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sábado, 17 de outubro de 2009

GENIVAL "GENIAL" CASSIANO - O GENUÍNO SOUL DO BRASIL

Você já brincou de amores? Caminhou pela estrada? Olhou em volta e só viu pegadas? Saiu da fossa? Salvou a flor que ia morrer? Andou de bar em bar?
Se já fez tudo isso, ótimo. Sinal de que você sabe de quem estou falando.

Se você não CONHECE AINDA, é hora de conhecer o trabalho de um dos mais brilhantes compositores da nossa MPB em qualquer tempo: Genival Cassiano dos Santos, ou simplesmente, Cassiano.

Nascido em Campina Grande, na Paraíba, veio para o Rio de janeiro em fins da década de quarenta. Na Cidade Maravilhosa, foi nessa época que aprendeu com o pai a tocar violão e bandolim e foi ajudante de pedreiro. Aos 19 anos, entrou para o meio artístico como integrante do grupo Bossa Trio, mais tarde rebatizado de Os Diagonais (c/ seu irmão Camarão, Hyldon e Amaro) - que participariam nos três primeiros discos de Tim Maia fazendo os vocais de apoio. O grupo se apresentava por cidades mineiras e baianas.

Em 1969, o grupo gravou pela Epic/CBS alguns compactos e um único LP "Cada um na sua", no ano de 1971, no qual o grupo incluiu "Não dá pra entender" e "Clarimunda", as duas de sua autoria. Ao lado de Tim Maia, Carlos Dafé, Banda Black Rio, Gérson King Combo e Hyldon, foi um dos precursores da soul music no Brasil. Influenciado tanto pela música negra norte-americana, particularmente Stevie Wonder e Ottis Redding, quanto por Lupicínio Rodrigues. Devido ao comportamento controverso, assim como o do amigo Tim Maia, ambos se auto-intitulavam músicos doidões.

Tocou ao longo da década de 1960 na noite do Rio e de São Paulo. Só viria a se tornar conhecido em 1970, quando participou como guitarrista no primeiro disco de Tim Maia, que gravou duas composições suas em parceria com Sílvio Rochael, que logo se tornaram sucessos naquele ano.

Cassiano já estava ganhando notoriedade quando Tim surgiu como uma bomba na MPB, cantando uma de suas primeiras composições: o eterno hit "Primavera (Vai Chuva)".

"Quando o inverno chegar
Eu quero estar junto a ti
Pode o outono voltar
Que eu quero estar junto a ti

Eu, é primavera, te amo
É primavera, te amo
meu amor

Trago esta rosa
para te dar
Trago esta rosa
para te dar

Meu amor
Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)
É primavera... (vai chuva)"

A letra pungente e a interpretação marcante do inesquecível Tim Maia mostraram o gênio de Cassiano - imediatamente convidado para gravar um disco em 1971. Imagem e Som (seu primeiro disco). Neste primeiro trabalho-solo revelou outros ases na manga além de "Primavera". Vieram à luz "É isso aí" (não, não é a da Ana Carolina, garanto aliás que é melhor), "Já", "Uma lágrima" e "Não fique triste", "Ela mandou esperar" e "Tenho dito", ambas em parceria com Tim Maia, e ainda mostrou seu lado intérprete com "O caso das bossas", "Canção dos hippies" e "Lenda".

Com arranjos de Waldyr Arouca Barros, o trabalho de estúdio foi primoroso. O antigo grupo de Cassiano participou dando uma canja nos vocais e no baixo reinou o lendário Capacete, comparado a James Jamerson, craque do instrumento e músico número um de estúdio da não menos conhecida gravadora americana Motown.

Cassiano reapareceu em 1973 com um disco ainda melhor: Apresentamos Nosso Cassiano, pelo selo Odeon que era um disco totalmente autoral. E saíram do forno composições inspiradíssimas. "Melissa" foi uma homenagem à filha nascida dois anos antes; "Cedo ou tarde" (c/ Suzana), "Me chame atenção" (c/ Renato Britto) e "Castiçal". Além de "A Casa de Pedra" que é um soul-progressivo de diversas quebradas rítmicas e devastador - literalmente - porque nenhum coração de pedra resiste à beleza da letra e da interpretação do cantor / compositor. Só ouvindo a música pra saber mesmo como é...

Vale o registro que a canção inserida neste álbum intitulada "Cedo Ou Tarde" foi referência para dezenas de artistas da MPB que beberam da fonte da boa música, caso de Ed Motta, que apresentou a canção à Marisa Monte para que ela a regravasse.

"Tudo na vida é natural, eu sei
Que a vingança é o mal do amor
Que a incerteza só traz dor
E não há lugar pro amor

A verdade, cedo ou tarde, vem
Nada sei pra te dizer
Da saudade que se foi, ela voltou

Alcancei o que sonhei
Liberdade sou a paz de mim
Pois tudo vem natural"

Novo sumiço e Cassiano voltou em 1976, com um novo parceiro, Paulo Zdanowski, jovem de 19 anos que formaria algum tempo depois o grupo Brylho da Cidade - aquele mesmo de "Noite do Prazer". E aí foi lançado o terceiro e, pasmem, último disco do compositor: Cuban Soul - 18 Kilates, tão brilhante quanto seu antecessor.

"Coleção" foi um sucesso estrondoso por causa da novela Locomotivas, da Globo. "A lua e eu", outra balada que até hoje todo mundo acima dos 30 anos se lembra com carinho. "Salve essa flor", uma das preferidas dos seus fãs.

E ainda havia "Hoje é Natal", disparada a melhor música falando sobre o tema. Esqueçam "Noite Feliz", "Jingle Bells" e "Boas Festas". Cassiano sintetiza em pouco mais de três minutos e meio a singeleza desta data comemorada mundialmente.

Como cantor e intérprete, fez um sucesso sem tamanho em 1976 com "A lua e eu" (c/ Paulo Zdanowski), tema da novela "O grito", da Rede Globo, gravada no LP "Cuban soul". No ano seguinte, obteve novamente notoriedade com a música "Coleção" (c/ Paulo Zdanowski), incluída na trilha sonora da novela "Loco-motivas", também da Globo.




No ano de 1978, por motivos de saúde, tendo que retirar um pulmão, foi obrigado a abandonar a carreira de intérprete, porém prosseguiu compondo. Entre seus sucessos, destacam-se "Mister Samba", gravado por Alcione, e "Morena", por Gilberto Gil.

Em 1988, Cláudio Zoli gravou "Não dá pra entender" (c/ Cláudio Zoli e Ronaldo Santos).

No ano de 1991, participou do songbook de Noel Rosa, editado pela Lumiar, e lançou o disco "Cedo ou tarde", que contou com as participações de Ed Motta, Djavan, Marisa Monte, Luiz Melodia, Sandra de Sá, Karla Sabat e Cláudio Zoli e da banda Dancing Club, formada por ele na guitarra, Silvio da Costa na bateria, Jomar no baixo, Cássia Maria no piano e Júlio Gamarra na percussão. Nesse LP, além de sucessos antigos regravados, constam também novas composições, com destaque para "Know-how".

Em 1998, foi lançada pela gravadora Universal a coletânea "Velhos camaradas" (Cassiano, Tim Maia e Hyldon), disco que reuniu alguns sucessos de cada um dos artistas. No ano seguinte, sua composição "Férias", parceria com Índio, deu título ao disco de Cláudio Zoli lançado pela gravadora Trama.

No ano 2000, pela gravadara Dubas Música, foi lançada a coletânea "Coleções", com várias composições de sua autoria. No ano seguinte, em comemoração aos 100 anos da RCA, a empresa relançou em CD parte de seu acervo, no qual estão incluídos os LPs "Imagem e som" e "Cuban soul". Ainda neste ano, a gravadora Dubas Música, do compositor Ronaldo Bastos, convidou Ed Motta para organizar uma nova coletânea de suas composições. Neste mesmo ano, os Racionais MC's o convidaram para participar do novo disco dos rappers paulistas, e a banda carioca Clave de Soul, em seu primeiro CD, "Dançar é bom", interpretou de sua autoria "Tá dando mole".

O que de fato importa é que Cassiano ele nunca foi esquecido. Seja em coletâneas com o pouco material disponível como o cd "Coleções"ou em discos-tributos como "Cedo ou Tarde".

Glória eterna a Genival Cassiano dos Santos.

Ou seria... Genial Cassiano?

Fica aqui registrada uma das raras entrevistas concedidas por Cassiano intitulada "Cassiano Vive novo tempo de primavera", entrevista esta publicada no jornal da tarde em novembro de 2001.

Em entrevista concedida ao JT na casa do músico Bernardo Vilhena, dono da gravadora Regatas, na Gávea, Rio de Janeiro, Cassiano desfez a fama de arredio à imprensa. Falou sobre sua carreira, planos para um novo disco, do amigo Tim Maia, e das novas tecnologias de estúdio. William Magalhães também participou.

Por que tanto tempo sem gravar?
Cassiano: Acho que tudo tem o seu tempo. A certeza que eu tenho é que o meu é agora. Antes eu não concordava muito com isso que os caras diziam, que eu era fora do meu tempo, que estava adiantado. Mas agora vejo que tinham razão. Estou me sentindo feliz, os músicos entendem as minhas coisas simples, o que antes diziam que era complicado. O Tim [Maia] era o mais próximo de mim, de dialogar sobre música. O resto dizia que eu era um bicho estranho.

Mesmo longe da mídia e sem lançar discos, vários artistas querem suas músicas ou participações, como os Racionais. O que você acha deles?
Acho legal. Toda essa cultura negra tem muito a ver. Mas os meninos lá são muito fechados dentro dos lances deles. Houve o convite, eles chegaram a dizer que só iam em um programa de TV se eu fosse também.

William Magalhães: O primeiro contato deles com o Cassiano foi em um show da Black Rio no ano passado, no Sesc Vila Mariana. O Cassiano fez uma participação especial.

Houve um boato sobre você ter ficado chateado com um comentário deles, que diziam querer o Tim Maia, mas que o Cassiano serviria...
Não, eu estava à disposição. Eles me ligaram, mas depois acabou esfriando. Aí a gente começou as gravações do disco da Black Rio.

James Brown nunca gostou de rappers sampleando suas músicas, o que você acha?
Concordo em algumas situações. Quando a coisa é bem colocada fica legal. Mas poucas pessoas sabem fazer isso. Não tenho nada contra pegarem trechos de minhas músicas. O que eu gostaria que acontecesse é que desse certo. Tenho vários clipes de rap, gosto muito.

O que você acha desse novo interesse na black music nacional?
Não acho que seja uma volta, é só uma evolução. A soul music é uma coisa usada no jazz para fazer algo popular. E nós não tínhamos no nosso país, pelo menos há 20 anos, as pessoas que pudessem entender isso.

E quando sai seu disco novo?
Vai sair no ano que vem, pela Regatas, com o William e eu na produção, o Sidney Linhares na guitarra [da Banda Black Rio]. Mas um prazo é difícil. Quero fazer coisas com piano acústico, mas algo pop, com todos os aparatos tecnológicos.
William Magalhães: Pop mas com um lance de instrumentação. Mais brusco, mais ao vivo, orquestral também.

Ele vai retomar o que você vinha fazendo no Cuban Soul (76) ou no Cedo ou Tarde (91)?
Não, esse disco de 91 não foi um disco do Cassiano, foi um disco de produtor [Líber Gadelha]. E isso fica assim meio... olha, bota essa música e essa, essa. Mas você é artista, é que nem jogador de futebol: botam uma bola meia murcha, mas você sai jogando. Tinham coisas que não foram a meu contento. O pessoal tinha uma imagem que eu era um cara que não sabia trabalhar. O disco novo não, vai ser bem diferente.

Sempre lembram do Tim Maia, mas não falam de Cassiano. Você se sente desprestigiado?
Olha, a música é uma coisa que toma tanto o nosso tempo que nem... e eu fico pensando, o que é o prestígio. É dinheiro? Fama, respeito? Acho que respeito eu sempre tive.

Você convidou o Tim Maia para gravar nesse disco de 91, não? [Os dois estavam brigados por causa de uma disputa judicial sobre direitos autorais]
Sim, mas ele não quis, tava chateado ainda. Ele era muito grilado. Ele dizia que era o príncipe do grilo e eu era o rei, mas era ele o pior. O Líber convidou, mas ele disse ‘Não, não vou não’.Vocês não se falaram mais?A gente se falou uma vez por telefone. Depois eu estive em um show dele no subúrbio e ele me chamou para cantar Primavera com ele. Quando eu já morava no Jardim Botânico, ele me ligou às três da manhã - aqueles horários dele - me convidando para um show em Manaus. Essa foi a última vez. Aí, quando ele faleceu, todo mundo lá... pela TV eu vi gente que não tinha nada a ver fazendo lobby e pensei: não vou participar disso. Quando ele estava no hospital, eu tomei uma garrafa de Chiva’s, sentado na cama, chorando e pedindo a Deus pra não levá-lo.

Dizem que vocês dois eram farristas...(Risos)
Não, mas ele era muito mais do que eu. Tim era o seguinte: ele fazia questão de ser mais do que qualquer um aqui. Olha, quando nós gravamos Primavera o disco ficou engavetado. Quem descobriu ele, um compacto simples, foi o Nelson Motta. Ouviu em 1969 e disse ‘Nossa, mas é muito bom’. Aí, o Tim ficou sabendo que tava pronto e não tinha sido lançado, foi lá na Polydor, deu um esporro no pessoal, bateu na mesa, aí lançaram e foi aquilo.

Não apostavam na música?
Pois é, quando eu cantava essa música nos corredores das gravadoras, inclusive na própria CBS, os caras diziam ‘Olha, meu, isso aí não dá certo, não. Grava música do Roberto Carlos’. Pôxa, é aquela coisa do compositor, tudo bem, eu posso até gravar do Roberto, mas essa aqui eu fiz. Dois anos depois, foi aquele sucesso...

É verdade que Jackson do Pandeiro freqüentava a casa do seu pai, em Campina Grande (PB)?
Jackson era amigo da nossa família e trabalhava pro meu pai, que fazia reformas. Me pegou muito no colo, dizem que uma vez eu dei uma urinada nele.

Há uma história sobre um álbum seu gravado pela CBS que nunca foi lançado...
Existe, isso foi logo que eu saí da Polydor, 1978 pra 1979, e ele não foi terminado. Mas gravamos, mixamos um material bom ali. Nada foi aproveitado disso. Preciso até saber o que foi feito deste tape. Isso aconteceu por causa daquele negócio da gravadora falindo.

E a fama de ser um artista difícil de se trabalhar, você concorda?
Acho que não, tanto que estou aqui trabalhando com os meninos da Black Rio. Eu acho que isso vem, por exemplo, do primeiro disco [Imagem e Som, 71], porque eu briguei com a RCA. Eu dizia que para trabalhar eu queria que eles me alugassem um baixista, um baterista e um pianista. E o meu diretor disse que quando eu fosse gravar, ele me daria uma orquestra, mas que não iria me arrumar os instrumentos. Quer dizer, o que hoje é comum, os grupos treinam, na hora de gravar estão com tudo pronto, é mais barato, mas, na época, acharam um absurdo. E aí eu é que fiquei com fama de complicado, né?

DISCOGRAFIA SOLO CASSIANO

01 - Cassiano - Imagem E Som (1971)
Faixas:
01 - Lenda
02 - Ela Mandou Esperar
03 - Tenho Dito
04 - Já
05 - É Isso Aí
06 - O Caso Das Bossas
07 - Eu, Meu Filho E Você
08 - Primavera (Vai Chuva)
09 - Minister
10 - Uma Lagrima
11 - Canção Dos Hippies (Paz E Amor)


02 - Apresentamos Nosso Cassiano (1973)
Faixas:
01. O Vale
02. Slogan
03. A Casa de Pedra
04. Chuva de Cristal
05. Melissa
06. Castiçal
07. Me Chame Atenção
08. Calçada
09. Cinzas
10. Cedo ou Tarde


03 - Cassiano - Cuban Soul (1978)
Faixas:
01. Hoje é Natal
02. Coleção
03. Ana
04. Onda
05. Central do Brasil
06. Saia dessa Fossa
07. De Bar em Bar
08. Salve Essa Flor
09. A Lua e Eu


04 - Cassiano - Cedo ou Tarde (1991)

Faixas:
01 - Eu amo você
02 - Primavera
03 - Salve essa flor
04 - Bye bye
05 - Rio best-seller
06 - Cedo ou tarde
07 - Setembro
08 - Coleção
09 - A lua e eu
10 - Know-how
11 - Intro III


05 - Cassiano - Coleção (2000)

Faixas:
01 - Coleção
02 - De bar em bar
03 - Melissa
04 - É isso aí
05 - Hoje é natal
06 - Salve essa flor
07 - Não fique triste
08 - Cedo ou tarde
09 - Ana
10 - Já
11 - Uma lágrima
12 - A casa de pedra
13 - A lua e eu
14 - Saia dessa fossa

UMA CANÇÃO NO RÁDIO, NOVO ÁLBUM DO FAGNER

Neste ano em que completa 60 anos de vida e quase 40 de carreira, Raimundo Fagner lança um CD em que confirma sua capacidade de renovação e de estar sempre antenado com o que acontece à sua volta. Com produção em parceria com Clemente Magalhães - jovem e talentoso produtor carioca - Fagner mostra em “Uma canção no Rádio” uma de suas principais características que é lançar novos compositores, em especial seus conterrâneos. Seria difícil alguém fora do estado nordestino ouvir falar em Oliveira do Ceará, mas hoje ele já é um nome nacional. Com 3 canções de autoria do compositor cearense – uma delas com a intervenção de Gabriel, o Pensador – Fagner registra a obra desse ótimo compositor, assim como fez antes com o poeta Francisco Carvalho.

Com uma banda inteiramente nova ( mas com a participação de Ítalo Almeida em duas faixas e de Tuco Marcondes em outra) , o novo disco traz uma sonoridade diferente e moderna ao trabalho de Fagner, ao mesmo tempo em que ele continua a resgatar belos trabalhos nordestinos como por exemplo a deliciosa “Flor do Mamulengo”, de Luiz Fidélis, gravada originalmente por Abdoral Jamacaru, o excelente compositor do Cariri.

Um outro momento muito especial do novo CD é a muito bem vinda parceria com o genial Chico César – Farinha Comer – O nome ficou meio estranho, deveria ter permanecido com o nome original que era “Casa de Farinha”, mas nada que tire o brilho da letra maravilhosa e que permite várias interpretações. Um belo registro e que venham novas parcerias.

Mais uma vez (que bom!) Zeca Baleiro está presente em um trabalho de Fagner e a faixa título do disco “Uma canção no Rádio” tem um refrão que tem tudo para ser o que chamam de “chiclete mental” , você aprende e aquilo gruda no seu ouvido que você repete instantaneamente. É o caso de “Tudo se desfaz, vida leva e traz/Fica só o pó da estrada/Que o céu me roube a luz/ Mas me reste a voz /Na noite calada” .

Outra que tem muita chance de pegar, se tocar na rádio, é “Me dá meu coração” de Accioly Neto. Nos shows ela tem uma boa resposta do público, que já sabe o refrão também.

Fagner acertou em cheio com o seu novo CD (apesar de eu não ter entendido o porque de incluir “Muito amor”, já gravada anteriormente). Mesmo sendo no formato digi-pack - a embalagem econômica mais usada atualmente - o disco tem um belo trabalho gráfico, com caixa, encarte e abrindo em três partes. Ponto para o grande Fagner que comemora em plena forma seus 60 anos de vida e outros tantos de uma carreira contínua, coerente e acima de tudo de muito sucesso junto ao seu público fiel e também com os novos fãs que ele conquista a cada dia.


RAIMUNDO FAGNER – UMA CANÇÃO NO RÁDIO (2009)

Faixas:
01 - Muito amor (São Beto)
02 - Regra do amor (Oliveira do Ceará)
03 - Sonetos (Domer)
04 - Uma canção no rádio (Filme antigo) (Fagner/Zeca Baleiro)
05 - Martelo (Oliveira do Ceará/Adamor/Gabriel, o Pensador)
06 - Me dá meu coração (Accioly Neto)
07 - Flor do mamulengo (Luiz Fidélis)
08 - Farinha comer (Fagner/Chico César)
09 - Amor infinito (Oliveira do Ceará)
10 - A voz do silêncio (Fagner/Fausto Nilo)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

MORRE LEON BARG

Por Mauro Ferreira

Um ataque cardíaco tirou de cena nesta semana, mais especificamente no dia 12 de outubro de 2009, Leon Barg, o dono do selo Revivendo, aberto em 1987. Pernambucano radicado em Curitiba (PR), sede de seu selo, Barg contabilizava 79 anos. O trabalho desenvolvido por este obstinado colecionador de discos foi de extrema importância para a preservação digital da memória da produção musical brasileira registrada entre os anos 20 e 50. Barg possuía extraordinário acervo de discos de 78 rotações por minutos. E foi esse acervo que Barg, através de seu selo Revivendo, disponibilizou para as novas gerações, inicialmente em vinil e, mais tarde, já em CDs. Através de parcerias com as gravadoras EMI Music (detentora do acervo da Odeon) e BMG (herdeira do arquivo da RCA-Victor), o selo Revivendo trouxe para o formato digital - em coletâneas sempre marcadas pela fartura de informações sobre a origem das faixas - a obra fonográfica de cantores como Francisco Alves (1908 - 1952), Carmen Miranda (1909 - 1955). Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e Orlando Silva (1915 - 1978), entre muitos outros. Barg deixa um legado inestimável.

SATWA - LAILSON E LULA CÔRTES (1973)

Lançado em 1973 por Lailson e Lula Côrtes, o LP Satwa tornou-se uma lenda entre os colecionadores do rock psicodélico dos anos 70.

O raro ‘Paêbirú’ com Zé Ramalho é clássico, mas ‘Satwa’, desta vez com Lailson, é outra obra-prima do pernambucano Lula Côrtes, que não merece a obscuridade a que foi submetida por três décadas.

Gravado em 1973, o disco traz a dupla tomada por uma lisergia pós-Woodstock, capaz de assustar incautos ouvintes em pleno 2001. Músicas como ‘Alegro Piradissimo’, ‘Valsa dos Cogumelos’ ou ‘Blue do Cachorro Muito Louco’ não deixa dúvidas sobre o conteúdo do vinil tosco, mas com ótimo som.

Instrumental, com pequenas incursões vocais, o disco traz dez canções "produtos mágicos das mentes e dedos de Lailson e Lula", como diz na contra-capa do álbum, produzido pela dupla, mais Kátia. Além dos de Lula e Lailson, Robertinho de Recife também faz uma ponta no disco, tocando ‘lead guitar’ em 'Blue do Cachorro Muito Louco’, um blues lento e viajandão.

O som predominante do disco, no entanto, é um folk nordestino/oriental, resultado da mistura da cítara popular tocada por Lula, e da viola de 12 cordas de Lailson. Algo como uma sucessão de ragas ou mantras, interpretadas por Cego Aderaldo movido a incenso, cogumelos e outros "expansores da musculatura mental", como diz Arnaldo Baptista.

Fruto da cena nordestina pós-tropicalismo e/ou psicodélica, ‘Satwa’ foi "curtido" nos Estúdios da Rozenblit, em Recife, entre os dias 20 e 31 de janeiro de 1973. Participam do disco, ainda Paulinho Klein, que divide com Lula as "curtições fotográficas" e o engenheiro de som Hercílio Bastos (dos Milagres).

Com tiragem limitada e distribuição basicamente regional, o disco desapareceu tão logo surgiu, permanecendo como uma lenda para o restante do país. Sem reedição em vinil, e inédito em cd, ‘Satwa’ ainda não entrou para o catálogo informal de cdrs que, mal ou bem, democratiza o acesso à história musical do país.

Várias propostas foram feitas para relançar o álbum, mas os autores nunca consideraram isto necessário, pois um dos valores da obra é ter sido o primeiro LP independente gravado no Brasil.
Em janeiro de 2004, porém, o produtor musical Nemo, colecionador e proprietário do selo Time-Lag Records, de Portland, Maine, EUA, localizou Lailson através da Internet. Nemo produz LP's
em vinil para colecionadores em tiragens limitadas e sugeriu fazer uma nova edição de Satwa em vinil e em CD.

Desta vez os autores acharam a idéia interessante, pois até o nome do selo (que significa Lapso de Tempo) explicava bem o que tinha acontecido com a obra:ela tinha dado um salto no tempo para ser reencontrada 30 anos depois e ser melhor compreendida.

Como a matriz fonográfica do disco foi perdida na inundação da gravadora Rozemblit em 1975, foi feita a recuperação das músicas através de uma das últimas cópias originais em vinil que Lailson possuía, passando o som através de filtros para eliminar ruídos e chiados.

Lailson escreveu um texto para o encarte da nova edição e Erika Elder fez a nova produção gráfica, que mantém as capas exteriores como na edição original.


SATWA - LAILSON E LULA CÔRTES (1973)


Faixas:
01 - Satwa
02 - Can I Be Satwa
03 - Alegro Piradíssimo
04 - Lia, a Rainha da Noite
05 - Apacidonata
06 - Amigo
07 - Atom
08 - Blue do Cachorro Muito Louco
09 - Valsa dos Cogumelos
10 - Alegria do Povo

CURIOSIDADES DA MPB

Em 1980, Zé Ramalho compôs uma canção especialmente para Roberto Carlos gravar: Eternas ondas, que depois acabou sendo lançada por Fagner. "Fiz essa música já imaginando um arranjo grandioso e a voz de Roberto Carlos cantando", diz Zé Ramalho, que naquela letra relata um cenário de apocalipse com veladas referências políticas. "Quanto tempo temos antes de voltarem aquelas ondas/ que vieram como gotas em silêncio tão furioso / derrubando homens entre outros animais/ devastando a sede desses matagais..." Zé Ramalho estava confiante em que Roberto Carlos fosse gravar Eternas ondas, e quando mostrou a canção para Beto Ribeiro, na época um dos executivos da CBS, este também reagiu animado. "Zé, esta música é pra ele mesmo." Num domingo, em meados de 1980, Beto convidou Zé Ramalho para acompanhá-lo num passeio no iate de Roberto Carlos, que naquele dia recepcionava alguns executivos da gravadora. Embarcaram na marina da Glória e foram para Angra dos Reis. Durante o passeio, Zé Ramalho tocou ao violão algumas de suas canções, mas, orientado pelo próprio Beto Ribeiro, menos aquela que tinha feito para Roberto Carlos. Eternas ondas
foi entregue ao cantor numa fita cassete para que ele a ouvisse depois. Zé Ramalho aguardou a resposta dele com grande ansiedade. E esta veio alguns dias depois através de Beto Ribeiro. "Zé, o Roberto ouviu, gostou da música, mas se assustou com a letra. Ele achou a letra muito forte, carregada, com imagens de destruição e de um apocalipse, e por isso não vai gravá-la." Zé Ramalho ficou profundamente desapontado, mas, ao
relatar o episódio e mostrar a canção para Fagner, este não teve dúvida: "Zé, eu posso gravar esta música?". Lançada por Fagner em 1981, Eternas ondas foi um grande sucesso nacional. "

REVISTA ROLLING STONES... DESDE QUANDO SÃO ESPECIALISTAS EM MPB??

Listas são listas, a gente sabe. A Rolling Stone Brasil acaba de lançar, em sua última edição, a lista das 100 maiores músicas brasileiras de todos os tempos, que já está provocando a maior polêmica, pelo menos na blogosfera. A lista completa só na edição impressa, a que ainda não tive acesso para replicar. Mas aí vão as 10 primeiras:

Nº 1 – “Construção” – Chico Buarque
Nº 2 – “Águas de Março”(Tom Jobim) – Elis Regina & Tom Jobim
Nº 3 – “Carinhoso” – Pixinguinha
Nº 4 – “Asa Branca” – Luiz Gonzaga
Nº 5 – “Mas Que Nada” – Jorge Ben
Nº 6 – “Chega de Saudade” (Tom Jobim & Vinicius de Moraes)- João Gilberto
Nº 7 – “Panis et Circencis”(Caetano Veloso & Gilberto Gil) – Os Mutantes
Nº 8 – “Detalhes” – Roberto Carlos
Nº 9 – “Canto de Ossanha” – Baden Powell/ Vinicius de Moraes
Nº 10 – “Alegria, Alegria” – Caetano Veloso

Como parâmetro de comparação, sugiro a lista da Bravo, também recente, com as “100 canções essenciais da MPB”. Me pareceu mais séria, mas é uma opinião inicial. Sugiro a publicação no site com os links pra turma ouvir e comparar. Dá um bom debate. Segue abaixo a lista da Bravo completa:

1 – “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro

O curioso é que ela nasceu apenas instrumental, em 1917, pelo gênio de Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha (1897-1973); a letra, de João de Barro (1907-2006), só foi acrescentada quase 20 anos depois, em 1936. “A maioria dos cantores não estava interessada em gravar Carinhoso. Todos preferiam a velha Rosa. Primeiro foi chamado Francisco Alves, que não se interessou. O Carlos Galhardo também falhou e não compareceu na data marcada para a gravação. Até que veio o Orlando [Silva] e gravou Carinhoso e Rosa”, conta Pixinguinha. A descrença na canção era tanta que foi feita, na época, uma segunda letra para Carinhoso. “Na mansidão do teu olhar/ Meu coração viu passear/ Uma feliz e meiga bonança”.

2 – “Águas de março”, de Tom Jobim

Alguns críticos identificam na canção de Tom Jobim um plágio de “água do Céu”, gravada, em 1956, no disco Cinco Estrelas Apresentam Inara, da compositora Inara. (…) Tanto a letra (”É chuva de Deus, é chuva abençoada/ É água divina, é alma lavada”) quanto a melodia de “Água do Céu”, argumentam seus detratores, seriam muito parecidas com as de “Águas de Março”.

Em entrevista à Folha, o pesquisador José Ramos Tinhorão afirmou que a versão de Inara, por sua vez, já era adaptação de um ponto de macumba que diz “É pau, é pedra, é seixo miúdo/ Roda baiana por cima de tudo”. Outro crítico, Luís Antônio Giron, concordou, dizendo: “(Águas de Março) é macaqueada do folclore. Villa-Lobos se apropriava de temas folclóricos, mas citava a fonte”.

3 – “João Valentão”, de Dorival Caymmi

“João Valentão” é o exemplo mais célebre do “ritmo Dorival Caymmi”. Iniciada em 1936, em uma temporada na praia de Itapuã, só seria terminada nove anos depois. Antes de chegar ao Rio, Caymmi já tinha em mente a cena inicial, em que o pescador arredio é caracterizado. Depois, continuou a composição até o ponto em que João deita na praia. E, então, parou.

4 – “Chega de Saudade”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes
5 – “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso
6 – “Tropicália”, de Caetano Veloso
7 – “Último desejo”, de Noel Rosa
8 – “Asa branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
9 – “Construção”, de Chico Buarque
10 – “Detalhes”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

O RESTANTE(90 músicas)

11 – “As Rosas Não Falam”, de Cartola
12 – “Samba do Avião”, de Tom Jobim
13 – “Vingança”, de Lupicínio Rodrigues
14 – “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes
15 – “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso
16 – “Desafinado”, de Tom Jobim
17 – “A Mesma Rosa Amarela”, de Capiba e Carlos Pena Filho
18 – “Ai, Que Saudade da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago
19 – “A Flor e o Espinho”, de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha
20 – “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil
21 – “Eu Te Amo”, de Chico Buarque e Tom Jobim
22 – “Feitio de Oração”, de Noel Rosa e Vadico
23 – “Retrato em Branco e Preto”, de Tom Jobim e Chico Buarque
24 – “O Mundo é um Moinho”, de Cartola
25 – “E o Mundo não se Acabou”, de Assis Valente
26 – “A Volta do Boêmio”, de Adelino Moreira
27 – “Diz Que Fui Por Aí”, de Zé Ketti e Hortêncio Rocha
28 – “Leve”, de Carlinhos Vergueiro e Chico Buarque
29 – “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa
30 – “Baby”, de Caetano Veloso
31 – “Eu Sei Que Vou Te Amar”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes
32 – “Marina”, de Dorival Caymmi
33 – “Rosa”, de Pixinguinha e Otávio Souza
34 – “A Banda”, de Chico Buarque
35 – “Feitiço da Vila”, de Noel Rosa e Vadico
36 – “Panis et Circensis”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil
37 – “O Bêbado e o Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc
38 – “Exagerado”, de Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni
39 – “Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida”, de Paulinho da Viola
40 – “Iracema”, de Adoniran Barbosa
41 – “Nervos de Aço”, de Lupicínio Rodrigues
42 – “Luiza”, de Tom Jobim
43 – “Ronda”, de Paulo Vanzolini
44 – “Assum Preto”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
45 – “Acabou Chorare”, de Moraes Moreira e Galvão
46 – “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, de João Bosco e Aldir Blanc
47 – “Sinal Fechado”, de Paulinho da Viola
48 – “Folhetim”, de Chico Buarque
49 – “Insensatez”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes
50 – “Ouro de Tolo”, de Raul Seixas

AS OUTRAS 50

50- Ouro de Tolo (Raul Seixas)
51- Drama de Angélica (Alvarenga / M.G. Barreto)
52- Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira)
53- Volta por Cima (Paulo Vanzolini)
54- O Que é que a Baiana Tem? (Dorival Caymmi)
55- Chão de Estrelas (Silvio Caldas / Orestes Barbosa)
56- É Hoje (Didi / Maestrinho)
57- Descobridor dos Sete Mares (Michel / Gilson Mendonça)
58- A Noite do Meu Bem (Dolores Duran)
59- Como Nossos Pais (Belchior)
60- Folhas Secas (Nelson Cavaquinho / Guilherme de Brito)
61- Lábios que Beijei (J. Cascata / Leonel Azevedo)
62- Valsinha (Vinicius de Moraes / Chico Buarque)
63- Eu e a Brisa (Johnny Alf)
64- Jura (Sinhô)
65- Luar do Sertão (João Pernambuco / Catulo da Paixão Cearense)
66- Corta-Jaca (Chiquinha Gonzaga)
67- Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá / Antônio Maria)
68- Odeon (Ernesto Nazareth / Vinicius de Moraes)
69- Minha Namorada (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
70- No Rancho Fundo (Ary Barroso / Lamartine Babo)
71- O Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi)
72- Ouça (Maysa)
73- Se Eu Quiser Falar Com Deus (Gilberto Gil)
74- Senhor Cidadão (Tom Zé)
75- O Que Será (Chico Buarque / Milton Nascimento)
76- Se Você Jurar (Ismael Silva / Newton Bastos / Francisco Alves)
77- Todo o Sentimento (Cristóvão Bastos / Chico Buarque)
78- Como Uma Onda (Lulu Santos / Nelson Motta)
79- Carcará (João do Vale / José Candido)
80- Mania de Você (Rita Lee / Roberto de Carvalho)
81- Felicidade (Lupícinio Rodrigues)
82- As Pastorinhas (João de Barro / Noel Rosa)
83- Nego Dito (Itamar Assumpção)
84- Rios, Pontes e Overdrives (Chico Science)
85- Cidade Maravilhosa (André Filho)
86- O Vira (João Ricardo / Luli)
87- Olhos nos Olhos (Chico Buarque)
88- Balada do Louco (Arnaldo Baptista / Rita Lee)
89- O Teu Cabelo Não Nega (Lamartine Babo / Irmãos Valença)
90- Com Que Roupa? (Noel Rosa)
91- Sampa (Caetano Veloso)
92- As Curvas da Estrada de Santos (Roberto Carlos / Erasmo Carlos)
93- Brasileirinho (Waldir Azevedo / Pereira da Costa)
94- Você Não Soube Me Amar (Evandro Mesquita / Ricardo Barreto / Guto / Zeca Mendigo)
95- Disparada (Geraldo Vandré / Theo de Barros)
96- Óculos (Herbert Vianna)
97- Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu / Aloysio Oliveira)
98- Clara Crocodilo (Arrigo Barnabé / Mário Lúcio Côrtes)
99- Cruzada (Tavinho Moura / Márcio Borges)
100- Cantiga de Amigo (Elomar)

Fica aqui a dúvida então... desde quando a Rolling Stones é especialista em música brasileira?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

CD AGORA É FEITO PASSARINHO

Por José Teles

Olho pra estante que ocupa um lado inteiro da sala, de cima a baixo. Não imagino quantos CDs ela contém. Imagino que uns quatro mil, ou mais. Têm vários que não ouço há anos, outros que só ouvi uma vez. Poucos que escuto de vez em quando. Muitos de que não tenho a menor lembrança que tipo de música ou estilo contêm. O da Louder than Bombs, por exemplo, ou o Toni Rich Project. A estante já não tem mais espaço pra discos. Eles já se espalham pelo assoalho da sala, em pilhas. São os mais recentes. Num dos quartos, eles estão pelo chão, em um armário. Em mais um quarto, que antigamente e chamava dependência de empregada, agora é eufemisticamente conhecido por “mais um reversível”, CDs ocupam uma estante de ferro.

Tem ainda os LPs que, como já contei aqui, conservei por causa das capas, ou por serem raridades. Raramente os ouço. Tem um vitrolinha aqui, destas que se tornaram obsoletas, quando surgiram os aparelhos estéreo, com aquelas tampas de acrílico, caixas grandes. Hoje a vitrolinha é considerada uma preciosidade, acham-na charmosa. São raras também. Passo tempos sem utilizá-la. Usei-a um mês atrás, mais ou menos, pra ouvir um compacto dos Cães Mortos, quando escrevi sobre o falecimento do guitarrista Ibanês, que foi líder do grupo recifense. Tem gente que insiste no LP. Como há aqueles que guardam seus 78rpm como relíquias de sonoridade incomparável (o que não deixa de ser verdade).

"Conversei recentemente com Leila Pinheiro. Ela se disse que o problema, no seu caso, não era a pirataria física, mas a virtual."

Com a Internet, a facilidade de se apanhar música “de grátis”, o conteúdo da minha estante é que se tornou obsoleto. Os minutos que perco procurando algum disco (não sou exatamente um primor de organização) eram-me irritantes, até que pintaram os programas de troca de arquivos, e mais recentemente os blogs musicais. Estes pra mim bem mais interessantes. São criados por alguém, ou um grupo que admira determinado tipo de música, que quer compartilhar seu gosto. Dois deles são geniais, e bastante populares entre as pessoas que conheço: o Loronix, com o suprasumo da MPB, embora enviesado para a bossa nova e o instrumental, e o Lágrima Psicodélica, este de rock roll, enfatizando o metal, o progressivo, hard rock, e o rock clássico.

Tem ainda o Forró em Vinil, de valor inestimável, porque traz à tona discos de forró que as gravadora deixam submergidos há décadas. Por ser música da cabroeira, de pau-de-arara, o forró (me refiro ao autêntico, o clássicos, dos anos 50, 60 e 70) desde que deixou de ser o gênero mais consumido na região, ele foi desprezado pelas gravadoras. O blog Forro em Vinil, literalmente, vem resgatando do limbo álbuns, compactos, 78rpm de forró, que têm me ajudado bastante num livro que tento escrever sobre o forró há uns cinco anos. A maior dificuldade que encontro é não encontrar os discos (não sou de encher sacos de colecionadores). Tem outro legal também, pra quem curte poesia popular nordestina, o Vila de Patos, com uma pá de DVDs e CDs de cantoria, embolada, declamação.

E nós, como ficamos? Perguntam os artistas. Conversei recentemente com Leila Pinheiro. Ela se disse que o problema, no seu caso, não era a pirataria física, mas a virtual. Ela não é cantora campeã de vendagens, seu público é restrito, seleto. A pirataria de CD, a das carrocinhas não se interessa por Leila. Já na Internet são outros 500: “Meu disco cai na Internet, quem vai querer comprar na loja”? Um caso de solução complicada. Talvez se taxando os blogs, ou a quem os abriga. Porém com ao maioria dos blogs não afere lucro com sua atividade como pagariam? A culpa do imbróglio, no final das contas, é das gravadoras. Seus executivos simplesmente não vislumbraram o potencial da Internet como escoadora de sua produção. Tivessem acostumado o pessoal a pagar pelos fonogramas quando a Internet se popularizou, talvez não tivessem perdido este imenso filão.

Pela Internet, elas inclusive poderiam combater a pirataria física, já que seus custos seriam bem menores dos que tem com o disco físico, poderiam baratear o preço de um disco virtual. Agora é tarde, e Inês bateu as botas. Depois da interminável tergiversada, retomo o fio da meada. Hoje quando preciso de alguma música, ou informação para algo que tô escrevendo, dispenso minha estante e seus milhares de discos. Vou direto a algum blog, programa de troca de arquivos, e num instantinho tenho o que procuro. Se precisasse pagar, um precinho camarada, e sem burocracia, pagaria. Mas não se cobra nada, vou lá e faço o download. A música, ironicamente, retorna ao que no início do século passado, parafraseando Sinhô: é feito passarinho, é de quem pegar primeiro.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

DICAS DA MUSICARIA - MUSAS DA MUSICARIA (2009)

Coletânea temática exclusiva sobre nomes femininos criada por nosso blog.

Faixas:
01 - Pout-Pourri Teu Nome (Danilo Caymmi)
02 - Juracy (Roberto Silva e Caetano Veloso)
03 - Clareana (Joyce)
04 - Ligia (Mundo Livre SA)
05 - Angela (João Bosco)
06 - Cacilda (Maria Bethânia)
07 - Iris (Alceu Valença)
08 - Terezinha (Wilson Simonal)
09 - Aparecida (Ivan Lins)
10 - Marina (Dorival Caymmi)
11 - Januaria (Dori Caymmi)
12 - Dolores Sierra (Nelson Gonçalves)
13 - Doralinda (Nana Caymmi e Emílio Santiago)
14 - Dolores (Anísio Silva)
15 - Perfídia (Agostinho dos Santos)
16 - Madalena (Jackson do pandeiro)
17 - Sebastiana (André Rio)
18 - Maria Rita (Quinteto Violado)
19 - Odete (Alessandra Leão)
20 - Perpétua (Luiz Gonzaga)

MARIAS... DAS DORES... DALUZ!

A mineira mais pernambucana do Brasil não para; depois de lançar no primeiro semestre o DVD "Girassol de Desejos", lança agora o CD "Mulheres Compositoras do Nordeste - Irah Caldeira Apresenta Marias... Das Dores... Daluz !", um apanhado de 16composições assinadas por compositoras nordestinas.
O Cd se inicia com a toada Arrebol da paraibana Socorro Lira e prossegue com Canta canarinho da cearense Dona Maria do Horto... e continua com Imensidão da também paraibana Flávia Wenceslau.
Pernambuco se faz presente com o forró de Terezinha do Acordeon: Cheiro de Mussambê, o samba de latada de Adryana BB: Dona Biu e a cantoria de Bia Marinho: Adeus.

"...Fez dos meus braços armador pra sua rede
Matou a sede quando quis, nos beijos meus..."

De Sergipe vem o forró Passarinho de Joésia Ramos... e Socorro Lira retorna com a bela Todas as presenças, em parceria com a pernambucana Haidée Camelo.
De volta a Pernambuco vem a rainha Anastácia em parceria com Liane Ferreira em Eu quero é forrozar e Kelly Benevides com Seu Veludinho...

Do Ceará vem Rita de Cássia com Raízes do Sertão:

"No meu sertão tem de tudo
De bom que se possa imaginar
Tem o sol cariando
Lá onde canta o sabiá

Tem a bondade nos olhos
De um homem trabalhador
Que usa chapéu de palha
Com humildade, sim senhor

No meu sertão xique-xique
É a bandeira do nordeste
Tem forró, vaquejada, xote,
Baião de leste a oeste

Tem a bondade nos olhos
De um homem trabalhador
Que usa chapéu de palha
Com humildade, sim senhor

Mas apague a lamparina
Deixe o lampião
Lampião de Virgulino
Ninguém bole não

Já pensou no reboliço
Que aqui pode dar
Se apagar o lampião
A coisa vai mudar..."

Outra pernambucana é Selma do Samba, e sua dolente Acalanto... do Rio Grande do Norte vem o baião/coco Esse meu baião e a própria Irah mostra que também é compositora na bela Canção primeira, já presente no DVD.

A também pernambucana Jussara Kouryh vem de samba: Desculpe aí, e fechando o Cd vem Coco das Mulheres de Kátia Cruz, com participação vocal de Aurinha do Coco.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"NÃO SUPORTO MAIS ESSE PESO"

Em uma de minhas pesquisas aqui na internet me depaeri com esse material publicado na época em que o Simonal estava hospitalizado e prestes a morrer. Como 2009 todos resolveram "anistiar" o cantor (pouco menos de 10 anos após a sua morte) achei interessante deixar registrado aqui esse material referente a ele:

Internado em estado grave em São Paulo, o cantor Wilson Simonal afirma que nunca foi delator e pede para ser lembrado como artista

Hospitalizado na ala gratuita do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, desde o último dia 4, o cantor Wilson Simonal, de 62 anos, luta com dificuldade contra uma doença crônica no fígado. "O seu estado é grave", alerta o médico Alfredo Salim. O cantor se alimenta por sondas e vive sonolento por causa dos antibióticos e antidepressivos. "O que você tem, cara?", perguntou na semana passada o escritor e amigo Mário Prata. "Mágoa", respondeu, secamente, o cantor.
É uma mágoa que se arrasta há quase 30 anos. No governo Médici, no início da década de 70, na fase dura do regime militar, Simonal foi acusado de delatar comunistas ao temido Serviço Nacional de Informações
(SNI), agora extinto. Ganhou a hostilidade do meio artístico e intelectual. O golpe o atingiu no momento em que dividia com Roberto Carlos o posto de cantor mais popular do Brasil. A carreira entrou em declínio irreversível. Segundo Sandra Manzini Cerqueira, sua mulher há sete anos, Simonal sobrevive graças a bicos esporádicos como músico e à ajuda de poucos amigos. Ele quase não canta mais. A média de shows é de dois ou três por ano.
No final dos anos 60, a vida do cantor provocava inveja. "Louras e morenas choviam na horta do 'Simona', navegando nas noites cariocas a bordo de um dos carros mais bonitos da cidade", lembra o jornalista Nelson Motta no livro Noites Tropicais. Contratado da multinacional Shell, Simonal foi o primeiro negro a gravar um comercial para TV no Brasil. Ao se apresentar no encerramento do Festival Internacional da Canção, em 1969, literalmente regeu 30 mil pessoas no Maracanãzinho, no embalo de "Meu Limão, Meu Limoeiro".
Fez longas turnês pelo país. Na volta de uma dessas viagens, em 1972, a bomba estourou. Simonal suspeitou que o contador Rafael Viviani o roubara. Entre os seguranças do cantor havia um policial ligado ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Mário Borges, a quem Simonal pediu para investigar o caso. Segundo o cantor, foi esse policial quem tomou a iniciativa de seqüestrar e torturar Viviani.
No leito do Sírio Libanês, Simonal nega mais uma vez que tenha participado do seqüestro. No decorrer do processo que o condenou a cinco anos de prisão, dos quais cumpriu apenas uma semana, Borges disse que Simonal era informante - outro fato que ele nega até hoje. "Foi uma farsa", diz o cantor. Passados quase 30 anos, ninguém conseguiu provar sua culpa. Mas ficou a fama de delator - uma dúvida que persegue até os amigos que o defendem, como Nelson Motta. "No país da impunidade mais absoluta, é incrível que ele esteja até hoje sendo punido com tanto rigor", diz o jornalista.
O caso teve conseqüências profundas na vida familiar do cantor. Simonal, que mora sozinho num flat em São Paulo, tem uma relação difícil com os filhos Max de Castro e Wilson Simoninha, ambos músicos. No final do ano passado, o pai assistiu, escondido no fundo de uma casa noturna, a um show dos filhos. E saiu antes do fim para não ser notado - nem pelos filhos nem pela platéia. "Não quero prejudicar a carreira deles", justifica, com lágrimas nos olhos. "Não quero que ninguém aponte para mim e diga que o pai deles é aquele que entregou todo mundo." Depois de anos sem falar com o pai, Simoninha visitou-o no hospital no domingo 16. "Ele sofreu muito em conseqüência da doença", conta. "Disse para ele se cuidar, refazer a vida." As acusações ao pai, protesta Simoninha, são "ranço de pessoas antigas". "Ele é um artista único", elogia.

Em 1972, Simonal foi acusado de ser "dedo-duro" na capa do jornal O Pasquim. Vinte anos depois, o humorista Jaguar, um dos fundadores do semanário, chegou a declarar que se orgulhava de ter ajudado a destruir a carreira do cantor. Hoje admite que pode ter se equivocado, mas diz estar muito velho para revisar posições.
"Foi um impulso meu", diz. "Ele era tido como dedo-duro. Não fui investigar nem vou fazer pesquisa para livrar a barra dele. Não tenho arrependimento nenhum", diz.
Na luta contra o estigma, Simonal recorreu em 1991 à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Nada existe nos arquivos oficiais que indique ter sido servidor ou prestador de serviços ao SNI. Em junho de 1998 outro documento, emitido pelo Centro de Inteligência do Exército, isentou-o das mesmas acusações. Uma declaração de 26 de janeiro de 1999, assinada pelo então secretário de Estado dos Direitos Humanos e atual ministro da Justiça, José Gregori, reiterou os dois pareceres anteriores.
De nada adiantaram os documentos. Simonal está tão estigmatizado como dedo-duro que até uma piada da anárquica turma do Casseta & Planeta no jornal O Globo o fez entrar em depressão. "É um patrulhamento absurdo", revolta-se a mulher, Sandra. "Mesmo que ele tivesse feito o que dizem, houve uma anistia neste país", protesta Mário Prata. Outro amigo, o cantor Jair Rodrigues, lamenta que com esse episódio o Brasil tenha perdido a chance de conhecer um grande artista. "Por causa desses problemas ele fica deprimido e volta a beber", diz. Entre as razões da disfunção hepática, afirma o médico Alfredo Salim, pode estar o alcoolismo. "Mas é difícil especificar, também pode ser hepatite ou outro problema." Com uma voz que em nada lembra a de seus grandes momentos, Simonal diz que nunca se meteu em política, nunca teve nada contra a esquerda ou a direita. "Não agüento mais esse peso. Meu negócio é a música", diz. E é por ela que ainda sonha ser reconhecido.

HÁ 30 ANOS ERA LANÇADO A TRILHA SONORA DA "ÓPERA DO MALANDRO"

Em 1979, Chico Buarque lançava o disco com a trilha sonora da "Ópera do Malandro", inspirada nos alemães Bertolt Brecht e Kurt Weill.

Quando os diretores de teatro Cláudio Botelho e Charles Moeller revelaram o principal motivo que os levou a encenar em 2003 a primeira montagem de Ópera do Malandro no século 21, ambos foram taxativos: "Chegamos à Ópera do Malandro pela paixão. Quem ouviu aquele famoso LP duplo lançado em 1979 ficou fissurado naquilo, nunca esqueceu", afirmavam em coro, constatando estar ali "o Chico do teatro na sua absoluta madureza".
O álbum com a trilha sonora do musical assinado por Chico Buarque está completando agora 30 anos de lançamento. O disco é considerado a melhor lembrança da recriação que o compositor e cantor carioca fez das peças A Ópera dos Três Vinténs (1928) dos alemães Bertolt Brecht e Kurt Weill, e da Ópera dos Mendigos (1728) do inglês John Gay, com música do alemão Johann Pepusch.
Muitas das canções compostas para a peça brasileira acabaram entrando no rol das obras-primas de Chico Buarque de Hollanda, como O Meu Amor, Folhetim, Geni e o Zepelim, Homenagem ao Malandro e O Malandro, a Die Moritat von Mackie Messer composta por Kurt Weill e letrada por Brecht, que Chico converteu em samba. Ou ainda Canção Desnaturada, de grande densidade trágica.

O nascimento da ideia
A possibilidade de Chico Buarque escrever sua adaptação para a peça de Brecht e Weill surgiu numa conversa com Ruy Guerra, cineasta moçambicano radicado no Brasil. No entanto, o plano só começaria a se tornar realidade anos depois, quando o diretor teatral Luiz Antônio Martinez Corrêa procurou Chico Buarque, sugerindo que os dois montassem a peça juntos. Corrêa já havia feito a tradução da ópera de John Gay, que serviu também de ponto de partida para Brecht e Weill escreverem A Ópera dos Três Vinténs.
Ensaio da 'Ópera do Malandro' no Teatro Carlos GomesA Ópera do Malandro estreou no Teatro Ginástico no Rio de Janeiro em agosto de 1978, e do elenco faziam parte atores de grande prestígio como Ary Fontoura, Marieta Severo, Maria Alice Vergueiro e Otávio Augusto, numa montagem que foi grande sucesso de bilheteria.
Para levar o musical aos palcos, Chico Buarque e Corrêa precisaram enfrentar inúmeros desafios, que iam da pressão dos patrocinadores da peça, que apressaram o andamento dos preparativos para a estreia, até os problemas que Chico teria com a censura.

Canções inesquecíveis
A trilha sonora do musical só seria lançada um ano após a estreia por vontade do próprio Chico, que evitou que o disco saísse antes da montagem para que as músicas não ficassem banalizadas e esvaziassem o musical. O compositor chegou a pensar em gravar o disco duplo com alguns dos atores interpretando as canções, mas a Philips (hoje Universal), sua gravadora na época, preferiu optar por cantores profissionais já conhecidos do grande público.
O resultado foi um álbum com gravações de João Nogueira, Gal Costa, Moreira da Silva, Marlene, Alcione e Francis Hime. Além deles, participaram também os grupos MPB-4, A Cor do Som, e Frenéticas, bem como as cantoras Nara Leão e Zizi Possi.
Multicromática, a musicalidade de Chico estava à flor da pele, passando por diversos gêneros musicais brasileiros e latino-americanos como choro, xaxado, bolero, samba, marcha carnavalesca, mambo, tango, e chegando até o rock e o charleston norte-americanos.
Ou seja, tudo aquilo que levou o crítico musical Tárik de Souza a perceber no autor de Apesar de Você um habilidoso criador, que não se deixa escravizar pela estética tradicionalista: "Musicalmente liberado para incursionar em todos os ritmos e gêneros, Chico tornou-se, paradoxalmente, um incendiário tropicalista".
Arturo Gouveia, professor de Literatura Brasileira e doutor em Letras pela USP, endossa a visão de Tárik em seu ensaio A Malandragem Estrutural, publicado no livro Chico Buarque do Brasil, da Editora Garamond e Edições Biblioteca Nacional: "A Ópera do Malandro irmana-se com muitas das ambições vanguardísticas da primeira metade do século 20. Embora Chico Buarque não se declare vanguardista ou não demonstre, em suas concepções, qualquer afinidade eletiva com esses movimentos de ruptura, há vínculos inegáveis que podem até escapar da consciência imediata da autoria".

Chico e os alemães
Chico: musicalidade à flor da pelePouco antes de encarar a tarefa de adaptar as peças alemã e inglesa para a realidade carioca, Chico Buarque já havia se lançado numa bem-sucedida versão de Os Saltimbancos, original dos irmãos alemães Jacob e Wilhelm Grimm, um trabalho realizado em parceria com o italiano Sérgio Bardotti e o argentino Luis Enríquez Bacalov.
A história contada na Ópera do Malandro se passa durante a Segunda Guerra Mundial, quando Getúlio Vargas era presidente do Brasil. O epicentro é o bairro boêmio da Lapa. Chico optou por inserir A Ópera dos Três Vinténs na década de 1940 como estratégia para fugir da censura.
"Até Brecht tomou suas cautelas e localizou sua ópera no início do século. John Gay ainda colocou no palco o ministro da Justiça de sua época, 1728. Mas hoje isso não é possível. Fatalmente seriam identificados os policiais corruptos com os que todos conhecem. Os problemas que surgiriam não deixariam a peça ser encenada", afirmou Chico à imprensa na época do lançamento da peça.

Bertolt Brecht, o mito
Quando Chico Buarque escreveu a Ópera do Malandro, ele já vinha de experiências muito intensas com o teatro. Primeiro ao compor em 1967 (um ano após o estouro com A Banda) a trilha de Morte e Vida Severina, sobre poema de João Cabral de Mello Neto. Depois viriam Roda Viva, peça que provocou sua prisão e posterior autoexílio em Roma, Calabar, que foi proibida pelos militares, e Gota D'água (escrita com Paulo Pontes).
Nos anos 1960, Bertolt Brecht era uma das maiores referências dos principais autores e grupos teatrais brasileiros. De Augusto Boal a Oduvaldo Vianna Filho, de José Celso Martinez Corrêa a Plínio Marcos, passando por Gianfrancesco Guarnieri e muitos outros, as peças de Brecht eram sinônimo de engajamento político e de pesquisa por novas formas de dramaturgia.
Sua teoria do distanciamento crítico, baseada na ideia de que uma peça teatral não deveria transportar o espectador para um mundo fictício, e sim despertá-lo para a realidade reflexiva, inspirou grupos como o Arena, o Oficina, o Opinião e posteriormente o Ornitorrinco a criar aquele que é para muitos o melhor momento da história do teatro brasileiro.


Faixas:
01 - O malandro (Die Moritat Von Mackin Messer)(B.Brecht - K.Weill)
Interpretação: MPB-4
02 - Hino de Duran (Chico Buarque)
Interpretação: Chico Buarque / A Cor do Som
03 - Viver de amor(Chico Buarque)
Interpretação: Marlene
04 - Uma canção desnaturada (Chico Buarque)
Interpretação: Chico Buarque / Marlene
05 - Tango do Covil (Chico Buarque)
Interpretação: MPB-4
06 - Dez anos (Chico Buarque)
Interpretação: Chico Buarque / Moreira da Silva
07 - O casamento dos pequenos burgueses (Chico Buarque)
Interpretação: Alcione / Chico Buarque
08 - Teresinha (Chico Buarque)
Interpretação: Zizi Possi
09 - Homenagem ao malandro (Chico Buarque)
Interpretação: Moreira da Silva
10 - Folhetim (Chico Buarque)
Interpretação: Nara Leão
11 - Ai, se eles me pegam agora (Chico Buarque)
Interpretação: Frenéticas
12 - O meu amor (Chico Buarque)
Interpretação: Elba Ramalho / Marieta Severo
13 - Se eu fosse o teu patrão (Chico Buarque)
Interpretação: A Turma do Funil
14 - Geni e o Zepelim (Chico Buarque)
Interpretação: Chico Buarque
15 - Pedaço de mim (Chico Buarque)
Interpretação: Francis Hime / Gal Costa
16 - Ópera
• Adpt. e texto de Chico Buarque sobre trechos de "Rigoletto" de Verdi, "Carmen" de Bizet, "Aida" de Verdi, "La Traviata" de Verdi e "Taunhauser" de Wagner
Interpretação: Cantores Líricos
17 - O malandro nº 2 vem aí (Chico Buarque)
Interpretação: João Nogueira

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

BETHÂNIA EM MAIS DOIS LINDOS ÁLBUNS

Em tempos em que os discos vão se desprendendo do suporte físico, Maria Bethânia mais uma vez aproveita para lançar dois discos de uma só vez. Em Tua, o amor é o tema em canções onde o violão do maestro Jaime Alem dá o tom, seguido pelo baixo de Jorge Helder e a bateria de Marcelo Costa. Já em Encanteria, Bethânia revisita ritmos interioranos do país, como o samba de roda, a viola caipira, o xote, que remete à sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, como ela mesma conta nesta entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo. O primeiro sai pela Biscoito Fino, e o segundo, pelo selo da cantora, Quitanda, vinculado à gravadora.
As participações, mais que especiais em ambos os discos, incluem o piano de João Assis Brasil, a guitarra de Victor Biglione, o acordeon de Toninho Ferragutti, o bandolim de Hamilton de Hollanda, o violão e os arranjos de Mauricio Carrilho, os alunos da Escola Portátil de Música, e a vozes de Lenine, Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Já as composições escolhidas por Bethânia privilegiam o trabalho do baiano Roque Ferreira, que já colabora com ela desde trabalhos anteriores e aqui comparece com sete canções, três em Tua e quatro em Encanteria. Gravado primeiramente por Clara Nunes em 1979, desde então Roque teve 400 músicas cantadas por João Nogueira, Martinho da Vila, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, entre outros. Seu único disco solo, Tem samba no mar, saiu em 2004 pela mesma Biscoito Fino, e em breve Roberta Sá grava um álbum com 14 inéditas suas.
Além dele, comparecem composições em parceria de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro em “É o amor outra vez”, Jorge Vercilo e J. Velloso em “O que eu não conheço”, Cesár Mendes e Arnaldo Antunes em “Até o fim”, Moacyr Luz e Aldir Blanc em “Remanso”, Chico César e Paulinho Moska em “Saudade” e Roberto Mendes e Nizaldo Costa em “Saudade dela”, com participação de Caetano e Gil, homenagem a Dona Edith do Prato, falecida em 2008 aos 94 anos e cujos sambas de roda permearam a vida de Bethânia. E mais canções de Adriana Calcanhotto, Vanessa da Matta, Jaime Alem, Vander Lee, além de Paulo César Pinheiro, cuja “Encanteira” deu nome a um dos discos.

O primor e a elegância de Bethânia estão presentes em ambos os trabalhos, cada um com 11 faixas, mas Encanteria se mostra mais solto e exuberante, com canções que viajam pelo vasto universo da música interiorana brasileira, com destaque para os sambas de roda de Roque Ferreira, como “Feita na Bahia” e “Coroa do mar”, o xote de Lee, “Estrela”, e de Roque, “Minha rede”. Já em Tua, mais contido, destacam-se a faixa-título, de Calcanhotto, e “Você perdeu”, de Márcio Valverde e Nélio Rosa.

Incansável, Bethânia chegou a gravar um terceiro disco, que não será lançado comercialmente, mas doado para escolas públicas, com canções e textos de poetas brasileiros e portugueses, alguns inéditos em sua voz. Aliás, incansável a baiana vem sendo desde o início desta década, quando se filiou à gravadora Biscoito Fino, onde também criou seu selo, Quintada, para lançar alguns de seus trabalhos e produzir outros por quem se interessa, como Namorando a Rosa (2004), homenagem a Rosinha de Valença, e Menino do Rio (2006), de Mart´nália. Pela Biscoito Fino, estreou em 2003 com Maricotinha ao vivo, em CD e DVD.

Desde então, foram oito álbuns de estúdio, somando estes dois recém-lançados – Cânticos, preces, súplicas à Senhora dos Jardins do Céu (2003), Brasileirinho (2004), Que falta você me faz (2005), Pirata (2006), Mar de Sophia (2006) e Omara Portuondo e Maria Bethânia (2008). Além disso, lançou o registro ao vivo Dentro do mar tem rio (2007) e os dvds Brasileirinho (2004), Tempo, tempo, tempo, tempo (2005), Omara Portuando e Maria Bethânia (2008) e Dentro do mar tem rio (2009). Com mais de 40 anos de carreira, Bethânia segue reafirmando a cada trabalho o seu lugar como Abelha Rainha da música brasileira.

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