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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

CANÇÕES DE XICO



TREM DE IR EMBORA

Deixei o passarinho que cantava na minha janela cantando na minha janela. E fui. Minha cidade passava na janela sem passarinhos do trem. Deixei também a menina dos olhos pretos e seus olhos pretos olhando pra mim. Derramei-me na estrada, sobre os trilhos, fumaça nas nuvens embaçando meus olhos já embaçados de saudade grande. E fui. Tinha que ir, estudar, ser gente. Na primeira curva da estrada a fumaça se misturou com uma lágrima que não se conteve. Tentarei descobrir em que mar deságua o rio, aguazinha tão pouca, que banha minha aldeia. Vou pra capital. Tanta infância vou deixando para trás. Quantas ave-marias e seis horas deixarei por lá. Minha meninice ficará perdida em um lugar qualquer, longe do Crato. Na bagagem, tristeza e dor, um não-saber se vou voltar. E, mais forte que tudo, o meu não-querer ir debruçado num sol que abria caminho para a Maria-Fumaça, deflorando um sertão cada vez mais longe da minha cidadezinha do interior.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*



"No original, esta valsa, composta em 1926, se intitula "In a little Spanish town". A versão brasileira, de autor desconhecido, saiu pela Parlophon na voz do tenor Celestino Paraventi (1898-1985) em abril de 1930, disco 13124-A, matriz 3218. O intérprete gravou, entre 1928 e 1931, onze discos 78 com vinte e uma músicas, e mais um com duas músicas em 1944. Foi proprietário da tradicional torrefação do Café Paraventi de São Paulo ("Paraventi é o que é... só café!"). Há uma outra letra brasileira desta composição, com o nome de "Fim de semana", assinada por Aloysio de Oliveira." (Samuel Machado Filho)



Canção: Em uma pequena aldeia da Espanha

Composição: Mabel Weyne - Sam Lewis - Joe Young

Intérprete - Celestino Paraventi - Orquestra Paulistana 

Ano - 1930

Disco - Parlophon 13124-A


* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

GARGALHADAS SONORAS

Por Fábio Cabral (Ou Fabio Passadisco, se preferir)


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O senhor deveria vender agendas, pois CDs ninguém compra mais... Ouvem no celular.

E a senhora não sabe que se pode agendar os compromissos no celular?

terça-feira, 28 de agosto de 2018

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*



O que é canção? Ana Clara Horta

Ana Clara Horta


- O que é canção para você? 
Canção é poesia, histórias, cheiros, amores, alma.

- De onde vem a canção? 
A canção vem do mais profundo do meu ser.

- Para que cantar?
Cantar, canto para transbordar os afetos, contar histórias e me comunicar com o íntimo de cada ouvinte.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho. Por que estes?
Djavan, pela riqueza das letras, da harmonia e do ritmo. Monica Salmaso pela clareza no canto, afinação ímpar e sensibilidade na escolha dos repertórios. Esperanza Spalding, virtuosismo no instrumento e no canto, carisma, e profundo conhecimento da música como um todo, harmonia e melodia.




* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

ODAIR JOSÉ, 70 ANOS

Músico é considerado porta-voz das empregadas, prostitutas, homossexuais e outras minorias discriminadas.

Por Raphael Vidigal


Novidades. Disco de inéditas do cantor vai trazer 11 faixas autorais


Todas as músicas de sucesso do repertório de Odair José foram lançadas por ele na década de 70. Algumas resistiram ao tempo, como “Pare de Tomar a Pílula”, “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”, “A Noite Mais Linda do Mundo” e “Cadê Você”, entre outras, e são cantadas a plenos pulmões por jovens de uma geração que mudou o status do ídolo: ele passou de brega a cult. 

Prestes a completar 70 anos – o aniversário é nesta quinta, dia 16 –, o intérprete, que até hoje é conhecido como “o cantor da pílula”, quer voltar ao passado de glórias. “Eu voltei a ser o que era, sou o Odair dos 70, mas é da década de 70”, brinca. A mudança, segundo ele, tem a ver com uma tomada de consciência que interferiu diretamente em seu processo de composição. 

“O ano de 1973 foi o ‘ano Odair José’. Todas as músicas daquele disco fizeram sucesso e tocaram no rádio, o que é uma coisa muito rara. Mas isso aconteceu porque eram músicas verdadeiras, úteis, com conteúdo. Dos anos 80 a 2000, meus álbuns foram irrelevantes, em cima do muro”, pondera. A nova atitude norteia o álbum “Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio”. 

O primeiro trabalho de inéditas desde “Gatos e Ratos” (2016) está previsto para chegar à praça em novembro, e traz 11 faixas autorais, entre elas as três que o batizam: “Hibernar”, “Na Casa das Moças” e “Ouvindo Rádio”. “O conceito do disco é que eu estou hibernando na casa das moças, ou seja, um prostíbulo, onde todos os fetiches são liberados: sexuais e no uso de drogas e bebidas. E tudo chega pelo rádio, as conversas sobre política e o que acontece no mundo”, diz o músico.

Rótulos. Apesar do êxito comercial, Odair se acostumou a conviver, ao longo de sua trajetória, com uma série de polêmicas. Convidado por Caetano Veloso para se apresentar com o baiano no Phono 73 (festival de música realizado no Anhembi, em São Paulo), foi vaiado pelo público. A ópera-rock “O Filho de José e Maria”, de 1977, o levou a ser excomungado pela Igreja Católica, porque o protagonista usava drogas e tinha dúvidas a respeito da própria orientação sexual.

Como se não bastasse, Odair foi o segundo artista com mais músicas censuradas pela ditadura militar, atrás apenas de Chico Buarque. Nada disso, porém, o incomodou tanto quanto o rótulo de “brega”. “Acho de mau gosto chamar a música dos outros de brega, o olhar preconceituoso é horrível”, critica. Em 2018, porém, a luta de Odair contra a discriminação foi compensada. Ele recebeu o Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade, organizado pelo movimento LGBT de São Paulo, cidade que o goiano escolheu há três décadas para viver. 

“Sempre defendi a prostituta, a empregada, o homossexual, o cara que fuma maconha. A pior censura é a dos hipócritas. Eu gosto de falar de coisas atrevidas, porque estamos num momento de muita intolerância e hipocrisia”, finaliza Odair.


Cantor fala do início e da política atual

Embora não seja um conhecedor de numerologia, fato é que Odair José tinha 7 anos quando ganhou o seu primeiro instrumento musical. Foi com essa idade que ele recebeu de presente de aniversário o cavaquinho que guarda até hoje. Em seguida, passou para o violão. “Nunca tive nenhum ídolo cantor, sempre admirei o guitarrista ou o compositor. Achava o Tom Jobim o máximo. Eu não fazia aquele tipo de música porque não sabia”, conta Odair. 

Beatles, Luiz Gonzaga, Led Zeppelin, Emilinha Borba, Frank Sinatra, Tonico & Tinoco e Roberto Carlos chegavam na casa do garoto por meio do rádio, em Morretes, no interior de Goiás. Atualmente, ele têm preferido a internet. “O melhor do momento são os alternativos, que estão fora da mídia”, afirma. Atração do Festival Lula Livre, no Rio, ele se diz “preocupado com o futuro”. “Sou povo e tenho minha opinião, acho que o Lula está sendo injustiçado”, conclui.



Discos célebres
“Assim Sou Eu...”, de 1972, trazia o sucesso “Esta Noite Você Vai Ter que Ser Minha”.
“Odair José”, lançado em 1973, colocou as 12 faixas no rádio, como “Pare de Tomar a Pílula”.
“Lembranças”, de 1974, emplacou a romântica “A Noite Mais Linda do Mundo”.
“Odair”, de 1975, tem arranjos de Luiz Cláudio Ramos, músico que acompanha Chico Buarque.
“O Filho de José e Maria”, de 1977, foi a ópera-rock que lhe rendeu uma excomungação.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

PAUTA MUSICAL: ROSINHA DE VALENÇA

Por Laura Macedo


Maria Rosa Canelas (Rosinha de Valença) 
*30/7/1941 Valença, RJ 
+10/6/2004 Valença, RJ


A violonista e compositora Maria Rosa Canelas (1941-2004) foi uma das pioneiras de sua época a se destacar em um território dominado por homens.

O cronista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, costumava dizer que ela tocava por uma cidade inteira e, por isso, rebatizou-a como Rosinha de Valença.

O estilo de Rosinha sempre foi vigoroso – violão cheio, volume alto, pegada forte na mão direita. A exemplo de Baden Powell, com o qual era frequentemente comparada, tinha predileção por temas afro-brasileiros.

Infelizmente, em 1992, Rosinha sofre uma parada cardiorrespiratória, entra em coma e é levada para Valença, onde fica aos cuidados de sua irmã por doze anos.

Como aluna do FENAVIPI (Festival Nacional de Violão do Piauí) tive a oportunidade (juntamente com outros colegas), de batermos um papo informal com o violonista Turíbio Santos que nos revelou: sempre que ia visitá-la tocava pra ela e, no íntimo, acreditava que mesmo em coma, ela escutava o som do meu violão...

domingo, 26 de agosto de 2018

THIAGO RAMIL REÚNE CENA LOCAL E ELEVA TOM POLÍTICO EM NOVO DISCO

Artista gaúcho ressalta possíveis interpretações do título, "EmFrente": de seguir em frente a criar frentes de atuação

Por Gustavo Foster 


Thiago Ramil gravou disco em estúdio localizado "a cinco quadras" de onde passou a infância, na Zona Sul de Porto AlegreGuilherme Bragança / Divulgação


Após um período em que parecia anestesiada, a música brasileira de vanguarda retoma seu espírito crítico e sua vigilância social em produções recentes, como EmFrente, disco que Thiago Ramil apresenta nesta quinta-feira no Theatro São Pedro. Sucessor de Leve Embora –indicado ao Grammy Latino e vencedor de dois Açorianos –, o disco reflete e debate o momento nacional, trata de questões contemporâneas e agrega vozes relevantes do cenário local.

– O disco parte de uma busca por reunir pessoas e encontrar soluções conjuntas para conseguir se manter e dar vida a trabalhos artísticos e expressões culturais neste contexto em que está cada vez mais difícil viabilizar as coisas. O título do disco já traz perspectivas importantes sobre isso. EmFrente pode ser interpretado no sentido do enfrentamento, que é algo necessário, de estar atento ao que vem em frente e, principalmente, em se reunir para criar frentes.

EmFrente é colaborativo da concepção à realização: tornou-se possível graças a um projeto de financiamento coletivo que arrecadou mais do que precisava por meio de 241 doações. Foi gravado em um estúdio na Zona Sul de Porto Alegre, "a cinco minutos" da casa em que Thiago passou a infância, com a participação de uma série de músicos da cena local.

Gutcha Ramil (percussão, violino e vocal), Andressa Ferreira (percussão), Guilherme Ceron (baixo), Lorenzo Flach (guitarra), Pedro Petracco (bateria) e Felipe Zancanaro (percussão e efeitos) deixaram sua colaboração no estúdio e estarão no Theatro São Pedro na noite desta quinta-feira, quando o músico volta ao palco mais nobre da Capital, que também conhece como poucos. 

Desde cedo, acostumou-se a ver tios (Kleiton, Kledir e Vitor), primo (Ian) e irmã (Gutcha) se apresentarem no teatro:

– Voltar para o Theatro São Pedro é muito importante, porque é um espaço muito significativo não só para a cidade, mas para a minha história. Vi minha família lançar discos lá, me apresentava com a escolinha tocando violino. É um lugar que tem valor afetivo gigante – conta.

Na apresentação, Thiago deve apresentar faixas como Ela, em que trata, com instrumental ao estilo Radiohead, da rotina de uma mulher; Se Sente, parceria com Paola Kirst que é uma das mais interessantes do disco; e a quase-pop Poréns. Músicas compostas, em grande partes, após o período de ressaca de Leve Embora.

– Tem um período depois do lançamento em que o cara fica meio parado, para poder respirar. Depois, volta a compor. Recebi muitos compositores na minha casa, de manhã. Ia lá para os fundos e deixava o processo intuitivo ir nos levando. Isso foi muito importante e acho que ajudou a criar o espírito do disco.

Se lançar um segundo disco já é angustiante, lançá-lo após receber troféus pode ser ainda mais desafiador. Thiago, no entanto, prefere lidar com a situação sem criar expectativas:

– Pretendo fazer as coisas com sinceridade e ao lado de pessoas em que acredito. Acho que isso faz com que o trabalho seja reconhecido como verdadeiro.

‘TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENSES’, O DISCO MANIFESTO COMPLETA 50 ANOS

Por Julinho Bittencourt



O álbum, lançado em julho de 1968, trazia reunidos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Tom Zé, Os Mutantes, Gal Costa, Capinam, Torquato Neto e Rogério Duprat



Neste ano faz 50 anos que foi lançado o disco/manifesto “Tropicália ou Panis et Circenses”, que reunia Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Tom Zé, Os Mutantes, Gal Costa, Capinam, Torquato Neto e Rogério Duprat.

Com o intuito inevitável de provocar, sob o signo da insolência, jovens e talentosos artistas que marcaram definitivamente a vida nacional para a próxima metade de século, construíram neste álbum, muito mais do que música, uma atitude que, por mais irônico que pareça, ficou completamente fora do eixo nestes dias tão enquadrados.

Mas a música também vale, e muito, sobretudo toda e qualquer música. Caetano cantar a grandiloquente e dramática “Coração Materno”, de Vicente Celestino equivaleria a algo como regravar Márcio Greyck, Odair José ou um funk das favelas do Rio, coisa que o inquieto baiano faz até hoje.

Mas o disco tem mais, muito mais. Com a capacidade de ir do extremo lírico ao extremo popular, passando pela arrasante canção “Geleia Geral”, onde Gil declama e interpreta os profusos versos de Torquato Neto, o disco faz jus à lenda que gerou, tanto pela qualidade sonora, pelos arranjos de Rogério Duprat quanto pela pura provocação em si mesmo.

Trata-se, conforme confessou Gilberto Gil anos depois, de um projeto de Caetano Veloso. O leonino provocador com a sua sede por polêmicas, transformações e reviravoltas, liderou a fuzarca. Ao lado dos meninos Mutantes e Tom Zé, reinventou sons que iam de Beatles às rumbas caribenhas, macumba e Hino ao Senhor do Bonfim. Toda essa reapropriação cultural que veio a explodir décadas mais tarde já era prevista pelos tropicalistas.


Agregadas, as lindas vozes femininas de Gal Costa – com as transformadoras “Baby” e “Mamãe Coragem” – e Nara Leão, com a enigmática “Lindonéia”, inspirada na obra Lindonéia, a Gioconda dos Subúrbios, de Rubens Gerchman, reequilibram o lirismo e a cultura pop, conflito de gerações e erudição.

A prosaica marcha “Parque Industrial”, contribuição do baiano Tom Zé, reinaugura a narrativa do escárnio satirizando a publicidade e seus produtos, garotas propaganda, jornalismo popular e o banco de sangue engarrafado, tudo made in Brazil.

A emblemática faixa título foi uma das tantas do disco que ganhou carreira própria. Foi regravada várias vezes e o seu refrão se repete sempre que nos pegamos repetindo o passado: “Essas pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer”.

No final das contas, o disco fica centrado em desmontar e recriar tradição, pátria e família em “Miserere Nobis”, de Gil e Capinam, onde a Bíblia e o fuzil se misturam em trocadilhos sem cerimônia. Restava passear escondido, enquanto seu lobo não vem, enquanto a canção faz a nem tão ingênua menção aos clarins da banda militar de Caymmi.

Um disco que merece ser ouvido pela revisão histórica que faz, pela irreverência e qualidade poética, pelos arranjos, pelos cantores e as composições. Um disco que sempre vai nos ensinar muito sobre o Brasil.

sábado, 25 de agosto de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA



Por Joaquim Macedo Junior


OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO – ANTÔNIO MENESES
Antonio Meneses: o virtuoso que Pernambuco deu ao mundo!


Uma coisa puxa a outra. Encerrado o concerto da OSESP sábado retrasado, era inevitável visitar a loja de discos, cds, dvds e outras mídias da Sala São Paulo.

O problema dessa loja é que a visita despretensiosa se torne sedução irresistível e você decida comprar algum produto. Como são quase 100% importados, os preços ficam muito altos, inacessíveis mesmo.

Acabara de ouvir peças de Richard Wagner e Béla Bartok, com a Sinfônica de São Paulo e estava ainda com a audição aberta em plenitude.

No caixa, para não sair de mãos abanando, encontrei um cd de Antonio Meneses, com o pianista André Mehmari, por R$ 20,00.

Antonio Meneses e André Mehmari executam “Baião de Dois”, de Mehmari
Na apresentação do cd, Danilo Santos de Miranda, diretor geral do SESC de São Paulo, que produziu o disco, afirmou que era o primeiro trabalho de Meneses com repertório de música popular, gravado no Brasil.

De imediato, coloquei no som do carro e continuei ouvindo música de altíssima qualidade, agora em trânsito para casa.

Meneses e Mehmari


O disco traz Bach, Astor Piazzolla, Tom Jobim, André Vitor Correa. Entre estas, um frevo, uma valsa, um choro e um baião, de autoria de Mehmari, dando o tom da busca de Antonio Meneses por uma música mais próxima de sua juventude.

Antonio Meneses – Bach – Sarabande

Antonio Meneses nasceu no Recife, em 23 agosto de 1957 (aniversaria, portanto, esta semana) e é radicado na Suíça.

Filho do trompista João Jerônimo Meneses, foi morar no Rio de Janeiro no primeiro ano de vida. O pai foi convidado para integrar o elenco do Theatro Municipal do Rio.

Começou a aprender violoncelo, participando de vários concursos. Aos 17 anos, foi estudar na Europa. Torna-se aluno da Escola Superior de Música de Düsseldorf, depois de Stuttgart, ambas na Alemanha.

Em 1977, venceu o Concurso Internacional de Munique, derrotando, por unanimidade, 40 candidatos. Apresentou-se com as Orquestras Filarmônicas de Moscou, São Petersburgo, Nova York e Israel, além das Sinfônicas de Londres, da BBC e Viena, bem como da Concertgebopuw, de Amsterdã e da Suisse Romande. Participou de gravações com a Filarmônica de Berlin e Herbert Von Karajan.


Antonio Meneses em Maringá (PR) – Villa-Lobos: Bachianas Brasileiras No. 5 Aria (Cantilena)
Seu instrumento é um Matteo Goffriler, do século 18 (equivalente, entre os violoncelos, ao violino Stradivarius).

Em 2011, os jornalistas João Luiz Sampaio e Luciana Medeiros entrevistaram Antonio Meneses, em decorrência de uma pausa forçada causada por um tumor benigno no pulso direito. A entrevista resultou no livro “Antonio Meneses – Arquitetura da Emoção”, acompanhado de um CD com obras solo e com participação do pianista Luiz Fernando Benedin.

André Mehmari

Pianista, arranjador, compositor e multi-instrumentista, músico de destaque no cenário nacional, é autor de composições e arranjos para algumas das formações orquestrais e câmera mais expressivas do país, como OSESP, Quinteto VIlla-Lobos, OSB, Quarteto de Cordas da Cidade de S.P, entre outros.

Como instrumentista, já atuou em importantes festivais brasileiros como Chivas, Heineken, Tim Festival e no exterior, como Spoleto USA e Blue Note Tokyo. A discografia já reúne oito cds solo, além de participações em numerosos projetos.

André Mehmari nasceu em Niterói em 22 de abril de 1977 e encontra a música ainda na primeira infância, influenciado pela mãe, a quem assistia tocar piano na sala de casa. O interesse pela música persiste e aos oito anos, ingressa numa escola de música em Ribeirão Preto, para onde a família havia se mudado.
Nessa época, descobre o jazz e a improvisação. Aos 11 anos, inicia carreira profissional e aos 13, integra trios, quartetos e faz apresentações solo em casas especializadas em jazz.

Desta época, datam as primeiras composições e arranjos para grupos musicais da cidade.

A precocidade do jovem músico vira notícia na TV, jornais e revistas. Ainda adolescente, começa a ensinar música e compõe pequenas peças de caráter didático, a convite de uma escola de música local. O resultado, 21 Peças Líricas um moderno complemento para musicalização infantil, aplicado com grande sucesso.

Por duas vezes, é selecionado para participar como bolsista do Festival de Inverno de Campos do Jordão (1993 e 1994).

Em 93, é orientado por Roberto Sion e Gil Jardim, integrando a big band do festival, com a qual atuou até 96.

Em 94, tem a oportunidade única de conhecer o lendário maestro Moacir Santos, participando de sua classe de arranjo.

Depois, realiza seu primeiro concerto com composições próprias no Festival Internacional Música Nova, em Ribeirão Preto (1995).



Pouco depois, retornaria para o Festival de Inverno de Campos do Jordão como solista, acompanhado pela Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo (1999).

FERNANDO TORRES DIVULGA “TODO SONHO NOVO É MADRUGADA”: O MAIS NOVO LANÇAMENTO DA MPB PERNAMBUCANA






O músico, cantor e compositor paulista radicado em Recife, Fernando Torres, lançou, no último dia 20 de julho, sua mais nova música autoral. Composta em parceria com o músico Rodrigo Carneiro, baixista da banda Palhaço Paranoide, “Todo sonho novo é madrugada” é uma canção com influências de vários nomes da MPB, a exemplo de Boca Livre, Milton Nascimento e Oswaldo Montenegro. “A inspiração vem de um caldeirão musical de trabalhos que acompanho há muito tempo. Sou fã da musicalidade dos compositores de Minas Gerais, desde o Clube da Esquina e tenho muita admiração por outros músicos como o João Alexandre e a dupla Sá e Guarabira”, conta o compositor.

Amigos de longa data, Fernando e Rodrigo compuseram “Todo sonho novo é madrugada” em uma parceria respectiva de música e letra. A dupla, agora, repete a dose em mais uma bela composição. A música foi gravada em um formato acústico, tendência atual do compositor, e contou com o talento do pianista Kelsen Gomes e do violonista Rodrigo Leite.

Presente em publicações de diferentes plataformas digitais (Facebook, Instagram, Youtube) o clipe de “Todo sonho novo é madrugada” soma 16.961 visualizações com dez dias de lançamento e vem atraindo mais admiradores. 


FERNANDO TORRES – Doutorando em Musicologia/Etnomusicologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é mestre em Musicologia/Etnomusicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Atualmente é professor efetivo do Centro de Educação Musical de Olinda (CEMO). Como pesquisador, escreveu o livro Bossa Nova fora do eixo: Uma história da Bossa Nova na capital pernambucana, lançado em 2015. No ano seguinte, apresentou, juntamente a Daniel Vilela, o trabalho Bossa Nova e Jequibau no XII Congresso da Asociación Internacional para el estudio de la música popular, rama América Latina em Havana, Cuba.

Como cantor e compositor participou de grandes festivais de música, em todo o país, sendo premiado em alguns deles, como o Festival Nacional de Música. Dividiu palco com artistas como Oswaldo Montenegro e Guilherme Arantes. Participou do espetáculo O Baile do Menino Deus por três anos consecutivos. Gravou um DVD ao vivo, com composições autorais, no SESC de Casa Amarela, no Recife, em 2007 e possui um CD com composições autorais gravado em meados de 2004. Fez shows nos carnavais do Recife nos anos 2000 por três anos consecutivos. Participou do projeto “Música é Vida!” em parceria com o Conservatório Pernambucano de Música e a Secretaria Estadual de Saúde, levando música aos pacientes dos hospitais públicos do Estado de Pernambuco.


Fonte: Revista algomais

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

CANÇÕES DE XICO



HISTÓRIA DE MINHAS MÚSICAS

Mais uma do disco SER TÃO CRIANÇA, Forroboxote 7, apelidado carinhosamente de FORROBOXOTINHO. Foi um trabalho dedicado às crianças e que teve uma ótima aceitação de público e de crítica. São poesias tendo por base temas telúricos, com melodias regionais – xotes, baiões, xaxados, arrasta-pés. A interpretação do Xote em destaque nesta semana é de Cristiane Quintas, contadora de histórias e grande intérprete musical.

LUA
Xico Bizerra e Roberto Cruz

uma lua pode ser minguante
mais adiante ela vai crescer
uma lua às vezes é crescente
lá na frente ela vai se encher
uma lua pode ser cheinha
e de noitinha ela se derreter
uma lua nova, bem criança
na noite avança até o amanhecer
clareia, lua lua do céu clareia a minha rua

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*



"Samba-canção, matriz 3280. O acompanhamento é da Orquestra Pan American, de Simon Bountman." (Samuel Machado Filho)



Canção: Sou ioió de iaiá

Composição: Henrique Vogeler

Intérprete - Gastão Formenti 

Ano - Fevereiro de 193

Disco - Odeon 10.563-A


* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

10 ANOS SEM MESTRE SALU

Por Paulo Ricardo Mendes


Passarinho/Prefeitura de Olinda


“Papai era aquele cara que pensava e fazia”, afirma Cristiano Salustiano, um dos 15 filhos do saudoso Manuel Salustiano Soares ou como é mais conhecido, Mestre Salu. Cristiano refere-se à versatilidade do pai – músico, artesão, cantor e dançarino – e a herança cultural que deixou como legado para a família e para a cultura brasileira. Passados 10 anos de sua morte, são os familiares que dão continuidade à tradição e mantêm a Casa da Rabeca, em Olinda, sede de encontros de expressões populares criada por Salu.

De origem humilde, antes de ser conhecido como mestre, ele cortava cana nos engenhos de Aliança, na Zona da Mata Norte, para ajudar em casa. Depois vendeu picolé, foi gari e motorista de táxi quando veio se aventurar no Recife no desejo de viver do que sabia fazer de melhor: arte popular. “Meu avô tocava rabeca no cavalo marinho e papai tomou gosto pela coisa, então já sabia manusear alguns instrumentos. O motivo da vinda dele para a capital foi justamente porque queria ser reconhecido pelo seu trabalho artístico”, recorda-se Cristiano.

Não tardou muito para que, aos poucos, Salu fosse reconhecido pelo seu talento e com o passar dos anos agregasse outras manifestações populares, além da rabeca, no legado da família. O maracatu, a ciranda, o coco, o mamulengo e o cavalo marinho fizeram parte da vida do mestre. Salustiano foi considerado Patrimônio Vivo pelo Governo do Estado em 2005, e mesmo após ter falecido em 2008, os 11, dos 15 filhos, dão continuidade ao trabalho do pai em diferentes personagens dos folguedos, apesar de, no dia a dia, cada um exercer profissões diferentes.

Embora tenha aposentado as indumentárias do caboclo de lança e do arreiamá, por motivos de saúde, Cristiano Salustiano, por exemplo, continua participando do maracatu da família, o Piaba de Ouro, como tesoureiro, e integra a administração do espaço construído pelo pai, a Casa da Rabeca, onde acontecem apresentações culturais e de forró. Também imersa desde berço na tradição da família, Beatriz Salustiano (Bia), 15 anos, segue os passos do pai e irmãos. “Eu toco ganzá mineiro, instrumento musical de percussão, no grupo da família Rabeca Encantada, danço no cavalo marinho e no maracatu rural”, conta a caçula dos filhos.

“Essas brincadeiras têm um valor muito afetivo para a família”, emociona-se Cristiano. Entretanto, a falta de valorização é uma das preocupações dos filhos que reclamam da falta de incentivo de órgãos públicos para deixar a sede funcionando e da própria população local, que, segundo ele, não dá importância para esse tipo de tradição. “Costumo dizer que o povo de fora às vezes valoriza mais do que o da terra. No encontro de cavalo marinho, por exemplo, essa comparação é perceptível”, relata Salustiano.

Mesmo com dificuldades, os filhos continuam tocando o trabalho e perpetuando a tradição que começou com o pai de Salu e hoje já chega aos bisnetos. Cristiano lembra que quando o seu pai morreu, as pessoas achavam que a tradição também iria se esvair junto com ele. “Reunimos o máximo de filhos para dar continuidade ao que o Mestre Salustiano começou, porque não seria justo com ele e a cultura popular se nós deixássemos que isso morresse”, defende o filho.

O legado da família é tema do longa-metragem, dirigido por Tiago Leitão, da Opara Filmes, com apoio da Cepe (Companhia Editora de Pernambuco) e Fundarpe e previsão de estreia no segundo semestre. No documentário Salustianos o público poderá conferir a relação de Salu com os 11 filhos e a influência que teve na vida deles. “Ele é uma figura importante para a cultura pernambucana e sempre tive admiração pela sua história, então nada mais justo do que fazer essa homenagem”, justifica Leitão.

Neste ano, quando completa uma década de sua morte, a história de Salu também é lembrada na Fenearte com uma série de atividades e apresentações relacionada ao artista. Quem visitar a feira vai se deparar também com o acervo da família Salustiano: vestimentas, rabeca, estandartes, lanças. O arquiteto e curador do evento, Carlos Augusto Lira conta que o artesão sempre lhe trouxe muita curiosidade. “Ele é daqueles artistas que vão, mas a obra fica, porque ela é muito singular e sinto-me agraciado em desenvolvê-la na Fenearte, uma vez que têm muitos elementos para serem explorados”, diz Lira. O arquiteto acredita que o maior legado dele é o amor pelas brincadeiras que transferiu para os filhos e a visibilidade que Salu deu a elas.

VICENTE CELESTINO, 50 ANOS DE SAUDADES

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Antônio Vicente Filipe Celestino nasceu no dia 12 de setembro de 1894. Foi um dos mais famosos intérpretes do Brasil. Pertenceu à chamada época de ouro da música brasileira, ao lado de outros grandes cantores, como Mário Reis e Francisco Alves.

Vicente nasceu em Santa Teresa, na Rua do Paraíso, 11. Teve onze irmãos. Cinco dedicaram-se ao canto e um ao teatro. Os pais, italianos, vieram da Calábria ainda muito jovens. Por ser mais velho, Vicente teve que arcar com o sustento dos irmãos quando o pai, que era guarda-livros, morreu.

A iniciação musical se deu em 1913, como amador. Cantando em um chope-berrante, à noite, ganhava apenas um pro labore simbólico. Se o público gostasse, podia alcançar mais um pequeno degrau rumo à fama. Às vezes, cantava em italiano, idioma dos pais.

Certo dia, em 1914, ao sair com os amigos, já adulto, cantou em um bar e foi convidado, por um empresário, a se apresentar profissionalmente. Primeiro, no Teatro São José, em São Paulo. Depois, na Companhia Paschoal Segreto, como corista. Começou a gravar na Casa Édison, no Rio.

Chorar a traição da mulher, sofrer por amor, beber até cair... todo esse dramalhão que fez tanto sucesso acabou cansando o público que mudava de gosto nos anos 1950. Vicente passou a se sentir discriminado. A voz era ótima, mas o cantor era rejeitado no Teatro Municipal. O cantor Orlando Silva chamou-o de “bebê chorão do rádio”.

Fonte: http://radios.ebc.com.br

terça-feira, 21 de agosto de 2018

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*





Vidraça

Demorei a escrever sobre Praia, disco que Mariano Marovatto lançou em 2013, por pura incapacidade de verbalizar o que sinto e penso a cada audição. Digo isso para afirmar a caoticidade desse texto constipado, mas urgente para sair.

Desde o primeiro contato, percebi que o disco precisava de muitas escutas. Como sempre faço, seja com um livro (um poema), seja com um disco (uma canção), tentei ouvir Praia em vários momentos, em diferentes situações - também de frente para o mar - e todas as vezes o disco me diz ter vindo do fundo escuro de um coração tropical. De outra margem possível e mais real, entre o solar e o lunar, entre a tristeza e a felicidade, porque o rigor formal e o experimento sonoro de Praia ao mesmo tempo nega e expõe algo profundo do Brasil, de nossa genética e contemporaneidade.

Marovatto decalca experimentos sonoros, a fim de compor um cântico íntimo e internacionalizante, roçando outras línguas. Para os sujeitos cancionais criados por Marovatto, a praia é um lugar entre o mar (aberto, sem cais) e o asfalto (opressor, sem salvação). A praia é ilha, como bem observou Ismar Tirelli Neto: "A Praia, aqui, é claustrofóbica. Mesmo que fosse imensa, mesmo que fosse a perder de vista – estaria toda ela contida em seus “botões”. Praia de ilha, praia de náufrago – uma solidão populosa de vozes espectrais, chiados fantasmáticos, dissonâncias, sons cuja procedência não conseguimos muito bem situar".

É bonito perceber como que sujeitos estranhos, que tinham tudo para "nadar e morrer na beira da praia" pairam a milímetros da areia (cama sonora), sem que isso indique redenção e/ou finitude. Tal resultado é obtido, tanto no procedimento de decalque sonoro já mencionado, quanto no apagamento da voz do cancionista. Assim, como um gesto de contra-selfie, ou um selfie por dentro do olho da câmera (sempre lenta), Mariano está e não está nos sujeitos das canções.

Cada espectro vocal que aparece em Praia está movido por uma paixão que reapropria os sujeitos cancionais com um vigor abstrato pouco habitual em canção. Abstrato e geométrico, naquilo que esse conceito tem de rigor, de exatidão, de movimento em direção à certeza.
Ouça-se o exemplo de "Vidraça", de Mariano Marovatto e Romulo Fróes. Aqui, a canção é pedra. Pedra é palavra escrita na palma da mão, essa "epiderme da alma", como Arnaldo Antunes cantou. Há um convite à audição da rua, das tais "vozes das ruas". "Pega essa pedra, leva pro colchão", diz o sujeito. A pedra-canção é eco e silêncio dessas vozes. Mas a rua é preciso ser escutada no cotovelo, ou seja, na espera, no devir, assim como o ciúme que "dói nos cotovelos, na raiz dos cabelos, gela a sola dos pés", como canta Elza Soares.

O sujeito de "Vidraça" tem ciúme da rua? Ele sugere que se "não tem vidraça no cemitério", esse campo santo povoado de vozes, só resta levar a pedra pro colchão. A pedra atravessa a voz e a melodia. E intimida: "Me conta agora / o teu segredo / sai dessa banda / derruba o prédio / desliga o rádio / me dá remédio / deságua logo essa constipação".

Que banda é essa mencionada pelo sujeito da canção? Banda musical, constipada e urgente de soltar o som? Outra banda da terra, oposta à banda em que ele vive? Essas questões são intensificadas na estrutura formal da canção. Tudo é dito/cantado numa quase-vinheta em câmera lenta. "E nunca o ato mero de compor uma canção / Pra mim foi tão desesperadamente necessário", cantaria Caetano Veloso.

A antena parabólica de Praia capta videoclips que testemunham e interrogam a melancolia tropical dos sujeitos das canções, sujeitos presos na praia-ilha à espera de vozes marinhas, sirênicas. Marovatto dilui esse aglomerado na água poluída do sangue poético-cancional. E o segredo dói pra fora na paisagem, arde ao sol do fim do dia. E mais não ouso dizer.


***

Vidraça
(Mariano Marovatto / Romulo Fróes)

É bem mais fácil
não tem mistério
palavra escrita na palma da mão

Escuta a rua
no cotovelo
deserto, asfalto, latido de cão

Não tem vidraça
no cemitério
pega essa pedra, leva pro colchão

Me conta agora
o teu segredo
sai dessa banda
derruba o prédio
desliga o rádio
me dá remédio
deságua logo essa constipação

.

* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

PAUTA MUSICAL: ZÉ BODEGA, UM SAX NO SAMBA


Por Laura Macedo




Sem sombra de dúvida, os Araújo de Oliveira formam uma família musical. O pai, José Severino (Sasuzinha), mestre de banda em Limoeiro (PE); os irmãos, Severino (clarinetista/compositor/maestro), Manoel (trombonista), Jaime (saxofonista) e Plínio (baterista).


José, o Zé Bodega (1923-2003), não fugiu a regra, tornando-se um dos maiores sax-tenoristas brasileiros, sendo requisitado para gravar com grandes nomes do universo musical, como Radamés Gnattali, Chico Buarque, Nara Leão, Elis Regina, Roberto Carlos, Eumir Deodato, Elizeth Cardoso, entre outros. Como geralmente acontece com os grandes instrumentistas brasileiros ele só aparece como músico principal em um único disco - “Um Sax no Samba: Zé Bodega e a Orquestra de Severino Araújo” (Continental, LP/1961). Confiram algumas faixas.

01- Quero morrer no carnaval (Luis Antonio/Eurico Campos)

02- Amor de janela (Antonio Maria/Pernambuco)

03- Água de beber (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)

04- Nossos momentos (Haroldo Barbosa/Luis Reis)

DORIVAL CAYMMI, 10 ANOS DE SAUDADES

Por Giuliana Mancini e Naiana Ribeiro



Os 10 anos de morte de Dorival Caymmi (1914-2008), completados em agosto serão lembrados nas telonas. A Videoforum Filmes e a Giros Produtora irão produzir o documentário Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, da diretora Daniela Broitman.

Atualmente em fase de captação, o projeto tem previsão de estreia para o segundo semestre de 2018. O filme, aliás, vai contar com uma entrevista ainda inédita do homenageado, feita antes do seu falecimento.

domingo, 19 de agosto de 2018

GILBERTO GIL LANÇA ÁLBUM COM MENSAGEM PELO AMOR E CONTRA INTOLERÂNCIA

Ok ok ok traz canções dedicadas à família, aos amigos e uma faixa especial sobre perseguição e discursos de ódio



O disco estará disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (17).


Existe uma plenitude no olhar de Gilberto Gil, de quem passou por uma tempestade e saiu ileso. Mas Gil não fez essa travessia sozinho. Ao seu lado, estavam família, velhos amigos, novos amigos. Em 2016, o músico fez tratamento para insuficiência renal. Veio, então, a apreensão. E criou-se uma rede de amor ao seu redor, que ele, como compositor, captou e transformou em música. 

Nesse período de tratamento e recuperação, compôs de quatro a cinco músicas. A elas uniram-se outras canções inéditas e, juntas, deram origem ao seu novo disco, Ok ok ok, já disponível em vinil, CD e no Apple Music. A partir de sexta-feira (17), estará em todas as plataformas digitais. É o disco mais afetivo de sua carreira.

"Sem dúvida", concorda o músico, aos 76 anos, em entrevista sobre o lançamento. "É (o trabalho) mais explicitamente afetivo, porque tive de trazer a afetividade para as denominações familiares: filhos, netos, bisneta." Explica-se. Nesse universo de acolhimento que Gil recriou em Ok ok ok, há uma coleção de músicas dedicadas a personagens específicos desse seu círculo de vivência – e convivência. Canções à sua mulher, Flora (Na real e Prece); às novas musas Maria Ribeiro e Andréia Sadi (Lia e Deia), ao amigo e violonista Yamandu Costa (Yamandu, com o homenageado tocando na faixa). 

Para seus médicos, Roberta Saretta e Roberto Kalil, fez, respectivamente, Quatro pedacinhos e Kalil (esta, como uma das faixas-bônus). Na primeira composição, Gil transformou em poesia a biópsia ao qual seu coração foi submetido; na segunda, fez um tributo ao Dr. Kalil numa roupagem quase naïf. Nas referências às novas gerações, a sensação é de celebração aos entes que vão dar continuidade à família e, por tabela, à linhagem Gil. Sua bisneta é tema de Sol de Maria. Para os netos, fez Sereno (a primeira parceria dele com o filho Bem Gil, produtor do disco) e Tartaruguê (esta em homenagem a Dom). “Para ele, praticamente só existiam as Tartarugas Ninjas, além do pai, da mãe (risos). Aí fiz a música para ele. Tartaruguê quer dizer o quê? Não quer dizer nada, é um balbuciar infantil sobre alguma coisa”, diverte-se Gil.

A canção Jacintho foi pensada para um amigo que entrou em sua vida mais recentemente, quando estava às vésperas de completar 100 anos. Isso fez o músico refletir sobre o envelhecer. Esse tema também é debatido por ele e Caetano Veloso no primeiro episódio de Amigos, sons e palavras, programa de entrevistas feitas por Gil, que estreia no dia 21, às 21h30, como parte das comemorações de 20 anos do Canal Brasil. Foi um assunto sobre o qual Gil pensou durante sua recuperação, conta ele. 

"Mas com o consolo de ter tido essa preocupação mais jovem, de ter me dedicado, durante longa parte da minha vida, à questão da saúde, de ter respeitado essa questão da velhice. Ao mesmo tempo, a gente se habitua a lidar com a ideia permanente da finitude. Como dizia Canô (mãe de Caetano), quem não morre envelhece. E quem envelhece traz a carga disso, de ter vivido com essa questão da finitude cotidianamente, de ter pensado nisso para que isso não viesse a se tornar um drama.

ÓDIO 
Em contrapartida a todo amor que envolve seu disco, a primeira faixa, Ok ok ok, é o único momento em que Gil fala de como ele é alvo de ódio nas redes sociais – e de como é exigida dele opinião sobre tudo. É um desabafo? "Para nós e para muita gente. Todos esses visados, perseguidos por essa obsessão recente do discurso de ódio, da manifestação ofensiva contra as pessoas, contra certas escolhas de vida das pessoas, esse discurso da intolerância. Ali é a parte que me toca, especialmente no meu caso, por causa de um certo hábito histórico que se instalou da nossa vida, por força da função que a nossa geração teve nos anos 1960, 70, de se fortalecer junto à sociedade brasileira, para resistir à ditadura. Em Ok ok ok sou eu, mas são todos os nossos colegas, conhecidos e anônimos." 

Por falar em redes sociais, após muitos pedidos, Gil atualizou, duas décadas depois, a letra de Pela internet, que, no novo disco, ganhou a versão Pela internet 2. Ainda falando em redes, como é se posicionar politicamente nos dias de hoje, como fez no Festival Lula Livre? "Acho que é importante, porque o destino que foi determinado ao ex-presidente Lula é um destino complexo, entristecedor para uma parte muito grande da vida brasileira, que teve nele uma referência para as questões da emancipação na vida social do país e que vê na condenação e prisão dele um viés de perseguição política, que, para mim, também é visível", responde Gil. "Cantar Cálice (com Chico Buarque, no festival) foi simbólico; cantei-a raríssimas vezes. Aí Chico sugeriu, e eu disse: ‘Vamos cantar’. Acho (essa música) triste, pesada. Ali tinha uma coisa política."


Fonte: Estadão Conteúdo

CURIOSIDADES DA MPB

No Café Colombo, em Porto Alegre, Lupícinio Rodrigues seus amigos e Marino (saxofonista), Boquinha (violinista), Sadi Nolasco (cantor), Paulo Coelho e Alcides Gonçalves (pianistas), passavam altas noites fazendo serenatas. Contam os amigos que uma vez resolveram fazer uma serenata para um outro amigo morto no cemitério. Pularam o muro à meia-noite e, quando saíram, estavam sendo esperados pela Polícia.

sábado, 18 de agosto de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior


OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO
Cussy de Almeida


Cussy de Almeida era conterrâneo e contemporâneo de minha mãe, igualmente papa-jerimum, dona Dagô.

Como minha primeira professora de história da música, mamãe me apresentou a todos os grandes músicos regionais e nacionais – de Cussy de Almeida a Anastácia; de Marlos Nobre a Jackson do Pandeiro; de Antonio Meneses a Gilberto Gil.

Sempre estive na audição de Cussy. Hoje – pelo assunto que estou visitando – fui buscar mais dados sobre o grande maestro.

Natural de Natal-RN foi um recifense, de coração. Aos seis anos, revelou-se um menino prodígio ao iniciar-se na arte musical, conforme testemunho dos seus professores de violino, Carlos Tavares e José Monteiro, ao apresentar-se no primeiro recital público, acompanhado ao piano por sua irmã Hilza de Almeida, no Teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão.

Aboio – Camerata Candela – Trecho do concerto de estreia – 01/2010 na Haute École de Musique de Genebra, Suíça.

Em 1947, com 11 anos, fez a primeira tournée de concertos nas cidades de Mossoró-RN, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador, obtendo grande êxito.

Aos 14 anos, foi residir no Recife, matriculando-se no Colégio Oswaldo Cruz. Passou a estudar violino com o maestro Vicente Fitipaldi e ingressou na Orquestra Sinfônica do Recife.

Em 1958, por recomendação de Villa-Lobos, foi cursar em Paris, o “Conservatoire Superieur de Musique”, com o mestre René Benedetti. Lá, recebeu o prêmio “Albert Lulin”, destinado ao aluno de maior talento.

Dois anos depois, ganhou o cobiçado “Premio de Virtuosidade do Consertório de Genebra” (Suíça).

Arrial do Cabo, com o mesmo ao violino. Disco “Mergulhador”.

Ingressou, por concurso, na “Orchestre de la Suisse Romande”, sob a regência de Ernest Anserment, com a qual participou dos festivais de Montreux, Lausanne, Viena e Atenas. Integrou a gravação da obra orquestral de Claude Debussy (me iniciado também por Dagô).

De volta ao Brasil, dedicou-se ao magistério, lecionando nas universidades do Rio Grande do Norte e da Paraíba.

Cussy de Almeida


Pesquisou e estudou a música Nordestina em suas raízes e manifestações populares, associando-a ao barroco religioso e à temática folclorica urbana do país, quando criou a Orquestra Armorial de Câmera.

Realizou trabalhos em parceria com os compositores Guerra Peixe, Capiba, Clovis Pereira e Jarbas Maciel.

Nascido em Natal-RN em março de 1936, morreu no Recife, em julho de 2010, aos 74 anos.

Um dos maiores legados de Cussy foi o incentivo à formação e o trabalho à frente da Orquestra Cirança Cidadã, projeto de inclusão social idealizado pelo juiz de direito João José Rocha Tarquino.

Música de Cussy de Almeida, álbum “Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco” (1984); do Projeto Nelson Ferreira – FUNARTE
Cussy foi o primeiro diretor artístico da orquestra e seu principal mentor. A iniciativa é a profissionalizaçao musical de crianças e jovens que vivem no bairro do Coque, no Recife.

PS – Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco: Adelmo de Oliveira Arcoverde viola 10 cordas; Geraldo Fernandes Leite percussão; Henrique Annes violão; Inaldo Gomes da Silva percussão; Ivanildo Maciel da Silveira bandolim; João Lyra viola Marco Cesar de Oliveira Brito bandolim; Marcos Silva Araújo contrabaixo; Mário Moraes Rêgo cavaquinho; Nilton Machado Rangel viola 10 cordas; e bandolim Rossini Ferreira.

PERNAMBUCANEANDO, MAIS UM PROJETO QUE VISLUMBRA A VALORIZAÇÃO DE NOSSA CULTURA

Fechando com chave ouro esta singela homenagem ao cantautor pernambucano, eis o seu mais recente projeto: Pernambucanenado, um grupo musical que tem por propósito abranger toda a nossa riqueza musical

Por Bruno Negromonte



A imagem pode conter: 5 pessoas, pessoas sorrindo, pessoas em pé, criança e atividades ao ar livre

Existem pessoas que buscam ter por combustível a utopia. Há cientista que incessantemente buscam a resposta para determinadas enfermidades, há matemáticos em busca de fórmulas perfeitas para os seus cálculos, há estudiosos nos mais distintos ramos indo atrás de soluções diversas para a melhoria de suas áreas mesmo estando ciente das adversidades existentes... Do mesmo modo são os artistas... há aqueles que respiram arte, mantém-se firme em seu propósito e buscam a coerência em suas produções mesmo ciente que os resultados serão aparentemente pífio se comparado com outros contextos artísticos vendido pelos grandes meios de comunicação diariamente através das plataformas de streaming, redes sociais, rádio, TV entre outros meios existentes. É isso que nos faz acreditar no amanhã. Um amanhã melhor ao se tratar de vários aspectos, dentre eles o cultural. O artista que foi abordado aqui ao longo dos últimos meses é um desses nomes que buscam lutar contra a maré e vai de encontro a todo o contexto de desvalorização cultural que vem tomando conta do nosso país a partir da distorção dos mais distintos gêneros existentes na vasta e rica música produzida no Brasil a partir de suas composições, intérpretes e projetos. Vale a lembrança de que não muito distante, as músicas elaboradas e consumidas em massa em nosso país podiam ser consideradas de excelente qualidade, uma vez que além de bem estruturadas em letras e melodias, eram movidas por grandes reflexões acerca da situação política do pais, protestos, questões ambientais, romantismo, ciclo familiar, situações do cotidiano. Pode-se afirmar que as composições transmitiam emoções, mensagens, sentimentos de modo enriquecedor para os ouvintes.




Hoje o que se ver é um contexto diferente de outrora, onde a música popular brasileira encontra-se em total decadência devido a um consumismo exacerbado que vem prevalecendo no meio artístico em detrimento a outros aspectos mais relevantes quando se trata de cultura e entretenimento. Enquanto outrora os grandes nomes do rádio eram de fato relevantes compositores, melodistas e intérpretes; o que se ver hoje nos programas televisivos e radiofônicos são artistas de relevantes e expressivas popularidades, mas de conteúdos artístico de ínfima relevância. Ainda bem que para combater esse errôneo contexto sempre há nomes que resistem a esse contexto de modo bravio e obstinado como é o caso de Bráulio de Castro, que mesmo sob as mais distintas e adversas circunstâncias não abre mão do seu modo singular de enxergar tudo o que hoje permeia a nossa sociedade de modo irônico, debochado e, em muitas situações, poético. A maior característica presente em meio século dedicado à música pelo pernambucano é a coerência existente em toda uma obra constituída nos mais distintos gêneros musicais existentes em nossa cultura. Como vimos, Bráulio é um dos poucos artistas ainda em atividade que sabe transitar pelos mais variados ritmos e gêneros existentes em nosso país. Sua obra vai do baião ao forró, do samba à embolada, da bossa aos mais variados sub-gêneros existentes no frevo. E este projeto, Pernambucaneando, chega como exponente dessa gama de ritmos e gêneros a partir de leituras bastante genuínas uma vez que é o próprio autor que compõe este grupo que vem apresentando-se nos principais eventos da capital pernambucana e esporadicamente vem apresentando-se em ensaio aberto sempre com ampla divulgação nas redes sociais.

O grupo formado pelos nomes de Bráulio de Castro, Fátima de Castro (vocais e violão), Parrô Melo (instrumentista e maestro encarregado da parte musical do grupo), Bárbara Lessa (vocais e percussão) e Mileide Pinheiro (vocais e percussão), tem por objetivo só apresentar músicas pernambucanas, ou seja, frevo de bloco, frevo canção, frevo de rua, baião, xote, xaxado, coco, forró, ciranda e etc. Tendo um repertório essencialmente autoral, o quinteto Pernambucaneando interpreta canções dos mais distintos ritmos e gêneros compostas por seus integrantes de modo solo ou em parceria como é o caso do frevo de rua "Adriana e cia." , de autoria de Parrô Melo. Por falar em frevo o repertório do grupo traz também os frevo-canções "Olinda, eternamente bela", "A magia do homem da meia-noite" e "Claudionor, o menino do frevo" (consagrado o grande campeão do Festival Nacional do Frevo). No repertório do grupo ainda constam canções como o coco rojão "Canário da Borborema", "Ciranda menina", os maracatus "Uruganja" e "Pernambuco na cabeça", os forrós "Deixa eu navegar na tua praia" e "Santo festeiro", os sambas "Última faixa do lado B" e "Mesa de bar, meu divã"; além da canção que nomeia o projeto, um frevo-canção composto por Bráulio de Castro entre outras.

Com um álbum a ser lançado ainda no segundo semestre de 2018 sob produção musical de Parrô Mello e Fábio Valois e produção executiva de Bráulio de Castro e Paulo Fernando, o projeto contará com a participação de expressivos nomes do cenário musical pernambucano como é o caso de Adriana B, André Rio, Ed Carlos, Walmir Chagas, Gerlane Lops entre outros, o Pernambucaneando é mais uma prova inconteste da incessante peleja não apenas de um cantor e compositor que dedicou boa parte de sua vida a um ofício tão dúbio quando se trata de arte em nosso país. Com mais de cinco décadas dedicado a versos e melodias, Bráulio de Castro soma à alegria de ver a sua obra na voz de inúmeros intérpretes o desprestígio inerente ao tratamento dado à cultura não apenas do nosso estado, mas no país de modo geral. No entanto, vale ressaltar que ainda existe música de qualidade a pulsar nas veias artísticas do nosso país, uma música que não é tratada como um descartável produto comercial que se consome através dos grandes meios de comunicação. Para se perceber isso faz-se necessário e preciso uma reestruturação conceitual a respeito daquilo que é divulgado nos grandes meios de comunicação como TV e rádio. Enquanto isso não acontece de modo global, é preciso voltar-se para nossa própria cultura e procurar enxergar, entre os meandros existentes, pequenos (mas significantes) detalhes, obras e autores como é o caso desse artista que merece todas as reverencias existentes ainda em vida, pois depois que se chamar saudade, como diria os saudosos Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, só irá precisar de preces e nada mais.