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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

CANÇÕES DE XICO



TREM DE IR EMBORA

Deixei o passarinho que cantava na minha janela cantando na minha janela. E fui. Minha cidade passava na janela sem passarinhos do trem. Deixei também a menina dos olhos pretos e seus olhos pretos olhando pra mim. Derramei-me na estrada, sobre os trilhos, fumaça nas nuvens embaçando meus olhos já embaçados de saudade grande. E fui. Tinha que ir, estudar, ser gente. Na primeira curva da estrada a fumaça se misturou com uma lágrima que não se conteve. Tentarei descobrir em que mar deságua o rio, aguazinha tão pouca, que banha minha aldeia. Vou pra capital. Tanta infância vou deixando para trás. Quantas ave-marias e seis horas deixarei por lá. Minha meninice ficará perdida em um lugar qualquer, longe do Crato. Na bagagem, tristeza e dor, um não-saber se vou voltar. E, mais forte que tudo, o meu não-querer ir debruçado num sol que abria caminho para a Maria-Fumaça, deflorando um sertão cada vez mais longe da minha cidadezinha do interior.

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