Artista gaúcho ressalta possíveis interpretações do título, "EmFrente": de seguir em frente a criar frentes de atuação
Por Gustavo Foster
Thiago Ramil gravou disco em estúdio localizado "a cinco quadras" de onde passou a infância, na Zona Sul de Porto AlegreGuilherme Bragança / Divulgação
Após um período em que parecia anestesiada, a música brasileira de vanguarda retoma seu espírito crítico e sua vigilância social em produções recentes, como EmFrente, disco que Thiago Ramil apresenta nesta quinta-feira no Theatro São Pedro. Sucessor de Leve Embora –indicado ao Grammy Latino e vencedor de dois Açorianos –, o disco reflete e debate o momento nacional, trata de questões contemporâneas e agrega vozes relevantes do cenário local.
– O disco parte de uma busca por reunir pessoas e encontrar soluções conjuntas para conseguir se manter e dar vida a trabalhos artísticos e expressões culturais neste contexto em que está cada vez mais difícil viabilizar as coisas. O título do disco já traz perspectivas importantes sobre isso. EmFrente pode ser interpretado no sentido do enfrentamento, que é algo necessário, de estar atento ao que vem em frente e, principalmente, em se reunir para criar frentes.
EmFrente é colaborativo da concepção à realização: tornou-se possível graças a um projeto de financiamento coletivo que arrecadou mais do que precisava por meio de 241 doações. Foi gravado em um estúdio na Zona Sul de Porto Alegre, "a cinco minutos" da casa em que Thiago passou a infância, com a participação de uma série de músicos da cena local.
Gutcha Ramil (percussão, violino e vocal), Andressa Ferreira (percussão), Guilherme Ceron (baixo), Lorenzo Flach (guitarra), Pedro Petracco (bateria) e Felipe Zancanaro (percussão e efeitos) deixaram sua colaboração no estúdio e estarão no Theatro São Pedro na noite desta quinta-feira, quando o músico volta ao palco mais nobre da Capital, que também conhece como poucos.
Desde cedo, acostumou-se a ver tios (Kleiton, Kledir e Vitor), primo (Ian) e irmã (Gutcha) se apresentarem no teatro:
– Voltar para o Theatro São Pedro é muito importante, porque é um espaço muito significativo não só para a cidade, mas para a minha história. Vi minha família lançar discos lá, me apresentava com a escolinha tocando violino. É um lugar que tem valor afetivo gigante – conta.
Na apresentação, Thiago deve apresentar faixas como Ela, em que trata, com instrumental ao estilo Radiohead, da rotina de uma mulher; Se Sente, parceria com Paola Kirst que é uma das mais interessantes do disco; e a quase-pop Poréns. Músicas compostas, em grande partes, após o período de ressaca de Leve Embora.
– Tem um período depois do lançamento em que o cara fica meio parado, para poder respirar. Depois, volta a compor. Recebi muitos compositores na minha casa, de manhã. Ia lá para os fundos e deixava o processo intuitivo ir nos levando. Isso foi muito importante e acho que ajudou a criar o espírito do disco.
Se lançar um segundo disco já é angustiante, lançá-lo após receber troféus pode ser ainda mais desafiador. Thiago, no entanto, prefere lidar com a situação sem criar expectativas:
– Pretendo fazer as coisas com sinceridade e ao lado de pessoas em que acredito. Acho que isso faz com que o trabalho seja reconhecido como verdadeiro.
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