Por José Teles
O Pato lado a lado com Speak Low, no mesmo disco. Jaime Silva e Neusa Teixeira, Kurt Weil e Ogden Nash, duplas de autores responsáveis por ambas as canções, se encontram em Dance of Time (Universal Music), da cantora e pianista paulista Eliane Elias, há anos nos Estados Unidos, onde se marcou seu espaço no terreno do jazz. No disco, faz uma homenagem aos cem anos do samba, e passeia por alguns dos muitos percursos trilhados pelo gênero.
Poucos se lembram da quase adolescente pianista que ensaiou os primeiros acordes nos palcos com Toquinho e Vinicius, para logo voar para Nova Iorque, a fim de estudar na prestigiosa Julliard School of Music. Deu passos largos, e de estudante passou a ser integrante do grupo de jazz fusion Steps Ahead, escola de craques do jazz, baterista Steve Gadd e o baixista Daryl Jones (que toca com os Rolling Stones), dois deles.
Em 1985, Eliane Elias lançou o primeiro álbum solo, produzido pelo trompetista Randy Brecker (fundador da Steps Ahead, e na época marido dela). Fiel à bossa nova, que o blasé nacional relegou à música de elevador, ela se destacou no jazz, sobretudo pela extraordinária junção de improviso e suingue ao piano, forjando um estilo facilmente identificável. Sobressai-se não apenas como instrumentista, Eliane Elias canta, e bem. Em seu recém-lançado Dance of Time (Concord Records), que sai aqui pela Universal Music, está exuberante, tanto como pianista, quanto como cantora.
Mais uma vez, ela optou por gravar boa parte do disco no Rio, com músicos brasileiros. Fez isso no álbum anterior, Made in Brazil, que lhe rendeu, em 2016, um Grammy de Melhor Álbum de jazz latino. Tocam com ela: Marcelo Mariano (baixo), Marcus Teixeira (guitarra), Edu Ribeiro (bateria), nas percussões Marivaldo dos Santos Gustavo de Dalva Além destes, partipações especiais do pianista Hamilton Godoy, João Bosco, e Toquinho (violões e vocais), mais o citado (e também ex-marido) Randy Brecker, o vibrafonista Mike Mainieri e o cantor Mark Kibble (do Take 6). O disco foi produzido por ela, com o marido Mark Johson e o produtor Steve Rodby
Um time impecável, para um repertório elástico, que privilegia várias vertentes do samba, ou do que é tornado samba. Vai do João Bosco (com Aldir Blanc e Paulo Emílio) de Coisa Feita (1982), ao standard americano You’re Getting to Be a Habit with me, que Bing Crosby gravou em 1933 (Al Dubin/Harry Warren), o João Donato, de Sambou, Sambou (com Eloir de Moraes).
Eliane Elias é extremamente versátil. Oferece o smooth jazz, roupagem que deu a Copacabana (João de Barro/Alberto Ribeiro), com firulas vocais de Mark Kibble, a uma interpretação blusey e despojada, num vocal impecável, de Na Batucada da Vida (Ary Barroso/Luiz Peixoto), um escolha corajosa. Este samba foi lançado por Carmem Miranda, em 1934, e ganhou uma versão matadora de Elis Regina, em 1974.
O álbum termina com Not to Cry (Pra Não Chorar) canção que Toquinho começou a compor em 1978 (com o título de Eliane), e permanecia incompleta. Eliane e Toquinho a terminaram para a incluir em Dance of Time. Uma celebração a amizade dos dois, recheada de nostalgia.
Dance of Time tem o melhor repertório dos discos de Eliane Elias como cantora e pianista (tem uma discografia de 23 títulos). Uma concepção elástica que abriga até um clássico manjado feito Samba de Orly (Chico Buarque/Vinicius de Moraes/Toquinho). Se bem que no jazz não há música manjada, a interpretação a reinventa. Mesmo os standards americanos são revestidos com a cadência bonita do samba. A capa também é coisa fina.
Confiram Eliane Elis comentando Dance of Time :
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