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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

40 ANOS SEM ORLANDO SILVA, O CANTOR DAS MULTIDÕES

Orlando Silva marcou a música brasileira ao lançar clássicos do porte de “Carinhoso”, “Rosa” e “Aos Pés da Cruz”

Por Raphael Vidigal


“Orlando era muito gentil, não tinha nada de arrogante e era superengraçado. Lembro muito do jeito imponente dele ao falar. Ele fazia uma certa pose, como se fosse um antigo locutor de rádio.”Oswaldo Caldeira, cineasta



Antes de receber as mais de 200 regravações que a consagraram, “Carinhoso” foi recusada por Francisco Alves e Carlos Galhardo. Coube a Orlando Silva (1915-1978) lançar a melodia de Pixinguinha que recebeu letra de João de Barro, o Braguinha. A música tornou-se tão emblemática que, no velório de Orlando, foi cantada por Roberto Silva em sua homenagem. A morte daquele que ficou conhecido como o Cantor das Multidões completa hoje 40 anos. 

Em 1969, o belo-horizontino Oswaldo Caldeira dirigiu o primeiro documentário dedicado ao astro, intitulado, justamente, “O Cantor das Multidões”, em alusão ao epíteto criado pelo locutor Oduvaldo Cozzi. O curta-metragem, de 26 minutos, atualmente está disponível no YouTube. Como demonstram as imagens do filme, centenas de pessoas cercavam Orlando em aeroportos, carros, shows e restaurantes e se acotovelavam para vê-lo acenar das sacadas de hotéis.

“Orlando foi um fenômeno de massa. Eu o considero o maior cantor brasileiro de todos os tempos. Além de ser afinado e ter um timbre de voz especial, ele sabia escolher o repertório”, destaca Caldeira. O intérprete era sucesso, inclusive, entre presidentes. A marcha “A Jardineira” (Benedito Lacerda e Humberto Porto), por exemplo, foi lançada por Orlando no Carnaval de 1939, e era a preferida de Getúlio Vargas. Já Juscelino Kubitschek, admirador confesso de serestas, tinha a romântica “Lábios Que Beijei” (J. Cascata e Leonel Azevedo) como favorita. 

História. Nascido na zona Norte do Rio de Janeiro, Orlando estreou no rádio em 1934, acompanhando Francisco Alves, o Rei da Voz. A primeira gravação de impacto viria em 1935, com “A Última Estrofe” (Cândido das Neves). Entre os críticos, é quase unânime o entendimento que o auge artístico do cantor se deu num período de sete anos, entre 1935 e 1942, quando, após um acidente em um bonde, ele passou por uma cirurgia no pé e se viciou em morfina. Ícone da era de ouro do rádio, Orlando influenciou gerações. 

“Algumas pessoas colocam os cantores antigos no mesmo lugar, mas é diferente. Vicente Celestino e Francisco Alves eram operísticos, de voz empostada; Orlando e Silvio Caldas já eram mais ligados à malemolência do samba”, aponta o crítico musical Tárik de Souza. A tese é corroborada pela influência exercida sobre o Pai da Bossa Nova. “O primeiro disco de 78 rotações do João Gilberto, de 1952, é todo imitando o jeito de cantar do Orlando Silva”, afiança Souza. Caldeira apresenta outro herdeiro. “O Caetano (Veloso) regravou várias músicas do repertório do Orlando, inclusive imitando aquele ‘estilão’ que ele tinha de cantar”, complementa. 

Quem se debruçou sobre o repertório de Orlando na década de 90 foi o cantor Tadeu Franco. Em 1995 o mineiro de Itaobim gravou “Orlando”, com 16 canções, entre elas “Rosa” e “Aos Pés da Cruz”. “Orlando cantava com muita suavidade. No início da carreira ele tinha um agudo lindíssimo”, elogia Franco.


Sucessos eternos

“A Última Estrofe” (1935) 
“Dama do Cabaré” (1936) 
“Lábios que Beijei” (1937)
“Carinhoso” (1937)
“Rosa” (1937) 
“Juramento Falso” (1937) 
“Nada Além”(1938) 
“A Jardineira”(1939) 
“Aos Pés da Cruz" (1942)

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