A FAUNA E A FLORA CANTADAS PELO REI DO BAIÃO
A fauna é importantíssima e foi um elemento primordial para os homens, os quais dependiam dela para sobreviver. A caça foi uma forma elementar aproveitada por nossos antepassados para a aquisição de alimento. O manejo da fauna também pode ser muito importante para o homem chamado civilizado, que poderá manter e desenvolver criação de animais silvestres para fins de obtenção de proteína.
Meu nome é Luiz Gonzaga, não sei se sou fraco ou forte, só sei que, graças a Deus, té pra nascer tive sorte, apois nasci em Pernambuco, o famoso Leão do Norte.
Nas terras do novo Exu, da fazenda Caiçara, em novecentos e doze, viu o mundo a minha cara. No dia de Santa Luzia, por isso é que sou Luiz, no mês que Cristo nasceu, por isso é que sou feliz. (LUIZ GONZAGA, 1952)
Músicas como “Asa Branca”, “Juazeiro”, “Xote das Meninas”, “Xote Ecológico”, “Aroeira”, “Assum Preto”, “Acauã”, “Fogo Pagou”, “Açucena cheirosa”, “Acácia amarela”, “Umbuzeiro da Saudade”, “Cajueiro Velho”, “Capim Novo”, “Ovo de Codorna”, “Flor do Lírio”, “Madureceu o milho”, “O Urubu é um triste”, “Penas do Tiê”, “Qui nem Jiló”, “Quero chá”, “O Adeus da Asa Branca”, “Erva Rasteira”, “Frutos da Terra”, “Projeto Asa Branca”, “Rodovia Asa Branca”, “Canto do Sabiá” e “Sabiá” representaram a fauna e a flora do sertão nordestino através das músicas de Luiz Gonzaga. E através delas vai ser possível desenvolver esse trabalho a fim de que se possa mostrar a riqueza e a importância delas na vida do sertanejo da região Nordeste.
Determinar ou conhecer a identidade de um povo não é fácil. Pois, identidade não é uma coisa fixa, é algo dinâmico, quase um ser vivo. Há sempre uma evolução, transformação, e mesmo assim diferentes manifestações de uma identidade coexistente, tornando-a ainda mais complexa.
Talvez a seca seja a maior característica da Caatinga, e é também o aspecto que tem maior força na construção da identidade do nordestino. Não é por menos que o maior sucesso de Luiz Gonzaga retrata as consequências da seca. A música Asa Branca conta a história de um nordestino que migra para o sudeste fugindo da fome e da seca.
As Músicas Cantadas Pelo Rei do Baião
O auge do Baião transcorreu a segunda metade da década de 40 até a primeira metade da década de 50, época na qual Luiz Gonzaga consolida-se como um dos artistas mais populares em todo território nacional. Esse sucesso foi devido, sobretudo à genialidade musical da “Asa Branca” que ele compôs com Humberto Teixeira, um hino que relata a trajetória do sofrido imigrante nordestino.
Em “Asa Branca”
Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Nessa música, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira quiseram demonstrar o lamento e a esperança do sertão. Ambos têm uma visão romântica poética e realista do cenário nordestino brasileiro. A música fala da Seca no Nordeste do Brasil, que por ser muito intensa, obrigando o seu povo a migrar, assim como as aves também, a exemplo da asa branca que é um tipo de um pombo que quando bate asa do sertão anuncia a seca. Migração essa que é feita por homens que deixam sua cidade, sua região, procurando melhorias de vida e sustento da família, saindo deixa para trás mulher e filhos.
Em “Juazeiro”
Juazeiro, juazeiro
Me arresponda, por favor,
Juazeiro, velho amigo,
Onde anda o meu amor
Ai, juazeiro
Ela nunca mais voltou,
Diz, juazeiro
Onde anda meu amor
Juazeiro, não te alembra
Quando o nosso amor nasceu
Toda tarde à tua sombra
Conversava ele e eu
Ai, juazeiro
Como dói a minha dor,
Diz, juazeiro
Onde anda o meu amor
Juazeiro, seje franco,
Ela tem um novo amor,
Se não tem, porque tu choras,
Solidário à minha dor
Ai, juazeiro
Não me deixa assim roer,
Ai, juazeiro
Tô cansado de sofrer
Juazeiro, meu destino
Tá ligado junto ao teu,
No teu tronco tem dois nomes,
Ele mesmo é que ecreveu
Ai, juazeiro
Eu num güento mais roer,
Ai, juazeiro
Eu prefiro inté morrer.
Ai, juazeiro... (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Essa é uma canção simples, ingênua e de muito bom gosto. A letra transmite o lamento de um sertanejo, abandonado pela amada, que interroga a árvore, testemunha de seu amor: O verbo "roer", que aparece em dois versos da canção, é muito usado no Nordeste com o significado de "remoer uma dor de cotovelo".
Em “Xote das Meninas”
Mandacaru
Quando fulora na seca
É o siná que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjôa
Da boneca
É siná que o amor
Já chegou no coração...
Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais usar jibão...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
De manhã cedo já tá pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao dotô
A filha adoentada
Não come, nem estuda
Não dorme, não quer nada...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mas o dotô nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
Que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mandacaru
Quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjôa
Da boneca
É sinal que o amor
Já chegou no coração...
Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
De manhã cedo já está pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao doutor
A filha adoentada
Não come, num estuda
Num dorme, num quer nada...
Porque ela só quer, hum!
Porque ela só quer
Só pensa em namorar...
Mas o doutô nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
E que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...
Porque ela só quer, oh!
Mas porque ela só quer, ai!
Mas porque ela só quer
Oi, oi, oi!
Ela só quer
Só pensa em namorar
Mas porque ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar... (Luiz Gonzaga e Zé Dantas)
Nessa música, Luiz Gonzaga e Zé Dantas mostram que “Mandacaru quando fulora na seca” se refere aos seios da menina apontando em um peito outrora liso. “É sinal que a chuva chega no sertão” é a consequencia da puberdade na qual acontece a primeira menstruação da menina. E o remanescente é uma brincadeira acerca da reação dos pais quanto à transformação da menina/ mulher em lidarem com a situação.
Em “Xote Ecológico”
Não posso respirar, não posso mais nadar
A terra está morrendo, não dá mais pra plantar
E se plantar não nasce, se nascer não dá
Até pinga da boa é difícil de encontrar
Cadê a flor que estava aqui?
Poluição comeu.
E o peixe que é do mar?
Poluição comeu
E o verde onde é que está ?
Poluição comeu
Nem o Chico Mendes sobreviveu (Luiz Gonzaga)
O tema desta música é o meio ambiente cuja particularidade interdisciplinar vai além dos limites de uma única ciência, porque envolve política, economia, história, ecologia e geografia. No que se refere à Geografia, seu objeto de estudo é o espaço humanizado e neste se inclui o meio ambiente impactado pelas organizações sociais.
Em “Aroeira”
Passei um dia pela sombra da aroeira
Mas que árvore traiçoeira, veja em que eu fui me meter
Fiquei dez dias numa baita comichão
Corpo emzambuado desde o imbigo até o dedão
Desde esse dia, nunca mais entrei no mato
Prefiro carrapato a ter de novo a coçação
Desde esse dia, nunca mais entrei no mato
Prefiro carrapato a ter de novo a coçação
Pois teu amor comicha mais que aroeira
Vou fazer uma benzedura pra ele não me comichar
Faço uma cruz com três raminhos de alecrim
E antes que chegue no tempo, teu amor não coça em mim
Coça que coça, coça, coça, comichão
Vai coçar pra outras banda e deixa em paz meu coração
Coça que coça, coça, coça, comichão
Vai coçar pra outras banda e deixa em paz meu coração
Nós semos moço, temos a vida pela frente
Não faz mal que se a gente perde um pouco a esperar
Quando der jeito a gente ajeita um ranchinho
E junta o padre com os padrinhos sai da igreja e vai pra lá
E eu te coço, e tu me coça, e se coçemu
Eu grito: num se assustemo, General Onório Lemu
E eu te coço, e tu me coça, e se coçemu
Eu grito: num se assustemo, General Onório Lemu (Luiz Gonzaga)
Essa música de Luiz Gonzaga inicia fazendo alusão a uma árvore, que é peculiar da nossa região, e que é chamada “Aroeira-do-Sertão” e se pode perceber em trechos como: “Passei um dia pela sombra da aroeira, mas que árvore traiçoeira, veja em que eu fui me meter...”. Logo mais a frente ele fala que a árvore causa uma grande coceira, como se percebe nos versos: “Fiquei dez dias numa baita comichão. Corpo emzambuado desde o imbigo até o dedão...”; Mas, na verdade, quando ele citou essa planta, ele pretendia somente fazer uma comparação com o amor de sua amada, que se percebe quando ele diz: “Pois teu amor comicha mais que aroeira...”. Então a partir daí ele começa a falar sobre o amor deles, e que ela mexe muito com ele, mas assim mesmo, ele pretende se casar com ela, como se percebe nos versos: “Quando der jeito a gente ajeita um ranchinho. E junta o padre com os padrinhos sai da igreja e vai pra lá...”
Luiz também utiliza expressões da região Nordeste, como: “baita”, “imbigo”, “coçemu”, entre outros. Já que em suas músicas sempre estão explícitas características e expressões nordestinas.
Em “Assum Preto”
Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus. (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
A música "Assum preto" fala sobre a época de chuva, quando as árvores estão com flores e o Nordeste se alegra com o canto dos pássaros. Mas tem um em especial que canta de dor, esse é o Assum Preto que teve seus olhos furados para voltar a cantar. Parou de cantar quando ficou sem seu amor, de tristeza se encheu, não quis mais cantar, e "Tarvez por ignorança Ou mardade das pió" cometeram tal ato cruel. O Assum não pode mais voar, preferiria viver "na gaiola" com sua visão do que livre sem ela. Essa música, fala também, da lamentação por um amor que foi roubado, ela era a luz dos seus olhos, ele ficou como o Assum cego pelo amor perdido e cantam juntos de tristeza.
Em “Acauã”
Acauã, acauã vive cantando
Durante o tempo do verão
No silêncio das tardes agourando
Chamando a seca pro sertão
Chamando a seca pro sertão
Acauã,
Acauã,
Teu canto é penoso e faz medo
Te cala acauã,
Que é pra chuva voltar cedo
Que é pra chuva voltar cedo
Toda noite no sertão
Canta o João Corta-Pau
A coruja, mãe da lua
A peitica e o bacurau
Na alegria do inverno
Canta sapo, gia e rã
Mas na tristeza da seca
Só se ouve acauã
Só se ouve acauã
Acauã, Acauã... (Zé Dantas)
Nessa música, Zé Dantas deixa bem claro que Acauã é uma ave peculiar do sertão, que resiste ao calor. Seu cantar, no sertão, divulga o verão. Contam que é a única ave que resiste a um período de seca. Quando todas as aves fogem, é a única que sobra. Nessa magnífica letra, o homem que cantou todas as aves do sertão, pede: “Te cala acauã; Que é pra chuva voltar cedo”. Se na alegria do inverno, período de chuvas, “Canta sapo, gia e rã, na tristeza da seca, só se ouve acauã”. Tema frequente de suas músicas, Luiz fala do desespero e desesperança vividos pelo povo durante o período de seca do sertão.
Em “Fogo Pagou”
Fogo Pagou
Teve pena da rolinha que o menino matou
Teve pena da rolinha que o menino matou
Mais depois que torrou a bichinha, comeu com farinha...gostou
Mais depois que torrou a bichinha, comeu com farinha...gostou
Fogo pagou
Fogo pagou
Fogo pagou. Tem dó de mim
Fogo pagou
Fogo pagou
Fogo pagou.é sempre assim
Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar
Más se disso tirar bom proveito sorrir satisfeito fingindo chorar
Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar
Más se disso tirar bom proveito sorrir satisfeito fingindo chorar
Teve pena da rolinha que o menino matou
Teve pena da rolinha que o menino matou
Mais depois que torrou a bichinha, comeu com farinha...gostou
Mais depois que torrou a bichinha, comeu com farinha...gostou
Fogo pagou
Fogo pagou
Fogo pagou..tem dó de mim
Fogo pagou
Fogo pagou
Fogo pagou..é sempre assim
Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar
Más se disso tirar bom proveito sorrir satisfeito fingindo chorar
Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar
Más se disso tirar bom proveito sorrir satisfeito fingindo chorar
(Rivaldo Serrano de Andrade)
Aqui, Rivaldo Serrano retrata a rolinha fogo-pagou, mostrando que a fome obriga o homem a matar animais como a rolinha. Isso fica claro na frase “Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar”.
De origem brasileira, a Rolinha-fogo-pagou vive em praticamente todas as regiões do País. Como se alimenta de sementes de gramíneas apanhadas no chão é encontrada em áreas descobertas, onde pode facilmente achar seus alimentos, e em locais cultivados pelo homem, nutrindo-se de arroz e outras sementes; porém, não chega a ser uma ave predadora de plantações. Costuma viver sempre aos pares, só sendo vista em pequenos bandos perto dos locais de alimentação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário