Por José Teles
Marisa Monte, a última grande estrela da MPB completa hoje 50 anos. Digo última, não porque não tenham surgido mais outras. Refiro-me à badalação que foi o surgimento de Marisa Monte. Na época, sem Internet, viralizavam-se talentos, não factoides. Marisa começou a pintar por ai, em 1987. Tive a sorte de vê-la no comecinho, numa casa chamada Double Dose, o Dose Dupla, em Ipanema, no Rio. Marisa e uma cantora e pianista, Vitoria Maldonato.
Aliás, uns dois meses atrás descubro o paradeiro da supracitada Vitória Maldonato. Ela canta nos EUA, seu último álbum, Brazil L.I.K.E (Summit Records) é dividido com o contrabaixista Ron Carter, um dos mais importantes jazzmen vivos. Mas tergiverso. Marisa Monte estava, pois, com 20 anos. Depois ela iria para o Mistura Fina depurando o repertório, do show que virou um frisson país afora. O primeiro show, com nome, e redondo, Tudo Veludo, no Jazzmania (nesta época, pré-Barra da Tijuca), em Ipanema e no Leblon havia fartura de pequenas casas noturnas com grandes espetáculos.
Do Jazzmania, Marisa Monte saiu a estrela do momento da MPB (a direção de Tudo Veludo era de Nelson Motta, que descobriu a moça). Ela adentrou o ano de 1988, como a revelação da música brasileira, e com novo show, Cantando na Praia. Este não vi. Até tentei, mas o lugar, a Casa Lauro Alvim, na Vieira Souto, era pequena para a quantidade de gente que queria ver a estrela que subia). Todo Brasil já falava nela, e toda gravadora queria contrata-la. Mas Marisa Monte não tinha pressa, ia fazer 21 anos.
Inevitavelmente, o disco viria. E veio com selo da EMI-Odeon, que ganhou a corrida por Marisa, disputada pela Warner, Polygram, CBS e Eldorado. Antes do disco, veio um especial de final de ano da TV Manchete, que bateu lá em cima na audiência. Fez história. O primeiro registrado em película, com direção de Walter Salles. Marisa Monte, nascida quando o tropicalismo se delineava no horizonte, foi sua mais perfeita tradução no repertório, conseguindo conjugar iê-iê-iê, MPB, Carmem Miranda, e brega, numa colcha de retalhos cujas peças se encaixavam e formavam um todo maior do que as partes.
Veio deste especial o áudio do o álbum, MM (Emi-Odeon, 1989), que estouraria pelo Brasil, e cuja turnê aportaria no Recife, no Teatro Guararapes. Marisa concedeu uma coletiva no Mar Hotel, a qual compareceu todo o Caderno C, e demais integrantes dos demais cadernos de cultura da cidade, das rádios TV e todo mundo que escrevia alguma coisa sobre música. O pessoal do hotel disponibilizou uma sala pequena para a entrevista. Ficou naquela base do “ingresso sobrando, eu compro”, de tanta gente que pintou no pedaço.
Só críticos de música do JC tinham dois, eu e Héber Fonseca, mais o resto do caderno, que foi tietar. O fotógrafo do JC era Breno Laprovitera que, do alto dos seus quase dois metros, quase não cabia na sala, e ainda se posicionava em locais os mais inusitados pra pegar a estrela por um ângulo diferente (tirou uma foto da moça deitado no chão ao lado dela). O Teatro Guararapes bombou, Marisa Monte bombou também no disco seguinte, e tá bombada até hoje, com todos os méritos possíveis e imagináveis. 50 anos, já? Ora,tá apenas começando.
Marisa Monte, aos 20 anos, num ensaio, para o show no Jazzmania:
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