No centenário de Jackson do Pandeiro, colecionador da PB encontrou 'Garota de Botafogo' em um compacto lançado em 1966. Descoberta também muda história de 'Frevo do Tri'.
Por Diogo Almeida, G1 PB
Quando a Seleção Brasileira foi campeã da Copa do Mundo pela segunda vez consecutiva, em 1962, o cantor e compositor paraibano Jackson do Pandeiro não perdeu tempo em homenagear os vencedores e lançou “Frevo do Bi”. Quatro anos depois, esperando o mesmo desempenho, o artista já preparava uma homenagem, mas a eliminação da competição na Inglaterra não só postergou o tricampeonato, como fez com que uma outra música, sem relação com o futebol, ficasse 53 anos “perdida”.
A descoberta da existência da música “Garota de Botafogo” coincidentemente aconteceu em 2019, ano em que se comemora o centenário de Jackson do Pandeiro. Jocelino Tomaz de Lima é um colecionador e pesquisador de Jackson que mora em Caiçara, a 130 quilômetros de João Pessoa. Ele preparava uma exposição itinerante do acervo dele e buscava adquirir outro disco quando fez o achado da música.
“Um dos discos que faltava na minha coleção era exatamente o primeiro registro da voz de Jackson gravado, o compacto simples de 1953 com ‘Forró do Limoeiro’ e ‘Sebastiana’. Em julho deste ano, achei o compacto à venda pela internet com um vendedor de Porto Ferreira, no interior de São Paulo, e consegui fazer a compra com ele”, explica Jocelino.
Parte do acervo de Jocelino Tomaz com obras de Jackson do Pandeiro — Foto: Jocelino Tomaz/Acervo pessoal
Miguel Bragioni, dono de uma coleção de vinis com mais de 120 mil unidades no acervo, contou que depois de finalizar a venda, mostrou para Jocelino outros discos de Jackson que estavam à venda, porém sem anúncio na internet. De cara, o colecionador paraibano compreendeu que estava diante de algo incomum.
“Quando me deparei com o disco com esse nome, ‘Garota de Botafogo’, estranhei logo de cara. Eu não sei 'de cor' os nomes das mais de 430 músicas de Jackson, mas como esse nome lembra o clássico ‘Garota de Ipanema’, seria fácil de se recordar a existência desta composição no repertório de Jackson”, conta Tomaz.
Para se certificar de que a canção realmente era uma música ‘perdida’ de Jackson, Jocelino buscou fontes bibliográficas sobre a história e a obra do cantor paraibano. Além da internet, o colecionador buscou informações sobre “Garota de Botafogo” no livro “A Musicalidade de Jackson do Pandeiro”, de Inaldo Soares, e em “Jackson do Pandeiro: o rei do ritmo”, de Antônio Vicente e Fernando Moura. Em todo lugar, Jocelino só encontrou a mesma resposta: nenhuma citação sobre a música.
“Pedi para o vendedor me mandar um áudio com a música e não só eu como também os autores Inaldo Soares e Fernando Moura confirmamos que era, de fato, a voz de Jackson e uma música ‘inédita’. Não perdi tempo, comprei o disco e assim tivemos acesso a uma canção esquecida por 53 anos”, comenta Jocelino Tomaz.
Miguel Bragioni Lima Coelho, colecionador de Porto Ferreira (SP) que vendeu o compacto "Frevo do Tri/Garota de Botafogo" para Jocelino Tomaz. — Foto: Miguel Bragioni/Acervo pessoal
A descoberta foi feita no ano do centenário, mas poderia ter acontecido há uma década. “Eu comprei esse compacto em um sebo de Ribeirão Preto, há uns 10 anos. Sempre fui ‘garimpeiro’ - identificava um disco que não tinha no acervo e, estando com o valor acessível, comprava. Eu sabia que esse compacto de Jackson era incomum e comprei”, comenta Miguel Bragioni, que repassou o bolachão para o colecionador paraibano por R$ 90.
A primeira exibição pública da faixa na Paraíba foi no dia 25 de julho de 2019, durante a programação de abertura do Festival de Artes Jackson do Pandeiro, em João Pessoa. Na mesma ocasião, Jocelino lançou o folheto “100 fatos dos 100 anos de Jackson do Pandeiro”. Veja a letra da música no final da reportagem.
Capa do compacto simples "Frevo do Tri/Garota de Botafogo" (1966), de Jackson do Pandeiro — Foto: Jocelino Tomaz/Acervo pessoal
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