Cavalo de Pau (1982) é o disco que traz, além de "Tropicana", “Como dois animais”, “Pelas ruas que andei” e “Cavalo de pau”. Portanto, é um disco importante na carreira de Alceu Valença.
Em "Tropicana", de Alceu Valença e Vicente Barreto, a bela introdução instrumental (malemolente) abre os trabalhos de uma canção cuja letra guarda o desejo de posse da totalidade: daquilo que define o outro.
É neste sentido que a canção de Alceu se relaciona intertextualmente com o "Côco de festa" usado pelo escritor João Guimarães Rosa como epígrafe do livro Corpo de baile. Enquanto aqui temos os versos "Da mandioca quero a massa e o beiju, / Do mundéu quero a paca e o tatú; / da mulher quero o sapato, quero o pé! / – quero a paca, quero o tatu, quero o mundé… / Eu, do pai, quero a mãe, quero a filha: também quero casar na família"; em "Tropicana" temos: "Da manga rosa quero o gosto e o sumo, / Melão maduro sapoti juá, / Jabuticaba teu olhar noturno, / Beijo travoso de umbu-cajá".
Ou seja, no final, enquanto um diz "Eu quero o tampo do balaio do cumbuco" o outro diz "Morena tropicana eu quero teu sabor": ambos querem aquilo que dá forma ao outro, aquilo que contorna tais formas: para conseguir chegar ao centro daquilo que diz quem o outro é.
Depois que se conhece a canção de Alceu, fica difícil ouvi-la (bem como "Côco de festa") sem fazer conexões. O mesmo estranhamento que o ouvinte desarmado sente, pela ignorância diante do vocabulário sertanejo, também pode ser experimentado diante da morena tropicana (sinestesia pura) criada por Alceu.
Importa apontar ainda que "Guampo" - palavra usada em "Côco de festa - é uma variante popular de aguardente de cana. Consciente ou não, Alceu dialoga com o texto dentro da obra de Rosa, na medida em que constrói (de forma fractualizada), uma canção em que cada verso contém o todo.
A cana está dentro da tropicana: embriagando o sujeito que canta sob o efeito do caldo. O desejo do sujeito é sempre conseguir o incomensurável: a massa, o gosto, o beiju, o sumo. Na impossibilidade disso, tudo se embala dionisiacamente na dança das sensações de uma linda morena fruta temporana.
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Tropicana
(Alceu Valença / Vicente Barreto)
Da manga rosa quero o gosto e o sumo
Melão maduro sapoti juá
Jabuticaba teu olhar noturno
Beijo travoso de umbu-cajá
Pela macia ai carne de caju
Saliva doce doce mel mel de uruçu
Linda morena fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vem me desfrutar
Linda morena fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vou te desfrutar
Morena tropicana
Eu quero teu sabor
* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".
Em 1933, mudou-se com a família para o bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.
Trabalhou como bancário e ourives.
Desde cedo freqüentou os blocos carnavalescos de Botafogo e adjacências, como compositor e ritmista, fazendo parte do núcleo de sambista do bairro.
Em 1947 conheceu Walter Alfaiate (Walter Nunes) no campo do Fluminense, após uma partida de futebol no qual os dois, Botafoguistas, presenciaram a derrota do alvinegro. Por essa época, conheceu também outros compositores do bairro e fez parte da geração que incluía, além de Walter Alfaiate, Mical, Zorba Devagar, Niltinho Tristeza, geração que viria a influenciar outro jovem compositor, também de Botafogo, Paulinho da Viola.
Aos 15 pertencia à Ala de Compositores do Bloco Mocidade Alegre de Botafogo, no qual atuava também como ritimista. Por essa época, Walter Alfaiate o levou também para participar de outros blocos: Bloco do Funil e Foliões de Botafogo.
Tinha o apelido de Mauro Bolacha, devido a seu rosto arredondado.
Integrou a Ala de Compositores da Escola de Samba Império Serrano, Portela e da Tradição.
Como ator, participou dos filmes "Coração de Ouro", baseado na composição homônima de Elton Medeiros e Joacyr Santana e do filme "O Homem Nu", baseado na crônica de Fernando Sabino.
Em dezembro de 1998, por iniciativa do vereador Eliomar Coelho, fo criada a praça Mauro Duarte, em Botafogo. A praça situa na confluência das ruas São Manuel e Fernandes Guimarães com decreto nº 20856 de 11 de dezembro de 2001 por César Maia, prefeito da cidade do Rio de Janeiro na época.
Em 1960 Miltinho interpretou "Palavra", sua primeira música gravada. Por essa época, ao lado de Jair do Cavaquinho, entre outros, participou do show "A hora e a vez do samba".
Com a composição "Culpas e desenganos" (c/ Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho) participou do "1º Festival de Juiz de Fora", em 1966.
Participou também do grupo de samba Os Autênticos, entre os anos de 1966 e 1968, integrado ainda por Noca da Portela, Adélcio Carvalho, Eli Campos e Walter Alfaiate.
Em 1967, substituindo Paulinho da Viola, passou a integrar o conjunto Os Cinco Crioulos, ao lado de Elton Medeiros, Anescarzinho do Salgueiro, Nelson Sargento e Jair do Cavaquinho. O grupo gravou três LPs pela Odeon entre os anos de 1967 e 1969, fazendo shows de lançamento por vários estados.
No ano de 1968, no LP "Samba na madrugada", de Paulinho da Viola e Elton Medeiros, foi incluída "A maioria sem nenhum", de sua autoria em parceria com Elton Medeiros. Neste mesmo ano de 1968 participou como convidado do show "Mudando de conversa" (Conjunto Rosa de Ouro, Clementina de Jesus, Cyro Monteiro e Nora Ney) do qual foi gerado o LP ao vivo. No disco, ao lado de Elton Medeiros e Cyro Monteiro, interpretou "Se o carnaval acabar", parceria com Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho.
Em 1970, Elizete Cardoso gravou "Lamentação", de sua autoria, para ser lançada no carnaval. Neste mesmo ano, Paulinho da Viola regravou a composição. Ainda em 1970, conheceu Clara Nunes que viria a ser a principal intérprete. No ano seguinte, Paulinho da Viola gravou "Reclamação", parceria de ambos e "Cuidado, teu orgulho te mata", parceria com Walter Nunes, depois conhecido como Walter Alfaiatte.
No ano de 1972 entrou para a Ala de Compositores da Portela.
A cantora Eliana Pittman, em 1974, gravou "Motivação", (c/ Noca da Portela). No mesmo ano, o grupo MPB 4 interpretou "A alegria continua", também em parceria com Noca da Portela. Ataulpho Alves Júnior gravou "Isso tem que acabar" (c/ Noca da Portela) e Clara Nunes interpretou duas composições suas: "Meu sapato já furou" (c/ Elton Medeiros) e "Menino Deus" (c/ Paulo César Pinheiro), ambas, sucessos imediatos da cantora. Ainda em 1974, Elizete Cardoso interpretou "Pra quê, afinal?" (c/ Adélson Carvalho) no LP "Mulata maior".
No ano de 1976 Clara Nunes, no LP "Clara" interpretou "Canto das três raças" (c/ Paulo César Pinheiro) e "Lama". Sobre a composição "Lama" Paulo César Pinheiro escreveu um comentário no encarte do mesmo LP: "Há muitos anos o Mauro cruzou com o Ataulfo Alves num botequim de Botafogo e mostrou esse samba ao mestre a fim de uma gravação sua. Ataulfo botou aquela mão enorme que ele tinha no ombro do malandro e disse: - ô mulato, o samba é grande. Mas vou te ser honesto. Se eu gravar, vão dizer que é meu. E ninguém vai falar de você. Mas garanto que um dia você grava. Ninguém vai desperdiçar uma maravilha dessa".
Em 1977, no LP "As forças da natureza", Clara Nunes interpretou "Perdão" (c/ Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro). Neste mesmo ano, no LP "Espelho", João Nogueira incluiu "Desengano", parceria de ambos, e "Samba do amor", esta última em parceria com João Nogueira e Gisa Nogueira. No ano seguinte, Vania Carvalho (irmã de Beth Carvalho) regravou "Lamentação" e João Nogueira gravou "Bate boca" (c/ Walter Nunes), no disco "Vida boemia".
No ano de 1979, no disco "Esperança", Clara Nunes gravou "Contentamento" (c/ Paulo César Pinheiro). Neste mesmo ano, no LP "Zumbido", Paulinho da Viola interpretou "Foi demais", parceria de ambos.
Em 1980, foi a vez de Noca da Portela no disco "Mãos dadas", regravar "A alegria continua". No mesmo ano, Clara Nunes incluiu no LP "Brasil mestiço" as composições "Coração em chamas" (c/ Elton Medeiros) e "Brasil mestiço, santuário da fé" (c/ Paulo César Pinheiro). A mesma cantora, em 1981, gravou com a participação especial da Velha-Guarda da Portela, a composição "Portela na avenida" (c/ Paulo César Pinheiro) e "Coroa de areia" (c/ Paulo César Pinheiro). Ainda neste ano, Paulinho da Viola gravou "A M O R amor", parceria com Walter Nunes.
Em 1982, Clara Nunes gravou "Serrinha" (c/ Paulo César Pinheiro), no LP "Nação". No ano seguinte, Alcione, no disco "Alma & corações", interpretou, de sua autoria com Paulo César Pinheiro e João Nogueira, "Um ser de luz", e em 1984, "Mangueira Estação Primeira" (c/ Paulo César Pinheiro).
No ano de 1985, gravou com Cristina Buarque um LP independente, "Cristina e Mauro Duarte", pelo Selo Coomusa (Cooperativa Mista dos Músicos Profissionais do Rio de Janeiro), que contou várias músicas suas em parceria com Carlinhos Vergueiro, além de "A alegria continua", com Noca da Portela e outras em parceria com Maurício Tapajós, Walter Nunes e Paulo César Pinheiro. Também foi registrada nesse LP a única música de Paulo César Pinheiro em que a letra não é do poeta, e sim de Mauro Duarte, "Reserva de domínio". Constou ainda, neste disco, uma parceria com Cristina Buarque, interpretada por ela, "Deixa eu viver na orgia". No mesmo ano, a cantora Alcione gravou o LP "Fogo da vida", no qual incluiu "Academia do Salgueiro" (c/ Paulo César Pinheiro). Ainda em 1985, ao lado de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, João Bosco, Toquinho e Cristina Buarque, entre outros, participou do disco "Flores em vida", produzido por Carlinhos Vergueiro em homenagem a Nelson Cavaquinho, com lançamento na quadra da Mangueira. Por essa época, fez turnê nacional para lançamento do disco com Cristina Buarque e internacional, na qual a dupla apresentou-se em Moçambique e Nicaragua, neste último país, a dupla apresentou-se também com a cantora Miúcha.
Em 1987, gravou um compacto duplo ao lado de Cristina Buarque, no qual interpretaram "Resgate" (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro). No mesmo ano, Alcione interpretou "Imperatriz Leopoldinense" (c/ Paulo César Pinheiro) e, no ano seguinte, "União da Ilha do Governador", da mesma dupla. Ainda em 1988, em parceria com Paulo César Pinheiro, compôs o samba-enredo que a Tradição desfilou naquele ano.
Em 1989, a gravadora EMI/Odeon produziu uma coletânea de sucessos da cantora Clara Nunes, na qual foram incluídas Canto das três raças" e "Portela na avenida", ambas em parceria com Paulo César Pinheiro. Naquele ano, a gravadora Idéia Livre produziu um LP em homenagem a Paulo da Portela, no qual interpretou em dueto com Cristina Buarque a faixa "Quem espera sempre alcança".
Em 1990, Cristina Buarque gravou "Marcha da saideira" (Mauro Duarte, Cristina Buarque e Lefê) para o disco "Bloco Carnavalesco Simpatia É Quase Amor - 5 anos de samba em Ipanema", e, em 1994, Cristina Buarque relançou o LP "Resgate", originalmente gravado em 1990 para o mercado japonês. Foram incluídas neste LP as músicas "Volta para a minha companhia", "Violão amigo" (c/ Walter Nunes), "Eu pensei" (Délcio de Carvalho) e "Eu vou embora", as quatro músicas cantadas por Cristina Buarque e Walter Alfaiate. No mesmo disco, Cristina e Paulo César Pinheiro interpretaram "Carioca da gema" (c/ Paulo César Pinheiro).
Em 1994, foi lançado pela gravadora Saci o CD "Homenagem a Mauro Duarte", reunindo gravações suas e de outros cantores interpretando suas músicas, entre eles Paulinho da Viola que cantou de autoria do homenageado as faixas "Cuidado, teu orgulho te mata", "Foi demais", "Lamentação" e "Reclamação", esta última um dueto de Paulinho da Viola e Mauro Duarte. No ano seguinte, Paulo César Pinheiro produziu um disco-homenagem a Clara Nunes, "Clara Nunes Com vida", no qual foi incluída a música "Menino Deus", acrescida da voz de Emílio Santiago.
No ano 2000, Alcione interpretou de sua autoria "Menino Deus" e "Canto das três raças", ambas em parceria com Paulo César Pinheiro, no disco "Claridade", homenagem à Clara Nunes. No ano posterior, Elton Medeiros interpretou "A maioria sem nenhum", parceria de ambos, no disco "1º Compasso", coletânea de vários artistas lançada pelo selo Biscoito Fino.
No ano de 2002 foi lançado o disco "Clássicos do samba" (Elaine Faria, Dona Ivone Lara, Martinho da Vila e Jamelão). No CD Eliane Faria interpretou "Portela na avenida" (c/ Paulo César Pinheiro). Neste mesmo ano, Renato Braz lançou o CD "Quixote", no qual interpretou de sua autoria "Canto das três raças" (c/ Paulo César Pinheiro).
Em 2003, Walter Alfaiate lançou o CD "Samba na medida" (gravadora CPC-Umes), disco no qual incluiu "A paixão e a jura" (c/ Paulo César Pinheiro) e "Isso um dia tem que se acabar" (c/ Noca da Portela) e Noca da Portela incluiu "Alegria continua" e "Sonho de criança", parceria de ambos, no disco "Noca da Portela - 51 anos de samba". Ainda em 2003, Walter Alfaiate, Noca da Portela e Elton Medeiros, prestaram homenagem ao amigo sambista em show no Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa, centro do Rio de Janeiro e Eliane Faria, no disco "Alma feminina", regravou "Menino Deus". Neste mesmo ano, Renato Braz regravou "Menino Deus" e Elton Medeiros "Lama", ambas no CD "Um ser de luz - saudação à Clara Nunes".
No ano de 2005 Walter Alfaiate lançou, pelo selo paulista CPC-Umes, um CD em sua homenagem, somente com composições do sambista. No CD o parceiro incluiu várias composições inéditas cedidas por Cristina Buarque e Paulo César Pinheiro, além de seis parcerias de Walter e Mauro. Entre as músicas incluídas destancam-se "Nossos esforços" (c/ Paulo César Pinheiro), "Fonte dos amores" (c/ Walter Alfaiate e Wilson Moreira), "Lenha na fogueira" (c/ Paulo César Pinheiro), "Arroz e feijão" (c/ Walter Alfaiate), "Vila" (c/ Paulo César Pinheiro) e ainda "Vem ver, João" e "Jeito do cacimbo", além da única não inédita, "Falsa euforia", anteriormente gravada pelo grupo Família Roitman.
Em 2008 Cristina Buarque e o grupo Samba de Fato (Pedro Amorim: Bandolim; Alfredo Del Penho: Violão de 7; Paulinho Dias e Pedro Miranda; pecussão e vozes) lhe prestaram homenagem lançando o CD "O samba informal de Mauro Duarte" (Deckdisc). No disco foram incluídas "Falou demais" (c/ João Nogueira e Paulo César Pinheiro) e várias parcerias com Paulo César Pinheiro, entre elas "Lenha na fogueira", "Reza, meu bem", "Samba de botequim" e "Sublime primavera" (interpretada por Paulo César Pinheiro no CD). Também foram incluídas no disco, parcerias de Mauro Duarte com Élton Medeiros, Walter Alfaiate e Maurício Tapajós.
Lançado no ano de 2011 pelo Selo Discobertas, do pesquisador Marcelo Fróes em convênio com o Selo ICCA (Instituto Cultural Cravo Albin), o box "100 Anos de Música popular Brasileira" é integrado por quatro CDs duplos, contendo oito LPs remasterizados. Inicialmente os discos foram lançados no ano de 1975, em coleção produzida pelo crítico musical e radialista Ricardo Cravo Albin a partir de seus programas radiofônicos "MPB 100 AO VIVO", com gravações ao vivo realizadas no auditório da Rádio MEC entre os anos de 1974 e 1975. Elza Soares participou do CD volume 8 interpretando de sua autoria "A infelicidade" (c/ Niltinho Tristeza) e Paulinho da Viola, no mesmo CD, gravou "Eu sabia" (Mauro Duarte).
Dentre suas composições gravadas por Clara Nunes, que se tornaram sucessos da cantora, constam ainda "Brasil mestiço", "Serrinha", "Menino Deus", "Meu sapato já furou", "Tributo aos Orixás", "Perdão" e "Portela na avenida".
Entre seus parceiros estão Paulinho da Viola, Dona Ivone Lara, Elton Medeiros, Noca da Portela, Maurício Tapajós, Hermínio Bello de Carvalho, Carlinhos Vergueiro, Rubem Tavares, Lefê e Cristina Buarque.
Suas músicas foram gravadas por vários artistas da MPB: "Maria das Dores" (MPB4); "A maioria sem nenhum" (Elton Medeiros); "Se o carnaval chegar" (Cyro Monteiro, Doris Monteiro, Os Cinco Crioulos); "Quanta dor" (Os Cinco Crioulos); "Lamentação" (Paulinho da Viola, Elizeth Cardoso, Germano Batista) e "Sons de mim" (Elza Soares), "Falsa euforia" (Família Roitman), "Sapato mole" (Quarteto em Cy), "Nunca mais" (Roberto Ribeiro), entre outros.
NOEL ROSA DE OLIVEIRA e ABELARDO DA SILVA, “O neguinho e a
senhorita”
Noel Rosa de Oliveira era o mais destacado compositor do Salgueiro, com seu vozeirão de timbre raro e suas composições à altura dos maiorais. Dentre elas, podemos destacar “Quilombo dos Palmares”, “Chica da Silva” (duas obras-primas de samba-enredo), “O neguinho e a senhorita” e, apenas para encurtar, o ainda muito cantado no carnaval “Vem chegando a madrugada”, em parceria com Zuzuca do Salgueiro (“Vem chegando a madrugada ô/ o sereno vem caindo/ cai, cai sereno devagar/ meu amor está dormindo...)”
O nome Acadêmicos do Salgueiro saiu de uma calorosa discussão. Quando levantaram a possibilidade de o nome definitivo ser Catedráticos do Salgueiro, Noel Rosa de Oliveira, do alto de sua sabedoria, falou: “Não dá. Esse nome vai destroncar a língua do pessoal do morro. Proponho Acadêmicos do Salgueiro.” Estava batizada a escola.
Noel Rosa de Oliveira teve intérpretes do primeiro quilate do samba desde 1948, quando Zé da Zilda e Zilda do Zé gravaram “Falam de mim”. Nos anos seguintes, foi gravado por Noite Ilustrada, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Nana Caymmi, Alcione e Jorge Goulart, que defendeu seu samba “Dona Beija” na 1a Bienal do Samba, realizada pela TV Record.
Anescarzinho do Salgueiro
O compositor Anescarzinho (Anescar Pereira Filho) fez, ao lado de Noel Rosa de Oliveira, o samba-enredo considerado um dos melhores de todos os tempos: “Chica da Silva”. Com esse samba o Salgueiro ganhou seu primeiro título do carnaval, em 1963. A força do desfile foi tão grande que a história de Chica da Silva acabou virando filme, sob a direção de Cacá Diegues, e novela da Rede Manchete, escrita por Walcy r Carrasco e dirigida por Walter Avancini. “Apesar/ de não possuir grande beleza/ Chica da Silva/ surgiu no seio/ da mais alta nobreza/ O contratador João Fernandes de Oliveira/ a comprou/ para ser a sua companheira/ E a mulata que era escrava/ sentiu grande transformação/ trocando o gemido da senzala/ pela fidalguia do salão...”
No ano de 1969, ao lado de Martinho da Vila, Jamelão, Ilza Barbosa, Originais do Samba e Maria Isabel, participou da coletânea O samba está de volta, na qual interpretou “Bahia de todos os deuses”. Em 1987, lançou o disco Meu sorriso. Noel Rosa de Oliveira sempre foi considerado um fértil melodista do Salgueiro e do carnaval carioca.
* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.
Manezinho da Flauta (Manuel Gomes), instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12/4/1924—? 17/6/1990. Neto de flautista, aos cinco anos começou a tocar flauta de latão. O pai, estivador, também gostava de tocar esse instrumento e muito incentivou o filho, levando-o a programas de calouros da Rádio Tupi do Rio de Janeiro.
Estudou na Escola Quinze de Novembro e, com a morte do avô, ganhou como herança uma flauta francesa marca Djalma Julliot, que nunca mais deixou. Aos 15 anos já tocava como profissional na Rádio Guanabara e aos 16, numa escola de danças carioca, o Farolito Danças.
Em 1952, quando se diplomou pelo Conservatório Musical do Rio de Janeiro, trabalhava na Rádio Mauá, do Rio de Janeiro.
Em 1961 percorreu a Europa com o compositor Humberto Teixeira, apresentando-se na França, Inglaterra e Bélgica, onde participou de show brasileiro em Bruxelas.
Em 1963 e 1964 tocou no Zicartola e em 1967 gravou seu primeiro LP como solista, O melhor dos chorinhos, pela CBS. Um ano depois, na Odeon, participou da gravação do LP Gente da antiga, ao lado de Pixinguinha, João da Baiana e Clementina de Jesus.
Durante três meses, em 1969, tocou na gafieira Som de Cristal, de São Paulo SP, sendo contratado, um ano depois, como flautista da boate Jogral e atuando no show Os homens verdes da noite, montado por Luís Carlos Paraná, criador daquela casa noturna. Radicado em São Paulo, passou a fazer parte do conjunto regional do bandohnista Evandro, com o qual gravou em 1974 o LP Brasil, flauta, bandolim e violão, na etiqueta Marcus Pereira.
Foi aluno de Horondino Silva (Dino Sete Cordas) e aos 17 anos de idade começou a lecionar violão. Complementou seus estudos com Ian Guest (solfejo, harmonia e arranjo).
Iniciou sua carreira profissional, como compositor, assinando trilhas sonoras para o cinema.
Dedicou-se ao ensino do violão e teve entre seus alunos diversos artistas, como Nara Leão, Gal Costa e Moraes Moreira.
É autor de dois livros básicos destinados aos estudantes e aos profissionais de música: "Dicionário de acordes cifrados", com o qual iniciou o processo de padronização das cifras no país, e "Harmonia & Improvisação". A publicação desses dois livros o levou à criação da Lumiar Discos & Editora, através da qual realizou um trabalho pioneiro de edição de songbooks, contendo parte relevante da obra dos principais compositores da música popular brasileira, registrando cifras, acordes e letras. Nos livros, a transcrição foi realizada de forma minuciosa, conferida, compasso por compasso, com os próprios compositores. Nos discos, dentro da margem de liberdade de criação permitida aos intérpretes, foi preservado o trabalho singular do autor.
No dia 26 de maio de 2003, foi surpreendido, ao lado de sua namorada (a cantora Sanny Alves, filha do baixista Luís Alves), por dois homens encapuzados que invadiram e assaltaram sua casa de campo, localizada em Araras, distrito de Petrópolis (RJ). Os dois foram amarrados e levados para dentro do carro do produtor que ao ver o rosto do homem que estava ao volante o reconheceu como sendo o caseiro de um vizinho. Foi, então, retirado do carro e assassinado com quatro tiros.
* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).
"Debaixo dos caracóis dos seus cabelos", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, é o canto do sabiá que ficou na terra da personagem cantada exilada; é o mimo do sabiá que cata, canta e se dá ao outro enquanto espera o retorno do outro. Ele canta para manter o outro vivo e alegre, apesar da dor da distância.
Tendo sido gravada por Roberto Carlos, esta canção faz parte do disco em que Nara Leão presta homenagem a obra do rei: E que tudo mais vá pro inferno (1978).
No entanto, importa registrar que quando o disco foi lançado no formato de CD, Roberto vetou a presença da canção "Quero que vá tudo pro inferno", consequentemente alterando também o título do disco de Nara, que foi rebatizado para Debaixo dos caracóis dos seus cabelos.
Censuras à parte, temos aqui uma bela canção do exílio às avessas, ou melhor, feita não pelo exilado, mas pelo sabiá, por aquele que ficou. O sujeito-sabiá canta para o outro-exilado a paisagem da terra amada: os espaços que significam o outro e que serão restituídos a ele quando voltar.
Dedicada a Caetano Veloso, a canção, cuja letra é estruturada por quadras de rimas funcionais diante da balada melódica, registra alguns signos que identificam o baiano, tais como: "areia branca", que pode ser lida como uma referência a Lagoa do Abaeté (lugar cantado por Caetano); e "os caracóis dos cabelos" que tem ligação com a cabeleira que Caetano exibia no período do exílio; por exemplo.
Além de figurativizar a confessada melancolia que o compositor homenageado sentia ao ter sido expulso do paraíso, a canção prepara o retorno do outro ao espalhar (para o outro) imagens de tocada felicidade e beleza.
O sujeito da canção é também a sereia que canta o passado ("Uma história pra contar de um mundo tão distante"); o presente ("Você olha tudo e nada lhe faz ficar contente"); e o futuro ("Janelas e portas vão se abrir pra ver você chegar").
O sujeito de "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos", sereia que sustenta a história e o desejo do outro na voz, gera o acalanto refrescante e que na voz doce e suave de Nara Leão encontra o ritmo adequado para consolar a alma e o coração do outro. Cantador e cantado, aqui, nesta canção, estão uníssono com a vida.
***
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
(Roberto Carlos / Erasmo Carlos)
Um dia a areia branca seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos a água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir pra ver você chegar
E ao se sentir em casa sorrindo vai chorar
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante
As luzes e o colorido que você vê agora
Nas ruas por onde anda, na casa onde mora
Você olha tudo e nada lhe faz ficar contente
Você só deseja agora voltar pra sua gente
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante
Você anda pela tarde e o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito uma saudade, um sonho
Um dia vou ver você chegando num sorriso
Pisando a areia branca que é seu paraíso
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante
* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".
Foi a foto acima me inspirou a pesquisar as gravações românticas do cantor Carlos Galhardo as quais compartilho com vocês. Espero que apreciem e acrescentem a suas preferidas.
Carlos Galhardo (24/4/1913 – 25/7/1985), filho de pais italianos, nasceu na Argentina, mas antes de completar um ano já estava em solo brasileiro (São Paulo).
Ao logo da carreira de cantor gravou inúmeros discos, tornando-se especialista em músicas românticas, sobretudo valsas e canções. Teve uma importante participação na luta pelos direitos autorais e de interpretação no Brasil.
Foi um dos cantores que mais vendeu discos no Brasil; sua vendagem de discos de 78 rpm (cerca de 580 gravações) só foi menor do que a de Francisco Alves. Sua popularidade entre as décadas de 1940 e 1950 foi tão grande que era apresentado como “Carlos Galhardo, o cantor que dispensa adjetivos“. Foi conhecido também como “O Rei da valsa“.
“Apenas tu” (Roberto Martins/Jorge Faraj) # Carlos Galhardo. Disco Odeon (11.389-B) / Matriz (5379). Gravação (01/06/1936) / Lançamento (setembro/1936).
“E o destino desfolhou” (Gastão Lamounier/Mário Rossi) # Carlos Galhardo. Disco Odeon (11.468-B) / Matriz (5528). Gravação (27/02/1937) / Lançamento (maio/1937).
“Último beijo” (Roberto Martins/Jorge Faraj) # Carlos Galhardo. Disco Victor (34.467-B) / Matriz (33058). Gravação (24/04/1939) / Lançamento (agosto/1939).
“Devolve” (Mário Lago) # Carlos Galhardo. Disco Victor (34.640-A) / Matriz (33441). Lançamento (agosto/1940).
“Ai de mim se não voltasses” (Pedro Caetano/Alcyr Pires Vermelho) # Carlos Galhardo. Disco Victor (34.935-A) / Matriz (S-052505). Gravação (25/04/1942) / Lançamento (junho/1942).
“Fascinação” (F. Marchetti [música] / Armando Louzada [letra]) # Carlos Galhardo. Disco Victor (80.0069-A) / Matriz (S-052712). Gravação (04/02/1943) / Lançamento (abril/1943).
“Bodas de prata” (Roberto Martins/Mário Rossi) # Carlos Galhardo. Disco Victor (80.0291-A) / Matriz (S-078140). Gravação (23/03/1945) / Lançamento (julho/1945).
“Outras mulheres” (Wilson Batista/Jorge de Castro) # Carlos Galhardo. Disco RCA Victor (80.0328-B) / Matriz (S-078209). Gravação (26/06/1945) / Lançamento (outubro/1945).
“Será?” (Mário Lago) # Carlos Galhardo. Disco Victor (80.0257-B) / Matriz (S-078113). Gravação (03/01/1945) / Lançamento (março/1946).
“Amar” (José Maria de Abreu/Jair Amorim) # Carlos Galhardo. Disco Victor (800612-A) / Matriz (S-078905). Gravação (01/07/1949) / Lançamento (outubro/1949).
“Eu sonhei que tu estavas tão linda” (Lamartine Babo/Francisco Matoso) # Carlos Galhardo entre as mais executadas no Brasil, em 1962.
“Só nós dois no salão e esta valsa” (Lamartine Babo) # Carlos Galhardo. Álbum “Carlos Galhardo no mundo das valsas e canções”. RCA Victor, 1966.
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Fontes:
– Foto publicada no Grupo Arquivo Confraria do Chiado (Facebook) pelo confrade Claudevan Mello.
As 25 músicas mais tocadas nos rádios do Brasil no ano de 1950, há exatos 70 anos, foram: 01 - Pé de Manacá - Isaura Garcia & Hervé Cordovil 02 - Antonico - Alcides Gerardi 03 - Olhos Verdes - Dalva de Oliveira 04 - Ave-Maria - Trio de Ouro 05 - General da Banda - Linda Batista 06 - A Bahia Te Espera - Trio de Ouro 07 - Meu Brotinho - Francisco Carlos 08 - Balzaqueana - Jorge Goulart 09 - Boa Noite Amor - Francisco Alves 10 - Paraíba - Emilinha Borba 11 - Naná - Ruy Rey 12 - O Sanfoneiro Só Tocava Isso - Dircinha Batista 13 - Maria Rosa - Francisco Alves 14 - Pedalando - Adelaide Chiozzo & Alencar Terra 15 - Qui Nem Jiló - Luiz Gonzaga 16 - Errei, Sim - Dalva de Oliveira 17 - Boneca de Pano - 4 Ases e um Coringa 18 - Não Tem Tradução - Aracy de Almeida 19 - Brasileirinho - Ademilde Fonseca 20 - Assum Preto - Luiz Gonzaga 21 - Baião de Dois - 4 Ases e 1 Coringa 22 - Aquarela - Francisco Alves 23 - Que Será - Dalva de Oliveira 24 - Trepa no Coqueiro - Carmélia Alves 25 - Pra Seu Governo - Gilberto Milfont
O ano de 1953 ficou na história para a comunidade do Salgueiro. Diferente das outras regiões onde surgiram escolas de samba a partir de blocos, no morro do Salgueiro havia três pequenas escolas constituídas: Unidos do Salgueiro, Depois Eu Digo e Azul e Branco. Todas competiam e dividiam a atenção dos tijucanos.
Em 1953 as escolas do Salgueiro amargaram uma fragorosa derrota no desfile carnavalesco: com o primeiro lugar indo para a campeoníssima Portela, a Unidos do Salgueiro ficou em 6o lugar, com o 13o para a Depois Eu Digo e o 21o para a Azul e Branco. Era preciso mudar!
Após inúmeras reuniões com os integrantes das três agremiações, com polêmicas sobre a cor ideal da escola, surgiu o vermelho e branco do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Para muitos de seus admiradores, uma escola nem melhor nem pior, apenas diferente, como dizia Nelson Andrade, um dos seus primeiros presidentes. Mas a Unidos do Salgueiro só se incorporaria às outras duas escolas poucos anos depois.
Sua maior contribuição para o carnaval carioca está na reestruturação do desfile. Procurando uma temática que fugisse da tradicional valorização dos temas patrióticos, a escola passou a destacar figuras históricas de nossa herança africana.
O primeiro carnavalesco a fazer essas mudanças foi Fernando Pamplona, “o pai da revolução visual nas escolas de samba”,13 que trouxe para os desfiles os temas artísticos, folclóricos e épicos. Mas Pamplona ainda formou ótimos carnavalescos: Arlindo Rodrigues, o primeiro a colocar roupas ligadas ao tema no pessoal da bateria, e Joãozinho Trinta, bamba revolucionário do carnaval carioca, com seus grandiosos carros e alegorias, cheio de inventividade e criatividade.
Os principais carnavalescos contemporâneos passaram pelo Salgueiro: Rosa Magalhães, Maria Augusta, Clóvis Bornay, Renato Lage e Max Lopes, entre outros.
Geraldo Babão
“Vamos embalançar a roseira
dar um susto na Portela, no Império, na Mangueira
Se houver opinião, o Salgueiro apresenta
uma só União...”
GERALDO BABÃO
Foi esse samba aí de cima, sem nome conhecido, do compositor Geraldo Babão, que apontou em 1953 o surgimento da Escola de Samba Salgueiro. Geraldo desempenhou no Salgueiro um papel proporcional ao de Cartola na Mangueira: batalhou para que as três pequenas escolas da comunidade se unissem a fim de competir em pé de igualdade com as rivais Mangueira, Portela e Império Serrano.
Geraldo era um craque na arte de compor sambas. Em 1964, seu samba-enredo “Chico Rei” levou a escola ao segundo lugar. Um ano depois, compôs “História do carnaval carioca”, com o qual o Salgueiro conquistou o primeiro lugar; em 1973, o Salgueiro desfilou mais uma vez com um samba seu, garantindo um honroso terceiro lugar: “Eneida, amor e fantasia”.
Geraldo Soares de Carvalho, de apelido Geraldo Babão por conta do que acontecia quando tocava flauta, nasceu no morro do Salgueiro e deu duro desde jovem como carregador de engradados de cerveja, trocador de ônibus, entregador. Sua eficiente “estratégia de marketing” era usar a flauta para que as crianças ouvissem suas composições e passassem a divulgá-las pelo morro. Em 1974, chegou ao mercado o LP História das escolas de samba: Salgueiro, do selo Marcus Pereira, no qual Geraldo Babão interpretava algumas de suas composições. Dois anos depois, sua composição “Samba do sofá” foi registrada por Roberto Ribeiro no LP Arrasta povo, com aquela picardia característica do co-autor Dicró: “Ontem eu a encontrei/ beijando outro em meu sofá/ Veja que raiva eu senti/ Hoje bem cedo peguei o sofá e vendi...” Para finalizar, destaco então um trecho daquele samba de Geraldo Babão emblemático para o surgimento de sua escola: “Na roda de gente bamba/frequentadores do samba vão conhecer o Salgueiro/ como o primeiro em melodia/ A cidade exclamará, em voz alta/ – Chegou, chegou a Academia!”
“Peguei um Ita no norte”
Em 1993, o Salgueiro foi campeão do carnaval carioca com o samba-enredo “Peguei um Ita no norte”, de Demá Chagas, Arizão, Bala, Guaracy, Celso Trindade e Quinho. O samba conta a história de um nortista que deixou sua terra (em um Ita, navio que fazia o transporte de passageiros do Norte para o Sul) para vir morar no Rio de Janeiro, fazendo uma referência à música do baiano Dorival Caymmi: “Peguei um Ita no Norte/ pra vir pro Rio morar/ adeus meu pai minha mãe/ adeus Belém do Pará...” De fato, as condições socioeconômicas das regiões Norte e Nordeste levavam a população empobrecida a tentar a sorte no chamado “Sul Maravilha”. Além do acelerado crescimento industrial e urbano do Sudeste nos anos 1970, que atraía a mão-de-obra barata, a televisão passou a vender a imagem do Rio de Janeiro e de São Paulo como cidades glamorosas, terras de artistas, belezas naturais, luxo, riqueza e oportunidades. Mas a vida que os migrantes encontravam não era fácil: trabalho de mais de 12 horas por dia, geralmente sem garantias trabalhistas, e residência em locais que passaram a constituir o cinturão de pobreza das principais metrópoles – as favelas e periferias. O sonho de muitos acabou virando pesadelo.
Por outro lado, o belo samba do Salgueiro narra a visão festiva da viagem do Norte para o Sul: “Lá vou eu.../ me levo pelo mar da sedução/ sou mais um aventureiro/ rumo ao Rio de Janeiro/ adeus Belém do Pará/ Um dia eu volto, meu pai/ não chore pois vou sorrir/ felicidade o velho Ita vai partir/ ...Chego ao Rio de Janeiro/ terra do samba, da mulata e futebol/ Vou vivendo o dia-a-dia/ embalado na magia/ do seu carnaval/ Explode coração/ na maior felicidade/ é lindo o meu Salgueiro/ contagiando, sacudindo, esta cidade...”
* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.
Lá vem o seresteiro anônimo pelas brancas areias da praia de Morro Branco, entre altas dunas e falésias das mais variadas cores e tons. Uma mão no ouvido e a outra apontando estrelas. Calem-se todos para que ele continue seu ofício, sua missão de cantar. Isso basta. Não importa se o entendamos, se sua voz é bela, se a afinação é perfeita: basta ouvi-lo. Pouco interessa a canção, pode até ser algo bobo: importa o cantor e sua mensagem, a esperança que nela se contém. Bobagem musical só os desalmados enxergam. Sua alma, por si só acalentada, ajuda a acalentar tantas outras, ternurizando cantigas que ouvimos e que, de tão belas, quase sempre conseguimos fazer coro. Façamos como ele: cantemos. Qualquer coisa. Alguém ficará feliz com nossa voz, por mais desafinada que possa parecer. Outros ouvirão e, quem sabe, nos acompanharão e conosco cantará. E que o seresteiro anônimo continue a alegrar as cores das noites e as areias de um branco morro, arejando as dunas das almas e afagando as falésias coloridas do coração de quem por ali vive e ama.
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Carlos Althier de Souza Lemos Escobar (Rio de Janeiro, RJ, 1950). Violonista, compositor e cantor. Ainda criança, ganha de sua tia Ligia o apelido de "Guinga", uma adaptação de "gringo", pelo fato de ter a pele clara e os cabelos escorridos. Do pai, um militar da Aeronáutica, o sargento Escobar (Althier da Silva Escobar), herda o gosto pela música erudita. Outra influência é do cantor Augusto Calheiros, de quem seu pai é fã. Pela mãe, a dona de casa Inalda, aproxima-se de serestas e valsas brasileiras.
O primeiro contato com o violão ocorre aos 11 anos. Entre os nomes importantes em sua formação estão Paulinho Cavalcanti, Hélio Delmiro (1947) e Jodacil Damasceno (1929-2010), com quem tem aulas de violão clássico por cerca de cinco anos. Aos 17, com o nome de Carlos Althier, classifica Sou Só Solidão no 2º Festival Internacional da Canção, com letra de Paulo Faya. Em 1970, passa a acompanhar a cantora Alaíde Costa (1935) e a cursar odontologia, formando-se em 1975. Também acompanha Beth Carvalho (1946), João Nogueira (1941-2000) e Cartola (1908-1980), com quem grava O Mundo É um Moinho, no disco do sambista. Como Carlos Escobar, classifica Pela Cidade, parceria com Marcio Ramos, no 4º Festival Internacional da Canção, em 1971. Três anos depois, tem temas seus e de Paulo César Pinheiro (1949), Conversa com o Coração e Maldição de Ravel, gravados pelo conjunto MPB-4. Com o mesmo parceiro, tem Punhal, registrada por Clara Nunes (1943-1983), em 1974, e Bolero de Satã, por Elis Regina (1945-1982), em 1979.
No ano de 1988, conhece Aldir Blanc (1946), que se torna seu parceiro mais constante. É apresentado a Paulinho Albuquerque, produtor de seus primeiros discos. Tem o primeiro álbum lançado em 1991, Simples e Absurdo, pelo selo Velas, com 11 temas seus e de Blanc interpretados por nomes como Chico Buarque (1944), Ivan Lins (1945), Leila Pinheiro (1960), Leny Andrade (1943) e Zé Renato (1956). Dois anos depois, lança Delírio Carioca, em parceria com Aldir Blanc, e duas composições com Paulo César Pinheiro (Saci e Passarinhadeira) e participação de Djavan (1949), Fátima Guedes (1958), Boca Livre e Leila Pinheiro. Lança Cheio de Dedos, em 1996, com participação de Chico Buarque, Nó em Pingo D'Água e Ed Motta (1971). No mesmo ano, Leila Pinheiro divulga o álbum Catavento e Girassol, com composições de Guinga e Blanc. Em 1997, é contemplado em quatro categorias do Prêmio Sharp. No ano seguinte, lança o disco Suíte Leopoldina, inaugurando parcerias com Nei Lopes (1942), Celso Viáfora e Mauro Aguiar. Como convidados, o próprio Nei Lopes, Chico Buarque, Alceu Valença (1946), Ivan Lins, Lenine (1959), Ed Motta e Toots Thielemans (1922).
Em 2001, ano em que é indicado ao Grammy latino por Suíte Leopoldina, estreia Cine Baronesa, com nova participação de Chico Buarque e Nei Lopes. Dois anos depois, lança Noturno Copacabana, com o registro de seu tema mais conhecido, Senhorinha, parceria com Paulo César Pinheiro. Há temas seus registrados em 2006 por Marcus Tardelli, no disco Unha e Carne. No ano seguinte, lança Casa de Villa, e dois anos depois o álbum Saudade do Cordão, interpretando temas seus com o clarinetista Paulo Sérgio Santos. No exterior, divulga, em 2004, Graffiando Vento, com o clarinetista italiano Gabriele Mirabassi (1967). Em 2008, fora do Brasil, novamente com Mirabassi, lança Dialetto Carioca, desta vez também com Jorginho do Trompete, Lula Galvão (1962) e Paulo Sérgio Santos.
Comentário Crítico
Violonista dos mais conceituados no cenário mundial, depois de ter contato com a obra de Guinga, Paco de Lucia declara que teve vontade de trocar seu universo musical pelo do brasileiro. O espanhol não é o único, já que, ao longo de sua carreira, Guinga recebe elogios de nomes como Tom Jobim, Turíbio Santos, Chico Buarque, Hermeto Pascoal, Sergio Mendes, Michel Legrand, Toots Thielemans, entre outros. Entre as explicações para a obra de Guinga despertar admiração e respeito entre artistas conceituados no Brasil e no exterior, a mais consensual para críticos e especialistas é a sua inventividade harmônica. O fascínio surgido pela obra de Guinga muitas vezes se dá pelas inusitadas formações de acordes encontradas no violão desse canhoto, mas que toca com a mão direita. No meio musical, não são poucos os instrumentistas com dificuldades em compreender e executar os intervalos e inversões propostos por Guinga.
Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural
Convidado para gravar Dos Anjos e Constance, no disco Suíte Leopoldina, de Guinga, o gaitista belga Toots Thielemans declara que, ao colocar as harmonias do compositor brasileiro em prática, sente estar diante de um artista especial. O mesmo ocorre nos Estados Unidos, nos anos 2000, quando Guinga se apresenta com a Filarmônica de Los Angeles, no Disney Hall. Recebendo elogios da crítica internacional e dos músicos pela originalidade de suas harmonias e melodias, ele subverte a ordem do concerto. Em geral, artistas apresentam alguns temas seus com a orquestra, que depois segue o programa sozinha. No caso do brasileiro, os músicos residentes interpretam poucas peças de seu repertório, reservando a maior parte da apresentação para a obra de Guinga. O mesmo respeito tem ocorrido em diversos países da Europa, principalmente na Itália, onde o brasileiro se apresenta com frequência, chegando a gravar nesse país, pela gravadora Egea, seus dois álbuns lançados no exterior.
Em relação à técnica, o violonista está longe de ser um virtuose. Em suas gravações nas quais os arranjos evidenciam mais o violão - como no álbum Graffiando Vento -, frequentemente ouvem-se algumas "sujeiras", o som dos dedos de Guinga raspando as cordas e os trastes do instrumento. Após a gravação de Unha e Carne, realizada pelo violonista Marcus Tardelli sobre a obra do compositor - naquele que é considerado por críticos como o melhor álbum de violão solo dos anos 2000 -, Guinga passa a usar com moderação uma técnica apresentada por Tardelli: utilizar o polegar da mão esquerda na formação dos acordes. Com isso, passa a conseguir novas aberturas e desenhos harmônicos mais amplos.
Mesmo antes da técnica com o uso do polegar da mão esquerda, Guinga já apresenta "achados de harmonia". Alguns alunos de violão - que têm aulas com nomes de respeito no instrumento, como o professor e presidente do Museu Villa-Lobos, Turíbio Santos - chegam a dizer que Guinga "inventa" alguns acordes. Outra característica marcante é o fato de ele transitar com naturalidade entre o erudito e o popular. Herdeiro direto da linhagem musical de Heitor Villa-Lobos, num mesmo disco de Guinga, pode-se escutar frevo, baião, valsa, choro, samba, foxtrote, entre tantos outros gêneros. Tudo criado intuitivamente. Apesar das aulas de violão clássico, ele não lê partituras. Quando especialistas perguntam como um sujeito criado no subúrbio pode ser capaz de tal erudição em alguns temas, ele responde, brincando, que fez um estágio na "Suburbone".
Se para o público a obra de Guinga - mesmo não tão difundida - não soa hermética e de difícil audição, para o meio musical, ela é encarada como sofisticada. Aldir Blanc, parceiro mais constante do violonista e compositor, declara que seus temas são "derruba-letrista", por sua sinuosidade melódica e diversidade rítmica. Guinga não musica poemas. Seu método de composição é criar a música e enviar aos letristas. Em alguns casos, ele cria o tema em duas partes - na estrutura A-B-A-B -, pedindo que o letrista não repita os mesmos versos na volta da canção. Com isso, algumas composições chegam a ter mais de 60 versos diferentes. Além de letristas como Nei Lopes, Chico Buarque, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Mauro Aguiar e Celso Viáfora, ele faz parcerias com artistas mais jovens, como Edu Kneip, Thiago Amud, Simone Guimarães e Francisco Bosco.
Em relação aos arranjos, os primeiros discos de Guinga, produzidos por Paulinho Albuquerque, contêm muitas cordas e sopros, em geral, com participação especial de intérpretes renomados, já que o próprio produtor se opõe no início a que o autor cante. Isso muda com o passar dos anos até chegar ao álbum Casa de Villa, em que Guinga canta a maioria das faixas.
Ao longo de sua carreira, mais precisamente a partir do terceiro disco, Cheio de Dedos, Guinga grava de forma equilibrada uma quantidade maior de temas instrumentais, contando sempre com músicos conceituados, como Paulo Sérgio Santos, Lula Galvão, Jessé Sadoc, Zé Nogueira, Quarteto Maogani, Jorge Helder, Marcos Suzano, Jurim Moreira, Gilson Peranzzetta.
* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).
Atemporal, "Elizete sobe o morro" mostrou a amplitude de uma das maiores intérpretes da nossa música. Este ano o disco completa 55 anos
PorLuiz Américo Lisboa Junior
Elizete Sobe o Morro (1965)
Houve um tempo não muito distante em que o Brasil vivia um momento de ambigüidade, era a época das contradições, o mundo girava em torno da era de aquário, as mudanças estavam por toda a parte, caminhávamos para uma redescoberta de valores rumo a uma identificação conceitual e a um modo livre de ver e ouvir tudo o que estava em nossa volta pois buscava-se a todo instante a revolução/transformação daquilo que era tradicional, deveria-se, portanto, modernizar os pensamentos, a maneira de agir e demonstrar essas mudanças de diversas formas, sendo que foi através da arte que ela se tornou visível e duradoura. Era um mundo de sonhos? Talvez! Porém muitos ainda estavam irremediavelmente ligados as suas tradições, não queriam que elas desaparecessem, mas sabiam também da necessidade de adequá-las aos novos tempos.
Brasil, inicio de 1965, incertezas, frustrações, progresso, música popular, eis ai a nossa contradição, ou o nosso crescimento/retrocesso, saudades de alguns, raiva e desprezo por outros, sentimentos que se cruzam, qual deles o mais verdadeiro? Se o ideal ainda não existe, pelo menos fiquemos na relatividade, esqueçamos as amarguras e lembremos dos sons suaves de um violão, um cavaquinho, um coro bem afinado, uma frase inesquecível, uma voz divina, essa é a melhor parte, pois mesmo que bombas de gás lacrimogêneo estourem os nossos ouvidos e nos causem angustia e desespero, elas em tempo algum irão superar a saudade de um verso perfeito e uma melodia inesquecível, é a constatação dos contrários e que embora não queiramos resulta sempre numa afirmação, num sentimento inequívoco, dito de maneiras diferentes mas que pode ser resumido como um, ah! que saudade daqueles tempos, o mundo já não é o mesmo! Eu era feliz e não sabia! E assim sem se querer a melancolia chega, a musica se aproxima e cada vez mais se faz presente, obscurecendo todas as bombas, é a arte vibrando com sua vitória inquestionável diante dos erros humanos.
Foi então que nos dias 31 de maio, 7, 14 e 15 de junho daquele ano de 1965 uma das maiores cantoras brasileiras, Elizete Cardoso entrou nos estúdios da Copacabana Discos no Rio de Janeiro e gravou um LP em que sintetizava o tradicional modernizando-o com categoria e demonstrando que se podia manter uma raiz cultural numa época de grandes transformações na estética musical . Ela não se intimidou e fez como ninguém havia feito ainda dando um novo rumo ao samba realizando um trabalho atemporal e eterno.
Depois de ter assistido ao show Rosa de Ouro produzido por Hermínio Belo de Carvalho, resolveu que deveria gravar um disco com o repertório do espetáculo e também com músicas dos compositores que dele fizeram parte. E assim surgiu um disco fenomenal intitulado de Elizete Sobe o Morro onde aparecem pela vez composições de um rapaz chamado Paulo César Faria que o Brasil iria respeitar com o nome de Paulinho da Viola e que participaria ainda com seu instrumento de todas as faixas do LP, outro bamba Nelson Cavaquinho estreava também em disco como cantor e violonista e ao seu lado estavam os calouros de estúdio, Nelson Sargento tocando violão, Jair Costa, cavaquinho e Elton Medeiros na caixa de fósforos. Entre os compositores figuravam com destaque Cartola, Candeia e Zé Kéti.
O estúdio da Copacabana transformou-se numa verdadeira roda de samba e sem o saber perenizou um dos momentos mágicos da música popular brasileira reunindo artistas de um talento excepcional e revelando outros na mesma proporção. Elizete Cardoso num dos grandes momentos de sua carreira reafirmava a cada faixa o porque de ser considerada como Divina, sua estrela brilhou intensamente naqueles dias de gravação e contagiou a todos que estavam ao seu lado e que brilharam juntos. Unindo o tradicional e o moderno o disco traz na capa um trabalho do pintor Walter Wendhausen numa colagem perfeita que simboliza a imagem estilizada de um barraco e seus componentes básicos decorativos. Uma bela obra de arte e renovadora como conceito gráfico das capas de nossos LPs.
Elizete Sobe o Morro é uma das obras máximas de nossa discografia e representa a maturidade de nosso samba de raiz numa época em que o repique de um tamborim, a batida de um violão, o som de uma cuíca, de um agogô e de um pandeiro, aliados a mais pura poesia e uma voz maravilhosa fizessem o contraponto das contradições permitindo que o belo sobressaísse e se perenizasse na história conseguindo o que parecia impossível, que tivéssemos saudades de um tempo difícil.
Músicas:
01 - Vou partir
(Nelson Cavaquinho/Jair Costa)
02 - Malvadeza durão
(Zé Kéti)
03 - Folhas no ar
(Elton Medeiros e Hermínio Belo de Carvalho)
04 - Pecadora
(Jair Costa/Joãozinho)
05 - Rosa de ouro
(Hermínio Belo de Carvalho, Elton Medeiros e Paulinho da Viola)
06 - A flor e o espinho
(Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Guilherme de Brito)