Ela conta sobre o processo de elaboração do projeto de homenagem aos 70 anos do músico
Por Ana Clara Brant
Acompanhada de uma big band, Gaia toca saxofone e está lançando seu primeiro álbum Migrations, pela Biscoito Fino (foto: Leo Aversa/Divulgação)
Compositor, multi-instrumentista, cantor e arranjador, Egberto Gismonti completou 70 anos no fim de 2017. Para celebrar a efeméride, o Centro Cultural Banco do Brasil está com um projeto especial, Egberto 70. Depois de passar pelo CCBB de Brasília, a iniciativa está em Belo Horizonte e segue para Rio de Janeiro e São Paulo. O projeto – idealizado, dirigido e regido pela compositora e produtora cultural Gaia Wilmer – foi encerrado domingo (5), com a presença do próprio Egberto, de Gaia e sua big band, além de Jaques Morelenbaum e Mauro Senise.
Gaia conta que a música de Egberto Gismonti sempre esteve presente em sua vida, mesmo antes de saber quem ele era e de onde aquela música vinha. “Tenho lembranças de infância, de escutar aquela música na casa do meu pai. Mais tarde, quando adolescente, escutei muitos outros tipos de música, mas lembro de sempre sentir uma sensação de casa, de conexão com as minhas raízes, ao ouvir sua obra. E mais tarde, quando comecei a tocar e me envolver com música de maneira mais formal (e depois profissional), a música dele sempre esteve presente quase que como um guia inconsciente, uma linha invisível indo junto no meu caminho. Egberto me inspira diariamente”, ressalta a artista.
A compositora revela que, inicialmente, Egberto Gismonti seria o único convidado da banda, mas após a aprovação do projeto, sentiu a necessidade de aumentá-lo e incluir mais shows do que o previsto. “Para abrilhantar ainda mais o projeto, chamei outros convidados para fazer parte dessa homenagem. Pensei em pessoas que tivessem uma ligação musical e afetiva com a vida e a música do Egberto. Pessoas que trouxessem uma boa energia para o show, que o admiram e respeitam.”
A saxofonista catarinense afirma que o homenageado participou de todas as etapas do projeto, desde a concepção, passando pela produção, a escolha dos convidados, datas e repertório. “Sempre tentei que essa homenagem não fosse apenas o uso das músicas dele para um show, e sim um genuíno presente meu para ele, como uma demonstração de todo carinho e amor que tenho pela sua música. Egberto sempre recebeu tudo muito bem, ficou feliz com o projeto, com os arranjos e com os músicos, mas sempre deixou claro que o projeto era meu e que deveria tomar as decisões por conta própria”, revela.
No entanto, a artista lembra que isso foi ao mesmo tempo bom e amedrontador pois não conseguia ter certeza se estava indo pelo caminho que lhe agradaria mais. “Mas, ao mesmo tempo, depois de tanto trabalho e dedicação, de tanto envolvimento da minha parte e tantas trocas com ele, acho que Egberto não tem dúvida da minha intenção e do meu profundo respeito por ele e por sua música”, afirma Gaia. Ela assegura que nunca perdeu seu amor e sua ligação com a música e a cultura brasileira. Muito pelo contrário. Ela ressalta que o contato com a música norte-americana e de várias partes do mundo, apesar de enriquecedor, só a fez ter certeza de que suas raízes são latino-americanas. “Por isso, apesar de gostar, ouvir e estudar muita coisa, as músicas de Egberto Gismonti me remetem a essa sensação de pertencimento ao Brasil, a essa relação profunda com a cultura brasileira.”
PRIMEIRO ÁLBUM
A compositora lançou nos EUA, no fim de 2017, seu primeiro álbum Migrations, que agora chega ao Brasil pela Biscoito Fino. Nascida em Santa Catarina e radicada em Boston (EUA) há cinco anos, ela afirma que “apesar do meu trabalho ter muitas pitadas de jazz, de escrita para big band no formato americano, sempre tem, no fundo, quem sou e minhas raízes brasileiras”.
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