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quarta-feira, 31 de maio de 2017

GEOGRAFIA DAS EXPRESSÕES

Um ensaio fotográfico sobre o homem e seus territórios, focando as expressões diversas dos indivíduos no cotidiano e em suas respectivas paisagens. 

Por Fábio Nunes







SEM PATROCÍNIO, PRÊMIO DA MÚSICA TERÁ INGRESSOS E AJUDA DE ARTISTAS

Por Marco Aurélio Canônico



Maria Bethânia e Jose Mauricio Machline no Prêmio da Música em 2014


Com sua realização ameaçada pela primeira vez desde seu início, em 1988, o Prêmio da Música Brasileira resolveu apelar ao público e aos artistas amigos para fazer sua cerimônia deste ano.

Em uma reunião em sua casa, na zona sul do Rio, na noite desta quarta (24), o criador da premiação, José Maurício Machline, anunciou para uma plateia estrelada que não conseguiu patrocínio para o evento, mas que o realizará mesmo assim, bancando-o com dinheiro próprio e com uma inédita venda de ingressos para a cerimônia.

A festa acontecerá no dia 19 de julho, no teatro Municipal do Rio, como de hábito. Para bancar ao menos parte dela, metade dos 1.800 lugares serão ofertados ao público, com preços ainda não definidos.

"Todos os nossos fornecedores estão sendo extremamente parceiros, e os artistas vão participar sem cachê, por amor, para que o prêmio aconteça de fato", disse Machline.

Presentes ao encontro estavam cantores de Alceu Valença a Zélia Duncan, passando por Gilberto Gil, João Bosco, Elba Ramalho, Lenine e Ney Matogrosso. Também atrizes como Fernanda Montenegro, Malu Mader e Maitê Proença, além de artistas como Gringo Cardia e Vik Muniz.

"O prêmio vem sendo entregue há 28 anos, com resultados muito importantes de promoção e de reconhecimento para os artistas. É natural que as pessoas se juntem agora para fazer uma campanha em prol dele", disse Gil.

Assista ao vídeo da campanha:



"Mesmo nessa crise geral, vamos fazer o prêmio, sim. É uma questão de coragem cultural. Hoje [quarta] quebraram o Ministério da Cultura, um sinal dos tempos. Nos congregarmos aqui para dizer que sim, vamos ter o Prêmio da Música Brasileira, é algo corajoso e bonito, numa hora tão depreciada por que o Brasil está passando", disse Fernanda Montenegro.

Apesar de sua premiação ter sido ameaçada, as inscrições de trabalhos no prêmio aconteceram normalmente, assim como a audição deles pelo júri especializado. Obras lançadas em 2016, nas mais variadas categorias, podem concorrer.

"Tivemos novamente um recorde de inscrições, mais de 1.300 artistas inscritos. Significa que, mesmo com a dificuldade, eles produziram. E cerca de 75% dos inscritos têm entre um e três trabalhos lançados, são artistas novos", diz Machline.

Desde que foi lançada, esta é apenas a segunda vez que a premiação acontece sem um patrocinador –a primeira foi em 2009, quando a Tim rompeu o contrato, pagando uma multa pela rescisão que permitiu que o evento acontecesse.

O troféu começou como Prêmio Sharp, em sua primeira década, e depois teve patrocínio da revista "Caras", da Tim, da Vale e, nos últimos anos, do Banco do Brasil.

Machline inscreveu o evento na lei Rouanet e obteve autorização para captar cerca de R$ 9 milhões. Diz ter procurado diversas empresas, de várias áreas, mas a crise cortou o ânimo para patrocínios. Agora, pretende montar a cerimônia por uma fração deste custo.


HOMENAGEM A NEY

Como sempre acontece, a premiação terá um homenageado –neste ano, Ney Matogrosso. "Inicialmente, não queria, sou meio avesso a esse tipo de homenagem, fico sem saber como lidar", disse o cantor. "Mas o Zé [Maurício Machline] disse que seria eu mesmo não querendo."

"O Ney já dirigiu, já iluminou, já cantou na premiação. É um superparceiro nosso", disse Machline. O formato da homenagem e quem participará dela ainda não está definido. Em geral, artistas cantam músicas conhecidas da carreira do homenageado.

Na reunião da noite de quarta, as estrelas deram suas sugestões para levantar recursos. Houve quem sugerisse uma espécie de "crowdfunding" entre conhecidos ricos, que pagariam simbolicamente pelos ingressos.

Baby do Brasil sugeriu que se abrisse uma categoria para a música gospel, afirmando que assim poderia conseguir apoio financeiro dos religiosos. "É o mercado que mais vende, Deus é foda", disse a cantora.

terça-feira, 30 de maio de 2017

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*



O que é canção? Wado

Wado



- O que é a canção?
Canção é uma manifestação humana das mais antigas, cantar e entrar em transe vem de períodos pré-históricos, é de antes da cisão da poesia e da música.

- De onde vem a canção?
Considero canção algo pouco racional, em seu âmago, lógico que pode se sofisticar ela mas não é, por natureza, um território da razão.

- Para que cantar?
Cantar por necessidade da espécie, cantar é quase tão necessário quanto comer.

- Cite 3 artistas que são referências para o seu trabalho.
Lucas Santtana, Cícero, Camelo.






* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

segunda-feira, 29 de maio de 2017

PAUTA MUSICAL: ORQUESTRA DE CORDAS BRASILEIRA

Por Laura Macedo



A Orquestra de Cordas Brasileiras, grupo formado, no final da década de 80, por Afonso Machado, Rodrigo Lessa, Alexandre De La Peña, Marcílio Lopes (bandolins), Henrique Cazes, Jayme Vignoli (cavaquinhos), Marcus Ferrer, Marcelo Fortuna (violas-caipira), Bartolomeu Wiese, Paulo André Tavares, Luiz Flávio Alcofra (violões), Josimar Gomes Carneiro (violão de 7 cordas), Omar Cavalheiro (baixo acústico), Beto Cazes e Oscar Bolão (percussão).

01 - “Alvorada” (Jacob do Bandolim) arranjo de Radamés Gnattali.



02 - “Sarau pra Radamés” (Paulinho da Viola) arranjo Henrique Cazes.



03 - “Sarambeque” (Ernesto Nazareth) arranjo Afonso Machado.



04 - “Remexendo” (Radamés Gnattali) arranjo Henrique Cazes / samba vocalizado por Beto Cazes em homenagem a Luciano Perrone.



MINHAS DUAS ESTRELAS (PERY RIBEIRO E ANA DUARTE)*




18 - Que será da minha vida sem o teu amor

O Hotel Quitandinha, em Petrópolis, foi cenário das mais saborosas lembranças da minha infância. Ao sabermos que nossos pais iam se apresentar lá, Bily e eu pulávamos de alegria, com a certeza de dias muito divertidos. No hotel, desfrutávamos do que havia de melhor em acomodações. Como qualquer criança, a nossa paixão eram as piscinas, especialmente a de água quente, dentro do hotel. Até hoje soa em meus ouvidos o eco do som da água e das pessoas gritando e falando alto, em volta da piscina quente. Além do restaurante principal, havia outro só para as crianças, todo colorido. A comida era farta e gostosa e um clima de alegria dominava tudo. Os shows aconteciam no Grill, ambiente chique, onde as mulheres iam de vestido longo e os homens de smoking. Havia uma espécie de mezanino onde eu gostava de ficar para assistir às apresentações de meus pais e outros artistas no palco. Na hora do show do Trio de Ouro ou de alguma atração inter-nacional, eu tinha de arranjar um cantinho, pois ficava tudo lotado. Os shows no Grill eram muito variados. O palco giratório era uma atração à parte. Assim que um número estava terminando, o palco começava a rodar e do outro lado ia surgindo a atração seguinte. Nossos pais, assim como os outros artistas e músicos, iam dormir muito tarde. Mas a gente, normalmente cansado de tanto brincar, dormia cedo. E acordávamos cedo também . Portanto, logo pela manhã, Bily e eu estávamos acesos. Achávamos chiquérrimo pedir o café no quarto. Fazíamos o garçom entrar naquela penumbra, com o carrinho cheio de delícias, e tomávamos nosso café iluminados apenas por um fiozinho de luz da cortina entreaberta, aos cochichos, para não acordar nossos pais. Depois, íamos brincar de bola nos corredores. Normalmente, a equipe do show ficava em quartos ao lado do nosso. Podem imaginar o resultado: a bola acabava batendo na porta de algum deles. Estava sempre conosco um vibrafonista muito querido por nossa família, chamado Xuca-Xuca. Recentemente, eu o vi — inteiraço — numa reportagem da TV Globo. Xuca teria mais ou menos a idade do meu pai, se ainda fosse vivo. Pois Xuca-Xuca correu muito atrás de nós, quando a bola batia na porta dele, acordando-o. O Quitandinha foi um dos lugares mais bonitos e chiques que conheci. Pena que, sem uma política cultural mais efetiva e sem a necessária reabertura dos cassinos no Brasil, espaços como esse ficaram tão abandonados. Foi no Quitandinha que assisti a um momento marcante da carreira de minha mãe: sua volta aos palcos sem meu pai. Sozinha naquele palco, onde tantas vezes entrara ao lado do marido, minha mãe re-começava tudo. Imagino que a sensação era terrível. Não tinha mais Nilo, não tinha mais Herivelto. Não havia mais a certeza do resultado, os arranjos conhecidos. Nem a certeza do aplauso. A insegurança tomava conta dela. Essa primeira vez, após a temporada sozinha em Belém, aconteceu graças aos incentivos de Luís Bonfá, Xuca-Xuca e Francisco Pacheco, o Chicão. Ela e Chicão estavam de namorico. Chicão era um sujeito alto, moreno, bonito e participava ao lado de Luís Bonfá do conjunto Quitandinha Serenaders. O grupo abria o espetáculo no palco giratório com uma bonita apresentação, to-dos muito bem -vestidos. Chicão tinha uma postura séria, mas simpática. Eles deram à minha mãe uma força especial num momento decisivo. Sem o empurrão, talvez ela não conseguisse encarar aquele palco, com a lembrança de meu pai e do sucesso do Trio de Ouro tão recentes. Mas encarou. Com medo, tremendo, entrou no palco e cantou. Cantou bonito. Triste, machucada até o fundo da alma, minha mãe cantou. Com seu mundo caído, a única saída era erguer um novo. Era tudo ou… tudo. E, a partir daí, minha mãe não parou mais. Foi contratada pela Rádio Nacional, começou a gravar sozinha na Odeon e a fazer muitos shows. Em meio ao conflito que se estabeleceu entre meus pais, houve um momento em que a praça Tiradentes, no Rio, se tornou uma verdadeira arena de guerra. Por uma infeliz coincidência, estavam em cartaz, ao mesmo tempo, Dalva e Herivelto. Meu pai apresentava-se num show de revista no Teatro João Caetano e minha mãe, no vizinho Teatro Recreio, na rua Dom Pedro I. A praça Tiradentes virou um conflito só. Com o novo Trio (Raul Sampaio e Noemi Cavalcanti), meu pai amargava uma solidão artística muito grande. Por mais que o respeitassem como um compositor genial, as pessoas não aceitavam a forma como ele se portava na vida pessoal. Minha mãe, explodindo na carreira-solo, era produzida e dirigida pelo maior empresário teatral da época, Walter Pinto. O nome do espetáculo, É rei, sim, era um jogo de palavras com o sucesso de Dalva “Errei, sim” e o sucesso de Carnaval de Herivelto “Que rei sou seu?”. Walter deu à minha mãe a posição de estrela do teatro de revista e ainda chamou Vicente Paiva, seu amigo e maestro preferido, para acompanhá-la. Vicente deitou e rolou. Compôs especialmente para ela cantar no show “Olhos verdes”, que logo minha mãe gravaria. Outra canção de Vicente, com Jaime Redondo, que fazia a plateia vir abaixo com a interpretação de Dalva era “Ave Maria”: 

Ave Maria
Nos seus andores
Rogai por nós, os pecadores
Abençoai essas terras morenas
Seus rios, seus campos
E as noites serenas
Abençoai as cascatas
E as borboletas que enfeitam as matas
Ave Maria
Cremos em vós 
Virgem Maria, rogai por nós
Ouvi as preces, murmúrios de luz
Que aos céus ascendem
E o vento conduz
Conduz a vós
Virgem Maria, rogai por nós

O show no Recreio fez um sucesso descomunal. Trânsito interrompido, escolta policial para ela poder chegar com o carro aos fundos do teatro, saída do show também sob proteção policial. Era algo nunca visto e, acredito, que jamais veremos igual. Não é difícil imaginar o auge que ela vivenciava. Tinha seu próprio horário na Rádio Nacional, dentro do programa César de Alencar, aos sábados. Os discos nas paradas, com cinco ou seis músicas estouradas… O país inteiro pendia muito mais para o seu lado do que para o de meu pai. O mundo feminino estava todo a favor dela, numa projeção de seus próprios dramas pessoais. Minha tia Edith, que sempre assessorou Dalva nos camarins, lembra-se de um incidente envolvendo David Nasser no show do Recreio. Ainda era muito recente a baixaria promovida por ele e meu pai no Diário da Noite, e, mesmo assim, ele foi assistir ao espetáculo que ela estreava. Com uma tremenda cara de pau, bateu à porta do camarim . Edith espantou-se ao vê-lo e ficou muda. Lá de dentro, minha mãe perguntou quem era. Ainda muda, Edith entreabriu a porta, enquanto ele dizia: “Dalva, você está maravilhosa! Vim cumprimentá-la”. Minha mãe pensou não ter escutado direito. Quando viu quem era de verdade, Edith conta que ela parecia “cachorro que ar-repia o dorso”. E soltou: “Sai daqui, seu cretino maldito!”. Levantou e chutou a porta do camarim nas costas de David. Esse foi o único confronto entre os dois. Só voltaram a se encontrar na Rádio Tupi, tempos depois. As razões de minha mãe agir assim, quem leu os capítulos do Diário da Noite pode aquilatar. Quando meus pais se separaram, nenhum deles continuou no apartamento da rua João Luís Alves, na Urca. A mobília toda foi parar num guarda-móveis. Meu pai, de mulher nova, não quis nada. Comprou tudo novo. Minha mãe não queria deixar a Urca, onde havia atingido um estágio melhor de vida e as primeiras grandes realizações artísticas aconteceram . E foi morar numa quitinete , um lugar minúsculo em que mal cabia uma cama de casal. Quando íamos visitá-la, dormíamos todos juntos. Depois, mudou-se para a rua Barão de Cotegipe, na Vila Isabel, um bairro agradável, onde já podia receber melhor Bily e eu. Ali ficou pouco mais de um ano, e, finalmente, com o sucesso, comprou a casa de Jacarepaguá. Isso só aconteceu graças à insistência de sua irmã, Margarida, pois minha mãe temia pelo que pudesse acontecer com sua carreira. Tinha muito medo, não estava acostumada a tomar decisões e relutou em assumir um compromisso tão longo e expressivo. Minha tia insistiu, o amigo Vicente Paiva apoiou e ela comprou a casa. Por pouco não perdeu um belo negócio, por pura falta de autoconfiança. Tempos depois, minha mãe iria demolir o que era apenas uma casinha de subúrbio, pequena e modesta, e construir uma bela residência para receber os filhos, a família, os amigos e os fãs. Seria o seu refúgio, o seu Shangri-lá, como gostava de se referir à casa de Jacarepaguá. 



* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

domingo, 28 de maio de 2017

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB

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Recentemente tive a oportunidade de trazer aqui mesmo para esta coluna o nome do consagrado instrumentista, compositor e cantor Wilson das Neves. Como foco da primeira abordagem trouxe o início da carreira de Das Neves e compreendi em parte o porquê de um refrão que ele traz consigo como marca registrada: "Ô sorte!". De fato o instrumentista teve bastante sorte no início de sua carreira artística ao cruzar com nomes precisos e fundamentais para o seu desenvolvimento artístico. Não foi à toa que cerca de seis anos de dar início a sua carreira profissional, Wilson já estava acompanhando alguns dos mais destacáveis nomes da música popular brasileira daquela época. Pautada sempre a partir do samba, de grandes parceiros e execuções que trazem consigo um toque bem característico do artista que hoje vem colhendo os frutos de uma exitosa carreira construída ao longo dos últimos sessenta anos. Retomando a abordagem biográfica, nos anos seguintes Wilson das Neves diversificou tornando-se também intérprete. Em sua discografia, a estreia se deu em 1996, no álbum "O Som Sagrado de Wilson das Neves", lançado pela CID com participações de Paulo César Pinheiro e Chico Buarque, agraciado à época com o Prêmio Sharp. De lá pra cá já gravou discos como "Brasão de Orfeu" (2004), "Samba de Gringo 2" (2006) e "Pra Gente Fazer Mais Um Samba" (2010); ingressou na Orquestra Imperial; atuou em filmes e documentários tais quais "Noel - Poeta da Vila", "O Filho do Futebol" e "Alfavela" (sem contar o documentário "O Samba é Meu Dom", sobre sua vida e obra feito por Cristiano Abud). Em mais de cinquenta anos de carreira como baterista acompanhou mais de 600 artistas, entre os quais Carlos Lyra, João Bosco, Bethânia, Gal, Emílio Santiago, Nelson Gonçalves, Caetano Veloso, hico Buarque, Elizete Cardoso, Beth Carvalho, Roberto Carlos, Elis Regina, Gilberto Gil, Alcione, Tom Jobim e Miucha, entre vários artistas da MPB além de internacionais como Michel Legrand, Sarah Vaughan, Toots Thielemans e Sean Lennon.


Hoje, aos oitenta anos, o artista vem apresentando o seu novo álbum intitulado "Se me chamar, ô sorte", lançado em 2013 e que tem entre seus produtores Paulo César Pinheiro. De repertório autoral, o disco contou com faixas como “Samba pra João” (c/ Chico Buarque), “Trato” (c/ Paulo César Pinheiro), “Limites” (c/ Toninho Nascimento), “O dono da razão” (c/ Toninho Geraes), “Se me chamar, ô sorte” (c/ Cláudio Jorge), em que dividiu os vocais com Cláudio Jorge, entre outras. O disco ainda conta com a participação especial da cantora Áurea Martins na faixa “Ao nosso amor maior” (Wilson das Neves e Luiz Carlos da Vila). Além desse disco, em comemoração as oito décadas de vida de Wilson foi lançada também pela editora Multifoco o livro "Ô Sorte! Memórias de Um Imperador" uma breve biografia do grande músico de autoria de Guilherme Almeida. Com este disco conquistou os prêmios de melhor Canção, pela música “Samba pra João” e de melhor álbum de samba pelo disco na 25ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Um dos momentos mais belos da Cerimônia de Abertura das Olimpíadas 2016, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, aconteceu justamente com a participação de Wilson. Tocando samba em um pequeno instrumento musical de couro, que imitava uma caixinha de fósforos, Das Neves mostrou aos quatro cantos do mundo a força do samba brasileiro enquanto o passista-mirim Thawan Lucas da Trindade sambava ao seu lado. "Foi um momento de reverência à verdadeira história da música popular brasileira. Hoje, é aquele papo: muitos nem sabem quem foi Donga, João da Baiana, Wilson Batista... A gente cuida muito dos de fora e esquece os nossos. Santo de casa não faz milagre. Como sou um dos mais antigos, acho que a ideia ali foi “vamos lembrar, vamos ensinar”. Se a música é o nosso CPF, como Das Neves costuma dizer, sem dúvida alguma o músico octogenário é a nossa Receita Federal.

MORRE O MÚSICO EXPEDIDO BARACHO

Aos 82 anos, o seresteiro e compositor de tantos frevos teve um mal súbito



Um dos baluartes da música pernambucana, Expedito Baracho morreu aos 82 anos


Conhecido como o maior seresteiro do Brasil, o músico potiguar radicado em Pernambuco Expedito Baracho faleceu, na manhã deste sábado (27), aos 82 anos, em Olinda. "Foi um mal súbito, ele foi internado de urgência antes de ontem. Foi para o hospital, teve uma parada cardíaca, foi ressuscitado, tava esperando esperando para fazer os exames", conta o cantor Paulo da Hora, filho de Claudionor Germano, amigo e parceiro de décadas de Baracho, que teria passado mal em função da taxa de glicose alta.

Em 1949, ainda adolescente, Expedito Baracho começou a carreira acompanhando programas de calouros de rádio e foi convidado a integrar a Jazz Band Acadêmica, a orquestra fundada por Capiba , formada exclusivamente por estudantes. Em 1954 passou a integrar o grupo Os Cancioneiros, com o qual gravou diversos discos, e foi contratado pela Rádio Jornal do Commercio.


FREVOS

Sua vida foi marcada por sucessos precoces. Em 1957, gravou de Capiba o frevo-canção "Modelos de verão". Em 1958, gravou de Genival Macedo o frevo-canção "Casado não pode", e de Capiba o frevo-canção "A procura de alguém". Em 1960, gravou os frevos-canções "A própria natureza", de Capiba e "Você", de Fernando Castelão, os ´primeiros de vários clássicos. Em 1980, gravou de Capiba o frevo-canção "E eu durmo?" no LP "Capital do frevo 80". Em 1982, participou do LP "Capiba ontem, hoje e sempre", interpretando de Capiba e Carlos Pena Filho o samba-canção "A mesma rosa amarela", a canção "A uma dama transitória", de Capiba e Assenso Ferreira, o samba "Cais do porto" e a valsa "Campina cidade rainha".

Em 1999, a Polydisc, dentro da série "Histórias do carnaval", Baracho lançaria dois CDs com coletâneas das composições "Sonhei que estava em Pernambuco", "Touradas em Madri", "Mamãe, eu quero", "Soldado de Israel", "Já fui bom nisso" e "Morena da Sapucaia". Um de seus maiores sucessos foi o frevo "Trombone de prata", de Capiba.

Nos anos 1990 passou a morar na cidade de Olinda, onde passaria a cantar na noite e a acompanhar as serestas da cidade.

Em nota, o governador Paulo Câmara lamentou a morte de Expedito:

"Perdemos uma das maiores vozes da música popular brasileira com a morte de Expedito Baracho. Pernambucano por adoção, o potiguar teve uma longa e produtiva produção artística, seja interpretando clássicos do frevo ou músicas românticas. Baracho foi referência para várias gerações de músicos pernambucanos. Meus sinceros sentimentos solidariedade aos seus familiares e amigos".


Fonte: JC Online

sábado, 27 de maio de 2017

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Jr.



Antônio Maria - Com Dose Dupla

Antonio Maria: radialista, cronista, compositor


Confesso que Antônio Maria esteve mais presente na minha vida depois que me mudei para São Paulo.

As canções de autoexílio, representadas pelos frevos nº 1, 2 e 3 não me saíam da cabeça quando encarava os primeiros momentos – desafios – da grande metrópole paulistana.

No silêncio de casa, na solidão em multidões, embaixo do chuveiro ou fazendo trilha musical de instantes de alegria infinda ou, mais presentes, de saudades frequentes, o remédio eram os frevos de Maria. Quem de Pernambuco, estando fora, não cantou: “Sou do Recife, com orgulho e com saudades, sou do Recife com vontade de voltar”; ou “Ô, saudade, saudade tão grande, saudade que eu sinto do Clube das Pás, Vassouras, passistas traçando tesouras, nas ruas repletas de lá”.

Mas, Antônio Maria, que viveu apenas 43 anos (nascido em 1921, no Recife, e morto em 1964, no Rio), além dos belos frevos que deixou, foi considerado o “rei do Samba-Canção”, nas décadas de 1940 e 1950; era um boêmio inveterado; foi produtor, radialista, poeta, cronista, compositor e produtor e apresentador de TV.

Muito alto, grande, com alma de criança, Antônio Maria, era conhecido como “Menino Grande”. Embora não fosse um galã, era um grande conquistador. Tirou de Samuel Wainer a bela e inteligente Danuza Leão, que voltou para os braços do jornalista, responsável pelo Última Hora, algum tempo depois.

Antônio Maria compôs diversos sucessos populares, em parceira com vários amigos. Na sequencia, seu maior clássico, em parceria com Luiz Bonfá, “Manhã de Carnaval”, na voz de Nara Leão.


Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás
Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus

Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor


Com Nora Ney, Antônio Maria tomou conta das paradas das rádios brasileiras que tocaram “Menino Grande” e “Ninguém me Ama”.

São também de Maria “Valsa da Cidade” e “Canção da Volta”. Fez parceria magistral com Luiz Bonfá que criaram os clássicos Manhã de Carnaval e Samba do Orfeu, para o filme “Orfeu do Carnaval”, de Marcel Camus, baseado na peça “Orfeu da Conceição”, de Vinícius de Moraes.

Em seu vasto repertório, destacam-se ainda “As suas Mãos”, “O Amor e a Rosa” e “Se eu Morresse Amanhã”. Suas canções foram gravadas por Nat King Cole, Frank Sinatra e Stan Getz.

Entre seus outros parceiros – cerca de 60 músicas – estão Fernando Lobo, Moacir Silva, Vinícius de Moraes, Zé da Zilda.

Muitos gravaram suas músicas, além de Nora Ney, Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Lucio Alves, Agostinho dos Santos, Jamelão, Ângela Maria, Luiz Bandeira e Claudionor Germano.

Ouça agora “Manhã de Carnaval” com Frank Sinatra:



Antônio Maria já era apresentador de programas musicais na Rádio Clube de Pernambuco. Em 1940, muda-se para o Rio de Janeiro no Ita “Almirante Jaceguai”. No Rio, tornou-se locutor esportivo da Rádio Ipanema.

Maria morou no Edifício Souza, na Cinelândia, onde era vizinho dos conterrâneos Abelardo Barbosa (Chacrinha) e Fernando Lobo (Chuvas de Verão). Também moravam ali Dorival Caymmi e o pintor Augusto Rodrigues.

Trabalhou ainda no Ceará e na Bahia, onde foi diretor das Emissoras dos Diários Associados, ocasião em que conheceu Di Cavalcanti e Jorge Amado.

Ao lado de Paulo Pontes e Dolores Duran, é o autor do grande espetáculo “Brasileiro: Profissão Esperança”.

Semana que vem os frevos de Antônio Maria…

INTÉRPRETE DE CÁSSIA ELLER NO MUSICAL SOBRE A CANTORA, TACY DE CAMPOS LANÇA DISCO

Artista curitibana afirma que ser atriz não é a sua "praia", apresenta CD autoral com 10 faixas e prepara turnê do show, que deve incluir BH 


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Cantora diz que não se preocupou em distanciar de Cássia Eller em novo trabalho


A curitibana Tacy de Campos, de 27 anos, ficou conhecida no Brasil inteiro ao interpretar um dos ícones da MPB, Cássia Eller (1962-2001). Quem assistiu ao musical que conta a trajetória da cantora carioca, morta precocemente aos 39 anos, certamente se impressionou ao ver Tacy em cena. Mas, muito antes de encarnar no palco Cássia Eller, Tacy já mostrava que seu caminho também seria a música. Ela começou a tocar violão aos 15 anos. “Foi muito bacana fazer esse espetáculo, que está entrando em seu terceiro ano. Mas meu negócio é mesmo cantar, tocar e, principalmente, compor. Na verdade, nem considero uma retomada da minha carreira musical, porque nunca a deixei de lado. Para falar a verdade, ser atriz não é muito a minha praia”, afirma.

Tacy acaba de lançar – de forma independente – seu primeiro disco. Depois do single Sem ser, que chegou ao mercado no ano passado, O manifesto da canção acaba de sair do forno. Todas as 10 faixas do álbum foram compostas por ela, algumas em parceria, como é o caso de Pra você saber, feita a quatro mãos com Jana Figarella, cantora e compositora manauara radicada em Pernambuco.

O rock se faz presente, assim como o country, o pop e o blues. Um dos destaques é a música instrumental Fazenda na praia, que mostra o talento de Tacy ao violão. “Boa parte do repertório é recente e tem relação com essa fase carioca da minha vida, já que me mudei para o Rio. Mas há coisas que fiz quando ainda morava em Curitiba. O disco revela muito do que sou, do que gosto. Não deixa de ser o meu manifesto”, diz.


CÁSSIA ELLER

No álbum, Tacy de Campos (voz, violão e guitarra) tem a companhia de Diogo Viola (guitarra, violão e bandolim), Pedro Coelho (baixo e backing vocal), Felipe Caneca (teclados e backing vocal) e João Carrera (bateria). Quando se ouve pela primeira vez as canções, é difícil não se lembrar de Cássia Eller. Não que seja intencional, mas realmente as duas têm um timbre e um estilo de interpretação muito parecidos. Mas, à medida que se vai familiarizando com o disco, percebe-se claramente a marca de Tacy de Campos.

“Algumas pessoas ainda comentam que a gente se parece cantando. É natural que isso aconteça, mas essa comparação tem diminuído. Não foi a minha maior preocupação me distanciar da Cássia. Isso ocorreu de forma intuitiva mesmo. Procurei deixar bem claro que é a Tacy que está aí. O disco sou eu”, assegura.

O show de lançamento foi realizado no fim do mês passado no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro. A ideia é circular com ele pelo Brasil. “BH certamente é uma cidade aonde quero ir. Fizemos aí uma temporada bem bacana com o musical da Cássia Eller. Esse espetáculo está bem amarradinho, com muita energia e espero passar o resto do ano em turnê com ele”, conta.

O manifesto da canção
Artista: Tacy de Campos
Gravadora independente
Preço sugerido: R$ 25 


Fonte: UAI

ODAIR JOSE - FILHO DE JOSE E MARIA (AO VIVO)


Trinta e seis anos após o lançamento de O Filho de José e Maria, Odair José sobe ao palco do Theatro Municipal de São Paulo para apresentar todas as faixas do disco, considerado o mais polêmico de sua carreira.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

CANÇÕES DE XICO


CONTANDO PINGOS DE CHUVA


Bóris, além da miopia, tinha como inseparável companheira uma insônia de perder o sono. Quanta falta de sonho sentia Bóris, quantas cores ele não via! Ainda assim, quando sonhava acordado era em preto e branco, um sonho embaçado, sem graça. Deitava-se com os óculos pendurados nas orelhas para poder contar carneirinhos que o fizessem dormir. A miopia não permitia vê-los e quase sempre deixava passar, sem perceber, alguns lobos que a eles se misturavam. Um belo dia (ou teria sido numa bela noite insone?) teve a brilhante idéia de contar os pingos de chuva ao invés dos carneirinhos. A tarefa lhe dispensaria o uso dos óculos. Poderia contá-los de ouvido, sem precisar vê-los. Mas Bóris morava num sertão em que a chuva rareava, só escapulia do céu de vez em quando. Tempo sem chover, sem cair um pingo d’água, sequer. Cochilo, então, só quando a seca acabar, quando cair uma neblina, se cair. Bóris vai ter que descobrir um lugar em que chova todo dia porque ficar sem dormir faz mal à saúde e dá até problema de vista. Ou fazer como um Poeta fez: plantar carinhos pra que brote pés de fulô e sua amada fique cheirosa pra com ele dançar. Com esse cheiro todo nem vai se lembrar de dormir.

DALVA DE OLIVEIRA: 100 ANOS DA INTÉRPRETE DA ALMA PASSIONAL BRASILEIRA

Cantora protagonizou a mais célebre polêmica conjugal da MPB



Dalva de Oliveira, aqueles olhos verdes


A cidade de Rio Claro, no interior de São Paulo, a 173km da capital do Estado, está em festa desde terça-feira, 3 de maio. Celebra a rio­clarense mais famosa, Vicentina de Paula Oliveira, falecida em 1972, e que completaria 100 anos hoje. Com o nome artístico de Dalva de Oliveira, ela foi uma das principais estrelas da Era do Rádio, marcante pela voz extraordinária e pela biografia dramática, digna dos mais passionais dos boleros mexicanos, que ela tanto gravou, assim como tangos, sambas-­canção, marchinhas carnavalescas.

Casada com o compositor e cantor Herivelto Martins, os dois protagonizaram a mais famosa lavagem de roupa suja em público de que se tem notícia na música popular brasileira. Mas, ao contrário de outros casais que se separaram quebrando louças, derrubando estantes e prateleiras, Dalva e Herivelto pontuaram o quebra-­quebra com deliciosas, e mútuas, agressões musicais, responsáveis por centenas de milhares de 78 rotações vendidos. Um litígio conjugal que com direito a torcida organizada.

E louve-­se o talento do marido (cujo centenário foi festejado em 2012). Enquanto ele sozinho (algumas vezes com parceiros) fustigava Dalva de Oliveira, ela, que não compunha, contra­-atacava com petardos escritos por autores do naipe de Ataulfo Alves, Nelson Cavaquinho, Humberto Teixeira, Marino Pinto.


VOCAÇÃO

Quando o marceneiro Mário de Oliveira soube que a mulher, a portuguesa Alice, engravidara, escolheu de imediato o nome do filho: Vicente. Boêmio inveterado, clarinetista, ele queria um filho homem para acompanhá­lo nas noitadas. Mas veio uma filha, Vicentina. Aliás, o casal só teria filhas, mas a predileta era a primogênita a quem ele ensinou os princípios básicos da vida boêmia, incluindo apreciar uma boa cachaça.

Vicentina mostrou pendores artísticos desde criança, teve aulas de canto quando viviam em São Paulo e, quando a família se estabeleceu no Rio, arriscou­-se a enfrentar o temível Ary Barroso, inscrevendo­-se no seu concorrido programa Calouros em Desfile, na Rádio Tupy. Não se saiu bem. Ary Barroso, considerado o grande compositor brasileiro, sua Aquarela do Brasil tocava até nos Estados Unidos, não perdoava. Aproximou­-se da moça magrinha, de olhos verdes, cabelos crespos, e disparou: "Minha senhora, quer um conselho? Volte imediatamente pro tanque, de onde nunca deveria ter saído. Vá lavar roupa, a senhora jamais deveria abrir a boca pra cantar".

Ao contrário de outras calouras que humilhou e responderam à altura, como faria Elza Soares poucos anos depois, Dalva de Oliveira saiu chorando da rádio. Jamais imaginariam, Ary ou Dalva, que, em 1953, ela já famosa, o compositor lhe mandaria um pedido de desculpas, com uma composição impagável, Folha Morta.

Aos 18 anos, num teatro mambembe no Rio, conheceu o palhaço Zé Catimba, um magrinho de olhos azuis, que também cantava. Com Príncipe Pretinho formava a dupla Preto & Branco. Que seria transformada no Trio de Ouro. Passaram a morar juntos num cabeça-­de-­porco, um velho casarão onde se alugavam quartos.

Em 1937, tiveram o primeiro filho, Pery, que adotaria o sobrenome Ribeiro e chegaria também à fama no final dos anos 50 (morreu em 2012). O estouro com o Trio de Ouro (sem Príncipe Pretinho e com Nilo Chagas) aconteceu com Ave Maria do Morro, de Herivelto Martins, na qual Dalva de Oliveira, experimentou sua coleção de trinados que seria sua marca registrada, os célebres "laralari".




O ABAJUR LILÁS

"Donos de personalidade fortíssima, eram o que poderíamos chamar de dois vulcões. As brigas, pouco a pouco, se tornavam mais frequentes. Com mais dinheiro entrando, meu pai começou a buscar outras mulheres. De frequentes, as brigas passaram a violentas. Não foram poucas as vezes em que, ao voltar do colégio, ficava sabendo que minha mãe estava no pronto­-socorro ­ meu pai batera nela. Ou, então, procurava meu pai e diziam que ele estava no hospital minha mãe arrebentara a cabeça dele com um cinzeiro de bronze".

O entrevero conjugal foi contado por Pery Ribeiro, na autobiografia Minhas Duas Estrelas ­ Uma Vida com meus Pais Herivelto Martins e Dalva de Oliveira (escrito com Ana Duarte).

"Tudo acabado entre nós/Já não há mais nada/Tudo acabado entre nós/Hoje de madrugada/Você partiu e eu fiquei/Você chorou e eu chorei/Se você volta outra vez/Eu não sei", os versos de Tudo Acabado, de J. Piedade e Oswaldo Martins, lançado por Dalva de Oliveira no começo de 1950, iniciou o embate musical. Depois de viver entre tapas e beijos, cada vez mais tapas do que beijos, com traições de parte a parte. Dalva e Herivelto finalmente se separaram.

Não adiantava o casal aparecer na imprensa, fingindo felicidade, deixando-­se fotografar com os filhos Pery e Ubiratan. Dalva forçou a contenda gravando Que Será?, de Marino Pinto e Mário Rossi, um clássico do kitsch: “Que será/Da minha vida sem o teu amor/Da minha boca sem os beijos teus/Da minha alma sem o teu calor/Que será/Da luz difusa ao abajur lilás/Se nunca mais vier a iluminar/Outras noites iguais". A briga espalhava-­se para as amizades, já que Marino Pinto era parceiro de Herivelto Martins.

Com colaboração do jornalista e letrista David Nasser, Herivelto bateu forte: Eu deixei o meu caminho certo/E a culpada foi ela/Transformava o lar na minha ausência/Em qualquer coisa abaixo da decência". Desde a célebre polêmica de Noel Rosa com Wilson Baptista, nos anos 30, nunca um desentendimento gerou tanta música boa. Se não foi agradável para a vida pessoal dos dois, para a vida profissional, não poderiam ter maior publicidade.

O país inteiro acompanhava a reação dos desafetos como se fosse uma novela. Passada a tempestade, Dalva de Oliveira firmou-­se com uma das maiores estrelas da música brasileira. No entanto seu maior sucesso sairia de outras fontes. Em 1955, o álbum Dalva de Oliveira com Roberto Inglez e sua Orquestra fechava o repertório com um baião, um dos primeiros que Humberto Teixeira compôs depois da separação litigiosa, mas nunca assumida, com Luiz Gonzaga.

Depois de recusado por outros intérpretes, o baião Kalu foi gravado por Dalva de Oliveira, e se tornou um dos maiores sucesso da história do gênero, não apenas no Brasil. O disco foi gravado em Londres (o maestro Roberto Inglez era escocês) e foi um dos mais vendidos do ano. Kalu fez carreira internacional


BANDEIRA BRANCA

A bossa nova tirou de linha os artistas do rádio. De repente, o brasileiro já não curtia mais a passionalidade. As rainhas do rádio foram destronadas. Ângela Maria, Emilinha, Marlene, Dalva de Oliveira passariam alguns anos sem vez. Dalva voltaria a fazer sucesso exatamente no ano em que a Tropicália eclodiria, em 1967, com a marcha­-rancho Máscara Negra (Zé Keti/Pereira Matos). Fecharia a carreira de sucessos com a emblemática Bandeira Branca (Max Nunes e Laércio Alves). Morreu, em consequência de um câncer no esôfago, com 55 anos.


Fonte: JC Online

A CANTORA QUE RESOLVEU DESAFIAR O MACHISMO DA MÚSICA REGIONALISTA GAÚCHA

Shana Müller comprou briga com setores da cultura tradicional do RS ao criticar a representação feminina na cultura nativista.


Conhecida no universo da música tradicional gaúcha, Shana Müller abriu debate ao criticar machismo em canções


"Ajoelha e chora / quanto mais eu passo o laço / muito mais ela me adora", diz a música regionalista do Rio Grande do Sul, famosa na interpretação do grupo Tchê Garotos.

Embora popular no cancioneiro gaúcho, esse tipo de letra com referências tidas por muitos como pejorativas à mulher entrou na berlinda neste mês após uma crítica de uma artista desse mesmo meio musical.

"Toda vez que cantamos letras assim alimentamos e incentivamos situações de preconceito e maus-tratos contra as mulheres", diz cantora e jornalista Shana Müller, de 37 anos.

"Está na hora de os artistas darem uma revisada no repertório. O mundo de hoje não aceita mais os velhos e maus costumes", completa.

Müller é uma das representantes de uma geração de cantores de música regionalista gaúcha que ganhou destaque nos anos 2000. Com carreira iniciada aos oito anos, ela apresenta desde 2012 o Galpão Crioulo, um dos mais antigos programas de TV sobre a temática tradicionalista, transmitido pela RBS TV, afiliada da TV Globo.

As críticas, raras no Estado, lançaram a artista no centro de uma polêmica, que opõe julgamentos distintos sobre moral na cultura tradicional gaúcha.

Em texto publicado na internet, Müller condenou o machismo que, diz, ainda é reproduzido por muitos compositores. Como exemplo, citou versos famosos, como os da canção "É disso que o velho gosta": "Churrasco, bom chimarrão / Fandango, trago e mulher / É disso que o velho gosta / É isso que o velho quer".

A opinião mexeu com os brios dos conterrâneos. Na página da cantora no Facebook, seguida por 220 mil pessoas, o texto teve quase 6 mil reações.

Os comentários vão de elogios - "É isso aí, prenda linda"; "Você me representa"; "Machismo definitivamente não é tradição" - a discordâncias, algumas desrespeitosas - "Por que não procura umas cumbucas para lavar?"; "Se não gostou, vai embora para o Rio de Janeiro".


Fonte: BBC

quinta-feira, 25 de maio de 2017

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*


"Canção de origem francesa (no original, "Non, je ne regrette rien"), lançada em dezembro de 1960 na voz de Edith Piaf. Com letra brasileira de Romeu Nunes, é o lado B do 78 de estreia de Cláudia Barroso (pseudônimo de Amélia Rocha Barroso, Pirapetinga, MG, 23/4/1932-Fortaleza, CE, 9/10/2015), matriz 51109. Esta versão teria mais tarde outros registros, nas vozes de Silvana, Eliete Veloso e Gilda Lopes." (Samul Machado Filho)




Canção: Não, eu não vou ter saudade

Composição: Michel Vaucaire - Charles Dumont - Romeu Nunes

Intérprete - Cláudia Barroso

Ano - 1962

78RPM - Disco Odeon 14.785.



* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

RECIFENSES CONTAM LEMBRANÇAS COM BELCHIOR

Nas redes sociais, fãs relatam, com carinho, até sumiços do cantor


Belchior aparece em várias histórias pessoais no Recife


Trilha sonora e sentimental de várias gerações, a morte do cantor Belchior está provocando uma onda de depoimentos afetivos com sua memória no Recife Fãs e até jornalistas lembram de momentos marcados pela genialidade e delicadeza do cantor cearense.

A jornalista pernambucana Débora Nascimento foi uma das que puclicaram, no Facebook, suas memória afetivas com Belchior:

“Em 1993, eu estudava na UFPE, não ainda no curso de Jornalismo, mas já pensava em fazer um jornalzinho de música. Com essa ideia na cabeça e sem nenhum dinheiro na mão, entrevistei alguns artistas. Dentre eles, Belchior. Ele ia fazer um show na Calourada. Poucas horas antes, fui à porta que dava acesso ao camarim e esperei, até que alguém apareceu. Abordei, disse que preparava um jornalzinho musical e precisava entrevistá-lo. A pessoa entrou – eu o vi de longe – e depois veio a mim. Eu sabia que, apesar de ser uma desconhecida, sem ligação com um veículo de imprensa, ele me atenderia. Um compositor que escreve "qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa", só poderia ser generoso. A pessoa da produção falou: "Pode entrar". Entrei com um gravadorzinho recém-adquirido. O fato dele ter respondido todas as minhas perguntas com muita atenção e seriedade me mostrou que eu estava correta. Foi um grande incentivo para o caminho que eu queria seguir. Saí daquela entrevista com a sensação de que a minha carreira tinha começado ali, saí com a impressão de que, apesar das dificuldades, eu ia conseguir. O jornalzinho não saiu, mas eu consegui. Vinte e quatro anos depois, estou conseguindo. Saí daquela entrevista com a certeza de que, além do artista que eu admirava, Belchior era mesmo o ser humano de grandiosidade à altura de suas estrofes”.

Com carinho, o procurador Juscelino de Melo Ferreira também postou, em sua rede social, a lembrança de um encontro inusitado com Belchior no Recife.


CALOTE NO BAR

Uma noite, nos idos de 1988, saindo da Faculdade de Direito, fomos eu e os amigos para o saudoso Bar Cantinho das Graças. Entre um gole e outro, quem surge no Bar? Belchior, um ídolo meu na época. Tinha um disco dele, e emprestei para um amigo, e esse disco nunca foi devolvido, e ele soube disso através de Rubinho Valença em Paris. Prontamente ele escreveu pra mim se solidarizando, em um bilhete feito em um guardanapo, e guardava esse bilhete na carteira. E naquele momento no Cantinho das Graças, fui lá falar com ele, mostrei o bilhete, ele lembrou do episódio e pediu pra eu sentar na mesa dele. Conversamos muito sobre tudo, música, política, filosofia, até cantei o Ébrio pra ele, que parece que não gostou muito da minha performance. Tudo isso regado a muito conhaque da parte dele. Depois de muitas horas de farra, eu ainda extasiado em beber com meu ídolo, ele me disse que ia ao banheiro, e fiquei aguardando, e o aguardo até hoje, pois simplesmente "fugiu", deu um "xêxo", e tive que arcar com os 29 conhaques consumidos por ele e seu empresário. Todo o meu modesto salário de estagiário foi consumido em uma única noite por causa do desaparecido Bel.

Hoje, diante da notícia do passamento do grande artista e xexeiro, choro escutando suas músicas, ao mesmo tempo o perdôo pelo preju da época, ele podia”.

O jornalista e escritor André Balaio é outro que publicou, no Facebook, um texto sobre a presença de Belchior em suas memórias afetivas.

Uma lembrança do finalzinho dos anos 80: os amigos pintando a parede do quarto de Renata Lourenço e eu escrevendo os versos: "Como é perversa a juventude do meu coração, que só entende o que é cruel, o que é paixão". Coloco Belchior entre John Lennon, Caetano e Morrissey como os letristas mais importantes para a minha formação. Estou muito triste com esta notícia.”.

Fonte: JC Online

SHOW DOS NOVOS BAIANOS EM PORTO ALEGRE É CANCELADO

Grupo se apresentaria no Pepsi On Stage no dia 10 de junho


Foto: Caroline Borges / Agencia RBS 


Uma notícia triste para os fãs de Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Baby do Brasil, Luiz Galvão e Pepeu Gomes: o show do grupo Novos Baianos em Porto Alegre foi cancelado. A banda se apresentaria no dia 10 de junho no Pepsi On Stage.Advertisment. 

Segundo nota divulgada pela Opinião Produtora – responsável pela produção do show na Capital gaúcha – o cancelamento se deu em função de problemas "alheios à vontade" da produtora. De acordo com a nota, uma nova data para realização do show em Porto Alegre pode ser anunciada, mas "não há nada definido".

A produtora também divulgou informações sobre reembolso de valores para os fãs que já haviam adquirido ingressos. A devolução em dinheiro será realizada nos pontos venda físicos a partir do dia 26 de abril. 

Já ss compras efetuadas pelo portal Blue Ticket vão ter dois procedimentos diferentes: quem adquiriu o ingresso via cartão de crédito vai receber a devolução em forma de crédito na próxima fatura. O protocolo de cancelamento da conta será enviado por e-mail e disponibilizado no site. 

Para as compras pagas em boleto, o reembolso será feito por meio de depósito bancário. Para o recebimento do valor, é necessário informar a Central de Atendimento, pelo site da BlueTicket, os dados bancários (banco, agência e conta) e o CPF do titular da compra.

Confira a íntegra da nota sobre o cancelamento do show divulgada pela Opinião Produtora:

Por problemas alheios à nossa vontade, o show da banda Novos Baianos, que seria realizado dia 10 de junho no Pepsi on Stage, foi cancelado. A devolução do dinheiro estão sendo feita nos mesmos pontos de venda em que as entradas foram adquiridas antecipadamente. Para compras efetuadas pela Internet, pelo portal da Blue Ticket, os procedimentos serão:

Cartão de crédito: O reembolso total do valor do seu pedido é realizado diretamente junto à operadora do cartão e o valor será creditado na sua próxima fatura. O protocolo de cancelamento será enviado por e-mail e também vai estar disponível no cadastro do usuário, na opção Meus Chamados.

Boleto bancário: Para realização do reembolso via depósito, é necessário informar, através da Central de Atendimento da Blue Ticket, na página www.blueticket.com.br, os dados bancários (banco, agência e conta) e CPF do titular da compra para recebimento do valor.

A produção da banda e a Opinião Produtora lamentam o ocorrido e irão buscar uma nova data para a apresentação dos Novos Baianos em Porto Alegre. No entanto, ainda não há nada definido nesse sentido até o momento.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

VÔTE... ESCUTA SÓ:

Por Paulo Carvalho







* Todas as imagens fazem parte do acervo pessoal do nosso colunista.

DALVA DE OLIVEIRA, 100 ANOS

Por Felipe Jucá


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1. Dalva está entre minhas cantoras prediletas. Ainda seminarista franciscano, idos de 1952, me apaixonei por uma de suas canções. Entre um bendito e outro, cantarolava, baixinho, Estrela do Mar, com saudade de um alguém... Esse alguém, nunca lhe declinei o nome. E não o farei agora, depois de tantos carnavais, idos e vividos.

2. Estrela do Mar - "Um pequenino grão de areia/Que era um pobre sonhador/ Olhando o céu viu uma estrela/ E imaginou coisa de amor == Passaram anos, muitos anos/ Ela no céu e ele no mar/ Dizem que nunca o pobrezinho/ pôde com ela encontrar == Se houve ou se não houve/ Algumas coisa entre eles dois/ Ninguém, soube até hoje explicar/ O que há de verdade/ É que depois, muito depois/ Apareceu a estrela do mar."

3. Dalva de Oliveira atingiu seu apogeu nos anos 1930, 1940,1950. Embora dona de uma bela voz, chegou ao sucesso com a ajuda do talentoso compositor e letrista Herivelto Martins. Dele, Dalva cantou, por exemplo, Ave-Maria no morro, Rancho da Praça Onze e Segredo.

4. Dalva, disse Pery Ribeiro, seu filho, tornou-se "a mulher-inspiração" da vida de Herivelto. Que ela fora "a companheira de uma época brilhante" de Herivelto; do "seu momento mais fértil"; "quando a sua melhor obra aconteceu para o mundo"...

5. Mas Dalva de Oliveira não foi feliz no seu casamento com Herivelto. No livro A Noite de Meu Bem - a história e as histórias do samba-canção, seu autor, o escritor Ruy Castro, diz que "eles travavam uma guerra conjugal marcada por ciúmes, bate-bocas e cenas de fúria quase inacreditáveis".



6. A Rouxinol do Brasil teve outros amores, após o rompimento do seu casamento. Mas, em verdade, era de Herivelto que Dalva gostava. 

7. Não estou aqui para comentar as desavenças amorosas que arruinaram o casamento de Dalva com Herivelto. A história é longa e dorida.

8. Aqui compareço para homenagear a cantora Dalva de Oliveira, no ano do seu centenário.
Que a imprensa brasileira, tão diligente em promover péssimos compositores e cantores e cantoras não menos ruins, dê destaque aos cem anos de nascimento da maravilhosa Dalva.

9. Farto material está à disposição dos jornalistas, lembrando que a vida da extraordinária intérprete de Sertão de Jequié, Kalu, Que será, é contada, com carinho e sinceridade, pelo cantor Pery Ribeiro (1937-2012) no seu livro Minhas Duas Estrelas, seu pai, Herivelto, e Dalva, sua mãe.

10. Como estamos em tempos de folia momina, para homenagear a Rouxinol, fui buscar, nos arquivos que guardam minhas saudades, a marcha rancho Bandeira branca, que Dalva cantou, arrasando, no carnaval de 1970, e como essa marchinha chegou até ela.

11. Conta Pery no seu livro: "Ainda internada, ela recebeu a visita de Max Nunes e Laércio Alves, que a convidaram para interpretar uma música deles num festival de Carnaval.


Encantada com o desafio, ela aceitou, pedindo um tempinho para se fortalecer. Ao deixar o hospital, foi direto para o estúdio da Odeon gravar Bandeira branca".

12. Para a geração mais nova e para mexer com os coroas: "Bandeira branca, amor/ Não posso mais/ Pela saudade que me invade/Eu peço paz == Saudade mal de amor, de amor/ Saudade dor que dói demais/ Vem, meu amor/ Bandeira branca/ Eu peço paz."

13. Dalva de Oliveira nasceu no dia 5 de maio de l917, em Rio Claro, a 175 km da capital paulista. Filha de Mário de Paula Oliveira e Alice do Espírito Santo Oliveira. Na pia batismal, recebeu o nome de Vicentina de Paula Oliveira. Teve dois filhos com Herivelto: Pery e Bily. Morreu (câncer) na tarde de 30 de agosto de 1972, aos 55 anos.

14. David Nasser (1917-1980), da poderosa revista O Cruzeiro, jornalista sem escrúpulo e temido, parceiro de Herivelto em famosas canções (A camisola do dia, Hoje quem paga sou eu, Carlos Gardel, Atiraste uma pedra, Pensando em ti), foi um algoz terrível e implacável de Dalva, machucou a cantora em longos e mentirosos artigos.

15. Mas, na morte de Dalva, certamente arrependido, Nasser escreveu, com todas as tintas: "Viveu sem ódio, morreu em paz". Fez justiça, falando a verdade.