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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

MORRE WALDICK SORIANO

Morreu na madrugada de quinta-feira (05 de setembro) o cantor e compositor Waldick Soriano, de 75 anos, que estava internado desde domingo em estado grave no Hospital do Câncer, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio. Waldick Soriano tratava há dois anos um câncer na próstata. Ele estava em coma e respirava com a ajuda de aparelhos. O corpo do músico está sendo velado na Câmara dos Vereadores do Rio e vai ser sepultado nesta sexta-feira no Cemitério do Caju.
Nesta quinta-feira, amigos do cantor lamentaram sua morte. O cantor Agnaldo Timóteo disse que o autor de mais de 500 músicas bregas era mais do que um amigo:

- Ele não era só um colega: além de amigo, era um mestre. O homem que fez "Tortura de amor" não precisaria mais nada. Daqui debaixo, a gente pede a Deus que o receba com o carinho que o povo sempre o recebeu.

A atriz Patrícia Pillar - que assinou a direção de seu primeiro CD/DVD ao vivo e o documentário "Waldick Soriano - Sempre no meu coração" - também lamentou a morte do cantor.

- Me aproximei de Waldick como fã e, hoje, posso dizer que me sinto parte da família. Percorrendo o Brasil, vi o quanto ele era querido e derretia o coração das fãs. Waldick, além de ser um grande artista popular, era um homem amoroso e sempre tinha um olhar inteligente sobre as coisas. Com seu jeito divertido, conseguia falar direto ao coração. Waldick fará falta porque era um invasor de corações e a cara do Brasil - disse Patrícia.

A trajetória do cantor

Eurípedes Waldick Soriano, ou simplesmente Waldick Soriano nasceu na cidade de Caetité, no interior da Bahia, em 13 de maio de 1933. Seu pai era um comerciante de ametistas e sua mãe abandonou a família quando ainda era criança. Trabalhou como lavrador, peão e garimpeiro antes de ir a São Paulo tentar a sorte no meio artístico, no final dos anos 50. Consta que um incidente "amoroso" teria ajudado também em sua saída de Caetité. Na capital paulista passou necessidade, tendo trabalhado como engraxate por um bom período.

Através de um amigo conseguiu gravar a música "Quem és tu?", um sucesso espontâneo. A partir de então começou a chamar a atenção por seu repertório de canções sobre amores malsucedidos e por seu visual - sempre de óculos escuros e vestido de preto. A explicação para a indumentária estava na série de filmes do personagem "Durango Kid", um justiceiro que se vestia de negro e cobria o parte do rosto com um lenço da mesma cor.

Nos anos 60 e 70 firmou-se como um cantor de muito sucesso popular com canções como "Paixão de um homem", "A carta", "A dama de vermelho" e "Se eu morresse amanhã". Mas seu grande sucesso foi "Eu não sou cachorro não", duas décadas depois regravada em um inglês propositalmente tosco por Falcão, numa espécie de deboche contra o preconceito aos cantores populares que ganharam a pecha de cafonas ou bregas.

Em entrevista ao Globo Online, Waldick lembrou de como fez seu primeiro sucesso:

- Eu já tinha me mudado para o Rio, para a Ilha do Governador, onde criava 11 cachorros. Fui fazer uma gravação em São Paulo e depois, para comemorar, fomos a um boteco. Então meu maestro perguntou por que eu não fazia uma canção em homenagem aos cachorros. Na hora eu pensei: "posso levar isso para outro universo". E deu no que deu. É um dito antigo. Eu não sou cachorro não quer dizer não me maltrata, não pisa em mim.

Mas a música que tornou Waldick famoso também é a síntese do preconceito que sofreu. Não à toa "Eu não sou cachorro não - Música popular cafona e ditadura militar" foi o nome escolhido pelo historiador e jornalista Paulo César de Araújo para o livro que reescreve a história e contesta a pecha de adesista imposta à turma formada por Waldick Soriano, Odair José, Benito di Paula, Paulo Sérgio nos anos de chumbo.

Odair José foi um campeão de músicas censuradas. Waldick, por exemplo, teve "Tortura de amor", composta em 1962, vetada em 1974, quando esta foi reeditada.


Cantor de grande apelo popular, ele só foi homenageado em meados da década de 1990, quando o vereador Edilson Batista conseguiu dar o nome de Waldick Soriano a uma das principais avenidas de Caetité.

Há dois anos, a atriz Patrícia Pillar, admiradora do artista, começou a acompanhá-lo em shows e a fazer entrevistas para um documentário, trabalho esse ainda inédito, mas que resultou no CD e DVD "Waldick Soriano ao vivo" (Som Livre), gravado no cinema do Centro Cultural Sesc Luiz Severiano Ribeiro, em Fortaleza, em 2006, e lançado em outubro do ano passado.

- Sempre ouvi Waldick no radinho da babá, no Chacrinha. Era uma figura instigante para mim. Há dois anos, eu ouvi "Tortura de amor" e descobri que era dele. Quando ele começou já apontava para coisa do Tropicalismo, de digerir outras culturas. Tinha influência dos boleros caribenhos, a coisa visual do justiceiro que ele incorporou. Era riquíssimo e moderno para a época.

Fonte: O globo

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