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terça-feira, 13 de outubro de 2009

CD AGORA É FEITO PASSARINHO

Por José Teles

Olho pra estante que ocupa um lado inteiro da sala, de cima a baixo. Não imagino quantos CDs ela contém. Imagino que uns quatro mil, ou mais. Têm vários que não ouço há anos, outros que só ouvi uma vez. Poucos que escuto de vez em quando. Muitos de que não tenho a menor lembrança que tipo de música ou estilo contêm. O da Louder than Bombs, por exemplo, ou o Toni Rich Project. A estante já não tem mais espaço pra discos. Eles já se espalham pelo assoalho da sala, em pilhas. São os mais recentes. Num dos quartos, eles estão pelo chão, em um armário. Em mais um quarto, que antigamente e chamava dependência de empregada, agora é eufemisticamente conhecido por “mais um reversível”, CDs ocupam uma estante de ferro.

Tem ainda os LPs que, como já contei aqui, conservei por causa das capas, ou por serem raridades. Raramente os ouço. Tem um vitrolinha aqui, destas que se tornaram obsoletas, quando surgiram os aparelhos estéreo, com aquelas tampas de acrílico, caixas grandes. Hoje a vitrolinha é considerada uma preciosidade, acham-na charmosa. São raras também. Passo tempos sem utilizá-la. Usei-a um mês atrás, mais ou menos, pra ouvir um compacto dos Cães Mortos, quando escrevi sobre o falecimento do guitarrista Ibanês, que foi líder do grupo recifense. Tem gente que insiste no LP. Como há aqueles que guardam seus 78rpm como relíquias de sonoridade incomparável (o que não deixa de ser verdade).

"Conversei recentemente com Leila Pinheiro. Ela se disse que o problema, no seu caso, não era a pirataria física, mas a virtual."

Com a Internet, a facilidade de se apanhar música “de grátis”, o conteúdo da minha estante é que se tornou obsoleto. Os minutos que perco procurando algum disco (não sou exatamente um primor de organização) eram-me irritantes, até que pintaram os programas de troca de arquivos, e mais recentemente os blogs musicais. Estes pra mim bem mais interessantes. São criados por alguém, ou um grupo que admira determinado tipo de música, que quer compartilhar seu gosto. Dois deles são geniais, e bastante populares entre as pessoas que conheço: o Loronix, com o suprasumo da MPB, embora enviesado para a bossa nova e o instrumental, e o Lágrima Psicodélica, este de rock roll, enfatizando o metal, o progressivo, hard rock, e o rock clássico.

Tem ainda o Forró em Vinil, de valor inestimável, porque traz à tona discos de forró que as gravadora deixam submergidos há décadas. Por ser música da cabroeira, de pau-de-arara, o forró (me refiro ao autêntico, o clássicos, dos anos 50, 60 e 70) desde que deixou de ser o gênero mais consumido na região, ele foi desprezado pelas gravadoras. O blog Forro em Vinil, literalmente, vem resgatando do limbo álbuns, compactos, 78rpm de forró, que têm me ajudado bastante num livro que tento escrever sobre o forró há uns cinco anos. A maior dificuldade que encontro é não encontrar os discos (não sou de encher sacos de colecionadores). Tem outro legal também, pra quem curte poesia popular nordestina, o Vila de Patos, com uma pá de DVDs e CDs de cantoria, embolada, declamação.

E nós, como ficamos? Perguntam os artistas. Conversei recentemente com Leila Pinheiro. Ela se disse que o problema, no seu caso, não era a pirataria física, mas a virtual. Ela não é cantora campeã de vendagens, seu público é restrito, seleto. A pirataria de CD, a das carrocinhas não se interessa por Leila. Já na Internet são outros 500: “Meu disco cai na Internet, quem vai querer comprar na loja”? Um caso de solução complicada. Talvez se taxando os blogs, ou a quem os abriga. Porém com ao maioria dos blogs não afere lucro com sua atividade como pagariam? A culpa do imbróglio, no final das contas, é das gravadoras. Seus executivos simplesmente não vislumbraram o potencial da Internet como escoadora de sua produção. Tivessem acostumado o pessoal a pagar pelos fonogramas quando a Internet se popularizou, talvez não tivessem perdido este imenso filão.

Pela Internet, elas inclusive poderiam combater a pirataria física, já que seus custos seriam bem menores dos que tem com o disco físico, poderiam baratear o preço de um disco virtual. Agora é tarde, e Inês bateu as botas. Depois da interminável tergiversada, retomo o fio da meada. Hoje quando preciso de alguma música, ou informação para algo que tô escrevendo, dispenso minha estante e seus milhares de discos. Vou direto a algum blog, programa de troca de arquivos, e num instantinho tenho o que procuro. Se precisasse pagar, um precinho camarada, e sem burocracia, pagaria. Mas não se cobra nada, vou lá e faço o download. A música, ironicamente, retorna ao que no início do século passado, parafraseando Sinhô: é feito passarinho, é de quem pegar primeiro.

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