SALDANHA, Leonardo Vilaça (doutor) - Escola de Música da UFRN/RN
Resumo: Música Popular Brasileira e Indústria Cultural. A influência exercida pela mídia no
processo de afirmação, transformação e consolidação dos gêneros populares.
A música surge para a mídia assimilando nomes e rótulos. Assim, assume a
característica de produto.
Bem imaterial adotado pelos meios de produção e comunicação de massa, transforma à
tradição musical, resultando em produtos novos e resignificados. Símbolos de uma cultura plural
e reconhecidamente rica em volume e qualidade.
Este artigo busca apresentar a Música Popular Brasileira e o importante papel
desempenhado pelos agentes midiáticos na sua consolidação e construção como produto
representativo da identidade contemporânea do seu povo, dentro de um cenário globalizado.
Palavras-chave: Tradição, Música Popular Urbana, Mídia e Indústria Cultural
Introdução
A representatividade da música popular brasileira, como bem imaterial identitário do
seu povo, se dá na medida em que, amplamente divulgada pelos meios de produção e
comunicação de massa, assimila novas influências sem perder suas características
primárias. Os elementos rítmicos, melódicos, literários e da oralidade brasileira
recorrente.
Este estudo pretende apresentar a música popular em seu percurso de consolidação por
intermédio dos seus vários agentes difusores. O importante papel desempenhado por
esses agentes na ampla divulgação e fixação dos variados gêneros da cultura musical
brasileira. A música se insere no mercado se relacionando com a valoração da cultura
própria, local, e a capacidade de se mover dentro de um mercado industrial globalizado.
Produto industrial
O produto musical surge atrelado à indústria e ao aparecimento das concentrações
urbanas. Ligados a estes, com influência direta para a sua consolidação, estão à
importação de Bens de Consumo Duráveis e a formação da Classe Trabalhadora
Operária. Esse contexto, aqui representados através da possibilidade de impressão de
partituras, importação de instrumentos musicais como o piano, a invenção do fonógrafo
e os cilindros de música, o gramofone e os discos e a sua importação para o Brasil, em
seguida, a divulgação massificada através do rádio, viabiliza o ambiente necessário à
estruturação da música como um bem comercial e industrial.
A música popular surge como produto do então recém-criado processo industrial e
assim deve ser compreendida.
É, portanto, consequência do processo de industrialização e o início do adensamento
populacional urbano a possibilidade de contato e usufruto de outras culturas musicais. A
assimilação e incorporação dos conteúdos alheios à cultura própria provocam a geração
do novo. Esse novo passa a ser entendido como o próprio, representante de uma ideia de
atualidade e modernidade.
Surgimento, consolidação e reconhecimento de mercado.
Ao final do século XIX tem início a fusão de ritmos que se consolida nos gêneros
musicais reconhecidos como brasileiros. Batuques, lundus, maxixes, polcas, modinhas,
marchas, dobrados, galopes e canções, expressões musicais de origem africanas,
indígenas e europeias fundem-se em novos padrões rítmicos e melódicos e delineiam a
chamada Música Popular Brasileira. Essa fusão é, também, uma consequência do
processo de urbanização das tradições rurais que passam a ser adotadas e reconhecidas
pelas emergentes classes urbanas.
Absorvendo influências através de suas principais mídias, os impressos, as gravações
em disco e posteriormente o rádio, a música com base na tradição popular passa por um
processo de transformação e se consolida como gênero musical popular urbano. A
divulgação de outras culturas, pelas mídias, influencia compositores e intérpretes que
passam a adotar elementos dessas em aspectos de suas composições. Como no exemplo
do uso da expressão One-Step, usada no subtítulo das composições na década de 1920.
A expressão americana usada para designar a música de andamento rápido pôde ser
observada no Brasil em gravações de sambas e frevos.
A consolidação da música popular enquanto produto da indústria de entretenimento e
consumo se da durante as décadas de 1920 e 1930, com a popularização da indústria
fonográfica e o surgimento e firmação das emissoras de rádio. Como produto
consolidado, o seu sucesso passa a ser medido, não mais só por questões estéticas ou
locais, mas, pelas vias de difusão do capitalismo e o seu êxito passa a ser dado pelo
tamanho do público atingido e pelo montante do capital gerado.
O rádio, por necessidades mercadológicas e financeiras passa a divulgar com maior
afinco a música e a cultura popular, já que estas atraiam um maior público. Durante a
década de 1930, auge da Era do Rádio, os principais gêneros da música popular já
contavam com divulgação em nível nacional através do rádio.
A indústria fonográfica e a mídia radiofônica, precisavam melhor identificar a grande
variedade dos produtos veiculados. Assim, instituíram novas nomenclaturas de
subgêneros aos gêneros musicais existentes. Deste modo foram surgindo, de acordo
com as particularidades em cada gênero, novos subgêneros: o samba se torna samba exaltação,
samba-canção, samba de partido alto, etc. o frevo se torna frevo-de-rua,
frevo-canção e frevo-de-bloco, entre outros.
O modelo estético assumido, em certa medida, por influência direta das mídias, se
revela determinante na formação de um grande mercado de música popular no Brasil. A
temática do cotidiano possibilita a identificação do público com as canções, o tempo de
duração menor estipulado, em média três minutos, permite a audição de um maior
número de músicas. A junção desses fatores viabiliza a comercialização do produto
musical.
A década de 1930 fecha um ciclo que consolida os gêneros musicais populares ditos
brasileiros. No entanto, foi a partir deste momento que estes começam a gozar de maior
prestígio, divulgação e reconhecimento como representativos da cultura do seu povo,
tendo a sua exposição tanto nos mercados interno quanto externo. Desde então, abremse
novos ciclos de influências, transformações, consolidações e reconhecimentos de tais
como próprios. A eterna reinvenção da tradição coloca o Brasil como um dos principais
mercados, de reconhecida qualidade, exportadores de cultura musical.
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