Páginas

quarta-feira, 24 de maio de 2017

DALVA DE OLIVEIRA, 100 ANOS

Por Felipe Jucá


Resultado de imagem

1. Dalva está entre minhas cantoras prediletas. Ainda seminarista franciscano, idos de 1952, me apaixonei por uma de suas canções. Entre um bendito e outro, cantarolava, baixinho, Estrela do Mar, com saudade de um alguém... Esse alguém, nunca lhe declinei o nome. E não o farei agora, depois de tantos carnavais, idos e vividos.

2. Estrela do Mar - "Um pequenino grão de areia/Que era um pobre sonhador/ Olhando o céu viu uma estrela/ E imaginou coisa de amor == Passaram anos, muitos anos/ Ela no céu e ele no mar/ Dizem que nunca o pobrezinho/ pôde com ela encontrar == Se houve ou se não houve/ Algumas coisa entre eles dois/ Ninguém, soube até hoje explicar/ O que há de verdade/ É que depois, muito depois/ Apareceu a estrela do mar."

3. Dalva de Oliveira atingiu seu apogeu nos anos 1930, 1940,1950. Embora dona de uma bela voz, chegou ao sucesso com a ajuda do talentoso compositor e letrista Herivelto Martins. Dele, Dalva cantou, por exemplo, Ave-Maria no morro, Rancho da Praça Onze e Segredo.

4. Dalva, disse Pery Ribeiro, seu filho, tornou-se "a mulher-inspiração" da vida de Herivelto. Que ela fora "a companheira de uma época brilhante" de Herivelto; do "seu momento mais fértil"; "quando a sua melhor obra aconteceu para o mundo"...

5. Mas Dalva de Oliveira não foi feliz no seu casamento com Herivelto. No livro A Noite de Meu Bem - a história e as histórias do samba-canção, seu autor, o escritor Ruy Castro, diz que "eles travavam uma guerra conjugal marcada por ciúmes, bate-bocas e cenas de fúria quase inacreditáveis".



6. A Rouxinol do Brasil teve outros amores, após o rompimento do seu casamento. Mas, em verdade, era de Herivelto que Dalva gostava. 

7. Não estou aqui para comentar as desavenças amorosas que arruinaram o casamento de Dalva com Herivelto. A história é longa e dorida.

8. Aqui compareço para homenagear a cantora Dalva de Oliveira, no ano do seu centenário.
Que a imprensa brasileira, tão diligente em promover péssimos compositores e cantores e cantoras não menos ruins, dê destaque aos cem anos de nascimento da maravilhosa Dalva.

9. Farto material está à disposição dos jornalistas, lembrando que a vida da extraordinária intérprete de Sertão de Jequié, Kalu, Que será, é contada, com carinho e sinceridade, pelo cantor Pery Ribeiro (1937-2012) no seu livro Minhas Duas Estrelas, seu pai, Herivelto, e Dalva, sua mãe.

10. Como estamos em tempos de folia momina, para homenagear a Rouxinol, fui buscar, nos arquivos que guardam minhas saudades, a marcha rancho Bandeira branca, que Dalva cantou, arrasando, no carnaval de 1970, e como essa marchinha chegou até ela.

11. Conta Pery no seu livro: "Ainda internada, ela recebeu a visita de Max Nunes e Laércio Alves, que a convidaram para interpretar uma música deles num festival de Carnaval.


Encantada com o desafio, ela aceitou, pedindo um tempinho para se fortalecer. Ao deixar o hospital, foi direto para o estúdio da Odeon gravar Bandeira branca".

12. Para a geração mais nova e para mexer com os coroas: "Bandeira branca, amor/ Não posso mais/ Pela saudade que me invade/Eu peço paz == Saudade mal de amor, de amor/ Saudade dor que dói demais/ Vem, meu amor/ Bandeira branca/ Eu peço paz."

13. Dalva de Oliveira nasceu no dia 5 de maio de l917, em Rio Claro, a 175 km da capital paulista. Filha de Mário de Paula Oliveira e Alice do Espírito Santo Oliveira. Na pia batismal, recebeu o nome de Vicentina de Paula Oliveira. Teve dois filhos com Herivelto: Pery e Bily. Morreu (câncer) na tarde de 30 de agosto de 1972, aos 55 anos.

14. David Nasser (1917-1980), da poderosa revista O Cruzeiro, jornalista sem escrúpulo e temido, parceiro de Herivelto em famosas canções (A camisola do dia, Hoje quem paga sou eu, Carlos Gardel, Atiraste uma pedra, Pensando em ti), foi um algoz terrível e implacável de Dalva, machucou a cantora em longos e mentirosos artigos.

15. Mas, na morte de Dalva, certamente arrependido, Nasser escreveu, com todas as tintas: "Viveu sem ódio, morreu em paz". Fez justiça, falando a verdade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário