Páginas

domingo, 30 de setembro de 2018

MAURÍCIO TAPAJÓS: SAUDADES DO GORDO

Por Luís Pimentel



Cantor e compositor com destacada folha de serviços prestados à música brasileira, especialmente na valorização dos artistas e na defesa dos seus direitos, Maurício Tapajós faria 75 anos em 2018; morreu muito novo, em 1995.

O Gordo, como apelidado pelos amigos, era filho do cantor, compositor, pesquisador da MPB e radialista Paulo Tapajós, irmão do ótimo compositor Paulinho Tapajós e da cantora Dorinha (uma daquelas lindas meninas que sedimentaram a estrada do Quarteto em Cy nos anos 70). Compôs em dupla com grandes letristas, como Paulo César Pinhero (Tô voltando), Aldir Blanc (Querelas do Brasil), Hermínio Bello de Carvalho (A Mangueira é lá no céu), Nei Lopes (A cidade se diverte), Cacaso (Carro de boi) e Capinam (A gente ama), entre outros parceiros e tantas outras melodias, construindo uma obra marcada pela canção de protesto e pela inspiração em temas nacionais.

Maurício, arquiteto por formação e criador por vocação, teve canções orquestradas pelo maestro Radamés Gnatalli e estudou arranjos com Ian Guest. Foi um melodista dos mais inspirados, que compunha e tocava violão com elegância e simplicidade. Sua luta pela dignidade da profissão – com a criação da gravadora Saci, de sociedades de direitos autorais como a Sombrás e a Amar, e na produção de inúmeros shows coletivos – foi sempre reconhecida pelos seus pares : no mesmo ano de sua morte foi realizado no Teatro João Caetano, no Rio, o show tributo "Amigos lembram Maurício Tapajós", com a participação de muita gente do meio musical, como o irmão Paulinho, Mu Carvalho, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Carlinhos Vergueiro, João Nogueira, Sérgio Ricardo, Cristina Buarque, Miúcha, Os Cariocas, O Trio, Cristóvão Bastos, Zezé Gonzaga, Célia Vaz, Alaíde Costa, Moacyr Luz, Marcos Sacramento, Paulo Malaguti, Elza Maria e Amélia Rabello, entre outros.

Em sua saudade, os amigos Moacyr Luz, Luiz da Vila e Aldir Blanc compuseram uma obra-prima, que num trecho diz assim:

“Gordo, ligaram pra mim sobre a hora do enterro/Foi trote, isso tudo não passa de um erro/Me encontra com o riso de sempre no bar...”

Maurício Tapajós é um nome para ser sempre lembrado e admirado.

sábado, 29 de setembro de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior


GRANDES MÚSICOS E COMPOSITORES DO NORDESTE – MARCONI NOTARO
Marconi Notari: um talento da psicodelia pernambucana anos 1970


Poeta e músico brasileiro, Marconi Notaro nasceu em Garanhuns, em julho de 1949 Foi um representante da cena musical psicodelica do Recife, na década de 1970.

Fez trabalhos com Ave Sangria, Zé Ramalho, Lula Côrtes, Lailson, Robertinho de Recife e outros.

Sua obra mais conhecida é o álbum “No Sub Reino dos Metazoários”, de 1973.


Fidelidade – Marconi Notaro – Álbum “No Sub-reino dos Metazoários (1973)



Recolho aqui texto do jornalista Fernando Rosa, do site “Senhor X”: – o LP ‘No Sub Reino dos Metazoários’ enquadra-se na linhagem de obras como os discos de Lula Côrtes & Lailson – ‘Paebirú’ e ‘Satwa’, clássicos da psicodelia nacional.

Em alguns momentos, ultrapsicodélico o disco abre com o samba ‘Desmantelado’ (composto por Notari em 1968), com regional formado por Notari, Robertinho de Recife, Zé Ramalho e Lula Côrtes.

A segunda faixa, ‘Ah Vida Ávida’, com ‘Notaro jogando água na cacimba de Itamaracá’, mais Lula na ‘cítara popular’ e Zé Ramalho na viola indicam o que vem a seguir, um misto de alucinada psicodelia com pinceladas da mais singela música popular, como o frevinho ‘Fidelidade’.


Desmantelado – Marconi Notaro – Album “No Sub-reino dos Metazoários” (1973)

O momento mais radical do álbum é a quinta faixa, ‘Made in PB’, parceria de Notaro com Zé Ramalho, um rockaço clássico, destacando a guitarra distorcida de Robertinho de Recife.

As músicas ‘Antropológicas 1’ e ‘Antropológica 2’, como a maioria das outras canções, são improvisos de estúdio, reunindo os músicos já citados, com ótimo resultado sonoro e poético.

O álbum, do catálogo da Rozenblit, espera uma cuidada reedição oficial. O LP original é praticamente impossível de ser encontrado, mas uma ótima cópia em CD já circula no universo de colecionadores.

Estampa do movimento: uma febre na época


A capa é um desenho de Lula Côrtes, tão chapado esteticamente quanto o som que o tosco papelão embalava, com uma foto de Marconi Notaro no centro, com o rosto dividido entre a capa frontal e a contracapa

“Antropologica 1”, de Marconi Notaro – Coletânea inglesa de música brasileira, lançada em 2011


Com produção do pessoal do grupo multimídia de Lula Côrtes e sua mulher Kátia Mesel, o disco foi gravado nos estúdio da TV Universitária de Recife e da gravadora Rozenblit, também na capital pernambucana.

Marconi Notaro faleceu no Recife, em 24 de outubro de 2000.

MÚSICA HEY JUDE, DA BANDA OS BEATLES, COMPLETA 50 ANOS

Composta por Paul McCartney, a faixa foi escrita durante o divórcio de John Lennon da primeira mulher

A música se manteve no topo da Bilboard nos Estados Unidos por nove semanas consecutivas.


A lendária música Hey Jude, da banda Os Beatles, completou, no último domingo (26), 50 anos. Um dos maiores dos sucessos da banda britânica, a canção se manteve no topo da Bilboard nos Estados Unidos por nove semanas consecutivas. 


Composta por Paul McCartney, a faixa foi escrita durante o divórcio de John Lennon da primeira mulher para animar a filha de 5 anos do seu parceiro musical. Ele estava apenas tentando me consolar e a minha mãe, relembra Julian Lennon à Rolling Stone. 


A obra estreou no Reino Unido no programa The David Frost show com a plateia se reunindo em volta da banda entonando, nos minutos finais, o inesquecível 'Nanananana'.


Mesmo após 50 anos, a canção continua sendo referência nos shows de Paul e com a mesma magnificência de quando foi lançada. 

Confira o clipe:


Fonte: Correio Braziliense

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

CANÇÕES DE XICO


HISTÓRIA DE MINHAS MÚSICAS

Quando Dominguinhos me mostrou esse choro, pedindo para que eu colocasse a letra, emocionei-me desde então. É uma melodia riquíssima, cheia de contornos harmoniosos próprios de gênios da estatura de José Domingos de Morais (que são pouquíssimos). Ao escutá-la com Elba Ramalho, nova cachoeira de emoções ao ouvir a voz da paraibana enfeitando nossa canção. Ainda hoje, sempre que a ouço, fico feliz pela oportunidade de ter tido seu Domingos como parceiro neste meu último trabalho – LUAR AGRESTE NO CÉU CARIRI, o Forroboxote 10. Felicidade apenas menor que a tristeza pela ausência do grande Mestre de nossa música popular brasileira.


ESTRELAS QUE SE ENCANTAM
Xico Bizerra e Dominguinhos

quem diz que uma sanfona não chora
está por fora, chora sim
ela é amiga e confidente de um violão plangente
de um cavaco e um bandolim
chora o pranto da beleza, sem tristeza ou soluçar
e em cada tecla em que debulha harmonia
desinventa a agonia pra essa vida se alegrar

quando uma estrela se espreguiça
e se enfeitiça com o luar
passa a brilhar toda dengosa
que nem pedra preciosa cobiçando o lapidar
outras estrelas se encantam e acalantam o sonhar
mas o brilho que emana lá de cima
reflete a obra-prima do brilho do teu olhar

a doce flauta quando se achega
terna e meiga só faz bem
saudade boa daquele que foi
certeza que um dia ele vem
e se delicia pintando o dia com as notas do amor
e até parece que a sua melodia
é uma fantasia desenhada pela flor

esse choro não vai findar, eu sei
pois o amor não vai deixar
enquanto houver a ternura assim cantada
a alma apaixonada da canção existirá

e assim sorrindo pela vida eu vou
de mãos dadas com o luar
vou sorrindo com a sanfona
tão alegre desse choro que é pra você não chorar

TITO MADI FOI CANTOR E COMPOSITOR REFINADO

Nos anos 50 ele contribuiu para modernizar a música brasileira

Por José Teles

Tito Madi, moderno nos anos 50


Falecido ontem, no Rio, aos 89 anos, em consequência de pneumonia e complicações renais, o paulista (de Pirajuí) Tito Madi (Chauki Madd, o nome real) foi um dos cantores com voz de “mormaço”, como se dizia então, que modernizaram a música popular brasileira no início da década de 50. Vítima de um AVC em 2008, pouco se ouvia falar em Tito Madi, que quase sempre era lembrado por Chove Lá Fora, um clássico da dor-de-cotovelo (de 1957), embora não se paute pela linha dramática do samba canção. Chove Lá Fora fez carreira internacional, em gravação de The Platters, em 1958. A versão em inglês, It’s Raining Outside é assinada por Buck Ram, autor de Only You (and You Alone). Os Platters gravaram mais duas composições de Madi.

Curioso é que a inspiração para a canção, que começa com os versos “A noite está tão fria/chove lá fora”, chegou num dia intensamente ensolarado. Tito Madi se encontrava de férias, em Pirajuí, protegendo-se da canícula, à sombra de uma árvore de copa frondosa, quando lhe veio a ideia para a música: “Fazia um sol forte, mas chovia dentro de mim”, esclareceu, em entrevista ao programa Ensaio, da TV Cultura.

Tito Madi, assim como Johnny Alf, entre outros, são considerados precursores da bossa nova, não pela interpretação sem vibrato e letras comedidas, e, sim, pelas harmonias sofisticadas, aprendidas dos músicos de jazz que escutavam. Madi lançou o primeiro LP de 10 polegadas em 1958, quando João Gilberto se tornou, de um dia para o outro, a sensação da música brasileira, em 78 rotações com Chega de Saudade. Dick Farney, Johnny Alf e Tito Madi identificaram na música que o baiano cantava ecos do que faziam já há algum tempo. Madi, em entrevista da época à revista Radiolândia, afirmava:

“Comecei em 55 a fazer samba falado e cantando baixinho”. Comparava-se a Tom Jobim: “No fundo não existe diferença entre a minha música e a de Tom. Ele faz as coisas com mais técnica, em se tratando de um maestro arranjador. Minha música é mais espontânea, e nasce quase sempre da tristeza”. Não citava João Gilberto nominalmente, mas lhe aplicou umas alfinetadas: “Estes sambas bossa nova são um pouco comerciais. Exemplo: as melhores composições de Tom Jobim, não são as mais vendidas ...” Ou seja, as que João Gilberto gravava, feito Chega de Saudade.




BOSSA

Farpas foram trocadas de lado a lado, culminando, em 1961, com os dois indo, para usar um termo da época, às vias de fato nos bastidores do Teatro Record, em São Paulo. O baiano ensaiava com Elizeth Cardoso, quando Tito Madi deu-lhe um soco. João Gilberto revidou quebrando o violão na cabeça do desafeto, que foi levado ao Hospital das Clínicas, com um corte no couro cabeludo. Só fizeram as pazes em 2008, quando João Gilberto convidou Madi para assisti-lo no Teatro Municipal do Rio. Tito Madi não pôde ir, na época estava debilitdo pelo AVC. João incluiu Chove Lá Fora no repertório do show.

Ao contrário de Ary Barroso ou Antônio Maria, críticos da bossa nova, Tito Madi mostrou que também sabia compor naquele estilo. Lançada por Wilson Simonal, em 1963, Balanço Zona Sul, tornou-se um clássico da bossa nova, com tantas, ou talvez mais, regravações quanto Chove Lá Fora. Madi acompanhou a evolução musical dos anos 60, da bossa nova para a MPB. Em 1968, lançou Tito Madi em Nova Dimensão, com arranjos e piano de Oscar Castro Neves e o violão de Rildo Hora. Nos anos 70, o samba-canção voltou à moda, agora chamado de música de fossa (fossa substituiu “dor de cotovelo) e ele fez sucesso com quatro discos dedicados ao estilo.

Tito Madi apresentou-se em público, pela última, em 2015, para divulgar o CD Quero Te Dizer Que Eu Amo, gravado com o pianista Gilson Peranzzetta: “Pouco antes de se internar ele teve uma grande alegria, que foi receber o CD da Nana Caymmi com músicas dele. Foi um CD inacabado que o produtor levou. Ficou muito realizado”, relatou Carmem Bulcão, filha do cantor. O cantor pernambucano Gonzaga Leal usou sua página no Facebook para lamentar a morte de Tito Madi, de quem era amigo, e para lhe prestar uma homenagem. O compositor o havia presenteado com a bossa Duas Janelas, uma parceria inédita com Capiba, que gravou no disco Gonzaga Leal canta Capiba... E Sentirás o Meu Cuidado.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*



"Samba-choro gravado em 21 de setembro de 1950 e lançado em novembro do mesmo ano, matriz 8797." (Samuel Machado Filho)



Canção: A vida do chofer

Composição: Walter Teixeira - Luiz Guilherme

Intérprete - Norma Ardanuy

Ano - Novembro de 1950

Disco - Odeon 13.058-B

* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

O TEMPO É O SENHOR DA RAZÃO

Em seu primeiro projeto fonográfico, Vivi Rocha sincretiza experiências vividas, temas atuais e ambíguos sentimentos tão inerentes a condução humana  

Por Bruno Negromonte


Resultado de imagem para Vivi Rocha


Nietzsche acreditava na teoria de que aqueles que se identificam completamente com sua época são os que primeiros fracassam e que, como o próprio tempo, passam e são aniquilados. Sou adepto do conceito de que na arte tal afirmativa faz-se também válida e  desse modo acaba sendo passiva de aceitação a necessidade de atribuir àquilo que é feito em forma de arte algumas características que podem corroborar para torná-la atemporal. Quantos fenômenos midiáticos hoje amargam o limbo do esquecimento? O contrário também acontece. Não por benesse dos grandes canais de comunicação, mas por uma série de características que acabam por eternizar. A resposta talvez seja resultado da soma de fatores que levam a esse tipo de contexto, e dentre esses qualificativos há quem defenda a ideia de que um dos mais notórios pressupostos que caracterizam uma obra de arte (seja ela em que campo for)  é o fato dela sempre buscar possibilitar uma próxima e renovada experiência, uma espécie de recomeço que posteriormente gerará outro, e mais outros e assim suscetivamente de modo interminável. Claro que esse tipo de experiência não pode ser dissociada do tempo e, talvez uma década já possa já possa ser suficiente para evidenciar toda essa teoria como pode-se ver a partir do trabalho da artista aqui em questão. Para além da filosofia teórica eis que existe o sentimento, a emoção e outros atributos que acabam por tornar qualquer vã teoria palavras ao vento como podemos perceber ao longo da audição de "Entreatos", um disco maturado por uma década e que chega para elencar dentro da música popular brasileira contemporânea o nome de Vivi Rocha, artista que, sem pressa, eterniza agora a sua plenitude a partir de uma boa obra que tem a capacidade de nos dizer algo sobre o espírito de seu tempo, e Vivi Rocha  para apresentar tal característica em letra e melodia a partir desse seu debute fonográfico. 



Cantora, compositora e instrumentista, Vivi Rocha traz consigo a consciência do tempo atemporal da arte. E maturá-la de modo solitário ao longo de uma década resultou neste seu primeiro trabalho solo autoral intitulado de "Entreatos". Formada em canto erudito pelo Instituto de Artes da UNESP e piano popular, Vivi traz em sua bagagem cerca de 10 anos na cena lírica paulistana, a artista decidiu reunir suas influências ecléticas e a vontade de discutir temas contemporâneos o que acabou por gerar um projeto composto por onze faixas totalmente autorais, tem início com "Aquilo que me falta", canção que nos remete aos ares portenhos através do notório ritmo imbuído de sentimentalismo e sensualidade que é o tango. Em um tom de romantismo "Num mesmo espaço" segue a linha jazzy e dentro das variáveis rítmicas o disco conta com a valseada On danse” canção de alterna português e inglês. Dando continuidade o disco apresenta faixas como  Aquilo que me falta”, Transpondo barreiras”, Mais amore a “Monólogos coletivos”, que cita “Não existe amor em SP”, do rapper CrioloO disco ainda com "Amor em baldeação", uma faixa que traz como temática principal desencontros e que ganhou um vídeo clipe. sob o roteiro de Rafael Frazão e Michele Carolina e que conta com as participações dos atores Karen Ka, Laura Sobenes, Jimmy Wong, Cléia Plácido e Pedro Galiza.



Vivi Rocha - Foto Karen Montija (18)"Entreatos" é uma síntese madura e bem feita das fontes a qual a cantora, instrumentista e compositora bebeu. O disco é o resultado de todo processo de maturação a qual a artista vem somando ao longo da última década dentro de todas as façanhas que conseguiu somar seja como participante do Coro Lírico do Theatro Municipal de São Paulo, seja como instrumentista, autora e arranjadora. "Entreatos" não apenas reafirma o talento da artista, mas oportuniza a vazão de um talento represado por anos a fio e que agora atende aos anseios daqueles sedentos por música de qualidade como pode-se afirmar ao ouvir o álbum. Na tessitura sonora do álbum estão, além da voz e piano de Vivi Rocha, nomes como Gilberto Assis (atuando no baixo e na produção do álbum), Luciana Silva (executando o clarinete),  Rodolfo Coutinho (bandolim), Luiz Sena (violoncelo) e Priscila Brigante (na bateria). O disco ainda conta com as participações de Ale Damasceno (também executando bateria), Matthew Taylor (fagote), Milena Salvatti (violoncelo) e Vicente Falek (acordeom)

Se "O tempo é a grande estrela modelando o artista ao seu feitio" como bem definiu Chico Buarque na canção "O tempo e o artista" não se pode afirmar, mas há de se levar em consideração (de modo até veemente) que, sem sombra de dúvidas, os anos acumulados como experiência artística de Vivi Rocha trouxeram-lhe um plus a mais ao já descomedido talento nato e que hoje evidencia de modo perene em "Entreatos". Vivi Rocha mostra-se como mais uma representante em tempos onde a visibilidade autoral da mulher dentro da música brasileira vem ganhando cada vez mais espaços. Seu lado instrumentista e autoral  reitera  a importância do gênero neste contexto que até pouco tempo atrás era, com algumas raras exceções, perceptivelmente masculino. Sua singular e abrangente sonoridade e poesia a elevam a um patamar de destaque dentro da conjuntura musical atualmente existente. Visceral, a sua poesia transcende o lugar-comum e as peculiaridades presentes nas relações humanas e interpessoais, levando-nos a crença de que música não é apenas, digamos, uma modalidade de poesia, mas sim a própria de modo cantada. Como bem sintetizou a própria artista, o álbum vem a ser um retrato de um processo intenso”. Um retrato pessoal que acaba por desnudar uma artista prenha de um talento que não merecia mais ser represado de modo algum. Sorte nossa, seus contemporâneos, que hoje temos a oportunidade de usufruir de toda essa plenitude artística que resultou em um álbum sem firulas, um disco que apesar de toda abrangência de ritmos faz-se coeso do início ao fim. Um disco que foge dos clichês mercadológicos que tomam conta dos grandes meios de comunicação existentes e talvez por isso (torço que não) acabe por tornar-se não pérolas ao porcos, mas pérolas aos poucos ouvidos que atentem para tamanha qualidade. 

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

GARGALHADAS SONORAS

Por Fábio Cabral (Ou Fabio Passadisco, se preferir)


Resultado de imagem para passa disco


Saco, saco mesmo é receber visitas de pessoas que não consomem mais mídias físicas e ficam fazendo apologia à "mudernidade" em plena loja de CDs.

Será que esses camaradas pensam que eu não sei que existem todas essas facilidades e que é por OPÇÃO que continuo, vendendo minhas velharias?

Sou feliz assim...

Vão arranjar uma lavagem de roupa ou pegar uma vassoura e varrer a Conde da Boa Vista, numa segunda feira ao meio dia!

CURIOSIDADES DA MPB

O filho de Renato Russo se chama Giuliano Manfredini e é fruto de um envolvimento rápido do cantor com a fã Raphaela Manuel Bueno. A jovem engravidou logo nas primeiras semanas do relacionamento com Renato, sumiu e só reapareceu quando Giuliano já tinha três meses. No mesmo ano, Raphaela faleceu em um acidente de carro e a guarda da criança ficou com os pais de Renato.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino


O que é canção? Domenico Lancellotti


Domenico Lancellotti



- O que é canção para você? 

A canção pra mim é o paradeiro. É o pai. As canções de meu pai eram gravadas por grandes nomes. Suas melodias contém um sentimento que atravessou o Atlântico e em Vila Isabel se misturou ao samba. Quando fiz minha primeira canção, antes de saber tocar instrumento, entendi que estava dando continuidade a um modo antigo. A urgência em registrar a idéia pra depois desenvolve-la e mostrar aos outros é visceral. O nascimento de uma canção nova é um ponto alto da vida.


- De onde vem a canção?

Acredito que o que hoje chamamos de canção é (assim como o teatro) um patrimônio do mundo ocidental e veio do encontro da música erudita com a cultura popular que no século vinte acabaram chegando (por caminhos diferentes) num ponto comum. E além da coisa musical, a canção muitas vezes é veículo para a poesia. O livro Música de invenção de Augusto de Campos começa falando da proeza da união da palavra e música nas canções provençais do século treze, dando a entender quão distante é nossa fonte. O meu trabalho com música as vezes parte da canção, mas tento dar um tratamento não convencional, usando outros estímulos sonoros que vieram do jazz, da música contemporânea da música antiga, ruídos e levadas.


- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?

Como estamos falando de canção vou citar em primeiro lugar Dorival Caymmi como representante máximo da cultura popular com o impressionismo francês. Tom Jobim, Cartola. É cruel escolher três, sem falar dos americanos. Ô século!

'CATRA É UM CASO EXISTENCIAL QUE O BRASIL DEVERIA AMADURECER PARA ESTUDAR', DIZ CAETANO VELOSO

Caetano Veloso e Mr. Catra dividiram o palco em 2016, no programa 'Bagulho louco', comandado pelo funkeiro no canal Multishow 




Em texto publicado em seu perfil no Facebook, junto ao vídeo em que ele o funkeiro performam em dueto a célebre Vaca profana, o veterano da MPB relembrou a ocasião em que conheceu o cantor carioca, de quem era amigo, bem como sua relevância no cenário cultural brasileiro: "É um caso existencial que o Brasil deveria amadurecer para estudar. O povo e tantos de nós amadurecemos para amar", disse o irmão de Bethânia.


Segundo o compositor baiano, Catra entrou em seu radar durante uma exibição do filme Orfeu (Cácá Diegues, 1999) em Vigário Geral, comunidade da Zona Norte do Rio de Janeiro, onde o funkeiro vivia e, àquela altura, já reunia muitos fãs. "Quando eu fui anunciado (no palco), um número simpático de moradores se aproximou e pude ver algumas caras atentas entre os que me ouviam. Mas a multidão se multiplicou e delirava ao grito do nome de Mr. Catra. Muita gente vinha dos barracos, gente que nem tinha se abalado para vir ver o filme", descreve Veloso."Ele representava coisas essenciais do ethos das periferias urbanas brasileiras. E era um cara alto astral, que sabia gostar de viver", finalizou. 



Confira a homenagem de Caetano Veloso a Mr. Catra na íntegra


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

PAUTA MUSICAL: CARLOS BARBOSA-LIMA

Por Laura Macedo




Carlos Barbosa-Lima é paulista radicado atualmente em Nova Iorque (EUA). Carrega na bagagem 50 anos de carreira e vivência dedicada aos universos erudito e popular do violão. Morando no exterior há quase quatro décadas, o músico faz raras apresentações no Brasil. Uma delas tive o prazer de assistir. Já gravou mais de 60 discos que vão desde a música clássica à tradição ibero-americana, ao jazz e aos trios latinos.

domingo, 23 de setembro de 2018

BIOGRAFIA REVELA A TRAJETÓRIA DO MULTIARTISTA MAURICIO TIZUMBA

Livro conta a história do ator, compositor, percussionista e cantor belo-horizontino

Por Márcia Maria Cruz 



Mauricio Tizumba investigou de onde vieram seus ancestrais. Ao participar do Projeto Brasil: DNA África, descobriu a origem deles: Camarões. A descoberta reforçou o desejo de contar a própria trajetória, que permite, ao mesmo tempo, reconstituir a história da presença dos negros em Belo Horizonte, sobretudo o candomblé e o congado, bem como traçar a luta deles por visibilidade no cenário artístico da capital.

A trajetória do multiartista é traçada em De Camarões: veredas de Mauricio Tizumba (Nandyala), biografia organizada por Elias Gibran e Pedro Kalil.

Pedro Kalil explica que o propósito não foi esgotar a história artística do biografado. “Queríamos que o texto se parecesse com Tizumba”, diz. A ideia de biografemas, conceito de Roland Barthes, permite que sejam apresentados eventos e momentos pontuais que ajudam a interpretar o conjunto de fatos da vida de Tizumba e suas realizações artísticas. “Barthes dizia que a biografia não serve para explicar a obra do biografado, mas momentos da vida podem ser simbólicos do que representa a obra”, afirma.

Na infância, Tizumba participou de programas de calouros na TV Itacolomi. Começou a tocar cavaquinho aos 12 anos. O livro mostra sua trajetória como crooner em bares em Belo Horizonte e momentos emblemáticos, como o ocorrido em 1979, quando ele venceu o Festival de Música Popular Brasileira realizado em Ouro Preto. Cantor, compositor e percussionista, ele fez teatro e cinema. O livro traz letras de canções, fotos e o certificado de ancestralidade informando que o artista descende do povo masa, mafa e kotoko, de Camarões. Também mostra sua profunda relação com o congado.


DE CAMARÕES: VEREDAS 
DE MAURICIO TIZUMBA
Org: Elias Gibran e Pedro Kalil
Editora Nandyala
224 páginas
R$ 30

sábado, 22 de setembro de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior



OS GRANDES MÚSICOS E COMPOSITORES DE NOSSA REGIÃO – ZÉ MANOEL

Zé Manoel: uma das grandes revelações da música brasileira


José Manoel de Carvalho Neto – Zé Manoel – é de Petrolina-PE, onde nasceu em 1980. Compositor, cantor e pianista lançou, em 2015, o elogiado disco “Canção e Silêncio”, com patrocínio do Natura Musical, produção musical de Carlos Eduardo Miranda e produção das bases adicionais de Kassin. Arranjos de orquestra de Fabio Negroni, Mateus Alves e Letieres Leite.

É considerado uma das gratas revelações da música pernambucana e brasileira. Zé Manoel estudou piano clássico com a professora Lúcia Costa, que lhe apresentou compositores como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Zequinha de Abreu, Chopin, Bach. Essa mistura de referências lhe aguçou o interesse pelas valsas, choros, tangos e lhe levou à música popular.


Água Doce – Álbum Canção e Silêncio – Zé Manoel


Aprendeu harmonia ouvindo Tom Jobim, standards de Jazz e tocando na noite. Aos 13 anos, foi recebido com surpresa pelos jurados do concurso para escolha do hino do centenário de Petrolina, presidido pelo também petrolinense Geraldo Azevedo, onde chegou até a final.

Por volta dos 18 anos, iniciou suas atividades profissionais fazendo piano bar. Em seguida, montou o grupo Chaleira Blues (com a cantora Camila Yasmine e o violonista e compositor Eugênio Cruz), onde iniciou as suas pesquisas sobre a música brasileira, especialmente a que foi produzida na década de 70.

Integrou, como acordeonista, a banda Matingueiros, além de acompanhar diversos artistas locais e de participar da banda dos musicais Pocket Shows do diretor de teatro Cássio Lucena.


Sol das Lavadeiras – Zé Manoel e Grupo Bongar


Em 2004, participou pela primeira vez do Festival Edésio Santos da Canção em Juazeiro – BA, onde foi premiado com a segunda colocação. Nesse mesmo festival, voltou a ser premiado com o terceiro lugar por 2 vezes e primeiro lugar por 4 vezes, nos anos posteriores.

Em 2005, escreveu e acompanhou ao piano a música tema do evento ”Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semiárido, da UNICEF”, cantada por um coral de 120 crianças num evento realizado na Ilha do Fogo, entre os estados de Pernambuco e Bahia, com a presença de representantes políticos, de comunidades e o embaixador da UNICEF no Brasil Renato Aragão, visando discutir projetos voltados para as crianças e adolescentes que vivem em situações de risco no semiárido brasileiro.

Em 2007, Zé Manoel muda residência para a capital pernambucana, onde inicia seus estudos acadêmicos na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no curso de Música – Licenciatura. Logo em seguida, sai em excursão no navio espanhol Sky Wonder, pela costa brasileira e uruguaia, onde atuou como pianista do quarteto de MPB Sobre As Ondas, liderado pelo cantor Gean Ramos.

Em 2009, grava o seu primeiro EP, homônimo, onde toca e canta suas próprias composições, com produção musical do também petrolinense radicado em Recife, Albérico Júnior.

Este trabalho lhe rendeu participações no projeto Observa e Toca Malakoff, no Festival RecBeat ambos em Recife, no Festival de Inverno de Garanhuns – PE e no festival Pré-Amp, que tem como premiação a gravação de um CD.

Com a premiação do Pré-Amp foi gravado o primeiro álbum do artista com as participações de músicos como Gilu Amaral da Orquestra Contemporânea de Olinda, Adelson Silva, baterista da Spok Frevo Orquestra do Grupo Bongar, Sergio Campelo do SaGrama, dentre outros, com produção de Carlinhos Borges e Albérico Júnior.


Quem não Tem Canoa Cai N’Água – Zé Manoel

Este disco também foi lançado no Japão pela editora Dessinne. A partir desse lançamento, várias portas se abriram para a carreira do pianista fora do estado e do Brasil.

Passou a integrar o casting da produtora francesa V.O. Music junto a artistas como Esperanza Spalding, Spok Frevo Orquestra, Milton Nascimento, Angelique Kdjo.

Participou como intérprete do álbum Beauty of The Night, do produtor alemão Meeco, junto a artistas como Eloisia (Nouvelle Vague), Joe Bataan, Jaques Morelenbaum, Freddy Cole, entre outros.

Teve duas músicas suas como parte da trilha sonora da série televisiva “Louco por Elas”, do diretor pernambucano João Falcão e lançou o Livro – CD infantil O Inventor do Sorriso, com o escritor Pernambucano Walther Moreira Santos, pela editora Melhoramentos.

Foi selecionado pelo edital Natura Musical 2013. Seu novo CD intitulado Canção e Silêncio (2015), quando contou com a presença do lendário Tutty Moreno.

O disco conta com arranjos do maestro baiano Letieres Leite, do pernambucano Mateus Alves e do carioca Fabio Negroni e tem as participações especiais de Juliano Holanda (Guitarra), Pupillo (Bateria), do percussionista Johann Brehmer e da cantora pernambucana Isadora Melo.

MUSICAL SOBRE A VIDA DE CLARA NUNES DESEMBARCA NO RECIFE

Apresentações acontecem em outubro, no Teatro RioMar



Na montagem, Clara Nunes é interpretada pela atriz Clara Santhana. Foto: Divulgação


Circulando pelo país inteiro há quatro anos, o musical 'Deixa Clarear' que conta a trajetória da cantora Clara Nunes, desembarca no Recife nos dias 20 e 21 de outubro. Pela primeira vez em Pernambuco, o espetáculo é uma homenagem a uma das maiores interpretes do Brasil e vai cumprir duas sessões no Teatro RioMar. As apresentações estão marcadas para acontecer às 21h no sábado (20) e às 19h30 no domingo (21). 

Com texto de Marcia Zanelatto e direção de Isaac Bernat, a montagem é protagonizada pela atriz Clara Santhana, que dá vida a artista mineira falecida em abril de 1983. Dirigido musicalmente por Alfredo Del-Penho, o espetáculo mistura música e poesia com acontecimentos importantes da carreira de Clara Nunes. De acordo com a intérprete da estrela, um dos objetivos da peça é manter viva a história de Nunes. “Nossa idéia é apresentar o legado da cantora para as novas gerações”, explica Santhana, idealizadora do projeto. A apresentação é acompanhada pelo quarteto de músicos: João Paulo Bettencourt (violão), Gustavo Pereira (cavaco/percussão), Pedro Paes (clarinete/sax), Michel Nascimento (percussão).

O repertório da peça é composto por clássicos de grandes compositores imortalizados na voz de Clara Nunes, como O Canto das Três Raças (Paulo Cesar Pinheiro/Mauro Duarte), Na Linha do Mar (Paulinho da Viola), Morena de Angola (Chico Buarque), Um Ser de Luz (João Nogueira/Paulo Cesar Pinheiro e Mauro Duarte), e O Mar Serenou (Candeia). 

Os ingressos para a apresentação já estão disponíveis, à venda na bilheteria do Teatro RioMar e no site www.uhuu.com. As entradas custam R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia) (platéia baixa lateral), R$ 100 (inteira), R$ 50 (meia) (platéia alta) e R$ 80 (inteira), R$ 40 (meia) (balcão nobre). 


Trajetória 

"Deixa Clarear, Musical sobre Clara Nunes" estreou em 2013, no pequeno e charmoso Teatro Café Pequeno, com 80 lugares, no Leblon (RJ), em homenagem aos 30 anos de morte de Clara Nunes. Após um curto período, a montagem ganhou os palcos de outros teatros, contabilizando 20 temporadas. Sem patrocínio, a montagem já foi vista por mais de 200 mil pessoas em todo o país. 


Serviço
Deixa Clarear, Musical sobre Clara Nunes
Quando: 20 e 21 de outubro, às 19h30 e às 21h 
Onde: Teatro RioMar, Av. República do Líbano, 251
Quanto: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia) (platéia baixa lateral), R$ 100 (inteira), R$ 50 (meia) (platéia alta) e R$ 80 (inteira), R$ 40 (meia) (balcão nobre).)
Informações: (81) 4003-1212


Fonte - Diario de Pernambuco

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

CANÇÕES DE XICO



DESENHANDO SÓIS E CHUVAS

Ainda menino, uma amiga que morava no frio disse-me que desenhado um sol no chão pararia de chover. E assim ela fez. O sol chegou, a chuva se foi e um quase calor abraçou-a. Nunca esqueci. Outro dia, no meio do sertão, com um sol tão sol e insistente brilhando no céu fiquei a imaginar: será que tem muita gente desenhando um sol no chão? E resolvi desenhar no meu chão uma chuva. Entristeci porque o céu ignorou por completo o meu desenho e a chuva não veio. Contando a história a um velhinho, parecido com meu avô, ele disse que eu deveria desenhar primeiro as nuvens que precedem o cair da água. Ao dizer-lhe que quando quero chuva não sei desenhar nuvens ele sorriu, e, com um graveto na mão, fê-las no terreiro à nossa frente. Daí a pouco a chuva caiu.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*



"Trata-se de um maxixe, gênero então praticamente desaparecido, mas que conheceria momentos de popularidade ocasionais, como aqui. Gravação de 6 de março de 1950, lançada entre esse mês e o de abril seguinte, matriz 2268. No acompanhamento, a Orquestra Tabajara de Severino Araújo." (Samuel Machado Filho)


Canção: Nêgo, meu amor

Composição: José Maria de Abreu - Luiz Peixoto

Intérprete - Marlene & Ivon Curi

Ano - Março-abril de 1950

Disco - Continental 16.186-B



* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

ATRIZ BIBI FERREIRA ANUNCIA APOSENTADORIA DOS PALCOS

Com 96 anos, a veterana segue orientações médicas e anunciou pausa para cuidar da saúde


Atriz e cantora Bibi Ferreira se aposenta voluntariamente depois de sucessivas internações. 

Atriz e cantora de 96 anos, Bibi Ferreira anunciou a aposentadoria dos palcos nesta segunda-feira (10). Em post publicado nas redes sociais da artista, a equipe explica a necessidade de uma vida mais tranquila e sem novas apresentações. Bibi também não concederá mais entrevista, nem as responderá por e-mail, como fazia anteriormente.

"Com três internações que teve esse ano, sempre em função de infecções oportunistas e exames, entendemos que ela já não teria mais a energia necessária para se apresentar no palco", diz a declaração. A nota ressalta que Bibi está saudável e não tem nenhuma doença, mas segue recomendações médicas para ter a rotina mais pacata e calma possível.

Ela agradece o carinho dos fãs e todos os anos de carreira. “Nunca pensei em parar, essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada! Bibi” 

Confira a publicação:



Fonte: Correio Brasiliense

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

FILHO DE ELIS REGINA, PEDRO MARIANO, LANÇA DISCO NOVO COM ORQUESTRA

Formado por 14 faixas, Pedro Mariano e Orquestra - DNA tem a regravação de Casa no campo, em que o compositor e cantor divide os vocais com a mãe Elis Regina

Por Adriana Izel 


DNA é o segundo trabalho do filho de Elis Regina ao lado de uma orquestra.


Há quatro anos, o cantor Pedro Mariano, filho de Elis Regina e César Camargo Mariano, lançou o primeiro projeto ao lado de uma orquestra. O projeto deu tão certo que garantiu uma espécie de continuação neste ano, com o CD e DVD Pedro Mariano e Orquestra — DNA. "Surgiu mais do acaso de uma oportunidade, do que efetivamente de uma projeção", admite Mariano.

Segundo o músico, ele estava em processo de composição para um outro tipo de álbum. "Era uma coisa que não estava nos planos. Eu gosto muito dessas interferências do acaso na nossa vida. Eu estava em estúdio para um projeto em que queria criar uma nova sonoridade. Tínhamos escrito um segundo projeto da Orquestra, mas não era para agora. De repente, tinha um patrocinador perguntando sobre o projeto e surgiu a oportunidade de fazer de novo", revela.


Diferenças

Diferentemente do primeiro projeto, dessa vez, Pedro Mariano fez a turnê pelo Brasil, para depois captar o material em uma das apresentações em São Paulo, no Teatro Alfa. Outra grande diferença foi o fato do artista já ter um repertório pronto e com uma sonoridade preconcebida, que daria origem a outro disco, e foi adaptado ao formato ao lado de uma orquestra. “Comecei a trabalhar com o Otávio de Moraes, maestro e diretor comigo no projeto, qual seria a real possibilidade de levar essa textura e todas as canções inéditas dentro do estúdio nesse ambiente com orquestra ao vivo. Esse foi o trabalho que a gente criou”, lembra.

Formado por 14 faixas, Pedro Mariano e Orquestra — DNA tem a regravação de Casa no campo, em que o compositor e cantor divide os vocais com a mãe Elis Regina, que gravou a faixa nos anos 1970. “Eu e meu irmão gravamos essa música no final do ano passado com o intuito de gerar uma fato novo para ela. Ela tocou no rádio e teve uma aceitação muito grande. Quando fui gravar o DVD tive vontade de criar um novo fato para mim. Cantar ao vivo com um vídeo dela num registro definitivo. Queria deixar eternizado. Teve seus desafios técnicos, mas conseguimos transpor”, explica o músico.

40 ANOS SEM ORLANDO SILVA, O CANTOR DAS MULTIDÕES

Orlando Silva marcou a música brasileira ao lançar clássicos do porte de “Carinhoso”, “Rosa” e “Aos Pés da Cruz”

Por Raphael Vidigal


“Orlando era muito gentil, não tinha nada de arrogante e era superengraçado. Lembro muito do jeito imponente dele ao falar. Ele fazia uma certa pose, como se fosse um antigo locutor de rádio.”Oswaldo Caldeira, cineasta



Antes de receber as mais de 200 regravações que a consagraram, “Carinhoso” foi recusada por Francisco Alves e Carlos Galhardo. Coube a Orlando Silva (1915-1978) lançar a melodia de Pixinguinha que recebeu letra de João de Barro, o Braguinha. A música tornou-se tão emblemática que, no velório de Orlando, foi cantada por Roberto Silva em sua homenagem. A morte daquele que ficou conhecido como o Cantor das Multidões completa hoje 40 anos. 

Em 1969, o belo-horizontino Oswaldo Caldeira dirigiu o primeiro documentário dedicado ao astro, intitulado, justamente, “O Cantor das Multidões”, em alusão ao epíteto criado pelo locutor Oduvaldo Cozzi. O curta-metragem, de 26 minutos, atualmente está disponível no YouTube. Como demonstram as imagens do filme, centenas de pessoas cercavam Orlando em aeroportos, carros, shows e restaurantes e se acotovelavam para vê-lo acenar das sacadas de hotéis.

“Orlando foi um fenômeno de massa. Eu o considero o maior cantor brasileiro de todos os tempos. Além de ser afinado e ter um timbre de voz especial, ele sabia escolher o repertório”, destaca Caldeira. O intérprete era sucesso, inclusive, entre presidentes. A marcha “A Jardineira” (Benedito Lacerda e Humberto Porto), por exemplo, foi lançada por Orlando no Carnaval de 1939, e era a preferida de Getúlio Vargas. Já Juscelino Kubitschek, admirador confesso de serestas, tinha a romântica “Lábios Que Beijei” (J. Cascata e Leonel Azevedo) como favorita. 

História. Nascido na zona Norte do Rio de Janeiro, Orlando estreou no rádio em 1934, acompanhando Francisco Alves, o Rei da Voz. A primeira gravação de impacto viria em 1935, com “A Última Estrofe” (Cândido das Neves). Entre os críticos, é quase unânime o entendimento que o auge artístico do cantor se deu num período de sete anos, entre 1935 e 1942, quando, após um acidente em um bonde, ele passou por uma cirurgia no pé e se viciou em morfina. Ícone da era de ouro do rádio, Orlando influenciou gerações. 

“Algumas pessoas colocam os cantores antigos no mesmo lugar, mas é diferente. Vicente Celestino e Francisco Alves eram operísticos, de voz empostada; Orlando e Silvio Caldas já eram mais ligados à malemolência do samba”, aponta o crítico musical Tárik de Souza. A tese é corroborada pela influência exercida sobre o Pai da Bossa Nova. “O primeiro disco de 78 rotações do João Gilberto, de 1952, é todo imitando o jeito de cantar do Orlando Silva”, afiança Souza. Caldeira apresenta outro herdeiro. “O Caetano (Veloso) regravou várias músicas do repertório do Orlando, inclusive imitando aquele ‘estilão’ que ele tinha de cantar”, complementa. 

Quem se debruçou sobre o repertório de Orlando na década de 90 foi o cantor Tadeu Franco. Em 1995 o mineiro de Itaobim gravou “Orlando”, com 16 canções, entre elas “Rosa” e “Aos Pés da Cruz”. “Orlando cantava com muita suavidade. No início da carreira ele tinha um agudo lindíssimo”, elogia Franco.


Sucessos eternos

“A Última Estrofe” (1935) 
“Dama do Cabaré” (1936) 
“Lábios que Beijei” (1937)
“Carinhoso” (1937)
“Rosa” (1937) 
“Juramento Falso” (1937) 
“Nada Além”(1938) 
“A Jardineira”(1939) 
“Aos Pés da Cruz" (1942)

terça-feira, 18 de setembro de 2018

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino



Ciranda do aborto

O horror fisiológico de um filho abortado tem muito em comum com o risco de viver, de "experimentar o experimental" (Oiticica), a vida. Seja a vida urbana, ou a do interior de nossa sociedade feia e desencantada. Parto dessa afirmação radical para pensar o plano interditado, a esperança morta, a violência de estar vivo e ser obrigado a se defender sorrindo de nossas frustradas revoluções individuais e coletivas presentes em imanência no disco Encarnado(2014), de Juçara Marçal. 

Encarnar é tirar sarro, é avermelhar (sangrar - vermelho de Matisse), é ter um corpo, é ser no mundo. Dos primeiros versos - "Não diga que estamos morrendo / Hoje não / Pois tenho essa chaga comendo a razão" - até os derradeiros - "E o que era belo / Agora espanta / E nome dele hoje é João Carranca", a performance vocal de Juçara Marçal me confirma que Encarnado é um disco fundador, que rompe com o conforto dominical, que diz ao ouvinte que este não tem mais o direito de ser ingênuo num mundo violado e violento.

A tudo isso, uma cama sonora composta de rock sujo, ruídos, zumbidos de um mundo interno dilacerado conjuga conteúdo de verdade. Não é à toa que "Ciranda do aborto" (Kiko Dinucci) aparece plugada sonoramente à anterior "Odoya" (Juçara Marçal). A tópica do materno conecta as duas canções. Se nesta o sujeito da canção pede a bença à "mãe cujos filhos são peixes", naquela temos a mãe cobrindo o amor na mortalha. O sujeito cancional passa de filho à mãe. "A ferida se abriu / Nunca mais estancou / Pra vc se espalhar / Laceado", canta ninando o agouro da morte.

Após "Ciranda do aborto" temos "Canção pra ninar Oxum" (Douglas Germano), afinal, depois da tragédia narrada, só resta ao sujeito cancional criado por Juçara cantar: "Chora não, Oxum / De que chorar? / Sonha viu, Oxum / Sem lágrima". Este percurso - de filha à mãe, de mãe à cantora da mãe - é singularmente percebido nas gestualidades vocais - sangue, água e sal - encarnadas e deslocadas por Juçara. Ou seja, cada sujeito-personagem tem alma própria, almas vindas de uma mesma voz urdida na experiência de quem tem uma carreira de mais de vinte anos, desde o grupo Vésper até o Metá Metá, passando pelo grupo A BARCA. Em todos, desenvolvendo trabalhos de pesquisa e experimentação no campo vocal, investigando formas de interditar a violência via arte.

A performance vocal de Juçara restitui certa fealdade arcaica. Recriam-se as máscaras mítico-canibalísticas que foram despotencializadas no despertar do sujeito romântico. O sujeito cancional em Juçara canta aquilo que Adorno chamou de "excedente grosseiro da materialidade", ao defender que o belo vem do feio. No feio encarnado no belo, Juçara denuncia o mundo. É também Adorno que escreve que "a dialética do feio absorve também a categoria do belo em si". Essa contradição é posta sem filtros na canção "Ciranda do aborto". O belo guarda e expõe o feio. Cabe ao ouvinte desembaraçar a memória historiográfica individual e coletiva para fruir e entender a cantada, girar na ciranda.

Poderíamos ouvir "Ciranda do aborto" como uma "Canção desnaturada n.º 2". Aquilo que na canção de Chico Buarque aparece como recusa - "Tornar azeite o leite do peito que mirraste / No chão que engatinhaste, salpicar mil cacos de vidro" -, na canção de Dinucci cantada por Juçara aparece como afirmação: "Vem despedaçado / Vem, meu bem querer / Vem aqui pra fora / Vem me conhecer". Nas duas canções identificamos a renuncia ao conhecimento racional e um elogio ao canto da dor. E a ênfase na objetividade das emoções psicológicas do instante abortivo confere a "Ciranda do aborto" uma outra zona sociologicamente crítica: o compadecimento do ouvinte. Não mais a mãe tirana, e sim a mãe saudosa daquilo que ainda não veio.

"Ciranda do aborto" gera um sentimento não excitado. Pelo contrário. E vem daí a sua beleza: espantamo-nos diante daquilo que até então intuíamos como sendo belo. A aparição plasmada do abortado que conhece a não-mãe promove uma ciranda de sensações (todas) torturantes. "Assim / saudades sim / simples / como um brinco tupiniquim / um coco de roda / cirandas voltas de tu em mim", como aparece no poema "Saudades", de Amador Ribeiro Neto. No caso do sujeito cancional criado por Juçara, saudades de um não-filho: "O agouro da morte / A se revelar / A vida sem endereço / E sem lugar pra ficar".


***

Ciranda do aborto
(Kiko Dinucci)


Passa na carne a navalha
Se banha de sangue
Sorri ao chorar
Cobre o amor na mortalha
Pra ele não acordar
Sente no fel deste beijo
O agouro da morte
A se revelar
A vida sem endereço
E sem lugar pra ficar

Vem despedaçado
Vem, meu bem querer
Vem aqui pra fora
Vem me conhecer

A ferida se abriu
Nunca mais estancou
Pra vc se espalhar
Laceado
Mas o chão te engoliu
Toda a lida findou
Pra vc descansar no meu braço
No meu braço
Aos pedaços