O 27º trabalho do trio marca o ressurgimento exemplar depois do falecimento de José Roberto Bertrami em 2012
Por Kiko Ferreira
Na música instrumental, terreno fértil para a proliferação de egos de muita técnica nem sempre acompanhada de originalidade, é confortante ouvir artistas que conseguem criar um estilo, uma pegada, uma forma de tocar que vira marca indelével. Orquestra Tabajara, Egberto Gismonti, Zimbo Trio, Toninho Horta e Uakti são alguns exemplos. Nesse restrito e invejável rol está o trio Azymuth, combo que mescla música brasileira, samba, jazz, soul, funk, eletricidade e eletrônica bem dosados e uma dicção de composição e execução que transformou os brasileiros em referência mundial desde os anos 1970.
Fênix é o 27º trabalho do Azymuth em mais de quatro décadas. E marca um ressurgimento exemplar. Formado por Alex Malheiros (baixo), Ivan “Mamão” Conti (bateria) e José Roberto Bertrami (teclados), o trio parecia destinado a ficar na memória quando, em 2012, Bertrami faleceu, aos 66 anos. Mas a história mudou quando eles encontraram um novo parceiro em Kiko Continentino, conhecido pelos trabalhos com Milton Nascimento e com o Continentrio (ao lado dos irmãos Jorge e Alberto). Kiko, que admite ter sido influenciado pelo grupo na busca de sua própria linguagem musical, não só mantém o nível de qualidade e o estilo de Bertrami, como acrescenta frescor e novas ideias como instrumentista e compositor.
Com sólida carreira internacional desde a histórica apresentação no festival de Jazz de Montreux, na Suíça, o trio chegou a trocar Bertrami por Jota Moraes no final dos anos 1980, mas ele logo voltou ao time. Pela gravadora Far Out Recordings, o grupo lançou meia dúzia de álbuns de sucesso nos mercados europeu, americano e japonês.
Em Fênix, a nova formação ganha o apoio do produtor Daniel Maunick, filho do líder da Incognito, Jean-Paul Maunick. O mix de samba, jazz, baião e outras levadas conta com a presença sempre relevante da percussão de mestre Robertinho Silva.
O som, leve e encorpado, dá conta de paisagens urbanas tratadas com uma câmera leve num traveling bem pilotado (The streets of San Francisco, Villa Mariana), de formas mais etéreas (Orange clouds) e fluidas (Rio Doce) e de coisas de outros mundos (Batucada em marte; com remix do DJ americano Madlib Neptunians), além de exercícios de mais peso rítmico (Corumbá, Papa samba) e um groove de inspiração cinematográfica (Cine & crime film music). Com nove faixas, Fênix convive bem ao lado de álbuns clássicos do Azymuth.
FÊNIX
. De Azimuth
. Far Out Recordings
. www.faroutrecordings.com
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