CANÇÃO INACABADA
Sentou ao piano para compor a canção às sete da noite anterior. Não dormira e, àquela altura, quase dez da manhã, mal conseguira imaginar uma melodia. Solfejos, riscos e rabiscos, sons a voar pela janela, notas soltas caídas ao chão e nada além de uma clave de sol e uma quase introdução. O que faltava para concluir aquela composição? Sonhar o mesmo sonho, dormir a mesma paz, acordar a mesma luz, talvez. Ir além de um simples som, ao encontro de algo que alegrasse seu ouvido, sua alma, que lhe motivasse a idéia, que instigasse a inspiração, que lhe fizesse sair do começo e ir até o fim, sem interlúdios. A canção restou não terminada, sem sustenidos a amparar-lhe a emoção, sem bemóis a prazerar-lhe os sentimentos, sem um som doce que embelezasse o silêncio. Restará, agora, buscar a harmonia em outras pautas e, se ainda possível, concluir a melodia buscando a sonoridade que só existe na partitura daqueles que amam e são amados.
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