Por Joaquim Macedo Junior
MÚSICOS DE UMA CANÇÃO SÓ QUE FIZERAM ETERNO SUCESSO NACIONAL – OTÁVIO DE SOUZA
O maior exemplo de compositor de uma música só é Otávio de Souza, co-autor de “Rosa” que se tornou hino lírico brasileiro. Em seu caso, a sorte o abençoou ao fazer poesia, puxada para o parnasiano, para o rebuscado e, que, casada com música de ninguém menos que Pixinguinha, tornou-se letra dessa obra-prima do cancioneiro nacional.
A peça, instrumental, foi feita 1917, segundo Alfredo da Rocha Viana Filho (Pixinguinha), que informou que seu título original foi “Evocação”.
Como manda a tradição do chorinho (gênero musical de Pixinguinha), a música foi composta em três partes.
Mais tarde, recebeu letra e ficou apenas com a primeira e a segunda partes. Muitas vezes foi gravada e regravada na versão original com três partes e sem letra, com Choro Carioca e Musica do Brasil, da Acari.
Nosso improvável célebre Otávio de Souza era um mecânico de profissão, que morreu jovem e nunca compôs nada parecido com Rosa.
Rosa – Instrumental (1917) – com Paulo Sérgio Santos, João Carlos de Assis Brasil e Henrique Cazes
Conta a lenda que Otávio se aproximou de Pixinguinha enquanto o mestre bebia em uma bar, do subúrbio carioca de Engenho de Dentro, para falar que havia uma letra que não saía de sua cabeça toda vez que ouvi a valsa. Pixinguinha ouviu e ficou maravilhado.
A gravação de Orlando Silva foi a responsável pela popularização de Rosa, com erro de concordância e tudo no trecho “sândalos dolente”.
Francisco Carlos e Carlos Galhardo deixaram de gravar Rosa por terem se recusado a gravar Carinhoso (coisas de gravadora).
“Rosa” era a música preferida da mãe de Orlando, dona Balbina. Após sua morte, em 1968, Orlando Silva jamais voltou a cantar a música.
Rosa, com Orlando Silva – 1937
Rosa, com Marisa Monte – 1990
Segundo estudiosos, “Rosa” é uma valsa de breque, de difícil interpretação vocal, especialmente para o uso de legatos (maneira de tocar uma frase musical), já que as pausas naturais são preenchidas por segmentos que restringem os espaços para o cantor tomar fôlego.
Quanto à letra, é também um exemplo do estilo poético rebuscado em moda na época. O desafio de regravar “Rosa” foi tentado por alguns intérpretes, sendo talvez o melhor resultado obtido por Marisa Monte, em 1990, com pequenas alterações melódicas.
Semana que vem tem mais.
Fontes: Site Poemas & Canções; Acervo Pessoal; Wikipedia; Dicionário Ricardo Cravo Albin
Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral. Oh, alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer
Muito bom, Quincas. Só sabia que era um mecânico.
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