Envolvida em polêmicas recentes, cantora fala sobre o novo trabalho, definido por ela como ''um convite''
Por Guilherme Augusto
“Não vem na minha sopa, não vem no meu terreno”, canta Mallu Magalhães em um dos versos da música Você não presta, faixa de abertura do disco Vem, lançado neste mês. A frase, no entanto, nada tem em comum com a proposta do trabalho. “Esse álbum é um chamado, um convite, mas também é o desejo, o sonho. Minha ideia é fazer as pessoas cantarem e dançarem”, afirma a cantora paulistana que nos últimos anos trocou São Paulo por uma vida à beira-mar em Lisboa.
A música, primeiro single do disco, ganhou videoclipe lançado no dia 19 de maio. Aparentemente inofensivo, o vídeo traz Mallu cantando e dançando ao lado de seis bailarinos negros – Aires D’Alva, Bruno Cadinha, Felipa Amaro, Manuela Cabitango, Stella Carvalho e Xanos Palm. Eis que ela foi desafiada a enfrentar a fúria dos internautas.
A cantora foi acusada de “hiperssexualizar” os corpos dos dançarinos e seu clipe foi tachado de racista. Ela se desculpou em seu Facebook com aqueles que se sentiram ofendidos. “Fiquei muito triste, na verdade, já que minha ideia era fazer um clipe dançante. No final, acho que tudo isso iniciou um debate sobre uma questão que é muito sensível e, ao mesmo tempo, importante”, diz Mallu, que gravou um novo vídeo, agora para a música Será que um dia, ainda sem previsão de lançamento. “Já recebi o primeiro corte, mas ainda acho que precisamos aperfeiçoar algumas coisas. Está muito bonito. Desta vez é um vídeo mais contemplativo, menos dançante.”
A canção, quinta faixa do disco, é a que mais acentua a presença dos metais na produção de Vem, cujos arranjos são assinados por Mario Adnet e Marcelo Camelo, ex-Los Hermanos e marido de Mallu. Esta é a terceira vez que os dois trabalham juntos. As anteriores foram no disco Pitanga (2011) e no projeto Banda do Mar (2014).
De Pitanga para cá, Mallu amadureceu. Em Vem ela assume sua verve pop com os dois pés no Brasil. As 12 faixas são marcadas por letras acessíveis e instrumentais viciantes, características próprias das produções cancioneiras que têm uma simples função: ser cantadas. Além disso, o disco é uma ode à MPB.
“A música brasileira sempre foi uma referência para mim, mas eu nunca tinha colocado isso em prática, até mesmo porque eu compunha músicas em inglês”, comenta. No início da carreira ela se derretia pelos versos complexos de Bob Dylan. Agora, assume estar apaixonada por Jorge Ben e Wilson das Neves. No entanto, as composições em inglês não foram deixadas de lado e aparecem na deslocada Love you, 11ª faixa do disco.
Vem traz uma sonoridade solar e expansiva, e Mallu demonstra que se aperfeiçoou na arte de cantar. Nas principais canções do disco, ela imposta a voz e mantém o timbre afinado, como é o caso de Vai e vem e Pelo telefone. Em outras, ela é tranquila e segue à risca a melodia da canção, como em Guanabara e Linha verde.
Uma das novidades são os falsetes de Gigi, música composta em homenagem à mãe, a paisagista Gigi Botelho. “Ela é uma pessoa única e autêntica. Eu quis homenageá-la porque ela tem uma história muito interessante e bonita.”
MATERNIDADE
Aos 24 anos, Mallu Magalhães já reconhece o peso e o valor da maternidade. Em dezembro de 2015, ela deu à luz a Luisa, sua primeira filha. “Mudei muito com o nascimento dela. Acredito que qualquer pessoa que passe por essa experiência fica mudada. E o que a gente sente é um misto de medo com uma coragem muito grande.”
A primogênita também ganhou lugar cativo no disco da mãe e aparece na música Casa pronta, lançada em agosto de 2016. “Você nem sabe quando vem e já tem amor pra vida toda”, canta Mallu na letra que narra uma conversa com a filha enquanto ela ainda estava na barriga.
Como Mallu, o disco poupa rodeios e vai direto ao ponto. Vem mostra um trabalho dedicado e bem-feito, com tom saudosista e letras que não escondem a personalidade intensa da jovem cantora que se viu famosa na adolescência. “Eu sabia que era um disco muito bonito, mas não esperava que fosse tão bem recebido. Nos shows que já fiz em Portugal as pessoas cantaram as músicas junto”, comemora. Vulcânica, ela reitera o temperamento em letras como as das ótimas São Paulo (“Eu aposto em mim mesma”) e Culpa do amor (“Você não vai me convencer e eu não vou nem tentar”).
A turnê do disco está marcada para o segundo semestre. “O desafio agora é colocar no palco um disco tão complexo com uma roupagem tão cheia. Seria inviável viajar com todo mundo que gravou. Então agora precisamos pensar em como fazer tudo aquilo funcionar ao vivo.”
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