicas) e que ganhou o título de "Queimando a moleira". O álbum conta com 18 faixas todas inéditas e de autoria do próprio Roney, disco conta com a participação de músicos como Mario Manga e Toninho Ferragutti. Seguindo a trilha natural de seus antecessores "Queimando a moleira" também conquistou reconhecimentos internacionais, dentre os quais algumas de suas faixas entraram na programação de cerca de 150 college radios dirigidas por alunos nos Estados Unidos voltadas a um público formador de opinião, alcançando o top 30 duas vezes consecutivas devido a receptividade do público universitário americano.

Segundo Giah, esta boa receptividade nas rádios universitárias priorizou o plano de gravar um álbum inteiramente em inglês. “Decidi entrar em estúdio ainda este mês para gravar faixas inéditas que serão lançadas individualmente em 11 volumes. À medida que estiverem prontas, as faixas serão distribuídas entre as college radios que estão tocando o meu trabalho. Assim, o público dessas emissoras poderá curtir cada faixa antes do CD ficar pronto”, afirma. Na opinião de Charlie Miller, executivo da Planetary Group, empresa que coordena a divulgação do “Queimando a moleira” nos Estados Unidos, “o novo trabalho de Giah, em inglês, deverá ampliar a presença do músico nas college radios e angariar um público ainda maior”. Esse cd virá acompanhado de sua primeira turnê internacional.


Perseptom Banda Vocal


A Perseptom Banda Vocal deu início as suas atividades musicais em fevereiro de 2002, mais precisamente no dia 22, quando dois irmãos, Valter e Anibal Macário, resolveram formar um grupo de música a cappella. Para essa proposta surgiram 05 adesões e da união dessas sete vozes surgiu o Grupo Vocal Perseptom (nome este que surgiu da junção da três palavras: per (percepção) + septo (sete integrantes, sete notas musicais) + tom (tom musical)). O Perseptom a princípio tinha por proposta a execução de músicas gospel, talvez pelo fato de ter  a maior parte dos seus componentes aprendido a cantar em Igreja.

Daí surgiram as primeiras apresentações e participações em shows a partir de casas de shows, bares sofisticados, universidades e festivais, onde alcançaram prestígio, reconhecimento e prêmios. Uma das características marcantes no oficio deste grupo é a não utilização de nenhum instrumento na produção de sua sonoridade tanto percussiva quanto harmônica. Esse aspecto se torna relevante não só pela peculiaridade, mas também pela excelência com a qual o trabalho é feito, se diferenciando tanto no Brasil quanto no exterior pela excelente qualidade com que cria e executa suas músicas.

(Perseptom)… É um bálsamo para os nossos ouvidos cansados da cacofonia urbana de buzinas, sirenes de polícia, tiros, ambulâncias e promessas vãs.
(Chico César – cantor e compositor)

O CD "Amídalas" foi o primeiro registro de estúdio da Banda, no qual a Perseptom, a convite de paraibano Chico César, participou do encontro entre grandes artistas da MPB como LenineMoskaArnaldo AntunesZélia DunkanAna CarolinaZeca Baleiro e, naturalmente, o autor das composições, o próprio Chico César. A faixa gravada pela Perseptom - "Ninguém Sai" - teve grande êxito e repercussão internacional e, pouco tempo depois de seu lançamento no Brasil já estava integrando o álbum "Children’s Garden", lançado na Alemanha pela Gravadora Lola’s World. Daí em diante gradativamente as exímias apresentações do grupo vêm ao longo dos últimos anos ganhando não só o Brasil (prova disto é que o grupo acabou tornando-se a principal atração no encontro nacional de corais, em Recife no mês de outubro de 2008 e no carnaval de 2009 e 2010 cantando frevo e maracatu a capella apoiando a orquestra vocal do Recife), mas o mundo (em países como Argentina, Chile, EUA, Canadá, Austrália, Áustria, Alemanha, França, Itália, Portugal, Espanha e Japão).



Foram quatro anos dedicando muitas horas de estudo e ensaios para aprimorarem sua arte. O resultado dessa dedicação pode ser conferido no primeiro CD, “Brasil A Cappella”, lançado pelo selo Paulus. Em 13 faixas, os músicos interpretam clássicos da MPB com perfeitos e criativos arranjos a capela (técnica que dispensa o uso de instrumentos). Ecléticos, trazem no repertório Alceu Valença, Chico César, Adoniran Barbosa, Tim Maia, Dorival Caymmi e Djavan, com destaque para uma faixa inédita, de autoria de Aníbal Macário. O álbum acabou sendo indicado ao Prêmio Tim 2007, na categoria Grupo Vocal e conquistou e foi considerado pela CASA (Contemporary a Cappella Society of America), dos EUA, o segundo melhor CD do mundo na categoria World Album, e o arranjo de Aníbal Macário para a música "Anunciação", de Alceu Valença, foi considerada a segunda melhor canção gravada no gênero, na categoria World Song. Atualmente, segundo a crítica especializada, o grupo é o  melhor grupo vocal do Brasil e considerado um dos melhores do mundo

Vale ressaltar que ainda em 2009 produziram trilha sonora de um filme com o Cantor e Compositor Guilherme Arantes e assinaram contrato internacional com a SHURE Microphones e atualmente trabalha na produção do terceiro CD, seguido de DVD com o apoio do Ministério da Cultura.


…Eu nunca vi uma harmonia como a de vocês. Por isso é que me emociono quando ouço vocês cantarem. É divino!…
(Guilherme Arantes – Cantor e Compositor)

Como seu trabalho agrada todas as faixas etárias e por ser ícone da música a capella no Brasil, foi criado o projeto Geração Perseptom, no qual crianças e jovens são beneficiadas com a aprendizagem musical deste gênero. Como frutos do projeto Geração Perseptom, já temos o Perseptom Mirim, Perseptom Jovem e Perseptom Sênior.

O terceiro CD, Retrato Brasil, caminha para 2011. Aqui Perseptom mostra o jeito brasileiro de fazer música a Cappella, através da técnica vocal de imitar variados instrumentos usados na música brasileira. Neste álbum o Brasil é retratado nas lindas canções autorais e de outros compositores consagrados. Este Retrato possibilita um vislumbre do Brasil que nem todo brasileiro conhece, sendo impressionados com a grandeza desta nação nos aspectos geográfico, climático, social e, principalmente, pela pluralidade cultural, abordada de forma alegre e descontraída com melodias apaixonantes. Ao ouvir as canções do Retrato Brasil fica impossível não exprimir o orgulho ter nascido no coração do Universo, o Brasil.

Co´as Guela e Tudo


Tudo isso anteriormente serviu como uma breve apresentação dos protagonistas deste trabalho que será abordado a partir de agora. "Co´as Guela e Tudo" (que vocês podem saber onde adquirir clicando na imagem ao lado) é enumerado como  o segundo trabalho fonográfico dos integrantes do Perseptom e o quinto da carreira do Giah e traz em sua essência algumas características peculiares em seu contexto. Nas veredas musicais da vida eles cruzaram seus respectivos caminhos por volta de 2008, quando por tal feito os músicos celebraram o encontro musical em um show concorridíssimo, no Teatro Arthur Rubinstein.

Desse encontro outros vieram e daí veio a ideia da perpetuação desse encontro em um registro fonográfico e apesar do propósito ter músicos de diferentes vertentes e escolas artísticas distintas, conseguiram harmonicamente equilibrar essas diferenças fazendo do disco a celebração da música de maneira unítona e tornando "Co´as Guela e Tudo" o tipo de trabalho que facilmente pode ser associados à excelência da produção de artistas como Bobby McFerrin ou Al Jareau; é o tipo de projeto que chega para deixar a sua marca definitiva dentro da música brasileira a partir da utilização de um outro conceito a partir da utilização à capella do "Beat box",  um tipo de técnica vocal utilizada para a emissão de alguns tipos de percussão vocal.

Todas as faixas presentes no projeto são de autoria de Giah e a consonância entre a elaboração de arranjos vocais bem feitos e os impecáveis timbres vocais dos integrantes do projeto, faz o trabalho obter - apenas com as vozes dos integrantes - a sonoridade de uma banda inteira para faixas como "Você me kiss"que abre o álbum e usa de um voluptuoso jogo de palavras na pequena canção. O álbum segue com as canções "Fa Fa Fa (O velho, o menino e o vento)", uma letra que merece atenção pela forma singela, porém carregada de lirismo como a vida e as suas peculiaridades são abordadas; "Who knows? Maybe you'll fall in love" uma canção cujo título já traz intrínseca a esperança em dias melhores a partir do encontro de um novo amor e "Águas do Nilo", música cujo a temática é o amor. A faixa posterior intitulada "Impossível" rendeu ao grupo o "Festival de Música Popular Brasileira de Barueri" (FEMUPO), nas categorias “Prata da Casa” e “Aclamação Popular”.



O álbum segue com canções  como "Mas que é pouco (Abro o bico)" canção onde qualquer absurdo parece plausível pois como diria um trecho de seu refrão: "Eu vivo e acredito que o coração é louco e solto..." e "Didi sem Dedé (Nunca é tarde demais)" onde sua introdução nos remete aos acordes do inesquecível tema de abertura composto pelo cearense Zé Menezes para o seriado "Os trapalhões". Em  "Sou compositor e nada mais" e "Vou doar meu coração" abordam dois temas distintos. A primeira traz aquilo que o compositor pode vir a se tornar com a força da imaginação a partir do momento que empunha a sua caneta e na segunda uma bela letra de temática amorosa como o próprio título sugere, tendo a participação do músico Milton Guedes em um primoroso solo de gaita. O álbum segue com o blues "Eu não sei como explicar", "Manual do que você não precisa" (cujo um dos trechos da canção sintetiza o contexto de forma sucinta: "A tua comunicação tem que entender o coração, pra entender esta canção");  a romântica "Fly" e para fechar o álbum vem "Pó pó pó (Que você vai conseguir)", canção que traz em seu bojo uma mensagem de autoestima que depois de ouvida dispensa qualquer terapia nesse sentido.

Nesse trabalho percebesse claramente que a junção dos talentos de Eloiza e Estela Paixão, ValterAníbal Macário, Diego de Jesus, Du Machado, Cristiano Santos (integrantes da Perseptom Banda Vocal) e o paulista Roney Giah não poderia obter melhor resultado. Isso tem sido visto pelos diversos reconhecimentos e prêmios que o projeto tem rendido. A conquista deste reconhecimento de crítica e do público se faz justo e merecido por se tratar de disco singular, inteiramente “a capella”, sem o acompanhamento de instrumentos, mas que em momento algum faz o ouvinte sentir a falta de qualquer um que seja.

Maiores Informações:
Roney Giah
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Perseptom Banda Vocal
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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ANDRÉ MASTRO - ENTREVISTA EXCLUSIVA

O multiartista paulista vem nos apresentando "Sem descanso" um trabalho coeso e equilibradamente dividido entre compositores contemporâneos e regravações pouco conhecidas do nosso cancioneiro popular. E hoje, data de seu aniversário, quem ganha o presente somos nós e o nosso público leitor com essa entrevista exclusiva.


Por Bruno Negromonte

O público de São Paulo bem conhece o trabalho de André Mastro, prove disto é a colocação do artista no ranking entre as pautas mais acessadas ao longo do último mês com a matéria SEM DESCANSO, ANDRÉ MASTRO MOSTRA TODA HOMOGENEIDADE DA MÚSICA POPULAR EM SEU ÁLBUM DE ESTREIA (http://musicariabrasil.blogspot.com/2011/07/sem-descanso-andre-mastro-mostra-toda.html), principalmente pelo público paulista. O sempre solícito André Mastro nos disponibilizou um pouco do seu corrido tempo para nos presentear com esta entrevista exclusiva. Dentre os assuntos abordados o artista fala um pouco sobre sua trajetória artística, as agruras existentes em dar seguimento a uma carreira de maneira independente e no espetáculo o qual vem apresentando o seu mais recente álbum intitulado "Sem descanso"; além de nos revelar o projeto que anseia em gravar um álbum cujo repertório seja focado apenas nas canções de uma das grandes cantora e compositora de nossa MPB.

Além de tudo isso nosso entrevistado ainda relata um pouco sobre um fato interessante ocorrido em sua infância: André, por volta dos cinco anos, ganha um caixa de compactos musicais que o marcou e acabou estruturando a sua formação musical quando mais tarde. Confiram na íntegra a nossa conversa:


Um fato interessante em sua infância aconteceu quando você ganhou uma caixa repleta de compactos. Como se deu esse episódio? Causou algum tipo de impacto que hoje é perceptível no cantor André Mastro?

André Mastro - Impactou, sim. Nesta caixa, que ganhei de uma prima de mais idade, no início dos anos 70, havia quase uma centena de compactos simples - os mini-vinis da época. Acho que foi a primeira vez que tomei contato com uma verdadeira miscelânea de gêneros musicais. Ouvi Águas de Março pela primeira vez, aí. E Beatles, Chico Buarque, Os Vips, Renato e Seus Blue Caps, Caetano, Agnaldo Timóteo, Carlos Lyra.
Isso ajudou a estruturar minha formação, já que eu devia ter acho que cinco anos, na época. Só depois é que fui perceber que a música passou a ser um dos itens mais importantes da minha personalidade, a partir deste episódio.
Acho que também este episódio ajudou-me a não ter barreiras musicais. Nunca tive a percepção, a meu ver equivocada, de que determinado tipo de música é menor. Dessa doença não morro. Também longe de mim achar que "música é música e todos os gêneros são iguais". Não são iguais. Acho temeroso este tipo de afirmação. Dá margem para que muita desinformação seja dita. Acho que há vários tipos de música, infinitas nas suas diferenças. E TODAS tem que ser respeitadas. Ninguém é obrigado a consumir todas, ninguém tem que aceitar nada. Mas todo mundo é obrigado a respeitar.
Acho que tenho essas opiniões muito por não ter conhecimento técnico em música, né? Não sou um "literato" musical e não me importo com isso. A música me chega pelo coração, ouço com o coração, ela chega e começa a residir ali. Claro que tenho um ouvido regular, não gosto de bobagem. Mas quem decide o que é bobagem é meu coração.


Esse acontecimento referente aos discos ganhos foi algo que de alguma forma impulsionou o seu desejo de criança em ser artista quando adulto ou essa predileção pelo mundo artístico só veio já quando adolescente?

AM - Não foi ali que começou. Eu nem sabia que existia essa profissão. Aliás, talvez não exista até hoje....
Tão pouco o estopim acendeu na adolescência. Quando cheguei à adolescência, a loucura já havia se instalado em mim...
Fui tomado pelo desejo de ser cantor acho que em 1973 ou 74, quando assisti, no programa Os Trapalhões (Rede Tupi), a uma apresentação da cantora Perla, paraguaia. Era um video clip da época. E fui tomado pela figura e pela voz daquela pessoa. Aquele timbre, aqueles vibratos, aquela passionalidade.
Quando vi, queria ser "aquilo" que eu estava vendo: cantar.
Claro que estamos falando de início dos anos 70, uma criança numa cidadezinha do interior de SP: eu mal sabia o que pensava, mal sabia o tamanho da (maravilhosa) encrenca que me aguardava.


Antes de cantar você formou-se em uma escola de teatro, passou por alguns cursos de música e também produziu (e continua a produzir diversos espetáculos no estado de São Paulo). Todo esse seu envolvimento com a arte (desde o palco, passando pela coxia, produção e burocracia) deu o suporte necessário quando você decidiu que seria a hora de lançar esse primeiro álbum ou acabou de certa forma atrapalhando por você achar que ter tanto conhecimento acaba o obrigando a ter uma excelência na qualidade do resultado final?

AM - Claro que ajuda, sempre ajuda. E, inclusive, me ensina o comportamento que não devo ter, quais as atitudes que não devo tomar dentro e fora do palco.
E a excelência que você cita, eu realmente não busco no meu trabalho de cantor. Canto o que me sinto seguro e o que me segura. Sou um cantor popular, nunca tive pretensões hollywoodianas. Amo meu cd e meu show, amo os músicos que me acompanham e para mim é muito claro que, eles sim, são excelentes. Eu só pretendo cantar da melhor maneira que puder, apresentar-me da maneira mais digna possível. Não canto bobagem, letra que traga informação perigosa, música que não me toque, enfim.
Quando percebi que a seriedade e a simplicidade podem andar juntas, foi tudo mais fácil.
O teatro me deu uma noção cênica. Acho importantíssimo, pois estou em pé no palco, tenho que ter noção do meu chão e do meu vôo.


Houve uma reviravolta na escolha do repertório devido aos altos custos e toda a burocracia referentes a direitos autorais como foi relatado por você em uma de suas recentes entrevistas sobre o lançamento do álbum. Como se deu a escolha das regravações nesse segundo momento?

AM - Os cds me foram chegando. Eram todos independentes e desconhecidos do grande público. São cds guerreiros, batalhadores, como o meu.
Algumas músicas me chegaram separadamente, como a faixa-título Sem Descanso. Chegaram três músicas do Guca, o filho dele, Deni, trouxe para eu conhecer. Com todo respeito ao Guca, mas nem lembro das outras. Fui tomado, com violência, pela força de Sem Descanso, que também é de Irineu de Palmira.


E que critério foi utilizado para a escolha das canções inéditas?

AM - Critério? Que é critério? Meu coração disse e eu fiz. Cantei, gostei, gravei. Cantei,não gostei, não gravei.


No álbum “Sem descanso” dentre os gêneros presentes você faz o resgate de um dos sub-gêneros mais bem humorados e cativantes que o samba possui, que é o samba-de-breque. De onde vem essa sua predileção por esse sub-gênero?

AM - Não tenho essa predileção. Apenas percebi que alguns gêneros combinam com minha voz, meu timbre. E aí o teatro pode ter ajudado também: trato a música como texto de uma peça teatral. Procuro entender e, em alguns casos, cantar a música como se contasse uma história. O samba de breque é uma excelência nestes casos: são cênicos, um prato cheio para intérpretes como eu.
E o público adora, ri, se diverte, comenta. Preciso dos "respiros" que este tipo de música dão ao roteiro do show, senão seria um suicídio coletivo, na plateia. Talvez no palco também... Porque sangrar cantando As Rosas Não Falam e Marinheira, não é pra qualquer bico.


Mesmo com um certo conhecimento no mundo artístico-cultural você forçosamente tornou-se mecenas do seu próprio projeto (ou patrocinador de si mesmo como você costuma enfatizar). Como foi essa nova experiência e qual foi a maior dificuldade encontrada?

AM - A dificuldade maior, pra quem não nasceu em berço de ouro como eu, é a financeira, né?
Mas eu contei muito com o companheirismo de todos os que participaram do cd, é preciso salientar. Desde meu engenheiro de som, Adonias Jr., aos meus arranjadores Zeca Loureiro e Deni Domenico, fui muito feliz na campainha destas pessoas. Alguns momentos das gravações estão "na parede da memória", para além das encarnações.


Um dos projetos que você tem em mente é a gravação de um álbum composto apenas com as canções da Fátima Guedes. Por que esse projeto não se concretizou no período do espetáculo “Mais uma Boca” e não acabou tornando-se seu álbum de estreia?

AM - Tenho certeza que este será minha próxima empreitada. Fatima Guedes é uma deusa pra mim, uma lady, uma diva no melhor sentido que estas palavras possam ter. Além de cantora ímpar, compositora absolutamente inigualável neste país, é uma candura de pessoa. Fofa completa.
Eu tenho tesão enorme em cantar aquelas coisas femininas que ela escreve. Minha voz grave, velada, cantando aqueles arroubos de paixão, de fossa, de felicidade... Delírio completo! Ela tem um monte de "Ne Me Quitte Pas" na sua obra, eu deito e rolo.
Não gravei quando fiz o show porque lá se vão dez, quinze, sei lá quantos anos. "Esperei o tempo certo....".


Além de você ter participado do coral USP sob regência da maestrina Vera Novack você teve dentre suas professoras de canto nomes como Ná Ozzétti e Cida Moreira. Todo esse “know-how” teórico o que é possível observar-se no espetáculo “Sem descanso” na prática?

AM - Com certeza sim. Não sei identificar completamente, mas tudo isso está na emissão da voz, na respiração, na transpiração, em comunicar com a maior clareza possível o que pretendo dizer.


Há também algo que seja perceptível do seu lado cênico no show “Sem descanso”?

AM - Não sei dizer. Tento apresentar-me elegante e verdadeiro. Tento ter a postura que eu gostaria que um intérprete tivesse se eu estivesse na plateia.
Procuro fazer com que a cenicidade me ajude na técnica, que eu desafine o menos possível, que eu não me perca nas letras, não perca minha concentração.


Fica aqui o espaço para as suas considerações finais...

AM - Bruno, que legal que meu trabalho chegou até você, em Olinda. Chegam-me retornos de São Luis, de Maceió, de Belo Horizonte etc. Uma pessoa entrou em contato dizendo que comprou meu cd no centro de SP. Esses fatos, aparentemente pequenos, eu acho uma loucura, não consigo descrever como me felicitam. Em breve eu postarei no youtube o vídeo de uma entrevista para a Rádio Gazeta-SP, com um pocket show. Aviso para você para que os seguidores do blog saibam.

MIMO SACRAMENTA-SE COMO UM DOS MAIORES FESTIVAIS DE MÚSICA DO PAÍS

A cada novo ano a Mostra Internacional de Música de Olinda inova-se o suficiente para acolher mais adeptos às suas propostas; e com isso sedimenta-se como um dos porto seguro musicais de qualidade musical inquestionável em nosso país.

Por Bruno Negromonte

A oitava edição da Mostra Internacional de Música de Olinda (MIMO) chega ao seu final atestando em mais um ano que trata-se de um dos festivais mais importantes do cenário musical brasileiro. Essa afirmativa fundamenta-se em um público cada vez mais cativo e que a cada novo soma-se em maior número a um total de 200 mil pessoas que já prestigiaram os cerca de 100 concertos apresentados no evento desde a sua primeira edição em  2004. Devido a esse fator e outros tantos outros não citados, já podemos considerar tal evento como indispensável ao calendário turístico de Olinda e em breve as outras cidades envolvidas.


Apesar de em números de concertos o evento ter tido 13 a menos que em 2010 (foram cerca de 26 concertos esse ano), o público compareceu em massa para prestigiar tanto aos shows apresentados quanto ao Festival MIMO de cinema, que este ano trouxe cerca de 15 filmes tendo por temática a música, além das diversas oficinas. Em números o público presente estimou-se em cerca de mais de cem mil pessoas, tendo também centenas de profissionais envolvidos nos bastidores da mostra.

Nessa oitava edição o público presente pode acompanhar nomes como Arrigo Barnabé, Gotan Project, Guinga, Hamilton de Holanda, André Mehmari, Délia Fischer, Egberto Gismonti entre outros do cenário musical não só brasileiro, mas mundial, pois dentro do festival não há fronteiras apesar da organização do evento procura dar uma atenção especial para a música brasileira, como explica a produtora, curadora musical e coordenadora da mostra Lu Araújo: "Há uma atenção para a música produzida no Brasil e acima de tudo para o repertório brasileiro em relação às orquestras."

Em Olinda, o evento parece que já faz parte do calendário cultural da cidade fazendo jus ao título outorgado ao município em 2006 de Capital Brasileira da Cultura. E pelo visto parece que as cidades do Recife e de João Pessoa acolheram também em definitivo a proposta  de expansão do evento oferecida pela Lume Arte.





De início vieram as etapas educativa iniciadas dois dias antes do começo dos concertos e que trouxeram 28 atividades divididas em cinco categorias e ao longo de uma semana. Fazendo com que a MIMO até a sétima edição beneficiasse, ao todo, cerca de 900 pessoas em Olinda, Recife e João Pessoa, procurando levar a partir deste contexto a música não só para aqueles que se dirigiam aos diversos espetáculos e oficinas apresentadas, mas também para as escolas públicas, onde a MIMO vem fazendo um trabalho bastante interessante de formação de público ao longo desses anos.


Para que o evento ocorresse da maneira bem-sucedida como vem ocorrendo desde o seu início, além da competência a Lume Arte contou-se com o apoio de centenas de profissionais (tanto das cidades sedes quanto advindos do Rio de Janeiro - sede da produtora), além da assessoria pernambucana da "Trago Boas notícias", nas pessoas da Aline Feitosa, Juuliana Renepont, Dulce Mesquita e Elayne Bione e que foram fundamentais para a nossa cobertura deste evento.


1º DIA

Em um contexto geral os concertos aconteceram com a um tipo de receptividade inerente ao público presente desde os primeiros anos dos espetáculos. E na abertura das atividades musicais não foi diferente, a primeira noite do Recife na MIMO mostrou que acolheu para si o festival de uma maneira tão peculiar quanto Olinda e a apresentação no Parque Dona Lindú trouxe ao espaço um público bastante relevante no feriado patriótico. A Orquestra Sinfônica do Recife apresentou-se ao lado do violonista e compositor carioca Guinga, regida pelo maestro Osman Gioia.

"É muito gratificante, tocar um baião, nesta terra. Minha família é de pernambucanos, conheci Recife quando tinha sete anos. Pela primeira toco para um público tão grande, minhas plateias, em média, tem 200 pessoas”." (Guinga)


Acompanhado pelos músicos Jesse Sadoc (trompete), Paulo Sérgio (clarinete) e Lula Galvão (violão), Guinga (surpreso pelo tamanho da plateia) tocou canções como "Abluesado" (parceria com Aldir Blanc) "Canção desnecessária" (parceria com Mauro Aguiar) e "Senhorinha" (canção composta em parceria com Paulo César Pinheiro e feita para homenagear as filhas de Guinga) tendo ao final da apresentação do violonista o típico ritmo pernambucano: O frevo.

Já em Olinda a festa começou com duas apresentações simultâneas às 18 horas, primeiro com a pianista Delia Fisher (apresentando o álbum em que canta o repertório do multinstrumentista e também presente ao evento Egberto Gismonti) na Igreja do Rosário dos homens pretos e segundo com o concerto da Parahyba Art Ensemble, no Mercado da Ribeira.
As apresentações na primeira noite da MIMO continuaram no seminário de Olinda, onde houve a apresentação do Trio 3-63 formado pela flautista Andrea Ernest Dias, o pianista Paulo Braga e o percussionista Marcos Suzano. Os músicos apresentaram um repertório baseado na obra do pernambucano Moacir Santos com canções como "Sambatango", "Vaidoso", "Paraíso" dentre outras.

A primeira noite chegou ao fim com um dos concertos mais esperados do festival (era perceptível pela quantidade de pessoas que aguardavam pacientemente a abertura do espaço para a apresentação) e apesar do atraso de cerca de meia hora, o duo Ballaké Sissoko e Vicent Segal trouxe um espetáculo para ficar na história do evento. Com um repertório todo composto pela dupla o francês Segal parecia mais à vontade junto a plateia, arriscando inclusive algumas palavras em português para explicar algumas das composições apresentadas. Nos últimos números do duo, ambos convidaram ao palco o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos que juntos prestaram uma singela homenagem a Luiz Gonzaga executando a canção "Asa Branca".

2º DIA
O segundo dia de concertos da MIMO prometia. Nas ladeiras da cidade o clima de festividade não deixava mentir que ali estava algo tão mítico, que na cidade só seria aceitável tamanha comparação ao dias de momo, porém com uma conjuntura diferente. Ao longo da segunda noite haveria três concertos: o do compositor , arranjador, e violonista Arthur Verocai (com a participação especial do Clarisse Grova, Carlos Dafé, Projeto Coisa Fina e a Orquestra Experimental de Câmara); além do grupo Azymuth, o Duo Milewski e o trio franco-argentino Gotan Project.Além de concertos também na cidade do Recife e João Pessoa.


"Como minha Olinda está linda! Repleta de gente e de boa música... seria ótimo esse tipo de iniciativa com mais frequência por parte dos governantes." (Telespectadora presente a um dos concertos exibidos no Seminário de Olinda)


A noite começou com o concerto do Duo Milewski, mostrando que mesmo não sendo dia de feriado as ladeiras de Olinda podiam acolher os amantes da boa música instrumental. Vale salientar que o violonista polonês e a pianista brasileira vem trazendo ao festival além de boa música o projeto (encabeçado por eles) intitulado "MIMO para iniciantes", que vem desde 2005 propiciando aos alunos das escolas municipais de Olinda o contato com a música erudita muitas vezes pela primeira vez, contribuindo assim de maneira significativa para um tipo de formação de público interessante para o gênero musical em questão. Nessa oitava edição o casal trouxe como tema o compositor russo Igor Stravinsky.

Enquanto acontecia o concerto do Duo Milewski, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Centro do Recife iniciava-se o concerto do músico da vanguarda paulista Arrigo Barnabé, que apresentou o espetáculo “Clara Crocodilo – Uma suíte a 4 mãos”, concerto onde apresentava as canções do álbum lançado a cerca de 30 anos atrás acompanhado pelo pianista Leandro Braga.




Como em todos os anos as principais ladeiras e ruas de Olinda estavam tomadas pelo público e, somando a isso, as luzes e cores refletidas nos templos, sempre trazem à cidade toda uma peculiaridade, onde até o público cativo sente-se em um novo lugar, acolhido de maneira ímpar pelas notas musicais que soam das igrejas. Foi o caso das pessoas presentes ao concerto do grupo Azimuth (grupo formado por Alex Malheiros (baixo), José Roberto Bertrami (teclados) e Ivan Conti, Mamão (bateria)). O grupo liderado por Mamão trouxe além de uma excelente interação com o público um repertório autoral com incursões a trabalhos de nomes como Tom Jobim e Marvin Gaye. Porém o que animou o público de fato foram as canções " jazz fusion" de autoria do trio.


Pouco tempo depois foi a vez da apresentação do carioca Arthur Verocai, que trouxe para a sua apresentação cerca de 30 pessoas para acompanhá-lo, em um concerto onde o repertório se fez hegemonicamente de canções autorais nas vozes de Carlos Dafé e Clarisse Grova, que juntos entoaram canções presentes no único álbum de Verocai gravado para o mercado fonográfico brasileiro, nos idos anos de 1972 e outras da lavra do maestro.



Canções como "Fly to L.A."; a instrumental "Queimadas"; "Caboclo" (canção cantada pelo próprio Verocai) e alguns números solos do Dafé e da Grova fizeram deste concerto algo ímpar que acabou suscitando em muitos a dúvida de como tanto talento poderia passar tanto tempo esquecido pelo grande público. A resposta é algo que surge em tamanha instantaneidade tanto quanto o questionamento: é a típica coisa que só acontece no Brasil.



Após a apresentação do bis o grande público aplaude o espetáculo de pé de maneira calorosa e contagiante. Tanto foi a demostração de afeto e respeito do público presente, que o tímido músico contagiou-se com essa recepção e de maneira despretensiosa não resistiu e soltou a frase: "o tempo da minha música é agora". O público também saiu com essa afirmação em mente, pois acabavam de presenciar (sem dúvida alguma) um dos melhores concertos do festival.

O último concerto agendado para o segundo dia da Mostra Internacional de Música estava programado para a praça do Carmo, e talvez por ser aberto foi um dos mais surpreendentes do festival por conta da quantidade de público presente, dentre eles o cantor pernambucano Alceu Valença.

O francês Philippe Cohen, o argentino radicado em Paris Eduardo Makaroff e o suíço Christoph Muller (acompanhados por mais quatro músicos) apresentaram um espetáculo baseado no repertório do álbum “Tango 3.0”, terceiro trabalho de estúdio do grupo, agradando o público presente que viajou nesta inusitadaa mistura entre tango e batidas eletrônicas feito pelo grupo, estima-se que o grupo tenha levado cerca de 15 mil pessoas à Praça do Carmo.

3º DIA
O início do fim de semana parecia prometer àqueles que tinham por objetivo visitar a primeira Capital Brasileira da Cultura para apreciar as excelentes atrações apresentadas ao longo dos últimos dias. Os cinco concertos programados para a sexta-feira trazia todas as características peculiares as atrações do festival e um público curioso pelas sonoridades apresentadas. Era comum entre o público presente frases como: "Muito bom esse cara, não conhecia o trabalho dele..." ou "Essa turma toca muito!". Nomes como o do grupo pernambucano Sonoris Fábrica, o israelense Daniel Gortler, o francês Alex Tassel e o Projeto Coisa Fina apresentaram-se nesse dia, além da segunda apresentação do duo duo Sissoko e Segal no festival, desta vez na Paraíba.

"O Projeto Coisa Fina utiliza o vigor da juventude em seus arranjos e sua postura no palco. Mesmo em um local austero como uma igreja, a impressão é de não se estar em um concerto, tamanha a desenvoltura e naturalidade dos 13." (Tiago Agostini, jornalista)

O primeiro concerto da noite tratava-se da big band formada pelos 13 jovens músicos do Projeto Coisa Fina, que trouxeram para o Mosteiro de São Bento a proposta que os juntaram a seis anos atrás depois de terem ouvido o álbum "Ouro Negro": apresentar ao público um repertório em homenagem ao Moacir Santos. Pelo visto a proposta foi muito bem aceita pelo grande público e a apresentação dos meninos do Coisa Fina (assim como a participação no espetáculo do Verocai, na noite anterior) será algo memorável para os que presenciaram os momentos citados, prova disto foi a grande fila formada ao final do show para cumprimentar os músicos.



Enquanto Olinda fervia com a apresentação em reverência ao maestro Moacir Santos; Na Capela Dourada do Recife acontecia o concerto do pianista Daniel Gortler. O espaço estava lotado e o israelense apresentou, a um público educadamente presente, o repertório de nomes como Schumann e Mendelssohn de maneira intercalada. Apesar da apresentação do pianista não ir além do convencional (sem inovações significativas em sua performance), o músico apresentou um espetáculo que agradou ao público presente.


De volta à Olinda, por volta das 19 horas, o grupo pernambucano Sonoris Fábrica (formado por Sérgio Ferraz (violino), Leonardo Melo (violão), Márcio Silva (bateria) e Cláudio Negão (baixo elétrico)) ocupou o espaço central do Seminário trazendo consigo um pouco do repertório apresentado ao longo desses quase 10 anos de carreira enfatizando o repertório do mais recente trabalho (disco este que em breve será apresentado em Copenhage, Dinamarca, onde participarão da Womex, maior feira de música do mundo). A mistura de jazz, com as influências musicais de cada integrante somadas aos ritmos genuinamente nordestinos como maracatu, baião, xote entre outros fizeram do espetáculo algo inebriante. Quem esteve presente pode atestar isto que falo.

O último concerto da noite foi o do jazzista francês Alex Tassel, que apresentou-se na Igreja da Sé com seu quinteto e trouxe para o público da MIMO o repertório do seu mais recente álbum "Heads or Tails". Em entrevista coletiva antes da apresentação Tassel ressaltou a liberdade como elemento primordial de sua música daí subentende-se a apresentação descontraída e cheia de improvisações (sem perder o seu virtuosismo) que o francês nos trouxe empunhando o seu flugelhorn. Um concerto passional e emocionante pelos solos de Tassel.

4º DIA


Diferentemente dos dias anteriores (onde todos os concertos aconteciam ao longo da noite) o sábado trouxe sob regência do maestro Carlos Anísio a Orquestra de Câmara da cidade de João Pessoa para a Igreja da Sé em um concerto matinal apresentado às 11hs da manhã e outro espetáculo à tarde, onde os alunos da MIMO in concert encerraram apresentaram aquilo que foi absorvido ao longo das oficinas de formação de orquestra.

"Esse cara revolucionou a música do século XX! Vale a pena conferir!" (Telespectador presente na fila de entrada para o concerto apresentado por Philip Glass no alto da Sé)

Porém o ponto alto desse dia que antecedia o final do evento ainda estava por vir com as apresentações noturnas do evento. Além da Orquestra de Câmara de Toulouse (que apresentaram-se na Basílica de Nossa Senhora do Carmo, no Recife); haveria também duas das apresentações mais esperadas deste festival seguramente: Egberto Gismonti (acompanhado por seu seu filho Alexandre) e do norte-americano Philip Glass.




O multinstrumentista Gismonti veio ao seminário de Olinda apresentar o espetáculo que vem mostrando tanto no Brasil quanto no exterior em duo com o seu filho, Alexandre. Um concerto basicamente autoral e que trouxe, para o grande público presente,  gratas surpresas ao longo da apresentação que durou mais de 2 horas (conflitando com o horário da apresentação do Glass a pouco mais de 500 metros dali e agendado para 1:30hs depois do concerto do brasileiro).

Na plateia o músico Nana Vasconcelos (reverenciado por Gismonti em dado momento do espetáculo) e um público que lotou tanto a Igreja quanto o pátio externo (para acompanhá-lo no telão) acompanhando diversos momentos de um concerto onde o sincronismo se fez perfeito entre a qualidade e a técnica do violão percussivo de Alexandre, o virtuosismo de Egberto em seu violão de 10 cordas, a violinista Ana de Oliveira e os convidados André Mehmari (que interpretou "Palhaço") e Hamilton de Holanda (com "Caratê").



O último concerto da noite trouxe o conceituado compositor norte-americano Philip Glass (considerado por muitos como o maior nome da música erudita contemporânea) ao piano acompanhado pelo violinista Tim Fain (responsável por parte da trilha sonora do filme "Cisne Negro") procurando comprovar que o título dado a Glass por muitos não foi em vão. A grata surpresa do espetáculo de Philip de fato foi o violonista Fain, que em momentos solo demostrou um misto de habilidade, técnica e velocidade. 

5º DIA
O último dia da MIMO foi o que menos houve concertos, apenas quatro. Porém foram quatros apresentações que prometiam encerrar o festival com chave de ouro. Dentre as atrações programadas estavam o Duo Mehmari-Holanda, a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa, a Orquestra Sinfônica da UFRN e o grupo carioca Pagode Jazz Sardinha's Club. O público compareceu de maneira que todos os convites que dão acessos aos espetáculos encerraram-se em pouco tempo no local de distribuição, comprovando assim que em mais um ano o evento foi sucesso absoluto de público.

Os espetáculos iniciaram-se às 11 horas da manhã, quando no seminário de Olinda foi apresentado ao público presente o resultado do curso de regência a partir da apresentação da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa. À noite, na Igreja da Madre de Deus, a MIMO despede-se da cidade do Recife com o concerto da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob regência do maestro André Muniz e com a participação do músico solista Diego Paixão.


"Faltam as palavras, as notas jamais." (Hamilton de Holanda, em sua apresentação de encerramento da MIMO 2011)


Os dois últimos espetáculos do festival em 2011 traziam ao centro da Igreja do Seminário de Olinda, o Pagode Jazz Sardinha's Club e ao centro da Catedral da Sé a dupla André Mehmari e Hamilton de Holanda.

O primeiro concerto da noite trazia um repertório essencialmente autoral com canções como "Índia e Branca", "Salsixe" e "Praia do pinto"  intercalando com clássicos da MPB como "Carinhoso" (Pixinguinha), porém muitos consideraram a apresentação Pagode Jazz Sardinha's Club como a menos relevante do festival.




O concerto mais esperado da noite era sem dúvida o que a dupla André Mehmari e Hamilton de Holanda vem apresentando em diversos concertos no mundo: "Gismonti Paschoal", em homenagem a Egberto Gismonti e Hermeto Paschoal. Na plateia nomes como Philip Glass e de Jards Macalé assistiram a exibição de um show sincronizado de maneira perfeita, onde os arranjos apresentados das canções de autoria própria e dos homenageados faziam a harmonia perfeita entre o bandolim e o piano tantos em momentos solos quanto nas bases das canções apresentadas.


Com um público estimado em cerca de 120 mil pessoas trazem à tona que aquilo os números mostram e não deixam mentir: a MIMO já faz parte do calendário cultural do Brasil, particularmente das cidades de Olinda e mais recentemente das cidades de João Pessoa e Recife. O sucesso do evento, tem alcançado uma variedade de público que impressiona até aos mais crédulos de que um festival de música instrumental  e cinema  pudesse trazer aos templos religiosos das cidades envolvidas pessoas das mais variadas faixas etárias ou famílias inteiras para assistir espetáculos de música erudita ou de artista que muitas vezes passam a conhecer a partir da Mostra.

Que em 2012 venham tantas gratas surpresas quanto essas que vem acontecendo ao longo desses oito anos de existência deste evento que traz às seculares Igrejas das cidades envolvidas uma alegria de peculiaridade tão intensa quanto a qualidade das apresentações e daqueles que passam o ano preparando o evento para um público cada vez maior. 

Agradeço em particular a equipe da Trago Boa Notícia (Aline Feitosa, Juliana Renepont, Dulce Mesquita e Elayne Bione), responsável pela assessoria de imprensa local.

O crédito de todas as imagens presentes nesta pauta são atribuídas a equipe do Ateliê Santo Lima:
Beto Figueiroa
Renato Spencer
Marcelo Lyra
André Sampaio

P.S. - Sugiro antecipadamente às autoridades competentes que ao longo do próximo ano (em que se é comemorado os 10 anos da Lume Arte, a cidade de Olinda condecore com o título de cidadã olindense nossa querida Lú Araújo em agradecimento pelos serviços culturais apresentados à cidade).