Por José Teles
Balaio de amor é, antes de tudo, o disco de uma mulher apaixonada. A parceria com Cezinha (os dois assinam a produção do disco) está refletida em todo o trabalho, da capa ao repertório, essencialmente de xotes românticos. Neste caso, o xote com letras de amor não se torna redundante ou repetitivo, como acontece na maioria dos que fazem o pé-de-serra atualmente. Não se torna porque é um disco conceitual. A intenção era reunir canções de amor para celebrar o momento. Sem esquecer que o tratamento que Elba Ramalho dá ao que canta revaloriza as composições. Uma das melhores cantoras do País, que forjou um estilo próprio de cantar (seguido por muitas cantoras pernambucanas, ou que atuam no Estado), Elba, nos dois últimos discos juntou-se à turma de Lula Queiroga & Cia., uma linha de montagem de grandes composições, ótimas produções, habilidosos instrumentistas. Os metais do disco foram gravados no estúdio da Luni, enquanto Tostão Queiroga está em várias faixas.A sanfona de Cezinha é a viga mestra que segura estas 14 canções, uma delas, Recado, foi composta por ele e Fábio Simões. Quase todas as faixas têm fogo para disparar nas paradas, caso sejam tocadas no rádio (o que a própria Elba acha que vai acontecer pouco). Ela trabalha Fuxico (Flávio Leandro), porém a mais fácil de pegar é Riso cristalino, que tem a marca registrada de um mestre do gênero, Dominguinhos (em parceria com Climério Ferreira).
Este disco celebra mais do que 30 anos de carreira, é também a celebração de um novo amor, o que fica explícito na apresentação assinada por Elba no encarte: “A sanfona está nas mão de um jovem e brilhante músico. Cezinha, também produtor deste disco e parceiro de todas as horas. A ele toda a minha gratidão e o beijo mais doce. Obrigada por traduzir meus sentimentos em um disco tão bonito... Com amor e paixão! Assim se faz a história de um povo, de uma nação”.Com pique todo, 57 anos (58 em agosto), Elba tem engatilhados mais outros projetos, um álbum com canções de um só autor – ou Chico Buarque ou Zé Ramalho. “Estou na dúvida, mas será de um desses dois”, diz Elba, que já começou a pré-produção de mais um DVD, último e maior projeto da celebração dos 30 anos de carreira e que será gravado no Recife. “Vou fazer um show no Marco Zero e convidar as pessoas que contribuíram para eu chegar aqui, Chico Buarque, um monte de gente”, diz Elba, que tem mais projetos pernambucanos. “Tenho muita afinidade com os pernambucanos, fui das primeiras a gravar Lula Queiroga e a trabalhar com Spok. Pretendo fazer um disco com ele e a orquestra, só com clássicos do Carnaval de Pernambuco”.
O disco Balaio de amor é o primeiro projeto da comemoração, que culminará com a gravação de um DVD na Praça do Marco Zero.
Elba Ramalho conta os anos de sua carreira a partir de 1979, quando gravou O meu amor, de Chico Buarque, um dueto com Marieta Severo incluído no disco anual do compositor. Naquele mesmo ano ela lançaria seu primeiro disco individual, Ave de prata. “Chico foi meu padrinho no Rio. Fiz parte do elenco da primeira montagem de A ópera do malandro e ele me deu música inédita para meu álbum de estréia”, conta a cantora, em entrevista por telefone.Embora ela tenha participado de shows do Quinteto Violado já em 1974, Elba está este ano celebrando 30 anos de carreira, e o primeiro passo na comemoração é uma volta às suas origens pernambucanas (o Estado natal do pai dela), com Balaio de amor (Biscoito Fino), disco que tem um repertório quase todo assinado por autores de Pernambuco. Mas esta pernambucanidade toda tem uma explicação. A dica para as canções que Elba gravou foram passadas pelo seu atual companheiro, o sanfoneiro e cantor Cezinha. “Sou meio pernambucana, mas confesso que a maioria destas músicas foi Cezinha que me apresentou. Ele, que é um ótimo intrumentista, possui uma grande sensibilidade para o que é bom. Foi por ele que conheci Xico Bizerra, Rogério Rangel. Maciel (Melo), eu já conhecida, já havia gravado. O lado mais positivo deste trabalho é que muitos destes compositores agora vão ser conhecidos fora do Nordeste, então eu trago eles para outra vitrine, revestindo suas canções, que já são conhecida aqui, com uma nova roupagem”.
Das 14 faixas de Balaio de amor, muitas vêm sendo cantadas no Nordeste nas vozes de Santanna, Irah Caldeira, Maciel Melo, Rogério Rangel e Josildo Sá. São assinadas por nomes como Petrúcio Amorim, Flávio Leandro, Terezinha do Acordeom e Jorge de Altinho, fazendo de Elba Ramalho praticamente mais um membro da Sociedade dos Forrozeiros Pé-de-Serra e Ai, à qual grande parte deles está filiada. É também uma acertada estratégia, já que quando fizer o primeiro show do disco, na abertura do São João de Caruaru, o público vai conhecer quase todo o repertório, que tem xotes de sucesso como Me dá meu coração (Accioly Neto), ou Se tu quiser (Xico Bizerra). Vale ressaltar a gravadora pela qual está sendo lançado o disco, a Biscoito Fino, que hoje abriga a fina flor da música popular brasileira, e agora lança um disco de forró. “Conheço Olívia (Hime) há anos. Dei o disco para Olívia e pedi que ela ficasse à vontade, que me ligasse dali a três dias. Ela ligou. Isso é muito interessante porque levo meu trabalho para uma casa que tem artistas que fazem música classe A, e eu levo meu trabalho tanto para este público quanto para um público popular, então a Biscoito é importante por permitir esta abertura”, comenta Elba.
Presença certa nos festejos juninos da Capital do Agreste, a cantora não esconde que gostou da decisão da prefeitura da cidade, que vetou da programação a grande maioria das bandas de fuleiragem music: “Nada contra as bandas, mas achei a decisão altamente salutar. Acho que elas descaracterizam a festa, e é preciso preservar a cultura nordestina. Além do que elas fazem uma coisa apelativa e não é bem isso que se entende como representação cultural, é feito no Carnaval se lançar marchinhas com apelação nas letras”.Voltando aos 30 anos, ela comenta que, com Balaio de amore os autores incluídos no disco, está começando a comemorar a efeméride saudando a nação nordestina: “E aquele lado (referindo-se às letras das bandas) não é nossa cultura, queria que fosse também um disco romântico”, continua Elba Ramalho.
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