Por Paulo Carvalho
Flabelo do Bloco das Ilusões
O encontro de dois clubes carnavalescos durante os festejos de Momo poderia resultar em uma batalha sonora com as orquestras tocando cada vez mais alto para superar sua concorrente, ou músicos tocando em descompasso para atrapalhar o colega adversário. Como exemplo, podemos citar o carnaval de Vitória de Santo Antão onde se podia assistir o duelo entre o Clube Abanadores (Leão), fundado em 1902 e o Clube Vassouras ( Camelo) de 1921 nas ruas da cidade, com torcidas vibrantes defendendo as suas agremiações e respectivas orquestras. O encontro atraía foliões de todo o Estado para ver e ouvir a famosa batalha.
Músico de Bloco Lírico
Porém outro encontro de categorias diferentes resultava num momento de rara demonstração de gentileza e cordialidade. Quando um Clube (Vassourinhas, Clube das Pás, Lenhadores) com sua orquestra predominantemente composta de metais, ao se encontrar ocasionalmente, com um Bloco Lírico (Bloco da Saudade, Bloco das Ilusões, Batutas de São José) onde as cordas, violões, violinos, e banjos são os principais instrumentos, além das vozes, seriam facilmente superadas pelos metais de uma orquestra tocando frevo de rua, com seus clarins, trompetes e tubas. Pois bem, o Clube, em sinal de respeito, e por orientação do maestro, parava de tocar por alguns minutos, enquanto o Bloco passava, permitindo assim, que os foliões ouvissem o som baixinho do Frevo de Bloco.
Pastoras do Bloco da Saudade
O flabelo, estandarte característico dos Blocos Líricos, ficava, neste momento, no final do cordão para agradecer, fazendo uma reverência ao Clube, logo em seguida retomava sua posição a frente dos músicos e das pastoras. Os Blocos e suas orquestras de pau e corda, como eram chamadas, foram criados nos anos vinte do século passado para permitir que as damas da sociedade local tivessem acesso as ruas durante a folia, sem o incomodo ruge-ruge dos Clubes e seus passistas, a maioria capoeiristas que tinham a função de defender os músicos.
Base da orquestra de frevo de rua
A orquestra do Clube, depois deste verdadeiro ritual, voltava a vibrar os seus metais com toda força e seguia o seu caminho arrastando os passistas em mirabolantes coreografias pelas ruas do Recife e Olinda.
Arranjos: Maestro Ademir Araújo
Direção artística e musical: Herbert Lucena
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