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sexta-feira, 7 de julho de 2017

LUIZ GONZAGA NÃO FEZ SÓ ASA BRANCA


Por José Teles


Luiz Gonzaga e asas brancas, em extinção?


Neste São João, pelo que vi dos shows transmitidos pelo rádio ou TV, é como se Luiz Gonzaga só tivesse feito Asa Branca. Quando algum grupo de fuleiragem, ou sertanejos ditos universitários, queria fazer média, pra reforçar a ideia de que também é do forró, dispara na Asa Branca. Este pessoal se diz “filho” do Rei do Baião e, paradoxalmente, está contribuindo para levar a música brasileira à barbárie, passando uma borracha, ou deletando, todos os avanços estéticos e poéticos que se processaram desde a bossa nova. Mas faz acolhido por uma juventude que se lixa para Luiz Gonzaga.

Fizessem uma enquete no meio da turba que lota os tais parques de eventos (não os que se refugiam nos guetos culturais, longe do Centro da Cidade), iriam constatar que a maioria nunca ouviu um disco de Luiz Gonzaga, ignora quase por completo Jackson do Pandeiro, e não tem a menor ideia de quem foi Marinês.

E nem têm tanta culpa, a não ser pela ausência de curiosidade de aprender. Quase ninguém grava mais Luiz Gonzaga. A não ser artistas desconhecidos, em discos gravados em casa, CDs queimados em computadores, sem passar pelas fábricas. Não gravam oficialmente, porque as editoras, que controlam os direitos da música de Luiz Gonzaga, cobram muito caro pela liberação de suas músicas. É inviável gravá-lo, como também é gravar Jackson do Pandeiro, Ary Barroso, ou Dorival Caymmi. Voltar ao passado da MPB é caríssimo, por isso este futuro barato que impera na música do país.

Bob Dylan apesar de não ter tido um décimo da popularidade de Luiz Gonzaga, ter vendido muito menos discos, e emplacado poucas músicas nas paradas de sucesso (sobretudo em relação à magnitude da sua obra), não tem perigo de ser esquecido. Sua obra, há anos, extrapolou o terreno musical, enveredou por universidades, virou teses acadêmicas, acabou no Prêmio Nobel.

Além do que Bob Dylan está vivo, continua a compor, a gravar, a fazer turnê. Luiz Gonzaga morreu há 28 anos, e sua herança está sendo relegada rapidamente a terceiro plano pelos gestores municipais. Falam mais em seu nome, do que se interessam em perpetuar sua obra. Senão teríamos festas com menos pluralidade de estilo, e menos artistas genéricos.

Colaboram com este estado de coisas as gravadoras, donas da discografia de Seu Luiz. Os álbuns de Lua estão quase todos fora de catálogo. Recentemente lançaram-se 15 título dele em formato digital. Espantosamente, não tinham ainda chegado ao CD. O fãs mais antigos de Gonzaga não têm hábito de escutar música em plataformas digitais.

Pode parecer alarmismo sem sentido afirmar a iminência do esquecimento de Luiz Gonzaga. Mas a geração Internet é a do fast food cultural. Em 1955, quando ele era o artista que mais vendia discos no Brasil, Elvis Presley começava a ser o artista que mais venderia discos no mundo. No dia 16 de agosto, completam-se 40 anos da morte de Elvis Presley.

Uma enquete recente, constatou que 29% dos ingleses entre 18 e 24 anos nunca escutaram Elvis. Apenas 8% escutam pelo menos uma vez por mês. Já em execução de música de Elvis, entre as pessoas mais velhas, e no mundo inteiro, os números são, obviamente, maiores. A música de Elvis tocou 382 milhões de vezes no Spotfy, contra 1,3 bilhão de outro nome muito popular, The Beatles.

Para a maioria dos pesquisados, Elvis Presley é lembrado pelo macacão kitsch que usou nos últimos anos de carreira, ou pelas grandiloquentes performances dos anos 70. Permaneceu dele, pois, a imagem, meio boba, que continua sendo propagada até os tempos atuais. Esqueceu-se do Elvis Presley transgressor, revolucionário, dos anos 50, um dos mais influentes astros pop de todos os tempos.

O Luiz Gonzaga que um grande percentual de jovens nordestinos tem na cabeça, é alguém de braços abertos, sanfona no peito, chapéu de couro e gibão, sempre com uma ave branca sobrevoando-lhe a cabeça. Entende, vagamente, que simboliza o sertão, o Nordeste. Quando muito isso. Se Luiz Gonzaga fosse vivo, e reclamado do predomínio de sertanejos nos festejos juninos, talvez Marilia Mendonça tivesse gritado um “Chupa Gonzaga!”, depois de sua discutida apresentação, dia de São João, em Campina Grande, cidade que já se arvorou a Capital do Forró. Pior, muitos na plateia iriam aplaudir a cantora.

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