Em tempos de efemeridade, o Baile Municipal do Recife mostra que o legado deixado por nomes como Capiba e Nelson Ferreira ainda tem vez
Por mais que tentem, o frevo resiste e faz-se presente a cada novo ano pelas ruas e clubes da cidade. Até porque, como diria a pesquisadora Claudia Rocha Lima: "O carnaval recifense possui uma música e uma dança carnavalesca própria e original, nascida do povo". Mesmo havendo essa reverência ao samba ao longo deste ano, a mais tradicional prévia do carnaval do Recife mais uma vez mostra o quanto o frevo e suas variantes faz-se fundamental não apenas enquanto gênero musical, mas acima de tudo como identidade cultural da cidade (para quem não tem conhecimento, o frevo surgiu nas ruas do Recife nos fins do século XIX e começo do século XX, mas foi mais precisamente no dia 9 de Fevereiro de 1907 nas páginas de um jornal de pequena circulação (o Pequeno do Recife) que o jornalista Osvald de Almeida, que se escondia sob o pseudônimo de Paula Judeu, cravou o termo para descrever a animação do povo nas ruas e clubes sob o som da marchinha acelerada). O termo vem de ferver, que por sua vez traz a corruptela, frever, dando origem a palavra frevo, que passou a designar: "Efervecência, agitação, confusão, rebuliço; apertão nas reuniões de grande massa popular no seu vai-e-vem em direções opostas como pelo Carnaval", de acordo com o Vocabulário Pernambucano de Pereira da Costa. Depois deste retrospecto histórico é perceptível o quão a história da cidade está associada ao gênero. Sendo assim não é exagero afirmar que a palavra de ordem nos períodos que antecedem a folia de momo é: Frevo. E se a palavra de ordem é frevo, o Baile Municipal do Recife em sua 55ª edição soube muito bem traduzir esse desejo como tradicionalmente vem fazendo ao longo de todos estes anos (mesmo em dado momento dando vez ao samba a partir dos homenageados do carnaval deste ano: Belo Xis e Gerlane Lops).
Sob a batuta de dois exponentes do frevo na atualidade, o Classic Hall teve uma noite contagiante e de exacerbada alegria. Spok e Forró, maestros que vem cada um a seu modo, criando nova roupagem para o centenário ritmo, ganharam o reforço de artistas pernambucanos que pautaram as suas respectivas carreiras no contagiante ritmo (como é o caso de nomes como André Rio, Almir Rouche e Nena Queiroga) e Elba Ramalho, aquela que talvez seja o maior exponente feminino do gênero em nosso país. No ano em que completa seis décadas do lançamento do primeiro LP de Capiba e os 70 anos de carreira de Claudionor Germano, o maior intérprete de todos os tempos do frevo; a festa teve a sua reverência em mais um baile singular, mostrando o porquê, segundo Getúlio Cavalcanti, o Recife tem o carnaval melhor do meu Brasil
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