Páginas

domingo, 10 de maio de 2020

7 VIOLONISTAS 7 CORDAS QUE VOCÊ PRECISA CONHECER

Por Henrique Neto





Este post é um apanhado do cenário brasileiro do violão 7 cordas. Aqui, aponto alguns dos nossos principais violonistas de 7 cordas e seus diferentes estilos. Cada um se apropriou do violão de um modo diferente e deu uma cara única para sua sonoridade.

Vivemos um momento de ouro na música instrumental brasileira. Ao contrário da crise política e econômica que teima em nos acompanhar, ao falar dos instrumentistas do Brasil, nadamos de braçadas. Sem dúvida, estaríamos vivendo no melhor dos mundos se nessas áreas que estão causando tantos danos para o país tivéssemos pessoas com o nível de excelência desses artistas. Quem sabe um dia… Enquanto esse dia não chega, vamos celebrar 7 talentos que selecionei para demonstrar como estamos bem servidos em matéria de violão de 7 cordas. Falarei do estilo de cada um deles segundo minha percepção. Obviamente, não pude falar de todos os violonistas que gostaria e que merecem destaque. Falando sobre os 7 aqui escolhidos, espero estar homenageando todos, inclusive os que não estão na lista. Agradeço a cada um por acrescentar ao mundo doses generosas de beleza com suas artes! Vamos a eles!


Fernando César começou a tocar ainda criança ao lado do irmão, Hamilton de Holanda, e de seu pai, José Américo. Fundou em Brasília um dos mais importantes grupos de choro da capital, o “Dois de Ouro”, nome dado pelo lendário percussionista Pernambuco do Pandeiro. Apesar de ter como referência em sua formação musical Alencar sete cordas, Hamilton de Holanda e Rogério Caetano, Fernando César também encontrou nos discos forte inspiração para seu desenvolvimento artístico. Nessa prática, de tirar música de ouvido, aprendeu muito com os mestres Dino sete cordas, Raphael Rabello e outros. Como violonista, César se dedica com mais frequência à função de acompanhante de grupos de Samba e Choro, mas também atacou de solista ao gravar, em 2010, um primoroso CD de violão solo intitulado “3 x 4”. Dentre suas principais caraterísticas violonísticas, destaco o estilo elegante de suas baixarias, que sempre são tocadas na hora certa. Escutei de vários músicos que já tocaram com Fernando César que, tê-lo no grupo, é o mesmo que começar uma partida com metade do jogo ganho, pela tranquilidade que sua maturidade musical e bom gosto confere ao grupo. Talvez por tudo isso, seja um dos nomes mais requisitados para tocar e produzir diversos artistas que querem ter a marca dele presente em seus trabalhos. Se fosse comparar com o futebol, ele seria o camisa 10, ou seja, o craque do time.



Gian Correa é a mescla bem-sucedida de um violão, a um só tempo, moderno, tradicional, criativo e sensível. Com sua técnica apurada, assimilou o legado musical de mestres da sua terra como os paulistas Esmeraldino Sales, Oswaldo Colagrande, Garoto e Laércio de Freitas, para criar seu estilo de compor e tocar. Além de instrumentista de mão cheia, Gian tirou da manga uma grande cartada, compôs 2 CDs inovadores na linguagem do sete cordas de aço, o Mistura 7 e o Remistura 7, nos quais criou arranjos de alto gabarito para quarteto de sopros, pandeiro e 7 cordas. Hoje é um dos violonistas mais atuantes na cena musical de São Paulo e já gravou inúmeros CDs com seus grupos Panorama do Choro, Aeromosca, Alexandre Ribeiro Quarteto, Cadeira de Balanço, Grupo Um a Zero, Grupo Chorando as Pitangas e César Roversi, Entre Linhas, além de dividir o palco e gravações com artistas como Zeca Baleiro, Gilberto Gil, Tom Zé, Emicida, Toninho Ferragutti, Mestrinho, Yamandu Costa, Juliana Amaral, Verônica Ferriani, Fabiana Cozza, entre outros.



João Camarero é um jovem violonista de São Paulo radicado no Rio de Janeiro. Tem na sua alma musical a sabedoria dos anciãos. Sabe tocar bonito mas também sabe tocar com virtuosismo. Acompanha e sola com a mesma desenvoltura. Domina o violão de nylon e de aço, ou seja, é um caso raro de violonista completo. Assisti a um show dele acompanhando outro grande músico, o violonista João Lyra, no Clube do Choro de Brasília e adorei. Mas a grande impressão que ele me deixou foi numa roda de Choro na casa do cavaquinista Márcio Marinho depois desse concerto. São nas rodas informais de música que vemos com mais clareza e sem maquiagem o que cada músico guarda em seu interior, em seu coração. Nessas ocasiões, não tem ensaio, é tudo improvisado. E João produziu tanta beleza que foi um momento inesquecível. Como compositor, tem parcerias com grandes nomes, como Paulo César Pinheiro e Cristóvão Bastos. Já participou da gravação de mais de trinta discos, tocando ou exercendo a função de arranjador e diretor musical.



Douglas Lora é um violonista camaleão. Quando toca Bach, Brouwer ou Tedesco é técnico e preciso. Impecável! Mas também quando dana a tocar Choro, Samba e Bolero, deixa o protocolo do violão clássico de lado e então… sai de baixo! Levadas lindas, pegada potente e aquele bom espírito vadio típico do músico popular. Sua bagagem musical é tão grande quanto sua generosidade, que se revela quando ele mete uma bermuda e um chinelo e com toda simplicidade vai tocar violão nas rodas de Samba e Choro. Eu mesmo já presenciei essa cena em Caraíva, onde fizemos um som juntos em maravilhosas tocatas sob o céu estrelado de Bahia. Com a mesma naturalidade que toca nos saraus, ele encanta as plateias mais exigentes e sobe em palcos internacionalmente famosos para apresentar sua arte. Escutando Douglas, sinto que ele coloca seu som puro e cristalino a serviço dos sentimentos mais nobres da alma, sem barreiras e sem preconceitos. Dentre seus trabalhos mais importantes, Douglas Lora integra, com João Luiz Rezende Lopes, o Brasil Guitar Duo que é, ao lado do Duo Siqueira Lima, o mais importante pós duo Assad.



Alessandro Penezzi é, juntamente com Yamandú Costa, um dos violonistas brasileiros mais impressionantes dos últimos anos. Tem o dom de fazer com que tocar pareça fácil. Suas interpretações e composições guardam uma perfeição de artesão em sua elaboração pelo refinado acabamento e densidade com que as estrutura. Também chama atenção no estilo de Penezzi o sentido melódico de suas improvisações e a riqueza com que ornamenta seu fraseado, raro em violonistas, cheio de trinados, mordentes e escalas vertiginosas. Ele improvisa no violão como se fosse uma flauta ou um bandolim, talvez pela sua faceta de multi-instrumentista que enriquece e define sua bagagem como músico. Penezzi toca, além do violão de 7 cordas, o pandeiro, o cavaquinho, o bandolim, a flauta e certamente outros que eu nem faço idéia! Habilidoso e espontâneo, Penezzi é a síntese do que o músico popular de alto nível tem de melhor.



Yamandú Costa é um dos maiores responsáveis pelo violão de 7 cordas estar em alta no Brasil e no mundo. Segurou com personalidade o bastão deixado por Raphael Rabello e imprimiu novos rumos ao violão de 7 cordas, adicionando a música latino-americana à cultura do Brasil. Sua maneira de tocar, virtuosística, foi nutrida pelas raízes gaúchas através de ritmos como o Chamamé e a Milonga e, posteriormente, enriquecida pela sonoridade malemolente do Choro e do Samba do Rio de Janeiro, terra que o acolheu e o influenciou musicalmente. Não há como ficar impassível ao som de Yamandú. É uma descarga de tantos sentimentos – aproxima ternura e raiva, alegria e tristeza – que já ouvi depoimentos de pessoas que se diziam chocadas depois de assistir a um show seu. Outras, absolutamente encantadas. E um terceiro grupo, ainda, onde me incluo, que segue para casa portando os dois sentimentos. Todas as vezes que sobe ao palco, é como se fosse a primeira: o mesmo frescor, a mesma garra, o mesmo ímpeto. Certo mesmo é que quando assisto o Yamandú, e não exagero em afirmar, sinto estar presenciando um milagre.



Rogério Caetano é um violonista revolucionário. Dentre os 7 cordas da nova geração, talvez seja o que tem a digital musical mais acentuada. Quem conhece seu estilo de tocar, só precisa escutar no máximo 2 compassos para saber que aquele violão é dele. E não é para menos. Depois de dissecar a obra de seus principais mestres, Dino, Raphael Rabello e os irmãos Walter e Waldir, Rogério propôs um novo jeito de tocar o 7 cordas de aço aplicando escalas alteradas em linguagens mais tradicionais como o Samba e o Choro. O resultado é que ele fundou uma nova escola de violão de aço que tem como característica marcante a sonoridade inovadora e sofisticada que só pode nascer dos dedos de um violonista que tem seu lastro musical calcado em referências do passado, mas que mantém os olhos no futuro. Dentre seus diversos trabalhos, já atuou ao lado de artistas como Zeca Pagodinho, Leila Pinheiro, Ney Matogrosso, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Monarco e outros. 

Me despeço aqui certo de que consegui expressar um pouco das características mais marcantes de cada estilo de violão 7 cordas incorporadas por estes incríveis violonistas brasileiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário